Tempo de Cinzas
Evangelho: Lc 9 22-25
22
«É necessário que o Filho do Homem padeça muitas coisas, que seja rejeitado
pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas, que seja morto
e ressuscite ao terceiro dia. 23 Depois, dirigindo-Se a todos disse:
«Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz todos os
dias, e siga-Me.24 Porque quem quiser salvar a sua vida, a perderá;
e quem perder a sua vida por causa de Mim, salvá-la-á. 25 Que
aproveita ao homem ganhar todo o mundo, se se perde a si mesmo ou se faz dano a
si?
Comentário:
Haverá
quem queira seguir Jesus?
Com este “programa”, com estas condições!
A verdade e que ao longo dois tempos têm sido muitos milhares e, destes, não
poucos pagaram com a própria vida a sua escolha.
São
loucos?
Bem ao contrário, o prémio excede e em muito todo o sacrifício.
(ama,
comentário sobre Lc 9, 22-25, 2013.07.08)
Leitura espiritual
Santíssima Virgem
Octávio
César Augusto ordenou o censo dos habitantes da urbe romana. A ordem estende-se
a todos: do mais rico ao mais pobre. Na Palestina, tem de se fazer de acordo
com os hábitos judaicos: cada um na sua cidade de origem. José foi também da
Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de David, que se chama Belém,
porque era da casa e da família de David para se recensear juntamente com
Maria, sua esposa, que estava grávida (Lc 2, 4-5).
Assim,
com esta simplicidade, o evangelista começa a narração do acontecimento que
iria mudar a história da humanidade. A viagem era longa, uns cento e vinte
quilómetros. Quatro dias de caminho — se tudo decorresse normalmente — nalguma
das caravanas que viajavam da Galileia para o sul. Maria não era obrigada a
realizá-la; era dever do chefe de família. Mas como deixá-la sozinha, se estava
quase a dar à luz? E, sobretudo, como não acompanhar José até à cidade onde —
segundo as Escrituras — havia de nascer o Messias? José e Maria devem ter
descoberto naquele estranho capricho do longínquo imperador a mão do Altíssimo,
que lhes guiava todos os seus passos,.
O
REI DE ISRAEL, O DESEJADO DE TODAS AS NAÇÕES, O FILHO ETERNO DE DEUS, VEM AO
MUNDO NUM LUGAR PRÓPRIO PARA ANIMAIS.
Belém
era uma pequena aldeia. Mas, em virtude do recenseamento, tinha adquirido uma
desusada animação. José dirigiu-se com Maria ao oficial imperial para pagar o
tributo e inscrever-se com a sua mulher no livro dos súbditos do imperador.
Depois, começou a procurar um lugar onde passar a noite. A tradição apresenta-o
batendo infrutiferamente de porta em porta. Finalmente vai ao khan ou
hospedaria pública, onde sempre se pode encontrar um canto. Não era mais do que
um pátio fechado por muros. No centro, uma cisterna fornecia água; à sua volta
acomodavam-se os animais de carga e, encostados à parede, uns alpendres para os
viajantes, cobertos por um tecto rudimentar. Com frequência estavam divididos
por tabiques formando compartimentos, onde cada grupo de hóspedes gozava de uma
certa independência.
Não
era o lugar oportuno para que a Virgem desse à luz. Imaginamos o sofrimento de
José, ao aproximar-se a hora do parto, por não encontrar um lugar adequado. Não
havia para eles lugar na hospedaria (Lc 2, 7), escreve laconicamente São Lucas.
Alguém, talvez o próprio dono do khan, deve ter-lhes indicado que nas
proximidades da aldeia,, havia grutas que se utilizavam para albergar o gado
nas noites frias; poderiam talvez acomodar-se nalguma delas, até que diminuísse
a aglomeração de pessoas e se libertasse algum lugar na cidade.
A
divina Providência serviu-se destas circunstâncias para mostrar a pobreza e
humildade com que o Filho de Deus tinha decidido vir à terra. Todo um exemplo
para os que o seguiriam através dos séculos, como explica São Paulo: conheceis
a liberalidade de Nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, fez-se pobre por
vós, a fim de que vós fosseis ricos pela Sua pobreza (2 Cor 8, 9). O Rei de
Israel, o Desejado de todas as nações, o Filho eterno de Deus, vem ao mundo num
lugar próprio para animais. E a Sua Mãe vê-se obrigada a oferecer-Lhe, como
primeiro berço, uma manjedoura estreita.
