30/06/2020

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Sem Ele nada podemos


Quando sentires o orgulho que ferve dentro de ti - a soberba! -, que faz com que te consideres um super-homem, chegou o momento de exclamar: - Não! E, assim, saborearás a alegria do bom filho de Deus, que passa pela terra com erros, mas fazendo o bem. (Forja, 1054)

Vedes como é necessário conhecer Jesus, observar amorosamente a sua vida? Muitas vezes fui à procura da definição da biografia de Jesus na Sagrada Escritura. Encontrei-a lendo aquela que o Espírito Santo faz em duas palavras: pertransiit benefaciendo. Todos os dias de Jesus Cristo na terra, desde o seu nascimento até à morte, pertransiit benefaciendo, foram preenchidos fazendo o bem. Como, noutro lugar, a Escritura também diz: bene omnia fecit, fez tudo bem, terminou bem todas as coisas, não fez senão o bem.
E tu? E eu? Lancemos um olhar para ver se temos alguma coisa que emendar. Eu, sim, encontro em mim muito que fazer. Como me vejo incapaz, só por mim, de fazer o bem e, como o próprio Jesus nos disse que sem Ele nada podemos, vamos tu e eu implorar ao Senhor a sua assistência, por meio de sua Mãe, neste colóquio íntimo, próprio das almas que amam a Deus. Não acrescento mais nada, porque é cada um de vós que tem de falar, segundo a sua particular necessidade. Por dentro, e sem ruído de palavras, neste mesmo momento em que vos dou estes conselhos, aplico esta doutrina à minha própria miséria. (Cristo que passa, 16)


LEITURA ESPIRITUAL


São João

Cap. XV



1 «Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor. 2 Ele corta todo o ramo que não dá fruto em mim e poda o que dá fruto, para que dê mais fruto ainda. 3 Vós já estais purificados pela palavra que vos tenho anunciado. 4 Permanecei em mim, que Eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em mim. 5 Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer. 6 Se alguém não permanece em mim, é lançado fora, como um ramo, e seca. Esses são apanhados e lançados ao fogo, e ardem. 7 Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e assim vos acontecerá. 8 Nisto se manifesta a glória do meu Pai: em que deis muito fruto e vos comporteis como meus discípulos.» 9 «Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós. Permanecei no meu amor. 10 Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu, que tenho guardado os mandamentos do meu Pai, também permaneço no seu amor. 11 Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa. 12 É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei. 13 Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos. 14 Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando. 15 Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai. 16 Não fostes vós que me escolhestes; fui Eu que vos escolhi a vós e vos destinei a ir e a dar fruto, e fruto que permaneça; e assim, tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vo-lo concederá. 17 É isto o que vos mando: que vos ameis uns aos outros.» 18 «Se o mundo vos odeia, reparai que, antes que a vós, me odiou a mim. 19 Se viésseis do mundo, o mundo amaria o que é seu; mas, como não vindes do mundo, pois fui Eu que vos escolhi do meio do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. 20 Lembrai-vos da palavra que vos disse: o servo não é mais que o seu senhor. Se me perseguiram a mim, também vos hão-de perseguir a vós. Se cumpriram a minha palavra, também hão-de cumprir a vossa. 21 Mas tudo isto vos farão por causa de mim, porque não reconhecem aquele que me enviou. 22 Se Eu não tivesse vindo e não lhes tivesse dirigido a palavra, não teriam culpa, mas, agora, não têm escusa do seu pecado. 23 Quem me odeia a mim odeia também o meu Pai. 24 Se, diante deles, Eu não tivesse realizado obras que ninguém mais realizou, não teriam culpa; mas agora, apesar de as verem, continuam a odiar-me a mim e ao meu Pai. 25 Tinha, porém, de se cumprir a palavra que ficou escrita na sua Lei: Odiaram-me sem razão.» 26 «Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, e que Eu vos hei-de enviar da parte do Pai, Ele dará testemunho a meu favor. 27 E vós também haveis de dar testemunho, porque estais comigo desde o princípio.»

Comentários:

