23/06/2014

Temas para meditar 154

Sacerdote


O perfeito cristão leva sempre consigo a serenidade e a alegria. Serenidade, porque se sente na presença de Deus; alegria, porque se vê rodeado dos seus dons. Um cristão assim é de verdade um personagem real, um sacerdote santo de Deus.


(S. clemente de alexandriaStromata VII, nr. 9 451)

Diálogos apostólicos 21

Nota: Normalmente, estes “Diálogos apostólicos”, são publicados sob a forma de resumos e excertos de conversas semanais. Hoje, porém, dado o assunto, pareceu-me de interesse publicar quase na íntegra.

Antes de dizeres uma palavra deste-me um abraço apertadíssimo. Depois, com lágrimas nos olhos contaste:

‘Não calculas o que aconteceu. Depois de algumas trivialidades, abordei o assunto que me preocupa e, para meu espanto, o meu irmão não ficou nem surpreendido nem agastado. Foi ouvindo, fez algumas perguntas breves e percebi que estava “tocado”. Depois, para minha maior surpresa perguntou-me se tinha comigo o livro que me emprestaste e de que lhe falei; se lho emprestava para ler…’

Confesso que também eu tinha lágrimas nos olhos, de contentamento, de alegria. Depois disse-te:


‘Bem… agora vai devagar, sem pressas. Deixa-o ler o livro e ser ele a falar-te no assunto – o que seguramente fará – para, de acordo com o que ele te disser continuar a ir um pouco mais além. Não te esqueças dos Anjos da Guarda…

Lançamento de livro - Convite

Rev. Cónego António Ferreira dos Santos
Reitor da Igreja da Lapa
Igreja da Lapa (Porto)
Altar Mor




                                                                                                          

Porque é que nós, homens, nos entristecemos?

"Bem-aventurada, porque acreditaste!", diz Isabel à nossa Mãe. A união com Deus, a vida sobrenatural, vai sempre unida à prática atraente das virtudes humanas: porque "leva" Cristo, Maria leva a alegria ao lar de sua prima. (Sulco, 566)

Não deis o mínimo crédito aos que apresentam a virtude da humildade como um amesquinhamento humano ou como uma condenação perpétua à tristeza. Sentir-se barro, recomposto com gatos, é fonte contínua de alegria; significa reconhecer-se pouca coisa diante de Deus: criança, filho. E haverá maior alegria do que a daquele que, sabendo-se pobre e débil, se sabe também filho de Deus? Porque é que nós, homens, nos entristecemos? Porque a vida na terra, não se passa como nós, pessoalmente, esperávamos e porque surgem obstáculos que impedem ou dificultam a satisfação do que pretendemos.


Nada disto acontece quando a alma vive essa realidade sobrenatural da sua filiação divina. Se Deus é por nós, quem será contra nós. Que estejam tristes os que se empenham em não se reconhecerem filhos de Deus, tenho eu repetido sempre. (Amigos de Deus, 108)

Pequena agenda do cristão


SeGUNDa-Feira




(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Sorrir; ser amável; prestar serviço.

Senhor que eu faça ‘boa cara’, que seja alegre e transmita aos outros, principalmente em minha casa, boa disposição.

Senhor que eu sirva sem reserva de intenção de ser recompensado; servir com naturalidade; prestar pequenos ou grandes serviços a todos mesmo àqueles que nada me são. Servir fazendo o que devo sem olhar à minha pretensa “dignidade” ou “importância” “feridas” em serviço discreto ou desprovido de relevo, dando graças pela oportunidade de ser útil.

Lembrar-me:
Papa, Bispos, Sacerdotes.

Que o Senhor assista e vivifique o Papa, santificando-o na terra e não consinta que seja vencido pelos seus inimigos.

Que os Bispos se mantenham firmes na Fé, apascentando a Igreja na fortaleza do Senhor.

Que os Sacerdotes sejam fiéis à sua vocação e guias seguros do Povo de Deus.

Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?



Tratado da lei 32

Questão 97: Da mudança das leis.

Art. 4 — Se os chefes do povo podem dispensar nas leis humanas.

