19/01/2019

Leitura espiritual


Os pressupostos da Fidelidade

Fidelidade e verdade

A primeira de todas as fidelidades é o amor à verdade.
Não se pode ser fiel sem conhecer a verdade, essa verdade que é a concordância do juízo com o ser das coisas determinado em si mesmo, não “o que me parece” ou “o que me interessa”.

A inteligência pode penetrar nessa realidade interior de todas as coisas, não se limita a estudar os fenómenos, a superfície o acidental em prejuízo do substancial.
A verdade é o fim do entendimento o seu bem autêntico, o seu pleno repouso, a sua perfeição.

(…)

A fé goza do privilégio de saber com certeza que Deus é a Verdade primordial de que procedem todas as verdades.
Recebemos esperançados e alegres a afirmação de Cristo: «Eu sou a verdade» [i]
A Verdade fez-se carne e habitou entre nós: veio cumular a mente e o coração dos homens.
Por isso a inteligência humana adquire o seu autêntico valor quando se conforma com essa Verdade encarnada – Jesus Cristo – e a adopta como medida suprema de juízo e de acção, sacrificando-lhe todas as opiniões, todos os caprichos ou conveniências particulares.

Eu para isto nasci e para isto vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. [ii]

A Igreja de Cristo também foi constituída como coluna e alicerce da verdade, como esteio de segurança doutrinal, como voz infalível que  nos garante a existência da verdade e no-la mostra com certeza, delimitando os seus extremos e ajudando-nos a precaver-nos contra os possíveis erros em tudo quanto seja essencial à conduta humana.
É por isso fonte de paz.
A acusação de dogmatismo que lhe fazem não é no fundo senão a homenagem assombrada que lhe prestam aqueles que vivem prisioneiros das suas incertezas.

Sermos possuidores afortunados da verdade não é motivo para nos enchermos de vaidade, mas da fortaleza necessária para expô-la com convicção, defendê-la com amor e difundi-la com valentia tanto nos territórios mais elevados da Verdade Divina, como nas situações simples de resposta aos factos quotidianos; a verdade é indivisível e estende-se luminosa através de toda essa gama de realidades das quais ela própria é fundamento.
Como queria Santo Agostinho, “sem soberba, estamos orgulhosos da verdade”.
A fidelidade pressupõe e exige que a verdade não se submeta ao capricho nem a supostas evoluções, ou mesmo à sua maior ou menor aceitação conforme as épocas ou as mentalidades.
É sempre a mesma e não menos imutável que a natureza das coisas.
Se a solidez e um edifício depende dos seus alicerces o mesmo podemos dizer de uma sociedade; é tão sólida quanto a verdade em que se apoia.

A verdade tem os seus direitos: não pode ser moldada arbitrariamente, como o barro, para produzir figuras variadas.
É a inteligência que, em face da verdade, se deve ir moldando a si própria, adquirindo novas formas que são os seus conhecimentos, enriquecendo-se até limites quase infinitos, sobrenaturais.

A falsificação deliberada da verdade é um dos estigmas do nosso tempo, sobretudo quando essa forma de pensamento e de acção é elevada à categoria de estratégia em que a deformação das palavras e dos actos se converte em arma habilmente manejada por pessoas esquecidas de todo o senso moral, de toda a responsabilidade ética.
Dá-se assim lugar à tentativa de querer impor pontos de vista pessoais e opináveis, à falta de respeito pelos que pensam de maneira diferente, à exaltação, intransigência e à obstinação.

A verdade é algo sagrado, dom divino, digno de ser tratado com reverência, delicadeza e amor.



(Excertos do livro FIDELIDADE, de Javier Abad Gómez, 1989)
(Revisão da versão portuguesa por AMA)





[i] Jo14, 6
[ii] Jo 17,37

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