Tempo de Páscoa
VI Semana
Evangelho: Jo 16,16-20
16
«Um pouco, e já não Me vereis; outra vez um pouco, e ver-Me-eis, porque vou
para o Pai». 17 Disseram então entre si alguns dos Seus discípulos: «Que é isto
que Ele nos diz: Um pouco, e já não Me vereis, e outra vez um pouco, e ver-Me-eis?
Que significa também: Porque vou para o Pai?». 18 Diziam pois: «Que é isto que
Ele diz: Um pouco? Não sabemos o que Ele quer dizer». 19 Jesus, conhecendo que
queriam interrogá-l'O, disse-lhes: «Vós perguntais uns aos outros porque é que
Eu disse: Um pouco, e já não Me vereis, e outra vez um pouco, e ver-Me-eis. 20
Em verdade, em verdade vos digo que haveis de chorar e gemer, e o mundo se
há-de alegrar; haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há-de converter-se
em alegria.
Comentário:
Continua
o discurso de despedida. As palavras de Jesus devem ter calado de maneira
particular no espírito dos que o seguiam.
Não entendiam nem o verdadeiro alcance das mesmas mas sentiriam no seu íntimo
que a situação era delicada se não grave.
Trata-se de facto de uma confirmação na fé feita por antecipação. Quando tudo
isso acontecer mesmo no torvelinho das, emoções e desamparo hão-de lembrar-se
destas palavras e então a sua fé em Jesus Cristo sairá reforçada.
(ama, comentário
sobre Jo 16, 16-20, 2013.05.09)
Leitura espiritual
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Doc. do Conc. Vatic. II |
CARTA ENCÍCLICA
MATER ET MAGISTRA
DE SUA SANTIDADE JOÃO XXIII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS, PRIMAZES, ARCEBISPOS,
BISPOS E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR, EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA, BEM
COMO A TODO O CLERO E FIÉIS DO ORBE CATÓLICO
SOBRE A RECENTE EVOLUÇÃO
DA QUESTÃO SOCIAL À LUZ DA DOUTRINA CRISTÃ
TERCEIRA
PARTE
NOVOS ASPECTOS DA QUESTÃO
SOCIAL
EXIGÊNCIAS DE JUSTIÇA NAS
RELAÇÕES ENTRE PAÍSES DE DIFERENTE PROGRESSO ECONÓMICO
O problema da época
moderna
Evitar os erros do passado
165.
A este propósito, julgamos oportunas algumas considerações e advertências.
166.
A prudência aconselha que os países, que se encontram num estado inicial ou
pouco avançado no campo económico, tenham presentes as experiências por que
passaram as nações já desenvolvidas.
167.
Produzir mais e melhor corresponde a uma exigência da razão, e é também
necessidade imprescindível. Não é porém menos necessário, nem menos conforme à
justiça, repartir-se equitativamente a riqueza produzida, entre todos os
membros da comunidade política: por isso, deve procurar-se que o
desenvolvimento económico e o progresso social se sujeitem a um mesmo ritmo. O
que exige que esse desenvolvimento e esse progresso sejam realizados, na medida
possível, gradual e harmonicamente, em todos os sectores da produção:
agricultura, indústria e serviços.
Respeito
às características próprias de cada comunidade
168.
As nações em fase de desenvolvimento económico costumam apresentar uma
individualidade própria, inconfundível: pelos recursos e características do
próprio ambiente natural, pelas tradições muitas vezes ricas de valores humanos
e pelas qualidades típicas dos seus membros.
169.
As nações economicamente desenvolvidas, ao ajudá-las, devem reconhecer e respeitar
essa individualidade, e vencer a tentação de projectar a própria imagem,
através daquela obra, sobre as comunidades em vias de desenvolvimento.
Obras
desinteressadas
170.
Mas a tentação maior, para as comunidades políticas economicamente avançadas, é
a de se aproveitarem da cooperação técnica e financeira que prestam, para
influírem na situação política das comunidades em fase de desenvolvimento económico,
a fim de levarem a cabo planos de predomínio.
