07/06/2016

Pequena agenda do cristão


TeRÇa-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me:
Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?



Doutrina – 167

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ
SEGUNDA SECÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ
CAPÍTULO PRIMEIRO CREIO EM DEUS PAI

O homem

 71. Que relação Deus estabeleceu entre o homem e a mulher?


O homem e a mulher foram criados por Deus com uma igual dignidade enquanto pessoas humanas e, ao mesmo tempo, numa complementaridade recíproca enquanto masculino e feminino. Deus quis que fossem um para o outro, para uma comunhão de pessoas. Juntos são também chamados a transmitir a vida humana, formando no matrimónio «uma só carne» (Gn 2, 24), e a dominar a terra como «administradores» de Deus.

Senhor, não sei fazer oração!

Escreveste-me: "Orar é falar com Deus. Mas de quê?". De quê?! D'Ele e de ti; alegrias, tristezas, êxitos e fracassos, ambições nobres, preocupações diárias..., fraquezas; e acções de graças e pedidos; e Amor e desagravo. Em duas palavras: conhecê-Lo e conhecer-te – ganhar intimidade! (Caminho, 91)


Como fazer oração? Atrevo-me a assegurar, sem temor de me enganar, que há muitas, infinitas maneiras de orar. Mas eu preferia para todos nós a autêntica oração dos filhos de Deus, não o palavreado dos hipócritas que hão-de ouvir de Jesus: nem todo o que me diz, Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus.
Os que são movidos pela hipocrisia podem talvez conseguir o ruído da oração – escrevia Santo Agostinho – mas não a sua voz, porque aí falta vida e há ausência de afã por cumprir a Vontade do Pai. Que o nosso clamor – Senhor! – vá unido ao desejo eficaz de converter em realidade essas moções interiores, que o Espírito Santo desperta na nossa alma. (...).

Nunca me cansei e, com a graça de Deus, nunca me cansarei de falar de oração. Por volta de 1930, quando se aproximavam de mim, sacerdote jovem, pessoas de todas as condições – universitários, operários, sãos e doentes, ricos e pobres, sacerdotes e leigos – que procuravam acompanhar mais de perto o Senhor, aconselhava-os sempre: rezai. E se algum me respondia: "não sei sequer como começar", recomendava-lhe que se pusesse na presença do Senhor e lhe manifestasse a sua inquietação, a sua dificuldade, com essa mesma queixa: "Senhor, não sei!" E muitas vezes, naquelas humildes confidências, concretizava-se a intimidade com Cristo, um convívio assíduo com Ele. (Amigos de Deus, nn. 243–244).

Jesus Cristo e a Igreja – 118

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos
III. Desenvolvimento do tema da continência na Igreja latina

O Celibato no direito canónico clássico.

…/9

A continuidade da doutrina da Igreja na Idade Moderna

A Igreja tem sido sempre forte em preservar a sua tradição em relação ao celibato, mesmo nos tempos difíceis que se seguiram. Um claro testemunho é fornecido pela Revolução do final do século XVIII e início do século XIX. Também se adotou nesta ocasião a prática do século XVI: os sacerdotes que se tinham casado durante a Revolução tinha de decidir: ou renunciar ao matrimónio civil invalidamente contraído, ou procurar sanar esta invalidez na Igreja. No primeiro caso, podiam ser readmitidos ao sagrado ministério; no segundo, ficavam excluídos definitivamente do ministério, como já havia estabelecido a primeira lei escrita sobre essa matéria, que já conhecemos: a do Concílio de Elvira.

A Igreja opôs-se também a todas as outras tentativas feitas para abolir o celibato dos ministros sagrados, como os esforços feitos em Baden-Wurttemberg em tempos de Gregório XVI, ou o movimento Jednota da Mohêmia em tempos de Bento XV.

É novamente importante a abolição imediata do celibato entre os “velhos católicos” após o Concílio Vaticano I. Não é menos clara a oposição da Igreja contra as tentativas, constantemente renovadas após o Concílio Vaticano II, de ordenar a viri probati, quer dizer, homens casados sem exigir-lhes a renúncia ao matrimónio, ou de permitir o matrimónio dos sacerdotes.