OS
ÚLTIMOS DA TERRA, NÓMADAS COM OS REBANHOS QUE GUARDAVAM POR CONTA DE OUTROS,
SERÃO OS PRIMEIROS A RECEBER O ANÚNCIO DESSE ENORME PORTENTO: O NASCIMENTO DO
MESSIAS PROMETIDO.
Mas
o Omnipotente não quer que passe totalmente inadvertido este acontecimento
singular. Naquela mesma região havia uns pastores, que velavam e faziam de
noite a guarda ao seu rebanho (Lc 2, 8). Eles, os últimos da terra, nómadas com
os rebanhos que guardavam por conta de outros, serão os primeiros a receber o
anúncio desse enorme portento: o nascimento do Messias prometido.
Apareceu-lhes
um anjo do Senhor e a glória do Senhor os envolveu com a sua luz e tiveram
grande temor. Porém o anjo disse-lhes: "Não temais porque vos anuncio uma
boa nova, que será de grande alegria para todo o povo..." (Lc 2, 9-10). E,
depois de lhes comunicar a Boa Nova, deu-lhes um sinal pelo qual poderiam
reconhecê-Lo: encontrareis o Menino envolto em panos e deitado numa manjedoura
(Lc 2, 12). Imediatamente, diante dos seus olhos assombrados, apareceu uma
multidão de anjos que louvava a Deus dizendo: glória a Deus nas alturas e paz
na terra aos homens, objecto da boa vontade de Deus (Lc 2, 14).
Puseram-se
a caminho. Talvez arranjassem uns presentes para obsequiar a mãe e o
recém-nascido. A homenagem foi, para Maria e para José, a prova de que Deus
velava pelo Seu Filho. Também eles se encheriam de gozo perante o júbilo
ingénuo daquelas pessoas e ponderariam no seu coração como o Senhor se compraz
nos pobres e humildes.
Quando
acabou a festa, os pastores regressaram ao cuidado dos seus rebanhos, louvando
a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto (Lc 2, 20). Depois de dois mil
anos, também nós somos convidados a proclamar as maravilhas divinas. Amanheceu
um dia santo; vinde, gentes e adorai o Senhor; porque uma grande luz desceu
hoje à terra (Terceira Missa de Natal, aclamação antes do Evangelho).
J.A.
Loarte
***
Estava
próxima a hora de nasceres, Senhor, e "como não havia lugar na
hospedaria..." Tua Mãe santíssima, decerto preocupada, mas serenamente
confiante, levou-Te ainda no seu seio para uma gruta que servia de estábulo. E aí
nascesTe Senhor.
O meu
Deus, o meu Senhor, o meu Salvador!
"Como
não havia lugar na hospedaria..."
Porque
não haveria lugar?
Por a
cidade estar cheia de forasteiros que ali iam recensear-se?
Por não
aparentarem, aquela jovem mulher e o seu marido, posses ou posição social?
Sim,
com um simples burrico por transporte, uma pequena trouxa de magros pertences,
não o seriam por certo.
Talvez
fosse por estas duas principais razões, talvez. É um facto que
a cidade
estaria cheia de gente.
Mas
então, Maria e José foram tão imprudentes que não esperaram uns dias até que Tu
nascesses para então fazerem a viagem!?
Não
procuraram assegurar estadia em casa de algum parente ou conhecido!
Não,
não terão feito nada disto. Provavelmente porque não podiam, as comunicações
eram difíceis e, depois, porque se tratava de duas criaturas de extrema
simplicidade. Não era seu hábito programar a vida, medir os passos, organizar
em detalhe as coisas futuras.
Com uma
confiança ilimitada na providência de Deus, sabiam perfeitamente que
haverias de
nascer quando e onde quisesses, Senhor, e que haverias de prover todas as
necessidades que ocorressem.
Mas não
havia, de facto, lugar na hospedaria?
Não
seria possível descobrir um pequeno recanto, uma água-furtada, um esconso onde
a jovem mãe pudesse, com recato e algum conforto, dar à luz o seu Filho!?
Quantas
vezes, Senhor, eu não tive lugar para Ti?
Quantas
vezes!
Sempre
cheio de coisas, de preocupações, ambições, desejos, devaneios, ouvi eu,
entendi eu que eras Tu ali, à porta do meu coração, pedindo um bocadinho, um
pequeno espaço, para poderes nascer!
Quantas
vezes quiseste nascer dentro de mim e, eu, pobre de mim, não deixei, não quis!
Ah!
Senhor, eu sei que não sou digno, mas uma simples palavra Tua e este pobre
coração cheio de mazelas e pecados, ficará radioso de brancura e Tu poderás,
ainda que por momentos, nascer dentro d'Ele.
