Quaresma
Semana II
Evangelho:
Mt 23, 1-12
1 Então, Jesus falou às multidões e aos Seus
discípulos, 2 dizendo: «Sobre a cadeira de Moisés sentaram-se os
escribas e os fariseus. 3 Observai, pois, e fazei tudo o que eles
vos disserem, mas não imiteis as suas acções, porque dizem e não fazem. 4
Atam cargas pesadas e impossíveis de levar, e as põem sobre os ombros dos
outros homens, mas nem com um dedo as querem mover. 5 Fazem todas as
suas obras para serem vistos pelos homens. Trazem mais largas as filactérias, e
mais compridas as franjas dos seus mantos. 6 Gostam de ter os
primeiros lugares nos banquetes, e as primeiras cadeiras nas sinagogas, 7
das saudações na praça, e de serem chamados rabi pelos homens. 8 Mas
vós não vos façais chamar rabis, porque um só é o vosso Mestre, e vós sois
todos irmãos. 9 A ninguém chameis pai sobre a terra, porque um só é
o vosso Pai, O que está nos céus. 10 Nem façais que vos chamem
mestres, porque um só é o vosso Mestre, Cristo. 11 Quem entre vós
for o maior, seja vosso servo. 12 Aquele que se exaltar será
humilhado, e quem se humilhar será exaltado.
Comentário:
São Gregório
Magno dizia “que quem tem por missão dizer coisas grandes está igualmente obrigado
a praticá-las”.
Porque a
verdadeira prática da fé transmite-se pelo exemplo e de pouco servem as belas
palavras ditas ou escritas se não houver uma correspondência real na vida
concreta.
No fim e ao
cabo... ser coerente!
(ama, comentário sobre Mt 23
1-12, 2015.03.03)
Leitura espiritual
COMPÊNDIO
DA DOUTRINA SOCIAL
DA IGREJA
INTRODUÇÃO
UM HUMANISMO INTEGRAL E
SOLIDÁRIO
b) O significado do
documento
11
Os primeiros destinatários deste Documento são os Bispos, que encontrarão as
formas mais adequadas para a sua difusão e correta interpretação.
Pertence,
com efeito, ao seu «munus docendi»
ensinar que «as próprias coisas terrenas e as instituições humanas se destinam
também, segundo os planos de Deus Criador, à salvação dos homens, e podem por
isso contribuir imenso para a edificação do Corpo de Cristo» [i].
Os
sacerdotes, os religiosos e as religiosas e, em geral, os formadores
encontrarão nele um guia seguro para o ensinamento e um instrumento de serviço
pastoral.
Os
fiéis leigos, que procuram o Reino de Deus «ocupando-se das coisas temporais e
ordenando-as segundo Deus» [ii],
encontrarão nele luzes para o seu específico compromisso.
As
comunidades cristãs poderão utilizar este documento para analisar objectivamente
as situações, esclarecê-las à luz das palavras imutáveis do Evangelho, haurir
princípios de reflexão, critérios de julgamento e orientações para a acção [iii].
12
Este documento é proposto também aos irmãos de outras Igrejas e Comunidades
Eclesiais, aos seguidores de outras religiões, bem como a quantos, homens e
mulheres de boa vontade, se empenham em servir o bem comum: queiram-no acolher
como o fruto de uma experiência humana universal, constelada de inumeráveis
sinais da presença do Espírito de Deus.
É
um tesouro de coisas novas e antigas [iv],
que a Igreja quer compartilhar, para agradecer a Deus, de quem provêm «toda
dádiva boa e todo o dom perfeito» [v].
È
um sinal de esperança o facto de que hoje as religiões e as culturas manifestem
disponibilidade ao diálogo e advirtam a urgência de unir os próprios esforços
para favorecer a justiça, a fraternidade, a paz e o crescimento da pessoa
humana.
A
Igreja Católica une em particular o próprio empenho ao esforço em campo social
das demais Igrejas e Comunidades Eclesiais, tanto na reflexão doutrinal como em
campo prático.
