Os pressupostos da Fidelidade
Fidelidade
e verdade
A primeira de todas as
fidelidades é o amor à verdade.
Não se pode ser fiel sem
conhecer a verdade, essa verdade que é a concordância do juízo com o ser das
coisas determinado em si mesmo, não “o que me parece” ou “o que me interessa”.
A inteligência pode
penetrar nessa realidade interior de todas as coisas, não se limita a estudar
os fenómenos, a superfície o acidental em prejuízo do substancial.
A verdade é o fim do
entendimento o seu bem autêntico, o seu pleno repouso, a sua perfeição.
(…)
A fé goza do privilégio de
saber com certeza que Deus é a Verdade primordial de que procedem todas as
verdades.
Recebemos esperançados e
alegres a afirmação de Cristo: «Eu sou a
verdade» [i]
A Verdade fez-se carne e
habitou entre nós: veio cumular a mente e o coração dos homens.
Por isso a inteligência
humana adquire o seu autêntico valor quando se conforma com essa Verdade
encarnada – Jesus Cristo – e a adopta como medida suprema de juízo e de acção,
sacrificando-lhe todas as opiniões, todos os caprichos ou conveniências
particulares.
Eu
para isto nasci e para isto vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. [ii]
A
Igreja de Cristo também foi constituída como coluna e alicerce da verdade, como
esteio de segurança doutrinal, como voz infalível que nos garante a existência da verdade e no-la
mostra com certeza, delimitando os seus extremos e ajudando-nos a precaver-nos
contra os possíveis erros em tudo quanto seja essencial à conduta humana.
É
por isso fonte de paz.
A
acusação de dogmatismo que lhe fazem não é no fundo senão a homenagem
assombrada que lhe prestam aqueles que vivem prisioneiros das suas incertezas.
Sermos
possuidores afortunados da verdade não é motivo para nos enchermos de vaidade,
mas da fortaleza necessária para expô-la com convicção, defendê-la com amor e
difundi-la com valentia tanto nos territórios mais elevados da Verdade Divina,
como nas situações simples de resposta aos factos quotidianos; a verdade é
indivisível e estende-se luminosa através de toda essa gama de realidades das
quais ela própria é fundamento.
Como
queria Santo Agostinho, “sem soberba,
estamos orgulhosos da verdade”.
A
fidelidade pressupõe e exige que a verdade não se submeta ao capricho nem a
supostas evoluções, ou mesmo à sua maior ou menor aceitação conforme as épocas
ou as mentalidades.
É
sempre a mesma e não menos imutável que a natureza das coisas.
Se
a solidez e um edifício depende dos seus alicerces o mesmo podemos dizer de uma
sociedade; é tão sólida quanto a verdade em que se apoia.
A
verdade tem os seus direitos: não pode ser moldada arbitrariamente, como o
barro, para produzir figuras variadas.
É
a inteligência que, em face da verdade, se deve ir moldando a si própria,
adquirindo novas formas que são os seus conhecimentos, enriquecendo-se até
limites quase infinitos, sobrenaturais.
A
falsificação deliberada da verdade é um dos estigmas do nosso tempo, sobretudo
quando essa forma de pensamento e de acção é elevada à categoria de estratégia
em que a deformação das palavras e dos actos se converte em arma habilmente
manejada por pessoas esquecidas de todo o senso moral, de toda a
responsabilidade ética.
Dá-se
assim lugar à tentativa de querer impor pontos de vista pessoais e opináveis, à
falta de respeito pelos que pensam de maneira diferente, à exaltação,
intransigência e à obstinação.
A
verdade é algo sagrado, dom divino, digno de ser tratado com reverência,
delicadeza e amor.
(Excertos
do livro FIDELIDADE, de Javier Abad Gómez, 1989)
(Revisão
da versão portuguesa por AMA)