(Revisão da versão portuguesa por ama)

Tratado da vida de Cristo 107

Questão 46: Da Paixão de Cristo

Art. 12 — Se a paixão deve ser atribuída à sua divindade.

O duodécimo discute-se assim. — Parece que a paixão de Cristo deve ser atribuída à sua divindade.

1. — Pois, diz o Apóstolo: Se eles o conhecessem não crucificariam nunca ao Senhor da Glória. Ora, o Senhor da glória é Cristo, na sua divindade. Logo, a paixão de Cristo devia ser-lhe atribuída à divindade.

2. Demais. — O princípio da salvação humana é a divindade, segundo a Escritura: Mas a salvação dos justos vem do Senhor. Se, logo, a paixão de Cristo não pertencesse à sua divindade, parece que nenhum fruto podia produzir para nós.

3. Demais. — Os judeus foram punidos pelo pecado de matarem Cristo, como homicidas do próprio Deus, o que mostra a grandeza da pena em que incorreram. Ora, tal não se daria se a Paixão não fosse atribuída à divindade. Logo a paixão de Cristo pertencia à sua divindade.

Mas, em contrário, diz Atanásio: O Verbo, enquanto Deus é impassível. Ora, o impassível não pode padecer. Logo, a paixão de Cristo não devia ser atribuída à sua divindade.



Como dissemos a união entre a natureza divina e a humana realizou-se na pessoa, na hipóstase e no suposto, permanecendo, porém a distinção das naturezas. De modo que é a mesma a pessoa e a hipóstase da natureza divina e da humana, salva, contudo a propriedade de uma e outra natureza. Por isso, como dissemos, ao suposto da natureza divina foi atribuído a Paixão, não em razão da natureza divina, que é impassível, mas em razão da natureza humana. Por isso diz a epístola sinodal de Cirilo: Quem não confessar que o Verbo de Deus sofreu na sua carne e foi na sua carne crucificado, seja anátema. Logo, a Paixão de Cristo deve ser atribuída ao suposto da natureza divina, em razão da natureza passível assumida e não em razão da natureza divina impassível.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Diz-se que o Senhor da glória foi crucificado, não enquanto Senhor da glória, mas enquanto homem passível.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Como diz um sermão do Concílio Efesino, a morte de Cristo, foi à morte de um Deus, por causa da união na pessoa; por isso destruiu a morte, porque quem sofria era Deus e homem. Mas a natureza de Deus não padeceu nenhum detrimento, nem nenhum sofrimento por não ter passado por qualquer mudança.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Como no mesmo lugar se acrescenta, os judeus não crucificaram somente um homem, mas foi o próprio Deus que fizeram o objecto das suas ofensas. Assim, suponde um príncipe que dá instruções e as formula numa carta, que envia às suas cidades. Se algum insubmisso rasgasse a carta, seria condenado à morte, não por ter assim procedido, mas porque, desse modo, desfez as instruções mesmas do príncipe. Os judeus não devem, portanto considerar-se em segurança, como se tivessem crucificado apenas o homem. O que viam era uma como carta; e o que nela estava oculto era o Verbo imperial, nascido da natureza, e não proferido pela língua.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Bento XVI – Pensamentos espirituais 94

O silêncio de José

O silêncio de José não é sinal de um vazio interior, mas, pelo contrário, da plenitude da fé que tem no seu coração e guia toda a sua acção.
Um silêncio graças ao qual José, em uníssono com Maria, guarda a Palavra de Deus, conhecida através da Sagrada Escritura, confrontando-a a cada momento com a vida de Jesus; um silêncio feito de oração constante em que bendiz o Senhor, adora a sua santa vontade e manifesta uma confiança sem reservas na sua providência.
Não será exagero pensar que terá sido com o seu «pai» José que Jesus aprendeu - em termos humanos - aquela sólida interioridade que constitui pressuposto da justiça autêntica...