         Todos compreendem estas imagens usadas por Cristo. Não e necessário ser agricultor para saber que um ramo qualquer separado do tronco não serve para nada e acaba por secar. E, a razão porque tal acontece é compreendida por todos: o ramo vive enquanto recebe a seiva que corre no tronco. Separados de Cristo, a Sua Palavra, que é a seiva que alimenta a vida, deixa de correr em nós, alimentar a nossa alma e, o resultado é o mesmo, mortos espiritualmente, não servimos para nada. O que se pode concluir, sem esforço, é que a nossa união com Deus é vital para a nossa própria sobrevivência.
Unidos a Ele, viveremos uma vida com sentido e com proveito donde que, o contrário, isto é, separados d’Ele, acabamos por morrer por não ter qualquer préstimo.
         Pela segunda vez este ano a Liturgia apresenta este trecho de São João e, parece-me que a razão se compreende com facilidade: A Igreja quer chamar-nos a atenção para a necessidade de uma constante revisão de vida, para um exame cuidado e sério do nosso comportamento como cristãos. O que temos que conservar e desenvolver e o que não interessa e convém deixar.
         Este Mandamento – o Mandamento Novo – é, digamos assim, a razão da vinda do Senhor à terra. Ao mandar-nos ter o amor como motivo e razão da nossa vida, mais não faz que confirmar que, sem o AMOR, não é possível fazer parte da família divina como filhos de Deus. Mais: sem amor, nem sequer seremos considerados como amigos - o que já seria muito – mas servos que não têm nem escolha ou outra vontade que as do seu Senhor. Amando, deveras, alcançaremos essa dignidade extraordinária de amigos escolhidos, um a um, pelo próprio Jesus Cristo. Poderá haver quem não goste desta palavra – servo! – uns, porque acham, e com alguma razão, que é de certo modo pejorativa e, outros, porque parece estar em contradição com a própria liberdade que o nosso Criador nos outorgou. Mas, de facto, nem uns nem outros veem como devem ver: Em primeiro lugar, qualquer um de nós pode considerar-se servo de alguém, seja o patrão para o qual trabalha, seja a própria profissão que escolheu e que o obriga a cumprir com os princípios de ética e outros dessa mesma profissão; Depois porque a liberdade que disfrutamos não a conquistámos, por assim dizer, foi-nos dada sem nenhuma contribuição da nossa parte. Mas, então, pode aduzir-se, nunca se é inteiramente livre! É verdade, a nossa liberdade, que tanto prezamos, permite-nos fazer o que bem entendermos, mas, naturalmente que ela só existirá se as nossas escolhas forem acertadas quando não acabamos por ser servos – melhor dito – escravos dos nossos defeitos, tendências e vícios.
         É bem de ver que podar as videiras é uma tarefa absolutamente necessária para não só manter a saúde e o vigor das plantas, como para garantir frutos abundantes e de bom calibre. Abandonada, a videira continuará a dar frutos mas, em pouco tempo, este tornam-se enfezados e sem qualquer préstimo e a própria videira crescerá sem forma, num emaranhado de ramos e folhas que acabarão por abafar as outras plantas que estiverem próximo. Assim connosco, os cristãos, temos de "podar" quanto não presta ou está a mais na nossa vida, mantendo o vigor e a saúde da nossa alma para que as obras sejam boas, dêem os frutos que O Senhor legitimamente espera colher. Por vezes pode custar esse corte, essa "limpeza" desses inúmeros "ramos" que são os desejos de ter, os atilhos que nos prendem a coisas supérfluas, o lastro que vamos acumulando que nos pesa e tolhe. Mas vale a pena! As importantes declarações de Jesus unem indissoluvelmente o amor e a alegria. Não é possível existir uma sem o outro e compreende-se bem porquê: A alegria que o amor – verdadeiro, sincero, total – produz no ser humano, é de tal forma visível, palpável, que não há quem se atreva a negá-lo. O inverso, infelizmente, é bem verdadeiro, sem amor o homem vive mergulhado na tristeza e não é, de modo nenhum, e um ser completo porque Deus criou-nos para amar. Há quem aduza que todos os amores humanos por honestos, verdadeiros, puros, que possam existir não se podem comparar com o Amor de Deus porque Ele É O Amor! Mas Cristo diz o contrário, que o amor é só um, o que vale, o que interessa: O Amor do Pai pelo Filho e, sendo assim, é este Amor que devemos perseguir com afinco para atingirmos aquela alegria de Cristo, sumo bem e consolação. Por isso mesmo nos diz categoricamente: «o que vos mando: que vos ameis uns aos outros». Amar como Jesus pede é possível? Temos de convir que sim ou ele não o teria pedido. Aliás, faz mais que um pedido, dá uma instrução, uma regra. Sem amor, que interessa a vida? Como são possíveis as boas obras? Quem ama está por natureza definitivamente empenhado no que ama. É o que mais quer, o que mais entranhadamente deseja porque o tem como um autêntico bem que não pode desperdiçar. Não tenhamos medo do amor e de o demonstrar com palavras e com obras.
          Alegria, alegria... É principal característica dos filhos de Deus porque a alegria nasce do amor e os filhos de Deus são reconhecidos exactamente pelo amor que os une entre si, a todos os homens, a Deus. Tudo começa na extraordinária noite do nascimento de Cristo em que os Anjos do Céu anunciam aos pastores de Belém «uma grande alegria». Esta alegria incomensurável perdurará para sempre até ao final dos tempos e, depois, continua no Céu no gozo da presença de Deus.
Qual é o “motor” da alegria? O amor! Alguém que ama – verdadeiramente ama – tem de ser uma pessoa alegre porque não há forma de se poder amar como convém – isto é, totalmente – sem essa alegria que vem de dentro, do mais fundo do coração. E isto - perdoe-se-me – não é poesia, mas uma realidade. Jesus Cristo declara-se alegre, totalmente alegre, o que é natural porque o Seu Amor é total, não tem nem condições nem limites.
         O Senhor confirma aos Seus Apóstolos, para que não lhes restem quaisquer dúvidas, que a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade dará testemunho, confirmará por assim dizer, quanto Ele lhes disse e ensinou. E o mesmo Espírito Santo lhes dará as luzes que possam necessitar para compreender o que ouviram. Só agora, o Senhor lhes diz isto porque, como disse e é absolutamente lógico, tudo ouviram directamente da Sua boca enquanto esteve com eles Talvez que o maior bem que nos foi alcançado por Jesus Cristo seja o ter-nos retirado do mundo, isto é, pertencendo ao mundo sem ser mundanos. Isto significa que a podemos viver perfeitamente a nossa vida espiritual que é, no fim e ao cabo, a nossa íntima relação com Deus, vivendo onde temos de viver nos ambientes e circunstâncias que cabem a cada um. Não precisamos retirar-nos para viver uma intensa vida de piedade, de amorosa " ligação " com a prática da nossa fé, ser santos. Santos no meio do mundo! Esta maravilhosa realidade foi-nos dada por Jesus que, sem qualquer mérito da nossa parte, nos proporciona quanto precisamos para a atingir.