Bate,
Senhor, com força à minha porta, eu abrir-Te-ei e deixar-Te-ei entrar e aqui
farás o teu Presépio.
Não
desejo outra coisa, Senhor, senão sentir-Te dentro de mim, irradiando a Tua Paz
e o teu calor de amor.
Oh!
minha mãe, Maria Santíssima, descansa aqui um pouco, deixa-me por momentos o
teu Filho que eu O embalarei com o meu amor, a minha dedicação inteira, a minha
devoção profunda.
Podes
tu, José meu pai e senhor, confiar-me o teu excelente Filho adoptivo, eu
tomarei boa conta d'Ele, embora fique estático e estarrecido por tamanha
ventura e tão grande honra.
A minha
alma anseia que assim seja.
Naqueles dias saiu um édito da
parte de
César
Augusto, para ser recenseada toda a terra. Este recenseamento foi o primeiro
que se fez, sendo Quirino governador da Síria. E iam todos recensear-se, cada
qual à sua própria cidade. Ora José subiu também da Galileia, da cidade de
Nazaré, até à Judeia, à cidade de David chamada Belém, por ser da casa e
linhagem de David, a fim de recensear-se com Maria, sua esposa, que se achava
grávida. E, quando eles ali se
encontravam, completaram-se os dias de ela dar à luz e teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e
recostou numa manjedoira, por não haver para eles lugar na hospedaria.
Na mesma região havia uns
pastores, que pernoitavam nos campos e faziam a guarda nocturna do seu rebanho.
Apareceu-lhes então o Anjo do Senhor e a glória do Senhor cercou-os de luz, e
eles tiveram muito medo. Disse-lhes o Anjo: Não temais, pois vos anuncio uma
grande alegria, para todo o povo: nasceu-vos hoje na cidade de David um
Salvador que é o Messias Senhor! "Isto vos servirá de sinal: encontrareis
um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoira. "De súbito,
juntou-se ao Anjo uma multidão do exército celeste, louvando a Deus e dizendo:
Glória a Deus nas alturas, e paz na
Terra entre os homens do Seu agrado.
Quando os Anjos se afastaram
deles em direcção ao Céu, começaram os pastores a dizer entre si: Vamos então
até Belém e vejamos o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer. Foram,
pressurosos, e encontraram Maria, José e o Menino deitado manjedoira, e, ao
verem isto, deram a conhecer o que lhes tinham dito daquele Menino. Todos os
que ouviram ficaram admirados do que os pastores lhes contaram.
Maria, por seu turno, conservava todas estas
palavras, ponderando-as no seu espirito.
E os
pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e
ouvido conforme lhes fora anunciado. [2]
E
adoraram-No.
Sabem
que é o Messias, Deus feito homem. O Concilio de Trento cita expressamente esta
passagem da adoração dos Magos ao ensinar o culto que se deve a Cristo na
Eucaristia. Jesus presente no Sacrário é O mesmo a quem encontraram nos braços
de Maria, estes homens sábios.
Talvez devamos examinar como O
adoramos nós quando está exposto na Custódia ou escondido no Sacrário, com que
devoção e reverência nos ajoelhamos nos momentos indicados na Santa Missa, ou
cada vez que passamos naqueles lugares onde está guardado o Santíssimo Sacramento. [3]
Os
judeus daqueles tempos incluíam os pastores entre os pecadores e publicanos,
devido a que, pela sua ignorância, eram pouco cumpridores das prescrições da
Lei de Moisés. Por isso não eram admitidos como juízes nem
como testemunhas (Sanhedrin, 25b). Contudo, foram os únicos, juntamente com os
Magos, chamados a contemplar o Messias. [4]
O
aprofundamento da fé na maternidade virginal levou a Igreja a confessar a
virgindade real e perpétua de Maria, mesmo no parto do Filho de Deus feito
homem.