(Supra, q. 96. a. 6; infra, q. 100. a. 8; IIª-IIªª, q. 88, a. 10; q. 89. a. 9; q. 717, a. 4; III Sent., dist. XXXVII, a. 4; IV. dist. XV, q. 3, a. 2, qª 1; dist. XXVII, q. 3, a. 3, ad 4; III Cont. Gent., cap. CXXV).

O quarto discute-se assim. — Parece que os chefes do povo não podem dispensar nas leis humanas.

1. — Pois, a lei é estabelecida para a utilidade geral, como diz Isidoro. Ora, o bem comum não pode ser preterido em benefício da utilidade particular de ninguém. Porque, no dizer do Filósofo, o bem da nação é mais divino que o de um só homem. Logo, parece que não se deve dispensar ninguém de modo a poder contrariar o bem comum.

2. Demais. — Aos constituídos como chefes a Escritura preceitua (Dt 1, 17): Do mesmo modo ouvireis o pequeno como o grande, nem tereis acepção de pessoa alguma, porque este é o juízo de Deus. Ora, conceder a um o que se nega a todos, comummente, é fazer acepção de pessoas. Logo, sendo isto contra o preceito da lei divina, os chefes do povo não podem conceder tais dispensas.

3. Demais. — A lei humana, quando recta, há-de estar de acordo com a lei natural e a divina; de contrário não estaria de acordo com a religião, nem conviria com a disciplina, o que entretanto a lei exige, como diz Isidoro. Ora, na lei natural e divina ninguém pode dispensar. Logo nem na lei humana.

Mas, em contrário, diz o Apóstolo (1 Cor 9, 17): A dispensa  veio-me só a ser encarregada.

SA dispensa, propriamente, implica a comensuração entre o comum e o particular. Donde, também o chefe de família se chama dispensador, por distribuir a cada membro dela, com peso e medida, as obras e o necessário à vida. Assim também, em qualquer povo, diz-se que dispensa quem ordena como cada preceito geral há de ser cumprido pelos particulares.

Ora, pode acontecer que um preceito correspondente, na maior parte dos casos, à utilidade da multidão, não convenha a uma determinada pessoa ou a um determinado caso. E isso, quer por ser impedimento do melhor, quer por provocar algum mal, como do sobredito se colhe (q. 96, a. 6). Ora, seria perigoso cometer tal dispensa ao juízo de qualquer, salvo se houver perigo evidente e súbito, como antes se disse (q. 96, a. 6). Donde, quem tem o múnus de governar a multidão tem o poder de dispensar na lei humana, que se apoia na sua autoridade. De modo que, nas pessoas ou nos casos em que a lei é deficiente, dê licença para não se observar o preceito dela.

Se porém, der tal licença, sem a mencionada razão, e só por sua vontade, não será fiel na dispensação, ou será imprudente. Infiel, se não visar intencionalmente o bem comum; imprudente, se ignorar a razão de dispensar. Pelo que diz o Senhor (Lc 12, 42): Quem crês que é o dispenseiro fiel e prudente que faz o senhor sobre a sua família?

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Não deve ser em prejuízo do bem comum que alguém seja dispensado de observar a lei geral; mas com a intenção de isso aproveitar a tal bem.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Não há acepção de pessoas se não se estabelecem situações iguais para pessoas desiguais. Donde, quando a condição de uma pessoa exige que racionalmente se observe para com ela alguma disposição especial, não há acepção de pessoas, se lhe fizer uma graça especial.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A lei natural, por conter preceitos gerais, que nunca falham, não é susceptível de dispensa. Mas às vezes o homem pode dispensar nos outros preceitos, que são umas quase conclusões dos preceitos comuns. Por exemplo, que não se restitua o mútuo ao traidor da pátria, ou coisa semelhante. Quanto à lei divina, cada homem está para ela, como uma pessoa privada, para a lei pública, a que está sujeito. Donde, assim como ninguém pode dispensar na lei pública humana, senão aquele de quem ela tira a sua autoridade, ou quem dele receber permissão para tal, assim, ninguém, a não ser Deus, ou quem Ele especialmente determinar, pode dispensar nos preceitos do direito divino, procedentes de Deus.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Evangelho diário, comentário e leitura espiritual (A paz na familia 4)


Tempo comum XII Semana

Evangelho: Mt 7, 1-5

«Não julgueis, para que não sejais julgados; 2 pois, segundo o juízo com que julgardes, sereis julgados; e com a medida com que medirdes, vos medirão também a vós.3 Porque olhas tu para a palha que está no olho de teu irmão, e não notas a trave no teu olho? 4 Como ousas dizer a teu irmão: Deixa-me tirar-te do olho uma palha, tendo tu uma trave no teu? 5 Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás para tirar a palha do olho de teu irmão.