         Jesus Cristo que É a VERDADE, não podia enganar-nos, com promessas, “futuros cor-de-rosa”, vidas cheias de bons momentos e futuros risonhos. Bem ao contrário, diz sem rebuços tudo quanto irá acontecer aos que decidirem segui-Lo e espalhar o Reino de Deus pela terra. Não só no futuro imediato, mas ao longo de todos os tempos, como bem vemos agora. Não parece apelativo este convite a segui-Lo, mas, a verdade, é que não faltaram – nem faltarão nunca – quem se decida por esse caminho e, o que parece ser um contra-senso é na verdade, uma escolha de extraordinária eficácia. Ninguém gosta de sofrer, mas, se for preciso passar dificuldades, amarguras, maus tratos e, até sacrificar a própria vida pela “causa” Divina haverá sempre quem escolha esse caminho porque sabe que, o prémio vale bem tudo isso. O que o Senhor tem reservado para quem O segue é um bem incomensuravelmente maior que qualquer contratempo, dificuldade ou obstáculo. E, com Ele, depositando n’Ele inteira confiança que nunca nos faltará com o Seu auxílio, vale bem a pena percorrer esse caminho.
         Na verdade, quando Deus "decidiu" salvar a humanidade, recuperando os filhos perdidos pelo pecado de Adão, fá-lo para sempre. Não admira, o homem está feito para a eternidade. Primeiro Deus Pai envia os profetas e estabelece alianças com o povo escolhido; logo Deus Filho toma a forma humana gerado no seio puríssimo da Santíssima Virgem e vive entre os homens, fisicamente, durante trinta e três anos, entregando o penhor dessa vida eterna, ensinando os meios para a conquistar, depositando nas mãos de Pedro à chaves do Reino de Deus e, depois, já legitimados como autênticos filhos de Deus, vem Deus Espírito Santo para confirmar na fé, consolidar a esperança e fortalecer o amor e, finalmente, ficar connosco até ao final dos tempos assistindo-nos com os Seus Dons inefáveis. Temos forçosamente de concluir que Deus não nos abandona nunca e que o Seu gozo e alegria é que vivamos esta vida terrena de tal forma que possamos merecer gozar a Sua presença por toda a eternidade.
         Jesus sublinha uma vez mais que sem Ele nada podemos fazer. E como proceder? Estando unidos a Ele. Não há outro processo ou alternativa. Unidos a Cristo como os ramos à videira podemos tudo mesmo o que aparentemente é impossível. Jesus dá este exemplo muito gráfico da videira e dos sarmentos para ”reforçar” a absoluta necessidade que temos de estar unidos a Ele, o que temos a ganhar e o que perderemos se o não estivermos. O que andam a fazer no monte as ovelhas sem pastor? Andam perdidas e sem rumo em busca das melhores pastagens que, sem a ajuda do pastor, serão muito difíceis de encontrar. Andarão perdidas e sem rumo podendo precipitar-se num barranco que não adivinham ou entrar no território perigoso do lobo que está sempre à espreita. Sim! Unidos a Cristo com firmeza e determinação e, sobretudo, com toda a confiança na Sua pronta e eficaz assistência em caso de necessidade. Todos entendemos bem estas imagens de que o Senhor se serve para nossa doutrina. Podemos não ser “agricultores experimentados”, mas sabemos o suficiente para compreender que um ramo só pode produzir frutos se estiver ligado ao tronco. O nosso “tronco” é Jesus Cristo, que mergulhado na nossa humanidade por vontade própria – por Amor – nos garante a seiva, o alimento necessário para que não só vivamos, mas, sobretudo, para que frutifiquemos. E… que frutos são esses? Nada mais que as boas obras que praticamos e, estas, não são outra coisa que o cumprimento da Vontade de Deus. São João, com o estilo que lhe é próprio, reproduz as palavras de Jesus Cristo que nos parece estar a ouvir o Senhor a explicar-nos com singela simplicidade o que significa ser cristão: [1] ESTAR UNIDO A CRISTO! Evidentemente que sabemos muito bem que somos cristãos pela força da graça infundida no Baptismo mas, do que falamos é viver como cristãos e tal não é possível sem essa união íntima, sólida, constante como os sarmentos em relação à vide. Então, compreendemos bem, que tal como a vide só está “completa” com os sarmentos a ela unidos, também nós só estaremos “completos” se unidos a Cristo. Sem esta união somos incapazes de dar qualquer fruto aproveitável porque, de facto, Quem os produz é o Próprio Cristo por nosso intermédio, como instrumentos Seus para espalhar por toda a parte o Seu Reino de Paz e Amor.
         As palavras de Cristo segundo Ele próprio são «espírito e vida» e, segundo o príncipe dos Apóstolos são «palavras de vida eterna». As duas afirmações completam-se admiravelmente não sendo necessárias mais explicações. Ouvindo Cristo, guardando as suas palavras temos quanto precisamos para viver esta vida de forma a ganhar a vida eterna. Há algo neste trecho de São João: «Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós» que é tão sério e importante que não podemos deixar de reflectir detidamente. O amor que Cristo nos tem é igual ao amor que Deus Pai tem por Deus Filho?! Então… é um amor imenso, sem medida nem comparação possível. Vemos as “consequências” desse amor: dar a vida por nós! O Senhor quase que resume todas as Suas recomendações numa única: «É isto o que vos mando: que vos ameis uns aos outros». Esforçar-se por cumprir este mandato é, pois, o segredo da nossa salvação.
         A Sagrada Liturgia vai, ao longo do tempo pascal, percorrendo, entre outros, o Capítulo 15 do Evangelho escrito por São João. Percebemos que esta insistência se deve ao desejo de que gravemos bem no nosso espírito Quem é de facto Jesus Cristo e – com palavras humanas – a estrutura da Sua doutrina. Insiste, sobretudo, no amor, ou melhor, no AMOR com letra grande, porque, de facto, a Sua vinda a este mundo assumindo uma identidade humana igual a nós em tudo excepto no pecado, se deve a uma “missão” de amor que terminará no Sacrifício da Cruz como a prova maior e mais completa desse mesmo AMOR. Não podemos, nós os homens, viver sem amor e, há que primeiro amar com toda a nossa alma e todas as nossas capacidades a Deus Nosso Senhor e, depois, como bem sabemos, os outros – todos – por amor de Deus. Nunca o esqueçamos: Nós somos a prova viva do Amor de Deus!
              Nós que ouvimos a Palavra de Deus e que tentamos pô-la em prática somos, para Jesus Cristo iguais à Sua Santíssima Mãe? Assusta um pouco esta afirmação do Senhor, mas na verdade temos de reconhecer que é muito lógica. Quem primeiro pós em prática a Palavra que ouviu do Anjo? Foi Maria Santíssima donde que imitando-a merecermos tão grande honra.
     Este tempo que vivemos é o tempo do Espírito Santo. O que sabemos e intuímos é a Ele que o devemos. Presente na nossa vida diária vai concedendo na medida em que precisamos e Lhe pedimos os Dons de cujos frutos vivemos. Sem eles ficaríamos absolutamente impedidos de fazer algo bom é meritório

