31/12/2017

Um ano que termina

Quando recordares a tua vida passada, passada sem pena nem glória, considera quanto tempo perdeste, e como podes recuperá-lo: com penitência e com maior entrega. (Sulco, 996)


Um ano que termina – já foi dito de mil modos, mais ou menos poéticos – com a graça e a misericórdia de Deus, é mais um passo que nos aproxima do Céu, nossa Pátria definitiva.

Ao pensar nesta realidade, compreendo perfeitamente aquela exclamação que S. Paulo escreve aos de Corinto: tempus breve est!, que breve é a nossa passagem pela terra! Para um cristão coerente, estas palavras soam, no mais íntimo do seu coração, como uma censura à falta de generosidade e como um convite constante a ser leal. Realmente é curto o nosso tempo para amar, para dar, para desagravar. Não é justo, portanto, que o malbaratemos, nem que atiremos irresponsavelmente este tesouro pela janela fora. Não podemos desperdiçar esta etapa do mundo que Deus confia a cada um de nós.

Pensemos na nossa vida com valentia. Por que é que às vezes não conseguimos os minutos de que precisamos para terminar amorosamente o trabalho que nos diz respeito e que é o meio da nossa santificação? Por que descuidamos as obrigações familiares? Por que é que se nos mete a precipitação no momento de rezar ou de assistir ao Santo Sacrifício da Missa? Por que nos faltará a serenidade e a calma para cumprir os deveres do nosso estado e nos entretemos sem qualquer pressa nos caprichos pessoais? Podeis responder-me: são coisas pequenas. Sim, com efeito, mas essas coisas pequenas são o azeite, o nosso azeite, que mantém viva a chama e acesa a luz. (Amigos de Deus, 39–41)


Temas para meditar

A força do Silêncio, 284


Deus não quer o mal. Deus não quer a guerra. Deus não quer a morte nem o sofrimento.
Deus não quer a injustiça.
Contudo, permite todos estes males terrestres.
Porquê tal mistério?

O Pai pretende que nós assumamos toda a nossa vida aqui na Terra. E o mal faz parte da condição humana.
Ele quis que O Seu próprio Filho fizesse a experiência do mal mais abjecto para a redenção e a salvação do mundo


CARDEAL ROBERT SARAH

Evangelho e comentário

Tempo de Natal

Sagrada Família

Evangelho: Lc 2, 22-40

22 Quando se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor, 23 conforme está escrito na Lei do Senhor: «Todo o primogénito varão será consagrado ao Senhor» 24 e para oferecerem em sacrifício, como se diz na Lei do Senhor, duas rolas ou duas pombas. 25 Ora, vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso e esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo estava nele. 26 Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias do Senhor. 27  Impelido pelo Espírito, veio ao templo, quando os pais trouxeram o menino Jesus, a fim de cumprirem o que ordenava a Lei a seu respeito. 28 Simeão tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo: 29 «Agora, Senhor, segundo a tua palavra, deixarás ir em paz o teu servo, 30 porque meus olhos viram a Salvação 31 que ofereceste a todos os povos, 32 Luz para se revelar às nações e glória de Israel, teu povo.» 33 Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que se dizia dele. 34 Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; 35 uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações.» 36 Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, a qual era de idade muito avançada. Depois de ter vivido casada sete anos, após o seu tempo de donzela, 37 ficou viúva até aos oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, participando no culto noite e dia, com jejuns e orações. 38 Aparecendo nessa mesma ocasião, pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém. 39 Depois de terem cumprido tudo o que a Lei do Senhor determinava, regressaram à Galileia, à sua cidade de Nazaré. 40 Entretanto, o menino crescia e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele.

Comentário:

A apresentação de Jesus no Templo tem, por assim dizer, “testemunhas de peso”.

O Senhor deseja que tudo quanto Lhe respeite seja o normal e comum de qualquer outro bom israelita do Seu tempo e, igualmente, no que concerne à Sua Família. Nada O há-de distinguir dos outros, a nada Se exime.
De facto, parece que o Menino se antecipa ao Sacrifício da Cruz oferecendo-se a Seu Pai nos começos e no final da Sua vida terrena.

