Padroeiros do blog: SÃO PAULO; SÃO TOMÁS DE AQUINO; SÃO FILIPE DE NÉRI; SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ
30/07/2020
Leitura espiritual
Romanos
14 Os «fortes» e os «fracos» -
1
Àquele que é fraco na fé, acolhei-o, sem cair em discussões sobre as suas
maneiras de pensar. 2 Enquanto a fé de um lhe permite comer de tudo, o que é
fraco só come legumes. 3 Quem come não despreze aquele que não come; e quem não
come não julgue aquele que come, porque Deus o acolheu. 4 Quem és tu para
julgares o criado de um outro? Se está de pé ou se cai, isso é lá com o seu
patrão. Há-de, aliás, ficar de pé, porque o Senhor tem poder para o segurar. 5 Além
disso, enquanto um julga que há dias e dias, há quem julgue que os dias são
todos iguais. Tenha um e outro plena convicção daquilo que pensa. 6 Quem guarda
alguns dias, é em honra do Senhor que os guarda; quem come de tudo, é em honra
do Senhor que come, pois dá graças a Deus; e quem não come, é em honra do
Senhor que não come, e também ele dá graças a Deus. 7 De facto, nenhum de nós
vive para si mesmo e nenhum morre para si mesmo. 8 Se vivemos, é para o Senhor
que vivemos; e se morremos, é para o Senhor que morremos. Ou seja, quer vivamos
quer morramos, é ao Senhor que pertencemos. 9 Pois foi para isto que Cristo
morreu e voltou à vida: para ser Senhor tanto dos mortos como dos vivos. 10 Mas
tu, porque julgas o teu irmão? E tu, porque desprezas o teu irmão? De facto,
todos havemos de comparecer diante do tribunal de Deus, 11 pois está escrito: Tão
certo como Eu vivo, diz o Senhor, todo o joelho se dobrará diante de mim e toda
a língua dará a Deus glória e louvor. 12 Portanto, cada um de nós terá de dar
contas de si mesmo a Deus.
Unidos no amor –
13
Deixemos, pois, de nos julgar uns aos outros. Tomai de preferência esta
decisão: não ser para o irmão causa de tropeço ou de escândalo. 14 Sei e estou
convencido, no Senhor Jesus, de que nada é impuro em si mesmo. Uma coisa é
impura só para aquele que a considera como impura. 15 Se, por tomares um
alimento, entristeces o teu irmão, então não estás a proceder de acordo com o
amor. Não faças, com o teu alimento, com que se perca aquele por quem Cristo
morreu. 16 Que não seja, pois, motivo de blasfémia o bem que há em vós. 17 É
que o Reino de Deus não é uma questão de comer e beber, mas de justiça, paz e
alegria no Espírito Santo. 18 E quem deste modo serve a Cristo é agradável a
Deus e estimado pelos homens. 19 Procuremos, portanto, aquilo que leva à paz e
à edificação mútua. 20 Não destruas a obra de Deus, por uma questão de
alimento. Todas as coisas são puras, certamente, mas tornam-se más para aquele
que, ao comê-las, encontra nisso causa de tropeço. 21 O que é bom é não comer
carne nem beber vinho, nada em que o teu irmão possa tropeçar. 22 Guarda para
ti, diante de Deus, a convicção de fé que tens. Feliz de quem não se condena a
si mesmo, devido às decisões que toma. 23 Mas quem sente escrúpulos por aquilo
que come fica culpado, por não agir de acordo com a sua convicção de fé. Tudo o
que não é feito a partir da convicção de fé é pecado.
Amigos de Deus
21
Na barca de Cristo
Como a Nosso Senhor, também
a mim me agrada muito falar de barcas e de redes, para todos tirarmos
propósitos firmes e concretos dessas cenas evangélicas. S. Lucas conta-nos que
uns pescadores lavavam e remendavam as redes à beira do lago de Genesaré. Jesus
aproxima-se de uma daquelas naves atracadas na margem e sobe a uma delas, a de
Simão. Com que naturalidade se mete o Mestre na vida de cada um de nós para nos
complicar a vida, como se repete por aí em tom de queixa. Nosso Senhor
cruzou-se convosco e comigo no nosso caminho, para nos complicar a existência,
delicadamente, amorosamente.
Depois de pregar da barca de
Pedro, dirige-se aos pescadores: duc in altum, et laxate retia vestra in
capturam, remai para o mar alto e lançai as redes! Fiados na palavra de Cristo,
obedecem e obtêm aquela pesca prodigiosa. Olhando para Pedro que, como Tiago e
João, estava pasmado, Nosso Senhor explica-lhe: não tenhas medo; desta hora em
diante serás pescador de homens. E, trazidas as barcas para terra, deixando
tudo, seguiram-no.