        






[1] São João é o único Evangelista que relata esta parábola da videira.


Temas para reflectir e meditar


Solidão 1


Uma consequência muito comum do estado de solidão é a preguiça.
Bem… podemos dizer que é inacção, “dourando um pouco a pílula”, mas realmente trata-se de preguiça.

É algo terrível que também condiciona e muito o comportamento, o viver dia a dia.

Constantemente adiando o que se deveria fazer nesse dia ou momento porque não apetece ou faz frio ou está muito calor razões sem valor nenhum para justificar essa preguiça apática e abúlica.
E vai-se andando assim dia após dia com um sentimento crescente da inutilidade da nossa vida que não serve para nada, que não interessa, uma maçada enorme!


(AMA, reflexões, Carvide, 14.08.2019)

FILOSOFIA E RELIGIÃO


Sobre o Tempo

Que é, com efeito, o Tempo? Quem o poderá explicar fácil e brevemente? Quem poderá compreendê-lo pelo pensamento e expressar-se literalmente (correctamente) a cerca dele? E, no entanto, que coisa mais familiar e conhecida do que o tempo trazemos nós à memória no falar? E, quando falamos dele, entendêmo-lo sempre, como também entendemos (dito) por outro interlocutor. Que é, portanto, o Tempo? Se ninguém mo perguntar, sei; se o quiser explicar ao que mo pergunta, não sei…

(Santo Agostinho, Confessionum, XI, 14, 17; Patrologia Latina, ed. Migne XXXII, 816, in BROTÉRIA, Janeiro de 1974, pg24)

El reto del amor

Leitura espiritual


São Josemaria Escrivá

Cristo que passa 46 a 50

46
          
A fé e a vocação de cristãos afectam toda a nossa existência e não só uma parte dela.
As relações com Deus são necessariamente relações de entrega e assumem um sentido de totalidade.
A atitude de um homem de fé é olhar para a vida, em todas as suas dimensões, com uma perspectiva nova: a que nos é dada por Deus.

Vós, que hoje celebrais comigo esta festa de S. José, sois todos homens dedicados ao trabalho em diversas profissões humanas, formais diversos lares, pertenceis a diferentes nações, raças e línguas. Adquiristes formação em centros de ensino, em oficinas ou escritórios, tendes exercido durante anos a vossa profissão, estabelecestes relações profissionais e pessoais com os vossos companheiros, participastes na solução dos problemas colectivos das vossas empresas e da sociedade.

Pois bem: recordo-vos, mais uma vez, que nada disso é alheio aos planos divinos.
A vossa vocação humana é uma parte, e parte importante, da vossa vocação divina.

Esta é a razão pela qual vos haveis de santificar, contribuindo ao mesmo tempo para a santificação dos outros, vossos iguais, precisamente santificando o vosso trabalho e o vosso ambiente: a profissão ou ofício que enche os vossos dias, que dá fisionomia peculiar à vossa personalidade humana, que é a vossa maneira de estar no mundo: o vosso lar, a vossa família; e a nação em que nascestes e que amais.
47
          
O trabalho acompanha necessariamente a vida do homem sobre a terra.
Com ele nascem o esforço, a fadiga, o cansaço, as manifestações de dor e de luta que fazem parte da nossa existência humana actual e que são sinais da realidade do pecado e da necessidade da redenção. Mas o trabalho, em si mesmo, não é uma pena nem uma maldição ou castigo: os que assim falam não leram bem a Sagrada Escritura.