171.
Onde quer que isto se verifique, deve-se declarar explicitamente que estamos
diante de nova forma de colonialismo, a qual, por mais habilmente que se
disfarce, não deixará de ser menos dominadora do que a antiga, que muitos povos
deixaram recentemente. E essa nova forma prejudicaria as relações internacionais,
constituindo ameaça e perigo para a paz mundial.
172.
É, portanto, indispensável e justo que a mencionada cooperação técnica e
financeira se preste com o mais sincero desinteresse político. Deve ter apenas
em vista colocar essas comunidades, que pretendem desenvolver-se, em condições
de realizarem por si mesmas a própria elevação económica e social.
173.
Deste modo oferece-se uma preciosa contribuição para formar uma comunidade
mundial, em que todos os membros serão sujeitos conscientes dos próprios
deveres e dos próprios direitos, e trabalharão em plano de igualdade, pela
consecução do bem comum universal.
Respeito
pela hierarquia dos valores
174.
Os progressos científicos e técnicos, o desenvolvimento económico, as melhorias
nas condições de vida, constituem sem dúvida elementos positivos de uma
civilização. Mas devemos lembrar-nos de que não são, nem podem ser, valores
supremos; em comparação destes, revestem essencialmente um carácter
instrumental.
175.
Observamos com amargura que, nos países economicamente desenvolvidos, existem
não poucos homens em que se foi extinguindo e se apagou, ou se inverteu, a
consciência da hierarquia dos valores. Os valores do espírito descuram-se,
esquecem-se ou negam-se; ao passo que os progressos das ciências e das
técnicas, o desenvolvimento económico e o bem-estar material se apregoam e
defendem como bens superiores a tudo e são até exaltados à categoria de razão
única da vida. Esta mentalidade constitui um dos mais deletérios dissolventes
na cooperação que os povos economicamente desenvolvidos prestam aos povos em
fase evolutiva: estes, por antiga tradição, não raras vezes conservam ainda
viva e operante a consciência de alguns dos mais importantes valores humanos.
176.
É essencialmente imoral atentar contra esta consciência: deve ser respeitada e,
quanto possível, iluminada e aperfeiçoada, para continuar a ser o que é:
fundamento da verdadeira civilização.
Contribuição
da Igreja
177.
A Igreja, por direito divino, é universal. E também o é de facto, por estar
presente, ou tender a estar presente, a todos os povos.
178.
O facto de a Igreja ser estabelecida no meio de um povo tem sempre
consequências positivas no campo económico e social, como o provam a história e
a experiência. Os homens, fazendo-se cristãos, não podem deixar de sentir a
obrigação de melhorar as estruturas e as condições da ordem temporal, por
respeito à dignidade humana, e para se eliminarem ou reduzirem os obstáculos à
difusão do bem e aumentarem os incentivos e os convites que levam a ele.
179.
E, além disso, a Igreja, ao penetrar na vida dos povos, não é nem pode
considerar-se nunca uma instituição imposta de fora, porque a sua presença
coincide com o renascimento ou a ressurreição de cada homem em Cristo; e quem
renasce ou ressuscita em Cristo, nunca é vítima de coacção externa: pelo
contrário, sente-se livre no mais íntimo do próprio ser, para se encaminhar
para Deus; e tudo quando nele representa um valor, de qualquer natureza que
seja, se consolida e enobrece.
180.
A Igreja de Cristo, observa acertadamente o nosso predecessor Pio XII,
"fidelíssima depositária da educadora sabedoria divina, não pode pensar
nem pensa em alterar ou menosprezar as características particulares, que cada
povo, com zelo e piedade, e também com compreensível ufania guarda e considera
como precioso património. O seu fim é a unidade sobrenatural no amor universal,
conhecido e praticado; não a uniformidade exclusivamente externa e superficial,
por isso mesmo debilitante. A Igreja saúda, com alegria e acompanha com
solicitude maternal todas as directrizes e medidas, que levam, a um prudente e
ordenado desenvolvimento de forças e tendências particulares, apoiadas nas
raízes mais profundas de cada raça, contanto que elas se não oponham aos
deveres que derivam, para o gênero humano, da sua unidade de origem e do
destino comum". [36]
181.