Comentário:

Palhas e traves, coisas pequenas e coisas grandes, nos outros os defeitos são sempre muito maiores que os nossos ao passo que as virtudes que possuímos são sempre maiores que as dos outros.

Usamos sempre as lentes de aumento para os erros dos outros e para as virtudes que julgamos ter.

Assim, a nossa visão é desfocada, impede-nos de ver a realidade e, por isso nos deixamos dominar pelo amor-próprio.

Peçamos ao Senhor a graça de uma visão justa e equilibrada.

(ama, comentário sobre Mt 7, 1-5, 2012.06.25)


Leitura espiritual



Temas


A PAZ NA FAMÍLIA
…/4

A FAMÍLIA EM PERSPECTIVA

EGOÍSMO E REALIZAÇÃO

Como acabamos de ver, o egoísmo é o rumo errado da família. Sob a tirania do “eu”, a paz familiar torna-se impossível.

À primeira vista, essa afirmação parece óbvia, sobretudo depois de termos contemplado os efeitos devastadores do egoísmo no lar. No entanto, para muitas pessoas, não parece tão óbvia assim.

Por que o egoísmo haveria de ser o rumo errado do casamento e da família? É um fato incontestável que um número elevadíssimo de pessoas julga hoje, na prática, que o egoísmo não só não é errado, como é e deve ser o rumo natural da vida familiar e da vida em geral. Só que, em vez de falarem em egoísmo, falam em realização. Detestam a palavra egoísmo e adoram a palavra realização. Há, porém, um pequeno detalhe: dentro da sua filosofia de vida, egoísmo e realização significam exatamente a mesma coisa.

Para a maioria das pessoas, com efeito, o casamento, a família – algum tipo de família –, faz parte importante do seu programa de realização pessoal. É natural que os jovens pensem no futuro e planejem o que julgam que os poderá “realizar”, trazendo-lhes bem-estar, crescimento, auto-estima e felicidade. Propõem-se, para isso, umas metas profissionais, e também a meta de um amor humano, da constituição de uma família que encarne os seus sonhos e aspirações.
Até aqui, não há nada a objectar. Acontece, contudo, que esses rapazes e moças – sem nem darem por isso – situam a família dentro de um programa de realização pessoal que está viciado na sua própria raiz pela mentalidade materialista, característica do mundo actual.

Cada vez mais, o mundo desliza para uma civilização utilitarista e hedonista, que entende a realização do indivíduo como o máximo acúmulo de benefícios úteis e de prazeres, com a mínima despesa possível de renúncias e sacrifícios; um mundo em que o relacionamento com as outras pessoas visa, principalmente, o “proveito” e o “prazer” pessoal; em suma, um mundo em que o relacionamento interpessoal tem a forma, o peso e a medida do interesse individual.

O “utilitarismo hedonista”, conhecido vulgarmente com o nome de “direito-de-ser feliz”, acaba, então, por justificar tudo: larga-se abruptamente o marido ou a mulher, quando manter-se fiel “custa”; parte-se facilmente para uma nova união, à caça da felicidade (de “sentir-se bem”, de encontrar-se “a si mesmo”), ainda que, com isso, se deixem os filhos privados de um verdadeiro lar e machucados com traumas irreversíveis; ou, então, foge-se do sacrifício de ter que criá-los, como faz o chupim, pelo simples sistema de não tê-los ou de matá-los no ventre materno quando, ainda dentro dele, começam a incomodar.