É a hora de nós, os cristãos, dizermos bem alto que o trabalho é um dom de Deus e que não tem nenhum sentido dividir os homens em diversas categorias segundo os tipos de trabalho, considerando umas tarefas mais nobres do que outras.
O trabalho, todo o trabalho, é testemunho da dignidade do homem, do seu domínio sobre a criação.
É um meio de desenvolvimento da personalidade.
É um vínculo de união com os outros seres; fonte de recursos para sustentar a família; meio de contribuir para o melhoramento da sociedade em que se vive e para o progresso de toda a Humanidade.

Para um cristão, essas perspectivas alargam-se e ampliam-se, porque o trabalho aparece como participação na obra criadora de Deus que, ao criar o homem, o abençoou dizendo-lhe: Procriai e multiplicai-vos e enchei a terra e subjugai-a, e dominai sobre todo o animal que se mova à superfície da terra.
Além disso, ao ser assumido por Cristo, o trabalho apresenta-se-nos como uma realidade redimida e redentora: é, não só o âmbito em que o homem vive, mas também meio e caminho de santidade, realidade santificável e santificadora.

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Convém não esquecer, portanto, que esta dignidade do trabalho está fundamentada no Amor.
O grande privilégio do homem é poder amar, transcendendo assim o efémero e o transitório.
O homem pode amar as outras criaturas, dizer um tu e um eu cheios de sentido.
E pode amar a Deus, que nos abre as portas do Céu, que nos constitui membros da sua família, que nos autoriza a falar também de tu a Tu, face a face.

Por isso, o homem não pode limitar-se a fazer coisas, a construir objectos.
O trabalho nasce do amor, manifesta o amor, ordena-se ao amor. Reconhecemos Deus não só no espectáculo da Natureza, mas também na experiência do nosso próprio trabalho, do nosso esforço.
O trabalho é, assim, acção de graças, porque nos sabemos colocados por Deus na terra, amados por Ele, herdeiros das suas promessas.
É justo que se nos diga: quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus.

49
          
O trabalho é também apostolado, ocasião de entrega aos outros homens, para lhes revelar Cristo e levá-los até Deus Pai, consequência da caridade que o Espírito Santo derrama nas almas.
Entre as indicações que S. Paulo dá aos de Éfeso sobre como deve se manifestar a mudança que representou para eles a sua conversão, a sua vocação ao Cristianismo, encontramos esta: o que furtava, não furte mais, mas trabalhe, ocupando-se com as suas mãos nalguma tarefa honesta, para ter com que ajudar a quem tenha necessidade.

Os homens têm necessidade do pão da terra que sustente as suas vidas e também do pão do Céu que ilumine e dê calor aos seus corações.
Com o vosso próprio trabalho, com as iniciativas que se promovam a partir dessa ocupação, nas vossas conversas, no convívio com os outros, podeis e deveis concretizar esse preceito apostólico.

Se trabalhamos com este espírito, a nossa vida, no meio das limitações próprias da condição terrena, será uma antecipação da glória do Céu, dessa comunidade com Deus e com os santos, na qual só reinará o amor, a entrega, a fidelidade, a amizade, a alegria.
Na vossa ocupação profissional, corrente e ordinária, encontrareis a matéria - real, consciente, valiosa - para realizar toda a vida cristã, para corresponder à graça que nos vem de Cristo.

Nas vossa ocupações profissionais, realizadas face a Deus, pôr-se-ão em jogo a Fé, a Esperança e a Caridade. Os incidentes, as relações e os problemas que o vosso trabalho traz consigo alimentarão a vossa oração.
O esforço por cumprirdes os vossos deveres correntes será o modo de viverdes a Cruz, que é essencial para o Cristão.
A experiência da vossa debilidade e os fracassos que existem sempre em todo o esforço humano dar-vos-ão mais realismo, mais humildade, mais compreensão com os outros.
Os êxitos e as alegrias convidar-vos-ão a dar graças e a pensar que não viveis para vós mesmos, mas para o serviço dos outros e de Deus.

50
          
Para servir, servir

Para viver assim, para santificar a profissão, é necessário, primeiro que tudo, trabalhar bem, com seriedade humana e sobrenatural. Quero recordar-vos agora, por contraste, o que conta um dos antigos relatos dos evangelhos apócrifos: O Pai de Jesus, que era carpinteiro, fazia arados e jugos.
Uma vez - continua a narração - foi-lhe encomendada uma cama, por certa pessoa de boa posição. Mas aconteceu que um dos varais era mais curto que o outro, pelo que José não sabia o que fazer.
Então o Menino Jesus disse ao seu Pai: põe os dois paus no chão e acerta-os por uma extremidade.
Assim fez José. Jesus põe-se do outro lado, pegou no varal mais curto e esticou-o, deixando-o tão comprido como o outro.
José, seu Pai, ficou cheio de admiração ao ver o prodígio e encheu o Menino de abraços e beijos dizendo: ditoso de mim, porque Deus me deu este Menino

José, não daria graças a Deus por estes motivos; o seu trabalho não podia ser assim. S. José não é o homem das soluções fáceis e milagreiras, mas o homem da perseverança, do esforço e, quando é necessário, do engenho.
O cristão sabe que Deus faz milagres; que os realizou há séculos, que continuou a fazê-los depois e que continua a fazê-los agora, porque non est abbreviata manus Domini, não diminuiu o poder de Deus.