Juntamente
com elas, a Igreja Católica está convencida de que do património comum dos
ensinamentos sociais guardados pela tradição viva do povo de Deus derivem
estímulos e orientações para uma colaboração cada vez mais estreita na promoção
da justiça e da paz [vi].
c) Ao serviço da plena
verdade sobre o homem
13
Este Documento é um acto de serviço da Igreja às mulheres e aos homens do nosso
tempo, aos quais oferece o património de sua doutrina social, segundo aquele
estilo de diálogo com o qual o próprio Deus, no Seu Filho Unigénito feito
homem, «fala aos homens como a amigos [vii]
e conversa com eles [viii]»
[ix].
Inspirado
na Constituição pastoral Gaudium et spes,
também este documento põe como linha mestra de toda a exposição o homem, aquele
«homem considerado na sua unidade e na sua totalidade, o homem, corpo e alma,
coração e consciência, pensamento e vontade» [x].
Na
perspectiva delineada, «nenhuma ambição terrena move a Igreja; ela tem em vista
um só fim: continuar, sob o impulso do Espírito Santo, a obra do próprio Cristo
que veio ao mundo para dar testemunho da verdade, para salvar e não para
condenar, para servir e não para ser servido» [xi].
14
Com o presente documento a Igreja entende oferecer um contributo de verdade à
questão do lugar do homem na natureza e na sociedade, afrontada pelas
civilizações e culturas em que se manifesta a sabedoria da humanidade.
Mergulhando
as raízes num passado não raro milenar, estas se manifestam nas formas da
religião, da filosofia e do génio poético de todo o tempo e de cada povo, oferecendo interpretações do universo e da convivência humana e procurando dar
um sentido à existência e ao mistério que a envolve.
Quem
sou eu?
Por
que a presença da dor, do mal, da morte, mau-grado todo o progresso?
A
quem aproveitam tantas conquistas alcançadas se o seu preço não raro é
insuportável?
O
que haverá após esta vida?
Estas
perguntas fundamentais caracterizam o percurso do viver humano [xii].
Pode,
a propósito, recordar-se a admonição «Conhece-te a ti mesmo», esculpida na
arquitrave do templo de Delfos, que está a testemunhar a verdade basilar
segundo a qual o homem, chamado a distinguir-se entre todas as criaturas, se
qualifica como homem justo enquanto constitutivamente orientado a conhecer-se a
si mesmo.
15
A orientação que se dá à existência, à convivência social e à história
dependem, em grande parte, das respostas dadas a estas questões sobre o lugar
do homem na natureza e na sociedade, às quais o presente documento entende dar
o seu contributo.
O
significado profundo do existir humano, com efeito, revela-se na livre procura
da verdade, capaz de oferecer direcção e plenitude à vida, procura à qual tais
questões solicitam incessantemente a inteligência e a vontade do homem.
Elas
exprimem a natureza humana no seu mais alto nível, porque empenham a pessoa numa
resposta que mede a profundidade do seu compromisso com a própria existência.
Trata-se,
ademais, de interrogações essencialmente religiosas: «quando o porquê das
coisas é indagado a fundo em busca da resposta última e mais exaustiva, então a
razão humana atinge o seu ápice e se abre à religiosidade.
Com
efeito, a religiosidade representa a expressão mais elevada da pessoa humana,
porque é o ápice da sua natureza racional.
Brota
da profunda aspiração do homem à verdade, e está na base da busca livre e
pessoal que ele faz do divino» [xiii].
16
As interrogações radicais, que desde os inícios acompanham o caminho dos
homens, adquirem, no nosso tempo, ainda maior significância, pela vastidão dos
desafios, pela novidade dos cenários, pelas opções decisivas que as actuais
gerações são chamadas a efectuar.
O
primeiro dentre os maiores desafios, frente aos quais a humanidade se encontra,
é o da própria verdade do ser-homem.
O
confim e a relação entre natureza, técnica e moral são questões que interpelam
decisivamente a responsabilidade pessoal e colectiva em vista dos
comportamentos que se devem ter, em face daquilo que o homem é, do que pode
fazer e do que deve ser.
Um
segundo desafio é posto pela compreensão e pela gestão do pluralismo e das
diferenças em todos os níveis: de pensamento, de opção moral, de cultura, de
adesão religiosa, de filosofia do progresso humano e social.