Fica bem vincado, assim, que Ele veio para cumprir um Pano Divino, a Vontade Soberana de Deus e que, este será observado sempre sejam as circunstâncias tranquilas da Apresentação no Templo sejam as dramáticas ocorrências da Sua Paixão e Morte.

(ama, comentário sobre Lc 2, 22-40, 02.02.2014)







Leitura espiritual

MARIA, A MÃE DE JESUS 8


A DEVOÇÃO A MARIA SANTÍSSIMA

O nosso relacionamento, a nossa intimidade com Maria é essencialmente filial. O vínculo filiação-maternidade “determina sempre – como lembra a Encíclica Redemptoris Mater – uma relação única e irrepetível entre duas pessoas: da mãe com o filho e do filho com a mãe” [i]. E a medula desse vínculo, evidentemente, é o amor. Por isso, só perguntando-nos pelas características que tornam autêntico esse amor é que descobriremos os traços da verdadeira devoção a Maria Santíssima. Com isso, perceberemos também melhor o que Deus quis que representasse para nós o imenso dom que nos fez, dando-nos Maria como Mãe. Comecemos pelos aspectos dessa devoção que se nos impõem de maneira mais imediata. Um cristão que vive de fé sabe que Maria o ama e o auxilia com carinho de Mãe. Sabe-a voltada maternalmente para ele. É natural que, dessa certeza, flua espontaneamente uma sincera afeição filial. “Nada convida tanto ao amor – comenta São Tomás – como a consciência de sentir-se amado” [ii].
A devoção mariana manifesta-se, por isso, em mil expressões, delicadas e fervorosas, de carinho de filho: no tom afetuoso da oração que dirigimos a Ela, na alegria de visitá-la nos lugares onde se quis fazer especialmente presente, nos muitos pormenores íntimos do coração, que o pudor vedaria externar. Juntamente com esse afeto filial, e impregnando-o intimamente, brota também espontaneamente um sentimento de profunda confiança. “Nunca se ouviu dizer – reza uma bela oração atribuída a São Bernardo – que algum daqueles que tivesse recorrido à vossa proteção, implorado a vossa assistência, reclamado o vosso socorro, fosse por Vós desamparado”. Esta certeira confiança dos fiéis exprimiu-se num leque multicolorido de invocações marianas, que traduzem a segura experiência do coração cristão: Mãe de misericórdia, Virgem poderosa, Auxílio dos cristãos, Consoladora dos aflitos, Onipotência suplicante... Era essa a confiança que fazia Dante escrever estes preciosos versos: Donna, se' tanto grande e tanto vali, / che qual vuol grazia e a te non ricorre, / sua disianza vuol volar sanz'ali; “Senhora, és tão grande e tanto podes, que para quem quer graça e a ti não recorre, o seu desejo quer voar sem asas” [iii]. Amor e confiança. Trata-se de sentimentos com fortes raízes no coração. Ora é bem sabido que os afectos do coração possuem muitas vezes uma sutil ambivalência: são sentimentos que a custo se equilibram na difícil passarela onde o amor beira sempre o egoísmo. Não é raro que os muito sentimentais sejam também muito egoístas. Por isso, se a devoção a Maria não estivesse fundamentada nos alicerces da fé – da doutrina – e da caridade, poderia deslizar imperceptívelmente para os declives do egoísmo. Tal coisa aconteceria no caso de uma devoção meramente sentimental – não animada por desejos de entrega e de amor operante – que, embora cheia de efusões de ternura, não incidisse fortemente na vida para modificá-la. Mais facilmente ainda se daria essa deturpação se a devoção mariana se reduzisse a um simples recurso para alcançar uma “proteção” ou uns “favores” meramente interesseiros. Esses desvios, contudo, não se darão se o nosso amor filial a Maria entrar, como deve, em sintonia com o seu amor maternal. Pensemos que o coração da nossa Mãe, “cheia de graça”, é uma fornalha ardente de caridade, de amor a Deus e aos homens. Nele se encontra, em medida quase infinita, a caridade derramada pelo Espírito Santo [iv]. Isto significa que quem se aproximar dEla com um coração reto e sincero se sentirá necessariamente impelido para o amor a Deus e ao próximo. Este é o segredo divino da devoção a Maria. Foi de fato para nos facilitar a entrega a esse duplo amor – o mandamento que resume todos os outros – que Deus, em sua misericórdia, quis dar-nos Maria como Mãe. É por isso que a devoção a Maria, bem vivida, é sempre como um sopro – fecundo, cálido e suave – que acende o amor na alma, inflama a generosidade e move a abraçar sem reservas a vontade de Deus. “Se procurarmos Maria, encontraremos Jesus”, diz Mons. Escrivá, fazendo-se eco da tradição cristã [v].