No meio desse radical egoísmo, subsiste, contudo, em muitos casos o desejo de ter uma família..., mas só na medida em que for útil para a realização pessoal; subsiste o desejo de ter filhos, mas somente se isso dá gosto aos pais; e o de não tê-los – este é bem mais frequente –, se há o receio de que perturbem as ascensões profissionais (especialmente a “realização independente” da mulher), ou o lazer, ou as viagens internacionais, ou a posse e consumo de mais bens materiais. Com que pena ouvia eu, recentemente, o que me contava um rapaz recém-casado, entusiasmado com a ideia de ter logo um filho.
Uma jovem vizinha de apartamento, recém-casada também, ao saber do seu entusiasmo, fez um trejeito de nojo e comentou: “Filhos? Nunca! Só «enchem»!”

TRÊS DESVIOS E UM BRADO DE ALERTA

Se pensarmos bem, perceberemos que esses egoístas procuram a paz e a felicidade por três vias tortas – desvios e não caminhos –, que não podem proporcionar a paz simplesmente porque são uma radical inversão dos valores, porque são uma “desordem”, no sentido mais profundo dessa palavra.

Lembremo-nos de que a paz, como dizia Santo Agostinho, é a tranquilidade na ordem. A paz, com efeito, vem da harmonia, da ordem equilibrada e certa, quer no interior do ser humano, quer nas suas relações com Deus e com o próximo: da ordem dos valores, dos amores, dos deveres, da ordem entre o que é apenas um meio e o que é um fim, entre o que tem valor absoluto e o que tem valor relativo, entre o que é eterno e o que é transitório.

Pois bem, a verdadeira ordem “humana” postula três coisas: colocar o amor acima do prazer, o dever moral acima do gosto pessoal, e Deus e o próximo acima dos interesses mesquinhos do “eu”. A sociedade utilitarista e hedonista, no entanto, preconiza o contrário: apregoa que deve colocar-se o prazer acima do amor, o gosto acima do dever moral, e o “eu” acima de Deus e dos outros. Nesse quadro de valores invertidos, a paz da alma, que precisa do ar saudável da ordem para subsistir, não acha como respirar e se extingue. São muito ilustrativas as biografias de grandes desfrutadores (gente famosa na tela dos cinemas e das televisões, e nos cadernos especiais dos jornais e revistas), que – após terem feito a experiência de seis, sete ou mais casamentos, todos esfrangalhados – acabam procurando em vão nas drogas ou no álcool a paz que destruíram com o seu egoísmo.

É natural que, em face dessa civilização do interesse e da fruição, o Papa João Paulo II erga a sua voz – como um brado de alerta e de esperança – em defesa da “civilização do amor”. O diagnóstico que faz na sua Carta às famílias é de uma lucidez transparente: “O utilitarismo é uma civilização da produção e do desfrute, uma civilização das «coisas» e não das «pessoas»; uma civilização em que as pessoas se usam como se usam as coisas.

No contexto da civilização do desfrute, a mulher pode tornar-se para o homem um objeto, os filhos um obstáculo para os pais, a família uma instituição embaraçosa para a liberdade dos membros que a compõem [...]. Na base do utilitarismo ético, está, como se sabe, a procura desenfreada do «máximo» de felicidade: mas de uma felicidade utilitarista, vista apenas como prazer, como imediata satisfação e vantagem exclusiva do próprio indivíduo, fora das exigências objetivas do verdadeiro bem ou mesmo contra elas” 5.

UMA SOCIEDADE HUMANA?

Na sua segunda visita ao Brasil, João Paulo II teve, no dia 17 de outubro de 1991, um encontro com o laicato católico em Campo Grande. Falou-lhes da família e, entre outras coisas, dizia-lhes: “Não percais nunca a consciência de que, do fortalecimento e da santidade da família, depende a inteira saúde do corpo social, pois a família, por desígnio de Deus, é e será sempre a «célula primeira e vital da sociedade»” 6.

Uma sociedade sadia é um “organismo” formado por famílias sadias. A paz e o bem do mundo, em grande parte, são o reflexo da paz e do bem das famílias. E o contrário também é verdade: muitas famílias sem paz dão como resultado um mundo inquieto, desconjuntado e agressivo, um mundo sem paz.

Por isso, presta-se um imenso desserviço à sociedade quando, deixando a família na sombra, se apresenta o bem social, simplesmente, como a soma dos bens particulares dos indivíduos. O indivíduo seria, assim, a única coisa que interessaria. Não se pensa que o indivíduo deva pôr-se a serviço do bem comum, a começar pelo bem da família, mas julga-se que a família é que tem de ficar subordinada ao bem-estar do indivíduo: se a família serve para a sua “realização”, bem; se não serve, ele a quebra, como um palito usado, e a joga fora.