Com
efeito o nascimento de Cristo «não diminuiu, antes consagrou a integridade
virginal de Sua Mãe (Lumen Gentium, 57). A Liturgia da Igreja celebra
Maria como a «Aciparthenos», a « sempre Virgem».[5]
A isso
objecta-se, por vezes, que a Escritura menciona irmãos e irmãs de Jesus. A
Igreja entendeu sempre estes passos como não designando outros filhos da Virgem
Maria. Tiago e José, «irmãos de Jesus» (Mt 13, 55) são filhos duma Maria
discípula de Cristo (Cf. Mt 27, 56) designada significativamente como «a outra
Maria» (Mt 28, 1). Trata-se de parentes próximos de Jesus, segundo uma
expressão conhecida do Antigo Testamento (Cf. Gn 13, 8; 14, 16; 29, 15; etc.) [6]
Jesus é
o filho único de Maria. Mas a maternidade espiritual de Maria estende-se a todos os homens que Ele veio
salvar: «Ela deu à luz um Filho que Deus estabeleceu 'primogénito de muitos
irmãos' (Rom 8, 29), isto é, dos fiéis para cuja geração e educação Ela coopera
com amor de mãe» (Lumen Gentium, 63) [7]
O olhar
da fé pode descobrir, em ligação com o conjunto da Revelação, as razões
misteriosas pelas quais Deus, no seu desígnio salvífico, quis que o Seu Filho
nascesse duma vigem. Tais razões dizem respeito tanto à pessoa e missão
redentora de Cristo como ao acolhimento dessa missão por Maria, para bem de
todos os homens. [8]
Maria
«permaneceu virgem ao conceber o seu Filho, virgem ao dá-Lo à luz, virgem ao
trazê-Lo ao colo, virgem ao amamentá-Lo em seu seio, virgem sempre» (Stº
Agostinho, Sermão 186, 1: PL 38, 999): de todo os seu ser, ela é a «serva do
Senhor» (Lc 1, 38) [9]
Maria é
verdadeiramente «Mãe de Deus», pois é Mãe do Folho eterno de Deus feito homem,
O qual também é Deus. [10]
Como
não reafirmar solenemente que a vida do ser humano è sagrada já desde o seu
desenvolvimento sob o coração materno, desde o momento da sua concepção? Como
esquecer que, justamente neste ano consagrado á criança, o número de
vidas suprimidas no seio materno alcançou cumes pavorosos? É uma
hecatombe silenciosa que não pode deixar indiferentes não digo já os homens da
Igreja, a nós, cristãos e cristãs do mundo inteiro, mas também aos responsáveis
da coisa publica, as pessoas que pensam no advir das nações. Em nome de Jesus
«vivente em Maria», levado por Ela dentro do seu seio no mundo indiferente e
hostil – em Belém, recusaram acolhê-lo e no palácio de Herodes tramou-se a sua
morte -, em nome daquele menino, Deus e homem, eu conjuro os homens conscientes
da dignidade insuprível dos homens ainda não nascidos a adoptar uma posição
digna do homem, para que este período obscuro que ameaça cobrir com trevas a
consciência humana possa finalmente superar-se.
[11]
Jesus
nasceu na humildade dum estábulo, no seio de uma família pobre. As primeiras
testemunhas deste acontecimento são simples pastores. E é nesta pobreza que se
manifesta a glória do Céu. A Igreja não se cansa decantar a glória desta noite:
Hoje a Virgem dá à luz o Eterno
E a Terra oferece uma gruta ao
Inacessível.
Cantam-no os anjos e os pastores, e com
a estrela, os magos se põem a caminho,
Porque Tu nascesTe para nós, pequenino,
Deus eterno! [12]
E ao
entrarem na casa, viram o Menino com Maria, Sua Mãe e, prostrando-se por terra,
adoraram-No. Em seguida, abriram os cofres e ofereceram-Lhe presentes: oiro,
incenso e mirra. [13]
O
mistério do Natal cumpre-se em nós, quando Cristo «Se forma» em nós (Gal 4,
19). O Natal é o mistério desta «admirável permuta» (Ó permuta admirável! O
Criador do género humano, tomando corpo e alma dignou-Se nascer duma Virgem; e,
feito homem, tornou-nos participantes da Sua divindade) (LH, Oitava do Natal,
antífona). [14]
A
Igreja, imitando a sua Mãe (Maria), diariamente dá à luz novos filhos e é
sempre virgem. [15]
O chamamento
dos Magos, enquanto se dedicam ao seu ofício, é um
facto que se repete no chamamento que Deus faz aos homens: chamá-los
precisamente entre as ocupações diárias da sua vida. [16]
Quase
sempre por nossa culpa; em certos momentos da nossa vida interior, acontece-nos
o que aconteceu na viagem dos Reis Magos: a estrela oculta-se (...). Que
havemos de fazer então? Seguir o exemplo daqueles homens santos: perguntar.
Herodes serviu-se da ciência para proceder de modo injusto; os Reis Magos
utilizam-na para fazer o bem. Mas nós, cristãos, não temos necessidade de
perguntar a Herodes ou aos sábios da Terra. Cristo deu à Sua Igreja a segurança
da doutrina, a corrente de graça do Sacramentos; e providenciou para que haja
pessoas que nos orientem, que nos conduzam, que nos recordem constantemente o
caminho. [17]
Tal
como os Reis Magos, descobrimos uma estrela que é luz, rumo certo no céu da
nossa alma.