Vemos com profunda satisfação como hoje os cidadãos católicos, das comunidades
em fase de desenvolvimento económico, ordinariamente não ficam atrás de ninguém
ao tratar-se de participar no esforço que elas realizam no sentido do progresso
e da elevação no campo económico e social.
182.
Por outro lado, os cidadãos católicos das comunidades economicamente adiantadas
multiplicam as suas iniciativas no sentido de se favorecer e melhorar a ajuda
prestada às comunidades ainda em fase de desenvolvimento económico. Digna de
especial consideração é a multiforme assistência que eles prestam, em
proporções cada vez maiores, aos estudantes da África e da Ásia espalhados
pelas universidades da Europa e da América, e ainda a preparação de pessoas
dispostas a irem para as nações subdesenvolvidas com o fim de lá exercerem actividades
técnicas e profissionais.
183.
A estes nossos queridos filhos, que em todos os continentes manifestam a perene
vitalidade da Igreja, promotora do progresso genuíno e vivificadora das
civilizações, queremos que chegue a nossa palavra paternalmente afectuosa de
aplauso e de alento.
INCREMENTOS DEMOGRÁFICOS E
DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO
Desequilíbrio
entre a população e os meios de subsistência
184.
Nestes últimos tempos, surge a cada passo o problema da relação entre os
aumentos demográficos, o progresso económico e a disponibilidade de meios de
subsistência, tanto no plano mundial, como nas comunidades políticas em vias de
desenvolvimento económico.
185.
No plano mundial, observam alguns que, segundo cálculos estatísticos
considerados sérios, a família humana, dentro de poucos decnios, chegará a
números muito elevados, ao passo que o desenvolvimento económico prosseguirá
com ritmo menos acelerado. Daqui concluem que a desproporção entre o povoamento
e os meios de subsistência, num futuro não longínquo, se fará sentir de maneira
aguda, se não se tratar devidamente de limitar o aumento demográfico.
186.
Nas comunidades políticas em fase de desenvolvimento económico, observa-se com
base nas estatísticas, que a rápida difusão de medidas higiénicas e de cuidados
sanitários reduz muito a mortalidade, sobretudo infantil; ao mesmo tempo que a
percentagem da natalidade, que nessas comunidades costuma ser elevada, tende a
permanecer constante, ou quase constante, pelo menos durante um período
considerável de anos. Cresce pois notavelmente o excesso dos nascimentos sobre
os óbitos, não aumentando na mesma proporção a eficiência produtiva dos
respectivos sistemas económicos. Torna-se impossível que nas comunidades em
fase de desenvolvimento económico melhore o nível de vida; antes, é inevitável
que piore. Por isso, e a fim de impedir que se chegue a situações de mal-estar
extremo, há quem julgue indispensável recorrer a medidas drásticas para evitar
ou diminuir a natalidade.
Os
termos do problema
187.
A verdade é que, situado o problema no plano mundial, não parece que a relação
entre o incremento demográfico, por um lado, e o desenvolvimento económico e a
disponibilidade dos meios de subsistência, por outro, venham a criar
dificuldades ao menos por agora ou num futuro próximo. De todos os modos, são
demasiado incertos e oscilantes os elementos de que dispomos para podermos
chegar a conclusões seguras.
188.
Além disso, Deus, na sua bondade e sabedoria, espalhou pela natureza recursos
inesgotáveis e deu aos homens inteligência e génio capazes de inventar os
instrumentos aptos para com eles se poderem encontrar os bens necessários à
vida. Por isso, a solução fundamental do problema não deve procurar-se em
expedientes que ofendem a ordem moral estabelecida por Deus e atacam os
próprios mananciais da vida humana, mas num renovado esforço científico e
técnico, por parte do homem, no sentido de aperfeiçoar e estender cada vez mais
o seu domínio sobre a natureza. Os progressos já realizados pelas ciências e
técnicas abrem, nesta direcção, horizontes ilimitados.
