Evangelho
Mt
XXVI 57 – 75; XXVII 1 - 2
Em casa de
Caifás
57 Os que tinham
prendido Jesus conduziram-no à casa do Sumo Sacerdote Caifás, onde os doutores
da Lei e os anciãos do povo se tinham reunido. 58 Pedro seguiu-o de longe até
ao palácio do Sumo Sacerdote. Aproximando-se, entrou e sentou-se entre os
servos, para ver o desfecho de tudo aquilo. 59 Os sumos sacerdotes e todo o
Conselho procuravam um depoimento falso contra Jesus, a fim de o condenarem à
morte. 60 Mas não o encontraram, embora se tivessem apresentado muitas
testemunhas falsas. Apresentaram-se finalmente duas, 61 que declararam: «Este
homem disse: ‘Posso destruir o templo de Deus e reedificá-lo em três dias.’» 62
O Sumo Sacerdote ergueu-se, então, e disse-lhe: «Não respondes nada? Que dizes
aos que depõem contra ti?» 63 Mas Jesus continuava calado. O Sumo Sacerdote
disse-lhe: «Intimo-te, pelo Deus vivo, que nos digas se és o Messias, o Filho
de Deus.» 64 Jesus respondeu-lhe: «Tu o disseste. E Eu digo-vos: Vereis um dia
o Filho do Homem sentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu.»
65 Então, o Sumo Sacerdote rasgou as vestes, dizendo: «Blasfemou! Que
necessidade temos, ainda, de testemunhas? Acabais de ouvir a blasfémia. 66 Que
vos parece?» Eles responderam: «É réu de morte.» 67 Depois cuspiam-lhe no rosto
e batiam-lhe. Outros esbofeteavam-no, dizendo: 68 «Profetiza, Messias: quem foi
que te bateu?»
Negações de
Pedro
69 Entretanto, Pedro
estava sentado no pátio. Uma criada aproximou-se dele e disse-lhe: «Tu também
estavas com Jesus, o Galileu.» 70 Mas ele negou diante de todos, dizendo: «Não
sei o que dizes.» 71 Dirigindo-se para a porta, outra criada viu-o e disse aos
que ali estavam: «Este também estava com Jesus, o Nazareno.» 72 Ele negou de
novo com juramento: «Não conheço esse homem.» 73 Um momento depois,
aproximaram-se os que ali estavam e disseram a Pedro: «Com certeza tu és dos
seus, pois até a tua maneira de falar te denuncia.» 74 Começou, então, a dizer
imprecações e a jurar: «Não conheço esse homem!» No mesmo instante, o galo
cantou. 75 E Pedro lembrou-se das palavras de Jesus: «Antes de o galo cantar,
me negarás três vezes.» E, saindo para fora, chorou amargamente.
Conselho do Sinédrio
1 Ao romper da manhã, todos os príncipes dos sacerdotes e anciãos do
povo tiveram conselho contra Jesus, para O entregarem à morte. 2 Em seguida,
manietado, levaram-n'O e entregaram-n'O ao governador Pôncio Pilatos.
Vocação
(cont)
Noutro
local já abordámos algumas características do comportamento humano e os
efeitos, consequências e utilidade que têm na vida comum.
Essas características emanam do carácter, ou
melhor, formatam o carácter de cada indivíduo, tornando-o verdadeiramente único
e singular e, que em suma, são as virtudes, as potências, os defeitos, as
capacidades pessoais.
Não
parece haver dúvida que para progredir no sentido da melhoria em cada uma
destas características é fundamental o conhecimento próprio do que se é como
pessoa. Para tal é necessário, em primeiríssimo lugar uma postura de
honestidade completa e uma decisão de proceder conforme o que o resultado desse
exame propuser.
Não
basta concluir que sou volúvel se não fizer um esforço para deixar de o ser.
O
(re)conhecimento do que se é, deve levar, não a ser algo diferente, mas a
concluir que é fundamental corrigir aquilo que, com honestidade, repete-se,
verificamos que está mal ou poderia ser melhor, num esforço contínuo e sem
tréguas por conseguir esse objectivo.