O
terceiro desafio é a globalização, que tem um significado mais amplo e profundo
do que o simplesmente económico, pois que se abriu na história uma nova época,
que concerne ao destino da humanidade.
17
Os discípulos de Jesus sentem-se envolvidos por estas interrogações, levam-nas
eles mesmos no coração e querem empenhar-se, juntamente com todos os homens, na
procura da verdade e do sentido da existência pessoal e social.
Para
tal procura contribuem com o seu generoso testemunho do dom que a humanidade
recebeu:
Deus
dirigiu-lhe Sua Palavra no curso da história, antes, Ele mesmo entrou na
história para dialogar com a humanidade e revelar-lhe o Seu desígnio de
salvação, de justiça e de fraternidade.
No
Seu Filho, Jesus Cristo, feito homem, Deus nos libertou do pecado e nos indicou
o Caminho a percorrer e a meta à qual tender.
d) Sob o signo da
solidariedade, do respeito e do amor
18
A Igreja caminha com toda a humanidade ao longo das estradas da história.
Ela
vive no mundo e, mesmo sem ser do mundo [xiv],
é chamada a servi-lo seguindo a própria íntima vocação.
Uma
tal atitude — que se pode entrever também no presente documento — apoia-se na
profunda convicção de que é importante para o mundo reconhecer a Igreja como
realidade e fermento da história, assim como para a Igreja não ignorar quanto
tem recebido da história e do progresso do género humano [xv].
O
Concílio Vaticano II quis dar uma demonstração eloquente da solidariedade, do
respeito e do amor para com toda a família humana, instaurando com ela um
diálogo sobre tantos problemas, «esclarecendo-os à luz do Evangelho e pondo à
disposição do género humano o poder salvífico que a Igreja, conduzida pelo
Espírito Santo, recebe do seu Fundador.
Com
efeito, é a pessoa humana que se trata de salvar, é a sociedade humana que
importa renovar» [xvi].
19
A Igreja, sinal na história do amor de Deus para com os homens e da vocação de
todo o género humano à unidade na filiação do único Pai [xvii],
também com este documento sobre a sua doutrina social entende propor a todos os
homens um humanismo à altura do desígnio de amor de Deus sobre a história, um
humanismo integral e solidário, capaz de animar uma nova ordem social, económica
e política, fundada na dignidade e na liberdade de toda a pessoa humana, a se
realizar na paz, na justiça e na solidariedade.
Um
tal humanismo pode realizar-se.
A
tendência à unidade «só será possível, se os indivíduos e os grupos sociais
cultivarem em si mesmos e difundirem na sociedade os valores morais e sociais,
de forma que sejam verdadeiramente homens novos e artífices de uma nova
humanidade, com o necessário auxílio da graça» [xviii].
(cont)
[i] Concílio Vaticano
II, Decr. Christus Dominus, 12: AAS
58 (1966) 678.
[ii] Concílio Vaticano
II, Const. dogm. Lumen gentium, 31:
AAS 57 (1965) 37.
[iii] Cf. Paulo VI, Carta apost. Octogésima adveniens, 4:
AAS 63 (1971) 403.
[vi] Cf. Concílio
Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes,
92: AAS 58 (1966) 1113-1114.
[vii] cf. Ex 33, 11; Jo
15, 14-15
[ix] Concílio Vaticano
II, Const. dogm. Dei verbum, 2: AAS
58 (1966) 818.
[x] Concílio Vaticano
II, Const. past. Gaudium et spes, 3:
AAS 58 (1966) 1026.
[xi] Concílio
Vaticano II,
Const. past. Gaudium et spes,
3: AAS 58 (1966) 1027.
[xii] Cf.
Concílio Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, 10: AAS 58 (1966) 1032.
[xiii] João
Paulo II, Alocução na Audiência Geral (19 de Outubro de 1983), 2: L’Osservatore
Romano, ed. em Português, 23 de Outubro de 1983, p. 12.
[xv] Cf.
Concílio Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, 44: AAS 58 (1966) 1064.
[xvi] Concílio
Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, 3: AAS 58 (1966) 1026.
[xvii] Cf.
Concílio Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, 1: AAS 57 (1965) 5.
[xviii] Concílio
Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, 30: AAS 58 (1966) 1050