189.
Sabemos que, em determinadas áreas e em certos países em fase de
desenvolvimento económico, se apresentam realmente dificuldades graves, devidas
à existência de uma organização económica e social deficiente que não oferece
meios de vida proporcionais ao índice do incremento demográfico e também à
insuficiência da solidariedade entre os povos.
190.
Todavia, mesmo em tais casos, devemos afirmar claramente desde já que estes
problemas não se podem encarar, nem estas dificuldades se podem vencer,
recorrendo a métodos e meios que são indignos de um ser racional e só encontram
explicação num conceito puramente materialista do homem e da vida.
191.A
solução acertada encontra-se apenas num progresso económico e social que
respeite e fomente os genuínos valores humanos, individuais e sociais, em
conformidade com a moral, com a dignidade e o imenso valor da vida humana, e,
juntamente, numa colaboração em escala mundial que permita e fomente a
circulação ordenada e fecunda de conhecimentos úteis, de capitais e pessoas.
Respeito
pelas leis da vida
192.
Temos de proclamar solenemente que a vida humana deve ser transmitida por meio
da família, fundada no matrimónio uno e indissolúvel, elevado para os cristãos
à dignidade de sacramento. A transmissão da vida humana foi confiada pela
natureza a um acto pessoal e consciente, sujeito, como tal, às leis
sapientíssimas de Deus: leis invioláveis e imutáveis, que é preciso acatar e
observar. Por isso, não se podem usar aqui meios, nem seguir métodos, que serão
lícitos quando se tratar da transmissão da vida nas plantas e nos animais.
193.
A vida humana é sagrada: mesmo a partir da sua origem, exige a intervenção directa
da acção criadora de Deus. Quem viola as leis da vida, ofende a Divina Majestade,
degrada-se a si e ao género humano, e enfraquece a comunidade de que é membro.
Educação
ao sentimento de responsabilidade
194.
É de suma importância que as gerações novas recebam, com a formação cultural e
religiosa adequada que é dever e direito dos pais lhes proporcionarem, também
uma educação sólida do sentimento de responsabilidade em todas as manifestações
da existência, particularmente no que diz respeito à fundação da família, à
transmissão da vida e à educação dos alhos. Deve inculcar-se-lhes uma fé viva,
e profunda confiança na Divina Providência, para se disporem a arrostar fadigas
e sacrifícios no cumprimento de tão nobre missão, muitas vezes difícil, qual é
a de colaborar com Deus em transmitir a vida humana e educar a prole. Para
educar, nenhuma instituição dispõe de recursos tão eficazes como a Igreja, que,
também por este motivo, possui o direito de exercer a sua missão com plena
liberdade.
Ao
serviço da vida
195.
No Génesis lembra-se como Deus impôs aos primeiros seres humanos dois mandamentos:
o de transmitir a vida: "Crescei e multiplicai-vos" (Gn 1,28) e o de
dominar a natureza: "Enchei a terra e submetei-a" (Gn 1,28):
mandamentos que se completam mutuamente.
196.
Sem dúvida o mandamento divino de dominar a natureza não é imposto com uns
destrutivos, mas sim para serviço da vida.
197.
Notamos com tristeza que uma das contradições que mais perturbam e atormentam a
nossa época é a seguinte: enquanto, por um lado, se salientam as situações de
mal-estar, e se apresenta o espectro da miséria e da fome; por outro,
utilizam-se, muitas vezes em grande escala, as descobertas da ciência, as
realizações da técnica e os recursos económicos, para criar terríveis
instrumentos de ruína e de morte.
198.
A providência de Deus concede ao género humano meios suficientes para resolver
dignamente os múltiplos e delicados problemas da transmissão da vida; mas estes
problemas podem tornar-se difíceis ou até insolúveis porque os homens,
desencaminhados na inteligência ou pervertidos na vontade, se valem desses
meios contra a razão, isto é, para fins que não correspondem à sua própria
natureza social nem aos planos da Providência.