A santíssima Trindade 4
3. A nossa vida em Deus
Sendo
Deus eterna comunicação de Amor, é compreensível que esse Amor transborde para
fora d’Ele na Sua actuação. Toda a actuação de Deus na história é obra conjunta
das três Pessoas, dado que se distinguem apenas no interior de Deus. Não
obstante, cada uma imprime nas acções divinas “ad extra” a sua característica
pessoal 5. Com uma imagem, poder-se-ia dizer que a acção divina é
sempre única, como o dom que nós poderíamos receber da parte de uma família
amiga, que é fruto de um só acto; mas, para quem conhece as pessoas que formam
essa família, é possível reconhecer a mão ou a intervenção de cada uma, pela
marca pessoal deixada por elas na prenda única.
Este
reconhecimento é possível, porque conhecemos as Pessoas divinas na Sua
distinção pessoal mediante as missões, quando Deus Pai enviou juntamente o
Filho e o Espírito Santo na história (cf. Jo 3, 16-17 e 14, 26), para que se
fizessem presentes entre os homens: «São sobretudo as missões divinas da
Encarnação do Filho e do dom do Espírito Santo que manifestam as propriedades
das pessoas divinas» (Catecismo, 258). Eles são como que as duas mãos do Pai 6
que abraçam os homens de todos os tempos, para os levar ao seio do Pai. Se Deus
está presente em todos os seres enquanto princípio do que existe, com as
missões do Filho e do Espírito fazem-se presentes de uma forma nova 7.
A própria Cruz de Cristo manifesta ao homem de todos os tempos o eterno Dom que
Deus faz de Si mesmo, revelando na Sua morte a íntima dinâmica do Amor que une
as três Pessoas.
Isto
significa que o sentido último da realidade, o que todo o homem deseja, o que
foi procurado pelos filósofos e pelas religiões de todos os tempos é o mistério
do Pai que eternamente gera o Filho no Amor que é o Espírito Santo. Assim, na
Trindade encontra-se o modelo original da família humana 8 e a Sua
vida íntima é a aspiração verdadeira de todo o amor humano. Deus quer que todos
os homens sejam uma só família, ou seja, uma só coisa com Ele próprio, sendo
filhos no Filho. Cada pessoa foi criada à imagem e semelhança da Trindade (cf.
Gn 1, 27) e está feita para viver em comunhão com os outros homens e,
sobretudo, com o Pai Celestial. Aqui se encontra o fundamento último do valor
da vida de cada pessoa humana, independentemente das suas capacidades ou das
suas riquezas.
giulio maspero
Bibliografia
básica:
Catecismo
da Igreja Católica, 232-267.
Compêndio
do Catecismo da Igreja Católica, 44-49.
Leituras
recomendadas:
São
Josemaria, Homilia «Humildade», em Amigos de Deus, 104-109.
J.
Ratzinger, El Dios de los cristianos. Meditaciones, Ed. Sígueme, Salamanca
2005.
(Resumos
da Fé cristã: © 2013, Gabinete de Informação do Opus Dei na Internet)
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Notas:
5
«Inseparáveis na sua única substância, as Pessoas divinas são também
inseparáveis no seu operar: a Trindade tem uma só mesma operação. Mas no único
agir divino, cada Pessoa está presente segundo o modo que lhe é próprio na
Trindade» (Compêndio, 49).
6
Cf. Santo Ireneu, Adversus Haereses, IV, 20, 1.
7
Cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I, q. 43, a. 1, c. e a. 2, ad. 3.
8
«O “Nós” divino constitui o modelo eterno do “nós” humano; antes de tudo,
daquele “nós” que está formado pelo homem e a mulher, criados à imagem e semelhança
divina» (João Paulo II, Carta às Famílias, 2-II-1994, 6).