Vimos uma estrela no Oriente e
viemos adorá-Lo. Também nós tivemos esta experiência. Também nós sentimos
que, a pouco e pouco, se acendia na nossa alma uma luz nova: o desejo de ser
cristãos em plenitude, o desejo, por assim dizer, de tomar Deus a sério. [18]
Esta
maternidade de Maria implicava uma relação pessoal e única com Deus, que a
situava por cima de todo o criado, sem deixar de ser Ela mesma. (Devido a esta
graça extraordinária, Maria «avantaja-se muito a todas as criaturas do Céu e da
terra» (Const. Lumen gentium, nr 53)). Nossa Senhora possuía a união mais
íntima que se possa dar entre Deus e os homens, salvo a união hipostática.
O
Espirito Santo vinculava-a a Deus de uma maneira nova e especialíssima, e de um
modo real e permanente. No Céu houve grande festa naquela noite, enquanto todos
contemplavam o Filho encarnado e a Mãe de Deus, que resplandecia de graça e de
gozo. E José não cabia em si de alegria. [19]
O Verbo fez-se carne» (Jo 1, 14). Esta sublime apresentação
joanina do mistério de Cristo é confirmada por todo o Novo Testamento.
Assim,
S. Paulo afirma que o Filho de Deus nasceu <da descendência de David segundo
a carne>, (Rm 1, 3; cf. 9, 5). Se hoje, com o racionalismo que
grassa em muitos sectores da cultura contemporânea, é a fé na divindade de
Cristo a encontrar mais problemas, também já houve contextos históricos e
culturais em que predominou a tendência a reduzir ou diluir o carácter
histórico concreto da humanidade de Jesus. Mas,
para a fé da Igreja, é essencial e irrenunciável afirmar que verdadeiramente
o Verbo
se fez
carne,> e assumiu todas as dimensões do ser humano, excepto o pecado
(cf. Hb 4, 15).
Nesta perspectiva, a encarnação
é verdadeiramente um, despojar-se» (kenosis), por
parte do Filho de Deus, da glória que Ele possui desde toda a eternidade (cf.
Fl 2, 6-8; lPd 3, 18).
Por
outro lado, esta humilhação do Filho de Deus não é fim em si mesma, mas visa a
plena glorificação de Cristo, inclusivamente na sua humanidade: [20]
Desde o consentimento prestado
na fé, no momento da Anunciação, e mantido sem hesitação ao pé da cruz, a
maternidade de Maria estende-se aos irmãos e irmãs do seu Filho, «que, entre
perigos e angústias, caminham ainda na Terra» (LG 62). Jesus, o único mediador,
é o caminho da nossa oração; Maria, sua Mãe e nossa Mãe, é para Ele toda
transparente: Ela «mostra o caminho» («hodoghitria»), é «o sinal» do caminho,
segundo a iconografia tradicional no Oriente e no Ocidente. [21]
[1] ama, Meditação de Natal, 1999
[3] frederico
fernandez carvajal, Hablar con Dios, Vol I, 6 Jan.
[4] francisco
fernandez carvajal, Vida de Jesus, Barbosa & Xavier, Lda - Artes Gráficas, pg. 81
nota 20
[5] Catecismo da Igreja Católica, nr.
499
[6] Catecismo da Igreja Católica, nr. 500
[7] Catecismo da Igreja Católica, nr. 501
[8] Catecismo da Igreja
Católica, nr. 502
[9] Catecismo da Igreja Católica, nr. 510
[10] Catecismo da Igreja Católica, nr. 509
[11] são joão paulo ii, Discurso ao sacro Colégio Cardinalício, 22 de Dezembro de 1979
[12] (Kontakion, de Romanos a
Metódio) Catecismo da Igreja Católica, nr. 525
[14] Catecismo da Igreja Católica, nr. 526
[15] santo
agostinho, Enchiridium, 34
[16] Bíblia Sagrada, anotada pela Fac. de Teologia da Univ. de Navarra,
Comentário Mt 2, 2
[17] Cfr. são
josemaría escrivá, Cristo que Passa, nr. 34
[18] são josemaría
escrivá, Cristo que Passa, nr. 32
[19] francisco fernández carvajal, Vida de Jesus, Barbosa & Xavier, Lda
- Artes Gráficas, pg. 80 - 81
[20] Cfr são joão paulo ii, Carta Apostólica Novo Millenio Ineunte, 22
[21] Catecismo da Igreja Católica, 2674