A tua barca - os teus
talentos, as tuas aspirações, os teus êxitos - não vale para nada, a não ser
que a ponhas à disposição de Jesus Cristo, que permitas que Ele possa entrar
nela com liberdade, que não a convertas num ídolo. Sozinho, com a tua barca, se
prescindires do Mestre, sobrenaturalmente falando, encaminhas-te directamente
para o naufrágio. Só se admitires, se procurares a presença e o governo de
Nosso Senhor, estarás a salvo das tempestades e dos reveses da vida. Põe tudo
nas mãos de Deus: que os teus pensamentos, as aventuras boas da tua imaginação,
as tuas ambições humanas nobres, os teus amores limpos, passem pelo coração de
Cristo. De outra forma, mais tarde ou mais cedo, irão a pique com o teu
egoísmo.
22
Se consentires que Deus seja
o senhor da tua nave, que Ele seja o amo, que segurança!..., mesmo quando a
tempestade se levanta no meio das trevas mais escuras e parece que Ele se
ausenta, que está a dormir, que não se preocupa. S. Marcos relata que os
Apóstolos se encontravam nessas circunstâncias; e Jesus, vendo-os cansados de
remar (porque o vento lhes era contrário), cerca da quarta vigília da noite foi
ter com eles, andando sobre o mar... Tende confiança, sou eu, não temais. E
subiu para a barca, para junto deles e cessou o vento.
Meus filhos, acontecem
tantas coisas na terra...! Podia pôr-me a falar de penas, de sofrimentos, de
maus tratos, de martírios - não tiro nem uma letra -, do heroísmo de muitas almas.
Aos nossos olhos, na nossa inteligência, surge às vezes a impressão de que
Jesus dorme, de que não nos ouve; mas S. Lucas narra como Nosso Senhor se
comporta com os seus: Enquanto iam navegando, Jesus adormeceu e levantou-se uma
tempestade de vento sobre o lago e a barca enchia-se de água e estavam em
perigo. Aproximando-se dele, despertaram-no dizendo: Mestre, nós perecemos!
Ele, levantando-se, increpou o vento e as ondas, que acalmaram e veio a
bonança. Então disse-lhes: onde está a vossa fé?
Se nos dermos, Ele
dá-se-nos. Temos de confiar plenamente no Mestre, temos de nos abandonar nas
suas mãos sem mesquinhez; de lhe manifestar, com as nossas obras, que a barca é
dele, que queremos que disponha à vontade de tudo o que nos pertence.
Termino, recorrendo à
intercessão de Santa Maria, com estes propósitos: viver de fé; perseverar com
esperança; permanecer unidos a Jesus Cristo, amá-lo de verdade, de verdade, de
verdade; percorrer e saborear a nossa aventura de Amor, pois estamos
apaixonados por Deus; deixar que Cristo entre na nossa pobre barca e tome posse
da nossa alma como Dono e Senhor; manifestar-lhe com sinceridade que havemos de
nos esforçar por nos mantermos sempre na sua presença, de dia e de noite,
porque Ele nos chamou à fé: ecce ego quia vocasti me! e que vimos ao seu redil
atraídos pela sua voz e pelos seus assobios de Bom Pastor, com a certeza de que
só à sua sombra encontraremos a verdadeira felicidade temporal e eterna.
23
Tenho recordado com
frequência aquela cena comovedora que o Evangelho nos relata: Jesus está na
barca de Pedro, de onde tinha falado ao povo. Essa multidão que o seguia moveu
o afã de almas que consome o seu Coração e o Divino Mestre quer que os
discípulos participem quanto antes desse zelo. Depois de lhes dizer que se
façam ao largo - duc in altum! - sugere a Pedro que lance as redes para pescar.
Não me vou demorar agora nos
pormenores, tão instrutivos, desses momentos. Desejo que consideremos a reacção
do Príncipe dos Apóstolos perante o milagre: afasta-te de mim, Senhor, que sou
um homem pecador . É uma verdade - disso não tenho dúvidas - que se ajusta
perfeitamente à situação pessoal de todos. No entanto, asseguro-vos que, ao
tropeçar durante a minha vida com tantos prodígios da graça, realizados através
de mãos humanas, tenho-me sentido inclinado, diariamente cada vez mais
inclinado, a gritar: Senhor, não te afastes de mim, pois sem Ti não posso fazer
nada de bom.
Precisamente por isso,
percebo muito bem aquelas palavras do Bispo de Hipona, que soam como um cântico
maravilhoso à liberdade: Deus, que te criou sem ti, não te salvará sem ti,
porque cada um de nós, tu, eu, temos sempre a possibilidade - a triste
desventura - de nos levantarmos contra Deus, de rejeitá-lo - talvez só com a
nossa conduta - ou de exclamar: não queremos que reine sobre nós.