Mas os milagres são uma manifestação da omnipotência salvadora de Deus, e não um expediente para resolver as consequências da inépcia ou para facilitar o nosso comodismo.
O milagre que o Senhor vos pede é a perseverança na nossa vocação cristã e divina, a santificação do trabalho de cada dia: o milagre de converter a prosa diária em decassílabos, em verso heróico, pelo amor com que realizais a vossa ocupação habitual.
Aí vos espera Deus para que sejais almas com sentido de responsabilidade, com zelo apostólico, com competência profissional.

Assim, como lema para o vosso trabalho, posso indicar-vos este: para servir, servir.
Porque para fazer as coisas, é necessário, em primeiro lugar, saber concluí-las.
Não acredito na rectidão da intenção de quem não se esforça por conseguir a competência necessária para cumprir bem os trabalhos de que está encarregado.
Não basta querer fazer o bem; é preciso saber fazê-lo.
E, se queremos realmente, esse desejo traduzir-se-á no empenho por utilizar os meios adequados para fazer as coisas bem acabadas, com perfeição humana.

(Continua)

Pequena agenda do cristão


TeRÇa-Feira

PEQUENA AGENDA DO CRISTÃO

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)




Propósito:

Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me:
Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?


Orações sugeridas:

salmo ii

Regnum eius regnum sempiternum est et omnes reges servient et obedient. 
Quare fremerunt gentes et populi meditati sunt inania?
Astiterum reges terrae et principes convenerunt in unum adversus Dominum et adversus christum eius.
Dirumpamus vincula eorum et proiciamos a nobis iugum ipsorum.
Qui habitabit in caelis, irridebit eos, Dominus subsanabit eos.
Ego autem constitui regem meum super sion montem sanctum meum.
Praedicabo decretum eius Dominus dixit ad me: filius meus es tu; ego hodie genui te.
Postula a me, et dabo tibi gentes hereditatem tuam et possessionem tuam terminos terrae.
Reges eos in virga ferrea et tamquam vas figuli confringes eos.
Et nunc, reges, intelegite, erudimini, qui indicatis terram.
Servite Domino in timore et exultate ei cum tremore.
Apprehendite disciplinam ne quando irascatur et pereatis via, cum exarcerit in brevi ira eius.
Beati omnes qui confident in eo.
Gloria Patri...
Regnum eius regnum sempiternum est et omnes reges servient et obedient.
Oremus:
Omnipotens et sempiterne Deus qui in dilecto Filio Tuo universorum rege omnia instaurare voluisti concede propitius ut cunctae familiae gentium pecati vulnere disgregatae eius suavissimo subdantur imperio: Qui tecum vivit et regnat in unitate Spiritus Sancti Deus, per omnia saecula saeculorum.

Exame Pessoal

Sabes Senhor, qual é, talvez a minha maior fraqueza? É pensar em demasiado mim, nos meus problemas, nas minhas tristezas, naquilo que me acontece e no que gostaria me acontecesse. Nas voltas e reviravoltas que dou sobre mim mesmo, sobre a minha vida.
E os outros? Sim, os outros que rezam por mim, que se interessam por mim, que têm paciência para comigo, que me desculpam as minhas faltas e as minhas fraquezas, que estão sempre prontos a ouvir-me a atender-me, que não se importam de esperar que eu os compense pelo bem que me fazem, que não me pressionam para que pague o que me emprestam, que não me criticam nem julgam com a severidade que mereço.
Ajuda-me Senhor, a ser, pelo menos reconhecido e a devolver o bem que recebo e, além disso a não julgar, a não emitir opinião, critica ou conceito, vendo nos outros, a maior parte das vezes, os defeitos e fraquezas que eu próprio possuo.[i]

Senhor, ajuda-me a pensar nos outros em vez de estar aqui, mergulhado nos meus problemas, girando à volta de mim mesmo, concentrado apenas no que me diz respeito. Os outros! Todos os outros. Os que conheço, de quem sou amigo ou familiar e aqueles que me são desconhecidos. São Teus filhos como eu, logo, todos são meus irmãos. Se somos irmãos somos também herdeiros, convém, portanto que me preocupe com aqueles que vão partilhar a herança comigo.[ii]

Noverim me

Oh Deus que me conheces perfeitamente tal como sou, ajuda-me a conhecer-me a mim mesmo, para que possa combater com eficácia os enormes defeitos do meu carácter, em particular...
Chamaste-me, Senhor, pelo meu nome e eu aqui estou: com as minhas misérias, as minhas debilidades, com palavras maiores que os actos, intenções mais vastas que as obras e desejos que ultrapassam a vontade.
Porque não sou nada, não valho nada, não sei nada e não posso nada, entrego-me totalmente nas Tuas mãos para que, por intercessão de minha Mãe, Maria Santíssima, de São José, meu Pai e Senhor, do Anjo da Minha Guarda e de São Josemaria, possa adquirir um espírito de luta perseverante.[iii]
   