Quando
me apercebo que caio com facilidade na murmuração ou comentários sobre os
outros ou o seu comportamento, terei de esforçar-me para corrigir esta
tendência e estar decidido, não só a fazê-lo, mas ter a consciência que não o
conseguirei sem uma dedicação constante a essa tarefa.
Normalmente,
uma das formas mais aconselhadas de o fazer é actuar de forma positiva, isto é,
não dizer mal ou murmurar, mas não o fazer de todo.
A forma negativa seria dizer bem ou tecer
encómios, coisa que, por vezes, pode não ter justificação.
Aos poucos, talvez muito lentamente, vai-se
criando um hábito de não ceder a essa tendência.
Assim consegue-se uma nítida melhoria tal
como nos propusemos.
É
muito possível verificarmos ter várias características a corrigir, a melhorar
mas é necessário fugir à tentação de travar uma luta, como se diz, em todas as
frentes, porque talvez não consigamos ganhar uma só que seja.
Por
isso, tal como também já se abordou, é fundamental concluir o que é dominante
no nosso carácter e actuar aí com a intenção de corrigir ou de melhorar porque
a luta pela melhoria pessoal não se trava só corrigindo ou evitando o que é
menos bom mas em promover o que temos de melhor.
A um
defeito ou fraqueza opõe-se sempre uma virtude e uma potência e, por vezes,
talvez baste implementar estes para diminuir a importância ou impacto daqueles.
Se
sou uma pessoa generosa será útil decidir ser ainda mais generoso e, desta
forma, ir-se-á resolvendo algum problema de egoísmo.
Em
suma, em vez de tentar não fazer algo mau ou sem utilidade, esforçar-se por
praticar o bem contrário.
‘A dificuldade não
está em não furtar os bens alheios, mas sim em não os desejar. É fácil em
tribunal não levantar falso testemunho, mas difícil será em não mentir nas
conversas. Com facilidade nos afastaremos da embriaguez, mas com maior
dificuldade viveremos a sobriedade.
É fundamental que a
consciência do bem e do mal esteja devidamente formada, que as balizas sejam
nítidas e que não se tente esconder a realidade com uma justificação momentânea.
Nada
pode justificar um mau procedimento mesmo com a remota pretensão de que se
alcançará um bem.
Não é
eliminando fisicamente o violentador que se eliminam os efeitos da violência
que perpetrou ou, sequer, atenua o sofrimento que lhe estará adjacente.
Para o conseguir, o caminho a seguir é actuar
junto de quem sofreu a violência assistindo-o para ajudar a ultrapassar a
situação.
Isto
não tem tudo a ver com a justiça que, quase sempre, se preocupa mais com o
primeiro que com o segundo.
Porquê?
Porque
praticar a justiça não pode limitar-se a aplicar a sanção que eventualmente o
prevaricador mereça mas, também, em assistir sériamente a vítima.
Isto
acontece com frequência quando a justiça – o que comummente se apelida justiça
– se limita a aplicar a lei conforme o legislador previu e se tenta compensar a
vítima, ou vítimas, com as indemnizações também previstas, quando o que de
facto necessitavam e, aliás, teriam o direito de esperar, era um apoio concreto
e categorizado para conseguirem ultrapassar a situação que lhes foi imposta.
Na
verdade, um prevaricador pode sempre reabilitar-se, em primeiro lugar cumprindo
a pena aplicada, depois com a reparação estipulada, e, evidentemente, com um
arrependimento sincero que conduza a não repetir acto, ou actos semelhantes, e,
tendo, por assim dizer, pago a sua dívida para com a sociedade, retomar uma
vida normal sem mais consequências.
Quanto
à vítima, é diferente, se não receber ou, de alguma forma, tiver acesso aos
apoios adequados, tenderá a arrastar indefinidamente o fardo da violência a que
foi sujeita não conseguindo retomar a vida como a tinha antes de tal ter
acontecido.
Esta
é a forma comum e usual de administração da justiça humana.
Mas, quando se refere às relações do homem
com Deus já não é assim.