No fundo de tudo o que a Virgem Santíssima sugere ao coração dos homens, sempre pulsam as suas palavras em Caná: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. A verdadeira devoção é, por isso, radicalmente “cristocêntrica” – conduz a Cristo –, é “teocêntrica”. Nossa Senhora vive e faz viver em função de Jesus. Não pode haver aí nem sombra de “idolatria”. Ao mesmo tempo, é claro que, se Maria nos leva a Jesus, indefectívelmente nos aproxima também dos nossos irmãos, que são irmãos de seu Filho e filhos dEla. Ela é a Mãe comum que nos faz sentir fraternalmente vinculados em Cristo, membros da família de Deus [vi], e nos desperta na alma ânsias de doação e de serviço aos outros. O Coração de Maria infunde calor e força ao amor dos irmãos. Como vemos, se a Virgem Santíssima nos auxilia – e esta é a sua missão maternal –, é única e exclusivamente para nos colocar mais plenamente em face das exigências da nossa vocação cristã. É com este fim que Ela intercede por nós junto de Deus e distribui as graças que o Senhor colocou em suas mãos. Mesmo os favores maternos que Ela nos obtém em pequenas coisas – como em Caná – são incentivos de carinho que nos ajudam a agradecer e a retribuir a Deus as suas bondades. Em qualquer caso, Ela estende a sua mão para nos elevar – suave e fortemente – até à meta da nossa vocação cristã, que é a santidade. Com razão se pode afirmar, por isso, que o amor de Maria por seus filhos é simultaneamente doce e exigente. “Nossa Senhora, sem deixar de se comportar como Mãe, sabe colocar os seus filhos em face de suas precisas responsabilidades. Aos que dEla se aproximam e contemplam a sua vida, Maria faz sempre o imenso favor de os levar até a Cruz, de os colocar bem diante do exemplo do Filho de Deus. E nesse confronto em que se decide a vida cristã, Maria intercede para que a nossa conduta culmine com uma reconciliação do irmão menor – tu e eu – com o Filho primogênito do Pai” [vii]. A Jesus “se vai” por Maria, e a Jesus “se volta” por Ela, diz Caminho [viii].
Quando, ao rezar a Ave-Maria, nós lhe pedimos “rogai por nós, pecadores”, fazemo-lo com a consciência de que demasiadas vezes nos afastamos de Deus e, como o filho pródigo, precisamos voltar para a casa do Pai. Maria torna suave, também, e esperançado esse retorno. Não é verdade que, perto da Mãe, nos tornamos a sentir crianças? Despojamo-nos da nossa triste armadura de adultos, forjada pelo orgulho, pela vergonha ou pela decepção. E então o fardo das nossas misérias já não nos esmaga. Com Maria, sentimo-nos crianças reanimadas pela ternura da Mãe, alegres por descobrir que, para um filho pequeno, sempre é possível levantar-se, sempre é possível recomeçar, sempre é hora de esperar. Ela é a porta perpetuamente aberta na Casa do Pai. A Estrela da manhã, a Estrela do mar, a nossa Mãe, guia-nos por toda a estrada da vida, passo a passo, na bonança e na tormenta, nos avanços e nas quedas, até alcançarmos o repouso definitivo no coração do Pai. Nunca percamos de vista que “foi Deus quem nos deu Maria: não temos o direito de rejeitá-la, antes pelo contrário, devemos recorrer a Ela com amor e com alegria de filhos” [ix]. Há um antigo adágio teológico que diz: De Maria numquam satis, isto é, “nunca diremos o bastante de Maria”. Nestas páginas, tentamos aproximar-nos do esplendor do mistério de Maria. Pudemos captar apenas alguns dos seus fulgores. Mas, para alcançarmos uma luz mais plena, devemos imitar a Santíssima Virgem, procurando como Ela “guardar, meditando-as no coração” [x], todas as coisas que Deus nos quis dizer acerca de Maria. Então compreenderemos cada vez melhor por que a Igreja aplica a Nossa Senhora estas palavras do livro dos Provérbios: Aquele que me achar encontrará a Vida e alcançará do Senhor a salvação [xi].