Muitos não reparam na medonha falsificação que há nessa mentalidade. A sociedade não é, absolutamente, uma somatória de indivíduos, um agregado de sujeitos isolados, sem outra relação entre eles que os acordos que consigam fazer para conjugar os seus egoísmos.

A sociedade “humana” não existe sem a família, que é o ambiente natural e sadio de onde surge o “homem humano” de que falava Guimarães Rosa. A sociedade só é “sociedade” na medida em que é uma constelação de famílias, da mesma maneira que um organismo sadio é uma união de órgãos e células sãos. Por isso, o bem da família, a proteção à família, é um dos deveres mais graves – se não o mais grave – dos governantes e dos responsáveis pela formação da opinião pública. Todos os atentados ideológicos ou práticos contra a família e contra os valores familiares são uma traição à dignidade da pessoa humana e um crime contra a sociedade.

Ninguém ignora que essa traição está sendo praticada com febril insistência e agressividade. Mediante uma orquestração sistemática dos meios de comunicação social, a família é bombardeada, ridicularizada, “cafonizada”, vista ironicamente como uma espécie em extinção, como instituição obsoleta, inimiga das liberdades individuais, do progresso, da mentalidade moderna, da necessária libertação de tabus. Basta ligar a maior parte das telenovelas, visitar uma videoteca, folhear jornais de grande circulação e revistas de todo o tipo, para achar diariamente a apologia do sexo livre hedonista (homossexual ou heterossexual, praticado por adultos, por adolescentes e por crianças convenientemente “educadas” pelas sexologias oficiais), da aventura descomprometida, da separação por motivos fúteis, da deslealdade justificada pelo simples prazer, do aborto e de tantos outros dinamitadores do bem da família.

E os poderes públicos? E os legisladores? Uns silenciam, outros vão na onda daquilo que os meios de comunicação, manipulando falsamente os dados, apresentam como opinião da maioria; e, pouco a pouco, vão-se abrindo fendas profundíssimas, vão-se acobertando aberrações, vão-se escancarando legalmente portas para sistemas de vida demolidores da família.

CORDAS ARREBENTADAS

Por que são cada vez mais frequentes os casamentos meteóricos, que não chegam a durar um ano ou dois e, por vezes, nem sequer uns poucos meses? É pura e simplesmente porque o “egoísmo utilitarista” predominante arrebentou as boas cordas do coração de jovens e menos jovens, deixando só as cordas mais desafinadas, aquelas que – vibradas pelo orgulho e pelo comodismo – tocam a música monótona que canta: “Direito, direito, eu tenho direito! Tenho o direito de ser feliz, tenho o direito de que as coisas sejam a meu gosto, tenho o direito de não sofrer, de não ter que aguentar!”

Por isso, ante a menor contrariedade, as cordas do hedonista chiam, irritadas: “Ela perturba-me! Não me faz feliz!”, “Ele não quer que eu faça as coisas do meu jeito, pisa na minha independência! Ele – ou ela – dá trabalho, exige sacrifício, ousa solicitar renúncias!

Não é o que esperava quando me casei! Ele, ela, não me dá, não me «proporciona», não me «abastece», não «alimenta» as minhas vontades, não me permite «consumir» o tipo de satisfações que o meu apetite voraz anseia!”

É natural que as famílias constituídas por pessoas assim, incapazes de amar, incapazes de dar, carentes de toda a generosidade, vão caindo uma após outra, ao primeiro vento contrário, como as folhas no outono. Essa incapacidade de ser fiel, que muitos meios de comunicação apresentam como liberdade, na realidade é uma atrofia que inabilita para amar: um “autismo” moral, que é a doença típica do homem e da mulher que se autoproclamam “avançados”, “modernos”, mas que estão vazios de tudo, exceto de si mesmos.

(cont.)
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Notas:
(4) Leão Tolstoi, Obra completa, vol. III, Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1993, págs. 917-918;
(5) Carta às famílias, n. 13;
 (6) Palavra do Santo Padre ao Brasil, Paulinas, São Paulo, 1991, pág. 128;