A
temperança prepara o caminho para a santidade, pois constrói uma ordem interior
que permite empregar a inteligência e a vontade naquilo que se tem entre mãos: Queres
deveras ser santo? – Cumpre o pequeno dever de cada momento, faz o que deves e
está no que fazes [i].
Para receber a graça divina, para crescer em santidade, o cristão tem de se
meter na actividade que é a sua matéria de santificação.
As
novas tecnologias favorecem a superficialidade? Dependerá, sem dúvida, do modo
como se utilizem. No entanto, é necessário estar prevenido contra a dissipação:
Deixas que os teus sentidos e potências se embebam em qualquer charco. - Assim
andas tu depois: sem te fixares em nada, dispersa a atenção, adormecida a
vontade, e desperta a concupiscência. [ii].
Evidentemente,
quando se cede à dissipação por um emprego desordenado do telefone ou da
internet, a vida de oração encontra obstáculos para o seu desenvolvimento. Não
obstante, o espírito cristão leva a conservar a calma enquanto nos movemos com
facilidade nas diversas circunstâncias da vida moderna: Os filhos de Deus têm
de ser contemplativos: pessoas que, no meio do fragor da multidão, sabem
encontrar o silêncio da alma em colóquio permanente com Nosso Senhor [iii].
S.
Josemaria salientava que o silêncio é como que o porteiro da vida interior [iv],
e nesta linha encorajava os fiéis que vivem no meio do mundo a ter momentos de
maior recolhimento, compatíveis com um trabalho intenso. Dava especial importância
à preparação da Santa Missa. Num ambiente penetrado pelas novas tecnologias, os
cristãos sabem encontrar tempos para o trato com Deus, onde os sentidos, a
imaginação, a inteligência, a vontade se podem recolher. Como o profeta Elias,
descobrimos o Senhor não no ruído dos elementos e no ambiente, mas num sussurro
de brisa suave [v].
O
recolhimento que abre espaço ao colóquio com Jesus Cristo exige deixar para
segundo plano outras atividades que reclamam a nossa atenção. A oração pede
para que nos desliguemos do que nos possa distrair e, com frequência, será
oportuno que esse desligar seja físico, desativando as notificações de um
dispositivo, fechando os programas em execução ou, eventualmente, desligando o
equipamento. É o momento de dirigir o olhar para o Senhor, e deixar nas Suas
mãos o resto.
Por
outro lado, o silêncio leva a estar atento aos outros e reforça a fraternidade,
para descobrir pessoas que necessitam de ajuda, caridade e carinho [vi].
Numa época em que contamos com recursos tecnológicos que parecem empurrar-nos
para encher o nosso dia de iniciativas, de atividades, de ruído, é bom fazer
silêncio fora e dentro de nós. Neste sentido, ao refletir sobre o papel dos
meios de comunicação social na cultura atual, o Papa Francisco convidou a «recuperar
um certo sentido de pausa e de calma. Isto requer tempo e capacidade de guardar
silêncio para escutar. (…) Se temos o genuíno desejo de escutar os outros,
então aprenderemos a olhar o mundo com olhos diferentes e a apreciar a
experiência humana tal como se manifesta nas diferentes culturas e tradições» [vii].
O esforço por formar uma atitude pessoal de escuta, e a promoção de espaços de
silêncio, abre-nos aos outros e, de modo especial, à acção de Deus nas nossas
almas e no mundo.
j.c. vásconez
‒ r. valdés
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