FRANCISCO FAUS.




[i] Enc. Redemptoris Mater, n. 45
[ii] cfr. São Tomás de Aquino, Summa contra gentes, IV, XXIII
[iii] Dante Alighieri, Divina Comédia, Par. XXXIII, 13-15
[iv] cfr. Rom 5, 5
[v] Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, cit., pág. 190
[vi] cfr. Ef 2, 19
[vii] Josemaría Escrivá, ib., pág. 195
[viii] Josemaría Escrivá, Caminho, cit., n. 495
[ix] Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, cit., pág. 189
[x] cfr. Lc 2, 51
[xi] Prov 8, 35

Pequena agenda do cristão

DOMINGO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Viver a família.

Senhor, que a minha família seja um espelho da Tua Família em Nazareth, que cada um, absolutamente, contribua para a união de todos pondo de lado diferenças, azedumes, queixas que afastam e escurecem o ambiente. Que os lares de cada um sejam luminosos e alegres.

Lembrar-me:
Cultivar a Fé

São Tomé, prostrado a Teus pés, disse-te: Meu Senhor e meu Deus!
Não tenho pena nem inveja de não ter estado presente. Tu mesmo disseste: Bem-aventurados os que crêem sem terem visto.
E eu creio, Senhor.
Creio firmemente que Tu és o Cristo Redentor que me salvou para a vida eterna, o meu Deus e Senhor a quem quero amar com todas as minhas forças e, a quem ofereço a minha vida. Sou bem pouca coisa, não sei sequer para que me queres mas, se me crias-te é porque tens planos para mim. Quero cumpri-los com todo o meu coração.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?

30/12/2017

Para obedecer, é preciso humildade

Quando tiveres de mandar, não humilhes: procede com delicadeza; respeita a inteligência e a vontade de quem obedece. (Forja, 727)


Muitas vezes fala-nos através doutros homens e pode acontecer que, à vista dos defeitos dessas pessoas ou pensando que não estão bem informadas ou que talvez não tenham entendido todos os dados do problema, surja uma espécie de convite a não obedecermos.

Tudo isso pode ter um significado divino, porque Deus não nos impõe uma obediência cega, mas uma obediência inteligente, e temos de sentir a responsabilidade de ajudar os outros com a luz do nosso entendimento. Mas sejamos sinceros connosco próprios: examinemos em cada caso se o que nos move é o amor à verdade ou o egoísmo e o apego ao nosso próprio juízo. Quando as nossas ideias nos separam dos outros, quando nos levam a quebrar a comunhão, a unidade com os nossos irmãos, é sinal certo que não estamos a actuar segundo o espírito de Deus.