Deixemo-nos contagiar pelo silêncio de José!

Precisamos tanto dele, neste mundo muitas vezes excessivamente ruidoso, onde não é possível o recolhimento para escutar a voz de Deus!

Angelus, (18.Dez.05)


 (in “Bento XVI, Pensamentos Espirituais”, Lucerna 2006)

Evangelho, comentário, L. espiritual


Tempo Comum

Evangelho: Mt 5, 13-16

13 «Vós sois o sal da terra. Porém, se o sal perder a sua força, com que será ele salgado? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e ser calcado pelos homens. 14 Vós sois a luz do mundo. Não pode esconder-se uma cidade situada sobre um monte; 15 nem se acende uma candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas no candelabro, a fim de que dê luz a todos os que estão em casa. 16 Assim brilhe a vossa luz diante dos homens para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus.

Comentário:

Jesus Cristo declara sem qualquer margem para dúvidas a importância do cristão na sociedade.

Uma importância que lhe vem directamente da sua Categoria de Filho de Deus em Cristo.

Como do sal ou da luz muitos dependerão dele como necessidade concreta para melhor "temperarem" as suas vidas e verem com nitidez o caminho a seguir.

(ama, comentário sobre Mt 5, 13-16 2015.06.09)



Leitura espiritual



INTRODUÇÃO AO CRISTIANISMO

"Creio em Deus" – Hoje

SEGUNDA PARTE

JESUS CRISTO

CAPÍTULO PRIMEIRO

"Creio em Jesus Cristo seu Filho Unigénito, Nosso Senhor".

IV. Caminhos da Cristologia

3. Cristo, "o último Homem”.

Fé cristã não é apenas olhar retrospectivo para o que aconteceu, ancoragem numa origem cronologicamente para trás de nós. Pensar assim, resultaria afinal em romantismo e mera restauração. Nem é apenas um olhar para o eterno; o que seria igual a platonismo e metafísica. É, sobretudo, um olhar para a frente, um avanço da esperança. Sem dúvida, não apenas isto: a esperança tornar-se-ia utopia, se a sua meta fosse puro auto-produto do homem. Ela é lídima esperança precisamente porque se encontra no sistema de coordenadas das três grandezas: do passado, ou seja, do avanço já realizado – da presença do eterno que conserva como unidade o tempo parcelado – do futuro, no qual Deus e mundo se tocarão mutuamente, tornando-se assim verdadeiramente Deus em mundo, mundo em Deus, como o ómega da história.

Sob o ponto de vista da fé cristã, poder-se-á dizer: para a história, Deus está no fim, e está no início para o ser. Aqui se destaca o vasto horizonte do crístico em que ele sobressai tanto da metafísica pura, como da ideologia marxista do futuro. Desde Abraão até ao retorno do Senhor, a fé marcha ao encontro do que há de vir. Mas em Cristo revela-se-lhe já agora o rosto do futuro: será o homem capaz de envolver a humanidade porque perdeu a si e a ela em Deus. Por isso, o sinal do que há de vir será a cruz, e o seu rosto, nesta época do mundo, será a face cheia de sangue e coberta de feridas: o "último homem", isto é, o homem futuro, propriamente dito, revela-se agora nos últimos homens. Portanto, quem quiser estar ao seu lado, deverá permanecer ao lado deles (Cfr. Mt 25,31-46).

Digressão: Estruturas do Crístico

Antes de continuar na análise dos diversos artigos do Credo que se seguem à confissão de Jesus como o Cristo, será conveniente deter-nos por um momento ainda. Na consideração das questões isoladas facilmente se perde de vista o conjunto; e, exactamente hoje, sobretudo ao tentar dialogar com os descrentes, sentimos quão necessário se nos torna uma tal perspectiva. De permeio, diante da situação da Teologia hodierna, poderia ter-se a impressão de ela estar muito satisfeita com os seus progressos ecuménicos – certamente muito dignos de louvor – a ponto de conseguir afastar veneráveis marcos fronteiriços (naturalmente para, via de regra, replantá-los noutro local), não dando bastante atenção aos problemas imediatos dos homens de hoje, que, muitas vezes, pouco representam de comum com as tradicionais questões disputadas das várias confissões. Quem poderá, por exemplo, explicar a um curioso, com a necessária brevidade e compreensão, o que significa "ser cristão"? Quem está em condições de explicar ao outro, de maneira clara, porque acredita e qual é o rumo de sua fé, qual o âmago da opção feita na fé?