Meu Senhor e meu Deus, tira-me tudo o que me afaste de Ti.
Meu Senhor e meu Deus, dá-me tudo o que me aproxime de Ti
Meu Senhor e meu Deus, desapega-me de mim mesmo, para que eu me dê todo a ti.
Eu sei que podeis tudo e que, para Vós, nenhum projecto é impossível.[iv]

Faz-me santo, meu Deus, ainda que seja à força.[v]

Nada te perturbe / nada te atemorize Tudo passa / Deus não muda A paciência tudo alcança / Quem a Deus tem Nada falta / só Deus basta.[vi]



[i] AMA orações pessoais
[ii] AMA orações pessoais
[iii] AMA orações pessoais
[iv] AMA orações pessoais
[v] AMA orações pessoais
[vi] Santa Teresa de Jesus

29/06/2020

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Leitura espiritual


São Josemaria Escrivá

Cristo que passa 41 a 45

41
         
A fé, o amor e a esperança de José

A justiça não consiste na mera submissão a uma regra; a rectidão deve nascer de dentro, deve ser profunda, vital, porque o justo vive da fé.
Viver da fé: estas palavras que foram, mais tarde, tema frequente de meditação para o apóstolo S. Paulo, vêem-se realizadas superabundantemente em S. José.
O seu cumprimento da vontade de Deus não é rotineiro nem formalista, mas espontâneo e profundo.
A lei que todo o judeu praticante vivia não foi para ele um simples código nem uma fria recompilação de preceitos, mas expressão da vontade de Deus vivo.
Por isso, soube reconhecer a voz do Senhor quando esta se lhe manifestou inesperada e surpreendente.

A história do Santo Patriarca foi uma vida simples, mas não uma vida fácil.
Depois de momentos angustiosos, sabe que o Filho de Maria foi concebido por obra do Espírito Santo.
E esse Menino, Filho de Deus, descendente de David segundo a carne, nasce numa gruta.
Os anjos celebram o seu nascimento e personalidades de terras longínquas vêm adorá-Lo, mas o rei da Judeia deseja a sua morte e é necessário fugir.
O Filho de Deus é um menino aparentemente indefeso que terá de viver no Egipto.
42
          
S. Mateus, ao narrar estas cenas no seu Evangelho, põe constantemente em destaque a fidelidade de José, que cumpre sem vacilações os mandatos de Deus, embora por vezes o sentido desses mandatos lhe possa parecer obscuro ou se lhe oculte a sua conexão com o resto dos planos divinos.

Em muitas ocasiões os Padres da Igreja e os autores espirituais fazem ressaltar a firmeza da fé de José.
Referindo-se às palavras do Anjo que lhe ordena que fuja de Herodes e se refugie no Egipto, Crisóstomo comenta: Ao ouvir isto, S. José não se escandalizou nem disse: isto parece um enigma.
Ainda há pouco Tu me davas a conhecer que Ele salvaria o seu povo e agora não é sequer capaz de salvar-se a si próprio e somos nós que temos necessidade de fugir, de empreender uma viagem e fazer uma grande deslocação; isto é contrário à tua promessa.
José não discorre deste modo, porque é um varão fiel.
Também não pergunta pela data de regresso, apesar do Anjo a ter deixado indeterminada, posto que lhe tinha dito: fica lá - no Egipto - até que eu te avise.
Nem por isso levanta dificuldades, mas obedece e crê e suporta todas as provas alegremente.

A fé de José não vacila, a sua obediência é sempre estrita e rápida. Para compreender melhor esta lição que aqui nos dá o Santo Patriarca, é bom que consideremos que a sua fé é activa e que a sua obediência não se parece com a obediência de quem se deixa arrastar pelos acontecimentos.
Porque a fé cristã é o que há de mais oposto ao conformismo ou à falta de actividade e de energia interiores.

José abandonou-se sem reservas nas mãos de Deus, mas nunca deixou de reflectir sobre os acontecimentos, e assim recebeu do Senhor a inteligência das obras de Deus, que é a verdadeira sabedoria.

Deste modo, aprendeu a pouco e pouco que os planos sobrenaturais têm uma coerência divina, que às vezes está em contradição com os planos humanos.

Nas diversas circunstâncias da sua vida, o Patriarca não renuncia a pensar, nem se alheia da sua responsabilidade.
Pelo contrário: põe toda a sua experiência humana ao serviço da fé. Quando volta do Egipto, ouvindo que Arquelau reinava na Judeia em vez de seu pai Herodes, temeu ir para lá.
Aprendeu a mover-se dentro dos planos divinos e, como confirmação de que Deus quer o que ele pressentia, recebe a indicação de se retirar para a Galileia.

Assim foi a fé de S. José: plena, confiante, íntegra, manifestando-se numa entrega real à vontade de Deus, numa obediência inteligente. E, com a Fé, a Caridade, o Amor.
A sua fé funde-se com o amor: com o amor de Deus, que estava a cumprir as promessas feitas a Abraão, a Jacob, a Moisés; com o carinho de esposo para com Maria e com o carinho de pai para com Jesus. Fé e amor da esperança da grande missão que Deus, servindo-se também dele - um carpinteiro da Galileia - estava a começar no mundo: a redenção dos homens.

43
          
Fé, amor, esperança: estes são os eixos em torno dos quais gira a vida de S. José e toda a vida cristã.

A entrega de S. José aparece-nos tecida pelo entrecruzamento de um Amor fiel, de uma Fé amorosa e de uma Esperança confiante.
A sua festa é, por isso, uma boa altura para renovarmos a entrega à vocação de cristãos, concedida pelo Senhor a cada um de nós.