Não o esqueçamos: para obedecer, repito, é preciso humildade. Vejamos de novo o exemplo de Cristo. Jesus obedece, e obedece a José e a Maria. Deus veio à Terra para obedecer, e para obedecer às criaturas. São duas criaturas perfeitíssimas – Santa Maria, Nossa Mãe; mais do que Ela só Deus; e aquele varão castíssimo, José. Mas criaturas. E Jesus, que é Deus, obedecia-lhes! Temos de amar a Deus, para amar assim a sua vontade, e ter desejos de responder aos chamamentos que nos dirige através das obrigações da nossa vida corrente: nos deveres de estado, na profissão, no trabalho, na família, no convívio social, no nosso próprio sofrimento e no sofrimento dos outros homens, na amizade, no empenho de realizar o que é bom e justo... (Cristo que passa, 17)

Temas para meditar

A força do Silêncio, 258



A oração é uma conversa, um diálogo com o Deus Trino – sim, em certos momentos dirigimo-nos a Deus, e noutros fazemos silêncio para O escutar.




CARDEAL ROBERT SARAH

Evangelho e comentário

Tempo de Natal


Evangelho: Lc 2, 36-40

36 Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, a qual era de idade muito avançada. Depois de ter vivido casada sete anos, após o seu tempo de donzela, 37 ficou viúva até aos oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, participando no culto noite e dia, com jejuns e orações. 38 Aparecendo nessa mesma ocasião, pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém. 39 Depois de terem cumprido tudo o que a Lei do Senhor determinava, regressaram à Galileia, à sua cidade de Nazaré. 40 Entretanto, o menino crescia e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele.

Comentário:

Esta casa de Nazaré estava cheia da Graça de Deus: Maria, a «cheia de graça» e Jesus Ele próprio a Graça.

Que maravilha!

Quando nos detemos imaginando estes cerca de trinta anos em que Mãe e Filho partilharam o mesmo tecto, comeram à mesma mesa gostaríamos muito que o Evangelista nos relatasse alguns detalhes.
Mas não o fez, impôs-se a discrição, o anonimato simples, a normalidade de uma família humana.

E era a família mais importante e extraordinária que alguma vez existiu:

Jesus Cristo, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade e Sua Santíssima Mãe!

(ama, comentário sobre Lc 2, 36-40 30.12.2015)