Nos últimos tempos, contudo, com o surgimento de tais perguntas em escala maciça, passa-se não raro a diluir o crístico em altissonantes generalidades, capazes, sem dúvida, de afagar os ouvidos contemporâneos (cfr. 2 Tim 4,3), privando-os, no entanto, do pábulo forte da fé, a que têm direito. A Teologia não cumpre a sua missão, se ela gira, satisfeita, dentro de si e da sua erudição; e equivoca-se mais ainda, ao inventar "doutrinas de acordo com o próprio gosto" (2 Tim 4,3), oferecendo pedras em vez de pão: sua própria loquacidade ao invés da palavra de Deus. E torna-se imensamente grande a tarefa que assim se apresenta – entre Cila e Caríbdis. Tentemos apesar de tudo – ou antes, por causa disto – reflectir a respeito, sintetizando a forma básica do Cristianismo em umas poucas proposições claras. Mesmo que o resultado seja de qualquer modo insuficiente, talvez tenha a vantagem de desafiar outros a prosseguir no mesmo rumo, tornando-se assim um bom subsídio.

1.   O individual e o todo.

O primeiro escândalo fundamental com que os homens de hoje se deparam no Cristianismo está simplesmente na exterioridade em que o elemento religioso parece ter-se concentrado. Escandaliza-nos o facto de Deus dever ser transmitido por aparatos exteriores: Igreja, sacramentos, dogma ou apenas pelo anúncio (kerygma) para o qual de bom grado recuamos com o facto de diminuir o escândalo e que, no entanto, também constitui algo exterior. Face a tudo isto ergue-se a pergunta: Deus mora acaso em instituições, acontecimentos ou em palavras? Deus, sendo o eterno, não alcançaria a cada um de nós a partir do nosso íntimo? Pois bem, a resposta muito singela a tudo isto é: "sim", acrescentando-se: se apenas existisse Deus e uma soma de indivíduos, o Cristianismo não seria necessário. Deus pode e poderia realizar, e de facto realiza sempre de novo a salvação do indivíduo como indivíduo, directa e sem intermediários. Deus dispensa qualquer passagem intermediária para alcançar a alma de cada um, ali onde ele, Deus, se encontra mais no âmago do que o próprio sujeito; nada pode penetrar mais fundo e mais intimamente no homem do que Deus, que toca a criatura no ponto mais íntimo da sua intimidade. Para salvar o mero indivíduo não seria mister nem a Igreja, nem a história da salvação, nem a encarnação e paixão de Deus no mundo. Mas precisamente neste ponto deve inserir-se a declaracção que nos conduz mais além: fé cristã não principia do indivíduo atomizado, mas vem do saber que não existe o mero indivíduo, que o homem, muito mais, é ele próprio apenas quando entrosado no todo: na humanidade, na história, no cosmos, como lhe convém e é essencial à sua qualidade de "espírito em corpo".

O princípio "corpo" e "corporeidade", sob o qual se acha o homem, conota duas coisas: de um lado, o corpo separa os homens entre si, torna-os mutuamente impenetráveis. O corpo, como forma espacial e fechada, torna impossível um estar totalmente no outro; traça uma linha divisória que denota distância e limite, coloca-nos na distância um do outro, sendo portanto um princípio dissociador. Simultaneamente, porém, a existência em corpo necessariamente inclui história e comunidade, porquanto, se o puro espírito pode ser imaginado como existente apenas para si, corporeidade conota descender, originar-se um do outro: os homens vivem uns dos outros num sentido muito mais real e ao mesmo tempo pluri-estratificado. Porque, se a descendência se considera primeiro fisicamente (e já sob este ponto de vista abarca desde a origem até os múltiplos entrelaçamentos do cuidado mútuo pela subsistência), para quem é espírito, somente em corpo e como corpo, ela significa que também o espírito – ou seja simplesmente, o homem integral – está marcado profundamente pela sua pertença ao conjunto da humanidade – do único "Adão".

