Exame
Observo-me, escrevo sobre
mim mas, algumas vezes parece que estou como que a fazer um “prédica” a
terceiras pessoas.
É a minha forma de ser
aviso desde já.
Dificilmente me atrevo a
fazer um exame profundo do meu procedimento.
Qual a razão?
Porque sei muito bem que
tenho uma explicação, uma desculpa para tudo de forma que nunca encontro nada
absolutamente errado mas, tão só, pequenas falhas sem grande relevo.
Então, quer dizer, não
faço exame porque fico pior que se o não Fizesse?
Não!
É pura e simples cobardia
e auto-convencimento da bondade da minha forma de proceder.
Eu é que sei! Poderia
afirmar.
Que falta de vergonha, que
pobreza de critério!
A continuar assim onde
irei parar?
Ajuda-me Senhor pois bem
vês que não sou capaz.
…
Exame pois claro!
Como se fosse assim algo
de extraordinário, com um merecimento enorme!
Ainda se fosse verdadeiro,
profundo, detalhado!
Mas não é, não costuma
passar de uma revisão da memória onde me perco em inúmeras coisas sem
importância nenhuma, em vez de ir ao "fundo", ao cerne onde nascem os
meus defeitos, os meus erros.
Desejo tirar esta capa de
"bem-comportado" com que me cubro para poder apresentar-me ao Senhor
tal qual sou, ou, por outras palavras, como Ele sabe que sou.
Só com a Tua ajuda o conseguirei
e, por isso Te peço me ajudes.
…….
Não tenho outro remédio,
tenho de fazer exame!
Penso que fazer exame é um
acto sério que define a consciência e o carácter da pessoa.
Não o fazer equivale a
considerar-se ou perfeito - e a perfeição não se examina - ou estar
completamente desinteressado da vida que se leva, do impacto ou influência que
os nossos actos podem ter nos outros, indiferença pelas escolhas dos caminhos
ou decisões que se tomam, enfim, viver como um irracional que, como se sabe,
não pensa.
Mas, fazer exame não
significa um escalpelizar da personalidade à procura de erros, defeitos, vícios,
mau procedimento. É, também, verificar o que está bem e que pode eventualmente
melhorar e, este aspecto do exame é, seguramente, tão importante como o outro.
…..
É muito possível que o
exame pessoal nos arraste a um desejo de controlo absoluto e constante sobre as
nossas acções, desejos e querer.
Se assim for não há mal
nenhum desde que, evidentemente, esse desejo não nos conduza a um imobilismo ou
a uma situação em que os escrúpulos nos levem à indecisão.
Como para tudo, também o
exame pessoal tem de ser equilibrado com critério e bom-senso.
….
Mas, o exame é algo privado,
como que secreto?
Privado e pessoal sim, mas
não tem que ser secreto.
Ao contrário, pode muito
bem servir para ajudar outros.
Seria, talvez, motivo de
conversa apostólica levar outros ao hábito do exame pessoal.
O exame dá sempre fruto o
que é óptimo para quem necessita - e somos todos os homens - de se apresentar
ao Senhor com algo para Lhe oferecer.
….
Há duas posições que
parecem antagónicas mas, de facto não são.
A primeira é considerar-se
um desgraçado cheio de defeitos e debilidades incapaz de merecer o que for.
A segunda é ter-se como
alguém impecável que procede bem e credor de reconhecimento das suas
qualidades.
Como dizia parecem antagónicas,
mas na verdade têm pelo menos um ponto em comum: ambas são exageradas e fogem à
realidade.
Quando se tem uma
consciência bem formada, isto é, se consegue quase sem esforço distinguir o bem
do mal - não no sentido abstracto ou subjectivo mas no aspecto simples e formal
- o que pode ser conveniente ou o que não interessa, temos com certeza
facilidade em fazer exame.
Por exemplo:
O fiz hoje de bom?
O que fiz mal?
O que podia ter evitado?
O que deveria fazer
melhor?
Perguntas simples e
concretas que requerem respostas ao mesmo nível.
Ah e sempre – condição
sine-qua-non, com honestidade intelectual.
Depois, naturalmente, como
consequência lógica, surgirá um propósito, um desejo de melhoria que pode
incluir compromisso de correcção.
…
Há que ter algum cuidado
neste aspecto do propósito.
Talvez possa haver uma
intenção sincera de o levar a termo mas é necessário que esse propósito seja
muito concreto fugindo às generalidades.
E também simples para ser
exequível.
Pode ser um propósito
composto, isto é, a levar a cabo por fazes, com tempo, não pretender que seja
tudo feito imediatamente como um objectivo que em vez de ser
"acessível" se converta num fardo difícil de levar.
….
O propósito pode ter como
raiz um desejo ou uma necessidade de correcção ou ainda uma vontade de
melhoria.
Seja como for nunca nos
esqueçamos que se trata de uma decisão pessoal livremente tomada e não algo
imposto por outro seja porque motivo for.
Antes de fazer o propósito
deve considerar-se que se está a assumir um compromisso e portanto envolve uma
responsabilidade que não pode ser descartada por uma razão ou motivo qualquer.
Se me comprometer com Deus,
não cumprir o prometido equivale a desiludir o Senhor e assim mais vale não se
comprometer.
Esta conclusão parece
tornar tudo muito mais fácil:
Ou me considero capaz de
um compromisso, mesmo contando com eventuais falhas; ou não!
Chego a uma conclusão
final que parece dever ser:
1 - O exame é algo sério e
importante.
2 - Tudo quanto é sério e
importante deve ser levado à consideração da oração.
3 – Antes do exame, oração
a pedir luz e discernimento e, naturalmente, humildade.
4 – Depois do exame,
agradecer a luz e inspirações recebidas e, novamente levá-las à oração.
5 – Depois e só depois,
virá o propósito consequência lógica do resultado da oração.
AMA,
Reflexão, Porto 26-05-2018