Leitura espiritual

MARIA, A MÃE DE JESUS 7


DO ALTO DA CRUZ

Caná é o início da vida pública de Cristo. O sacrifício da Cruz é o seu fecho e a sua culminação. Procuremos agora aproximar-nos do coração de Maria e tentemos captar o que “Maria guardava no coração” naquela hora em que a salvação da humanidade se consumava por meio do sacrifício redentor de Jesus Cristo. São João descreve a presença de Maria ao pé da Cruz, junto das santas mulheres, com uma palavra cheia de têmpera: stabat. Literalmente, significa “estar firme, de pé”. Mas o termo indica muito mais do que um simples modo de permanecer. A expressão original empregada pelo Evangelho sugere um conteúdo moral, isto é, que Maria acompanhava o sofrimento do Filho com fortaleza de alma; e que, no seu coração, não só havia inteireza, mas adesão. Nessa “hora” definitiva, em que o Filho dá a vida para a salvação de muitos [i], a atitude espiritual de Maria é exatamente a mesma que no dia da Anunciação: fiat, “faça-se”. Adesão incondicional, plena, à vontade de Deus, e concretamente ao plano salvífico que Cristo está realizando no mundo, plano no qual Ela foi chamada a colaborar da forma mais estreita. Podemos dizer que o fiat, a união com a vontade de Deus – como já mencionávamos anteriormente – é a alma de Maria. Aquilo que faz dela a Mãe, no sentido mais profundo, não é apenas nem primariamente o fato de ter gerado fisicamente Jesus, mas de se ter unido perfeitamente à vontade de Deus em cada um dos instantes da vida e da missão do Filho. Lembremo-nos de que, certo dia, quando uma mulher da multidão louvou em voz alta o ventre que te trouxe e os peitos que te amamentaram, Jesus lhe respondeu: Antes bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática [ii].
Teria com isso desviado de Maria o louvor espontâneo daquela mulher? Não, sem dúvida, pois porventura não foi a Virgem quem melhor ouviu e cumpriu a palavra de Deus? Com essas palavras, Cristo mostrava de fato qual é a mais profunda razão para louvá-la. Análogo sentido se deve ver no comentário, frio e distante na aparência, feito por Jesus certa vez em que lhe advertiram que sua Mãe acabava de chegar: Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe [iii].
Ao pé da Cruz, a adesão de Maria à vontade divina atinge o seu cume. A Virgem Santa conhecia bem – como todo o judeu piedoso – as profecias que, de um fundo de séculos, prenunciavam o Messias como “Servo sofredor”, que seria levado à morte como manso cordeiro conduzido ao sacrifício: pelas suas chagas, todos nós seríamos curados [iv]. Por isso, ao dizer “faça-se” ao Anjo, Ela aceitara o destino do seu Filho. Quando o apresentou no Templo a Deus Pai – já o lembrávamos antes –, o seu gesto foi uma antecipação do oferecimento definitivo que iria fazer ao pé da Cruz, aceitando a Paixão e a Morte de seu Filho pela nossa salvação; mais ainda, oferecendo voluntariamente – com a alma transpassada de dor e numa completa generosidade – o sacrifício de Jesus por nós, Maria – por amor a Deus e por amor aos homens necessitados de redenção – aceitou morrer de dor, no íntimo da sua alma, juntamente com Cristo. Uniu-se assim ao seu sacrifício redentor e assumiu-o como próprio. Por isso é chamada Corredentora. Foi, de fato, na Cruz que Cristo, dando a sua vida, mereceu para nós a vida divina da graça. O seu holocausto de Amor, por ter um valor infinito – divino –, é uma inesgotável fonte de méritos em favor dos homens. Pois bem, o Salvador quis associar tão intimamente a sua Mãe bendita ao sacrifício da Redenção que a Igreja pode afirmar que Maria mereceu com “mérito de conveniência” – como se diz na linguagem teológica – todas as graças que Jesus nos mereceu por justiça na Cruz [v]. Ela é, também por este título, a “Mãe da divina graça”. A vida sobrenatural, que brota copiosamente da Cruz, também é, de alguma maneira, vida dEla, vida que recebemos por Ela: isso a torna mais profundamente a nossa Mãe. Convém lembrar ainda que Jesus Cristo, com os seus padecimentos, pagou – expiou, satisfez – pelos nossos pecados: Fostes resgatados – escreve São Pedro – (...) pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e sem mancha [vi].
A Virgem Imaculada, unindo-se totalmente aos sofrimentos do Filho – com os mesmos sentimentos de Cristo Jesus [vii] – aceitou, com amor imenso, pagar também Ela com a sua própria dor pelos nossos pecados. Junto da Cruz, entregou a sua alma, fundida com o sacrifício de Jesus, pela nossa salvação [viii].
A dilacerante agonia do seu coração, junto do Crucificado, foi então como que um novo parto – desta vez com dor –, através do qual Maria nos deu à luz espiritualmente. Não se trata de uma frase poética, mas de uma inefável realidade: todos e cada um de nós nascemos de Maria naquele momento. Aí, perto da árvore da Cruz, Ela se tornou plenamente a “nova Eva”, a nova e verdadeira “mãe dos viventes”, como gostava de repetir a piedade mariana dos primeiros séculos [ix].