Deste modo, o homem revela-se como sendo aquele ente que só pode ser enquanto for do outro. Ou digamo-lo com uma palavra do grande teólogo tubinguense Möhler: "O homem, como ente transitoriamente colocado em relação, não vem a si mesmo, por si mesmo, embora também não sem si mesmo". De maneira mais forte a mesma ideia foi repetida pelo contemporâneo de Möhler, o filósofo de Munique. Franz von Baader, ao constatar ser tão irracional "derivar do auto-conhecimento (da consciência) o conhecimento de Deus e o conhecimento de todas as demais inteligências, como derivar todo amor do auto-amor". Aqui repudia-se energicamente o princípio de Descartes que, baseando a filosofia na consciência (Cogito, ergo sum: penso, logo existo), determinou de maneira decisiva o destino do espírito moderno até às formas da filosofia transcendental. Como o auto-amor não representa a forma primitiva do amor, mas, no máximo, uma forma derivada do mesmo; como só se chega ao que é peculiar no amor, considerando-o como relação, isto é, como vindo de outro, assim o conhecimento humano só é realidade como ser-conhecido, como ser-levado-a-conhecer, portanto, como vindo de outro. O homem real não se revela, se lançarmos a sonda apenas na solidão do "eu" do auto-conhecimento, porque em tal caso se exclui de antemão o ponto de partida da sua possibilidade de vir a si, portanto o que lhe é próprio. Por isso, consciente e com razão, Baader alterou o característico cogito, ergo sum em cogitor, ergo sum: não: "penso, logo existo", mas: "sou pensado, logo existo"; o homem e o seu conhecimento somente podem ser concebidos a partir do seu "ser pensado".

Demos um passo adiante: ser-homem é ser-com, é participar de todas as dimensões, não só de cada presente actual, mas de modo tal que, em cada homem, estão presentes, passado e futuro da humanidade, dessa humanidade que se revela como um único "Adão" – tanto mais, quanto mais ela é considerada. Não podemos desenvolver detalhes desta realidade. Bastem algumas indicações. É suficiente tomar consciência de que nossa vida espiritual depende totalmente do instrumento da língua, acrescentando-se, a seguir, que a língua não é de hoje: vem de longe, a história inteira teceu em torno dela e alcança-nos por seu intermédio, como a inevitável condição do nosso presente, como sua parte integrante. E vice-versa: o homem é a criatura que vive voltada para o futuro, que, na preocupação, incessantemente se projeta para além do seu momento, não sendo capaz de continuar a existir, se repentinamente se encontrar órfão de porvir. Portanto é inevitável negar a existência do simples indivíduo, da mónada humana renascentista, do mero ente cogito-ergo-sum. Ser-homem sucede ao homem somente naquele entrelaçamento de história que, mediante a língua e a comunicação social, alcança a cada um que, por sua vez, realiza a sua existência naquele modelo colectivo onde, preteritamente, já se acha sempre incluído e que forma o espaço da sua auto-realização. Absolutamente não é verdade que cada homem se projecte totalmente de novo, a partir do ponto zero da sua liberdade, como o preconizava o idealismo alemão. O homem não é uma criatura que recomeça sempre no ponto zero; ele só é capaz de desdobrar as suas potencialidades no entrosamento com o conjunto do ser humano que lhe é pré-apresentado, que o caracteriza e forma.

(cont)

joseph ratzinger, Tübingen, verão de 1967.

(Revisão da versão portuguesa por ama)