Quando se deseja sinceramente viver da Fé, do Amor e da Esperança, a renovação da entrega não consiste em retomar uma coisa que tinha entrado em desuso.
Quando há Fé, Amor e Esperança, renovar-se - apesar dos nossos erros pessoais, das quedas, das debilidades - é manter-se nas mãos de Deus: confirmar um caminho de fidelidade.
Renovar a entrega é renovar, repito, a fidelidade àquilo que o Senhor quer de nós: amar com obras.

0 amor tem necessariamente as suas manifestações características. Às vezes fala-se do amor como se fosse uma procura de satisfação pessoal ou um mero recurso para completarmos egoisticamente a nossa personalidade.
E não é assim; amor verdadeiro é sair de si mesmo, entregar-se.
O amor traz consigo a alegria, mas é uma alegria que tem as suas raízes em forma de cruz.
Enquanto estivermos na terra e não tivermos chegado à plenitude da vida futura, não pode haver amor verdadeiro sem a experiência do sacrifício, da dor.
Uma dor de que se gosta, amável, fonte de íntimo gozo, mas dor real, porque significa vencer o nosso egoísmo e tomar o amor como regra de todas e cada uma das nossas acções.

44
         
As obras do Amor são sempre grandes, ainda que se trate, aparentemente, de coisas pequenas.
Deus aproximou-se dos homens, pobres criaturas, e disse-nos que nos ama: Deliciae mea esse cum filiis hominum, a minha delícia é estar entre os filhos dos homens.
O Senhor mostra-nos que tudo tem importância: as acções que, com olhos humanos, consideramos grandes; aquelas outras que, pelo contrário, qualificamos de pouca categoria...
Nada se perde.
Nenhum homem é desprezado por Deus.
Todos, seguindo cada um a sua vocação - no seu lar, na sua profissão ou no seu ofício, no cumprimento das obrigações que correspondem ao seu estado, nos seus deveres de cidadão, no exercício dos seus direitos - todos estão chamados a participar no Reino dos Céus.

É isto o que nos ensina a vida de José, simples, normal e vulgar, feita de anos de trabalho sempre igual, de dias humanamente monótonos, que se sucedem uns aos outros.
Muitas vezes o tenho pensado ao meditar sobre a figura de S. José, e esta é uma das razões que faz com que sinta por ele uma devoção especial.

Quando no seu discurso de encerramento da primeira sessão do Concílio Vaticano II, no passado dia 8 de Dezembro, o Santo Padre João XXIII anunciou que no cânon da Missa se mencionaria o nome de S. José, uma altíssima personalidade eclesiástica telefonou-me imediatamente para me dizer: Rallegramenti! Felicidades!
Ao ouvir a notícia pensei logo em si, na alegria que lhe tinha dado. E assim era, porque na assembleia conciliar, que representa a Igreja inteira reunida no Espírito Santo, se proclamava o valor divino da vida de S. José, o valor de uma vida simples de trabalho face a Deus e em total cumprimento da vontade divina.

45
         
Santificar o trabalho, santificar-se no trabalho, santificar com o trabalho

Descrevendo o espírito da associação a que dediquei a minha vida, o Opus Dei, tenho dito que se apoia, como em seu gonzo, no trabalho ordinário, no trabalho profissional exercido no meio do mundo.
A vocação divina dá-nos uma missão, convida-nos a participar na tarefa única da Igreja, para sermos assim testemunho de Cristo perante os nossos iguais, os homens, e para levarmos todas as coisas a Deus.

A vocação acende uma luz que nos faz reconhecer o sentido da nossa existência.
É convencermo-nos, com o resplendor da fé, do porquê da nossa realidade terrena.
Toda a nossa vida, a presente, a passada e a que há-de vir, cobra um novo relevo, uma profundidade de que antes não suspeitávamos. Todos os factos e acontecimentos passam a ocupar o seu posto: entendemos aonde nos quer levar o Senhor e sentimo-nos entusiasmados e envolvidos por esse encargo que se nos confia.

Deus tira-nos das trevas da nossa ignorância, do nosso caminho incerto entre os acontecimentos da história e chama-nos com voz forte, como um dia o fez com Pedro e André: Venite post me, et faciam vos fieri piscatores hominum. - Segui-me e eu vos farei pescadores de homens - qualquer que seja o lugar que ocupemos no mundo.

Quem vive da fé pode encontrar a dificuldade e a luta, a dor e até a amargura, mas nunca o desânimo nem a angústia, porque sabe que a sua vida serve, sabe para que veio a esta terra.
Ego sum lux mundi - exclamou Cristo - qui sequitur me non ambulate in tenebris, sed habebit lumen vitae.
Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não caminha às escuras, mas possuirá a luz da vida.

Para merecer essa luz de Deus é preciso amar, ter a humildade de reconhecer a necessidade de sermos salvos e dizer com Pedro: Senhor a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna. E nós acreditamos e sabemos, que Tu és Cristo, Filho de Deus.
Se realmente procedermos assim, se deixarmos entrar no nosso coração o chamamento de Deus, também poderemos repetir com verdade que não caminhamos nas trevas, pois, por cima das nossas misérias e dos nossos defeitos pessoais, brilha a luz de Deus, como o Sol brilha por cima da tempestade.

(continua)