EIS O TEU FILHO

Logo após as palavras pronunciadas por Cristo na Cruz – “eis a tua Mãe”, “eis o teu filho” – , conta o Evangelho que desta hora em diante, o discípulo a levou para sua casa [x]. Esse “discípulo” – já o víamos no começo destas páginas – representava todos os discípulos: os que na altura seguiam Jesus e todos os homens chamados depois a segui-Lo, fazendo parte do Povo de Deus que é a Igreja. O facto de o discípulo ter assumido ao pé da letra a “filiação” a Maria, “levando-a para sua casa”, reflete bem a intenção de Cristo – que João compreendeu – de que a Igreja, a que São Paulo chama o Corpo de Cristo [xi], tivesse a sua existência inseparavelmente unida à Mãe de Jesus. Ela é a Mãe da Cabeça deste Corpo – de Cristo –, e é a Mãe dos membros deste Corpo, que somos nós. É a Mãe da Igreja, do “Cristo total”, como gostava de dizer Santo Agostinho. Na mente de Deus, portanto, a Igreja é concebida também como uma família, como um lar que tem uma Mãe. No centro dessa família, pulsa o Coração da Virgem e nela irradia o aconchego da sua maternidade. É muitíssimo significativo que a Igreja tenha nascido no dia de Pentecostes, quando os discípulos e as santas mulheres estavam reunidos – em união de corações e de preces – com Maria, a Mãe de Jesus [xii].
São Lucas, o evangelista que melhor captou o papel de Maria no começo da vida do Redentor, é o mesmo que nos Atos dos Apóstolos sublinha a presença central de Nossa Senhora nos começos da vida da Igreja, mostrando que a Igreja recebeu o Espírito Santo – a sua alma divina – estando aglutinada como uma família em volta da Virgem Santíssima.

O CORAÇÃO DE MARIA NO TEMPO E NA ETERNIDADE

Havia de chegar, porém, um dia em que a presença de Maria já não seria visível para os olhos dos seus filhos. Deus a chamou a Si. João, o discípulo-filho por excelência, a vislumbrará então gloriosa – Mãe, sempre Mãe – no céu. Assim descreve a sua visão no livro do Apocalipse: Depois, apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida de sol, com a lua debaixo dos pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça. Estava grávida e clamava com dores de parto... [xiii].
Adivinha-se nesta imagem celeste a Virgem-Mãe, aquela que víamos associada ao sacrifício de Jesus, dando à luz com dor os filhos de Deus. A visão de São João mostra-nos que, desde que foi glorificada no céu – Rainha coroada de estrelas –, Maria continua a ser Mãe de todos os homens, dos filhos de Deus e irmãos de Jesus Cristo, até o fim dos séculos. Uma das mais doces verdades da nossa fé é o mistério da Assunção de Nossa Senhora em corpo e alma aos céus. A cheia de graça, a que nunca pecou, não podia ficar sujeita à corrupção da morte, estabelecida por Deus como castigo do pecado. Por isso, a Igreja definiu solenemente – expressando uma verdade que, desde tempos antiquíssimos, era património da fé do povo cristão – que “a Imaculada Mãe de Deus, sempre Virgem Maria, completado o curso da sua vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória do Céu” [xiv].
Eis a consoladora verdade: a nossa Mãe Santa Maria, na glória do céu, está agora junto da Trindade Santíssima em corpo e alma. Compreendemos bem o que isto significa? Quer dizer que Maria vive no céu a cuidar de nós, a olhar-nos, a interceder por nós, com o mesmo coração, com os mesmos sentimentos e com os mesmos afetos que tinha na terra. Não é um puro espírito. É uma Mãe humana, glorificada, mas plenamente humana. Agora, junto de Deus, Ela contempla – na luz da glória divina – todos e cada um dos seus filhos, em todos e cada um dos momentos da sua existência, e olha por eles: nas horas de alegria e de dor, nos transes difíceis, nos tempos de solidão, nas suas quedas e nos seus reerguimentos... Não há um passo da nossa vida, não há um latejar do nosso coração, que não esteja sendo acompanhado amorosamente pelo Coração humano da nossa Mãe. E não há um passo que não esteja sendo assumido – visto e sentido como algo próprio – por esse Coração. Contemplando este mistério delicado, Mons. Escrivá aponta-nos uma das suas consequências: “Surge assim em nós, de forma espontânea e natural, o desejo de procurarmos a intimidade com a Mãe de Deus, que é também a nossa Mãe; de convivermos com Ela como se convive com uma pessoa viva, já que sobre Ela não triunfou a morte, antes está em corpo e alma junto de Deus Pai, junto de seu Filho, junto do Espírito Santo” [xv]. É nesse clima de intimidade filial que discorre a devoção a Nossa Senhora.

(cont)

FRANCISCO FAUS. [xvi]




[i] Mt 20, 28
[ii] Lc 11, 27-28
[iii] Mc 3, 35
[iv] cfr. Is 53, 1-7
[v] cfr. São Pio X, Enc. Ad diem illum, de 02.02.1904; in Enchiridion Symbolorum, cit., n. 1978a
[vi] I Pedr. 1, 18-19
[vii] cfr. Fil 2, 5
[viii] cfr. Const. Lumen Gentium, n. 58
[ix] cfr. Aldama, op. cit., págs. 264 ss.
[x] Jo 19, 27
[xi] Col 1, 18
[xii] Act 1, 14
[xiii] Apoc 12, 1-2
[xiv] Pio XII, Const. Ap. Munificentissimus Deus, de 01.11.1950, in Enchiridion Symbolorum, cit., n. 2333
[xv] Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, cit., pág. 187
[xvi] MARIA, A MÃE DE JESUS QUADRANTE, São Paulo Copyright © 1987 Quadrante, Sociedade de Publicações Culturais

Hoy el reto del Amor es no dejarte llevar por tu propia visión de ti mismo.

RECETA PARA ENDULZARSE



"Trabajo comunitario: ¡hoy, entre todas, vamos a hacer membrillo!" Éste fue el saludo con el que nos sorprendió la Madre Priora el otro día.


Y allí nos reunimos todas, prepararon una sala con toda clase de utensilios necesarios para 'deshuesar' los frutos y trocearlos... También habían sacado unas enormes cazuelas para hacer la mezcla y los otros ingredientes.


Era la primera vez que cogía un membrillo en mis manos. Es un fruto parecido a la manzana, sólo que más grande. Está bastante duro, y, por ello, es peligroso partirlo, ya que fácilmente te puedes cortar.


Me entró la curiosidad y me llevé un trozo a la boca para averiguar cómo sabía, y... bueno... la verdad es que es bastante áspero y duro, y, por supuesto, no sería capaz de comerme muchos más trozos seguidos. 


Según estaba troceando, me di cuenta de cuántas veces sentimos nuestro corazón así, áspero con los demás, duro con uno mismo...


Con el membrillo entre mis manos, sentí como que me entraba misericordia por él. Si en esos momentos nos dejáramos en las manos de nuestro Hacedor, cómo cambia Él las cosas...


Y fui orando, recorriendo todo el proceso de esta receta por todos los pasos hasta llegar al riquísimo dulce de membrillo:


Tras trocear el membrillo, se echa en la cazuela, añadiendo un poco de manzana para suavizar y mucho azúcar para endulzar. Estos ingredientes son los hermanos que el Señor nos pone en el camino. Son los que hacen vida contigo, los que te quieren de verdad, los que Cristo añade a la cazuela de tu vida para sacar Vida nueva cada día.


Pero, si sólo se quedasen así, en la cazuela, no cambiaría nada; simplemente sería estar juntos. Todavía no se ha dado la transformación total. Para ello es fundamental el fuego, que es el Amor de Cristo. Sólo este fuego es capaz de ablandar hasta al más duro de los frutos, y de derretir el azúcar para que envuelva todo.


Ahí, sobre el fuego, pasan mucho tiempo, no hay prisa. El Amor de Cristo te acerca a los otros de manera que lo convierte en parte de ti, y a ti en parte de ellos, ya no serías el mismo sin ellos, ni ellos sin ti.


Y, ¿cuál es el resultado? Un dulce exquisito, que, además, es muy beneficioso para la salud.


Así es como podrás dejar que tu entorno se vuelva dulce, pacífico, y podrás vivir desde el Amor. ¿Quién diría que de ese fruto duro y áspero podría salir un dulce tan rico?


Hoy el reto del Amor es no dejarte llevar por tu propia visión de ti mismo. Hoy no tengas miedo a tu pobreza, simplemente prueba a mirar hacia las personas que el Señor te regala a tu alrededor y descubre todo lo que os une. Potencia esa unión, ya sea con un diálogo, con un detalle, con un gesto de cariño...


El Señor ha encendido ya el fuego, ¿añadirás tu ingrediente?



VIVE DE CRISTO