24
Escolher a vida
Agradecidos por nos
apercebermos da felicidade a que estamos chamados, aprendemos que todas as
criaturas foram tiradas do nada por Deus e para Deus: as racionais, os homens,
apesar de tão frequentemente perdermos a razão; e as irracionais, as que
percorrem a superfície da terra, ou habitam as entranhas do mundo, ou cruzam o
azul do céu, algumas delas até fitarem o Sol. Mas, no meio desta maravilhosa
variedade, só nós, homens -não falo aqui dos anjos - nos unimos ao Criador pelo
exercício da nossa liberdade, podendo prestar ou negar a Nosso Senhor a glória
que lhe corresponde como Autor de tudo o que existe.
Essa possibilidade é a
principal componente do claro-escuro da liberdade humana. Nosso Senhor
convida-nos e anima-nos a escolher o bem, porque nos ama profundamente.
Considera que ponho hoje diante de ti, dum lado, a vida e o bem, do outro, a
morte e o mal. Recomendo-te que ames o Senhor teu Deus, que andes nos seus
caminhos, que guardes os seus preceitos, as suas leis e os seus decretos. Se
assim fizeres, viverás... Escolhe, pois, a vida para que vivas .
Queres pensar - pela minha
parte também farei o meu exame - se manténs imutável e firme a tua escolha da
Vida? Se, ao ouvires essa voz de Deus, amabilíssima, que te estimula à
santidade, respondes livremente que sim? Dirijamos o olhar para o nosso Jesus,
quando falava às multidões pelas cidades e campos da Palestina. Não pretende
impor-se. Se queres ser perfeito..., diz ao jovem rico. Aquele rapaz rejeitou o
convite e o Evangelho conta que abiit tristis , que se retirou entristecido.
Por isso, alguma vez lhe chamei a ave triste: perdeu a alegria, porque se negou
a entregar a liberdade a Deus.
Temas doutrinais 1
1. O que é a alegria?
A alegria, enquanto virtude, é o hábito
de manter o ânimo elevado, independentemente das circunstâncias exteriores. Mas
há outras formas de alegria.
Trabalha com alegria
Se afirmas que queres imitar
Cristo... e te sobra tempo, andas por caminhos de tibieza. (Forja,
701)
As tarefas profissionais –
também o trabalho do lar é uma profissão de primeira ordem – são testemunho da
dignidade da criatura humana; ocasião de desenvolvimento da própria
personalidade; vínculo de união com os outros; fonte de recursos; meio de
contribuir para a melhoria da sociedade em que vivemos, e de fomentar o
progresso da humanidade inteira...
Para um cristão estas
perspectivas alongam-se e ampliam-se ainda mais, porque o trabalho – assumido
por Cristo como realidade redimida e redentora – se converte em meio e em
caminho de santidade, em tarefa concreta santificável e santificadora. (Forja,
702)
Trabalha com alegria, com
paz, com presença de Deus. Desta maneira realizarás a tua tarefa, além disso,
com bom senso: chegarás até ao fim ainda que rendido pelo cansaço, acabá-la-ás
bem... e as tuas obras agradarão a Deus. (Forja, 744)
Deves manter – ao longo do
dia – uma constante conversa com Nosso Senhor, que se alimente também das
próprias ocorrências da tua tarefa profissional.
Vai com o pensamento ao
Sacrário... e oferece a Nosso Senhor o trabalho que tiveres entre mãos. (Forja,
745)
Reflexão: Tibieza
Temas para reflectir e meditar
Só a tibieza de tantos milhares, milhões de cristãos, explica que possamos oferecer ao mundo o espectáculo de uma cristandade que consente que no seu próprio seio se propague todo o tipo de heresias e barbaridades.
A tibieza tira a força e a fortaleza da fé e é amiga, no pessoal e no colectivo, dos compromissos e dos caminhos cómodos.
(P. Rodríguez, Fe y vida de fe, pg, 142)
Leitura espiritual
1
«Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor. 2 Ele corta todo o
ramo que não dá fruto em mim e poda o que dá fruto, para que dê mais fruto
ainda. 3 Vós já estais purificados pela palavra que vos tenho anunciado. 4
Permanecei em mim, que Eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto
por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco,
se não permanecerdes em mim. 5 Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanece
em mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer. 6 Se
alguém não permanece em mim, é lançado fora, como um ramo, e seca. Esses são
apanhados e lançados ao fogo, e ardem. 7 Se permanecerdes em mim e as minhas
palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e assim vos acontecerá. 8
Nisto se manifesta a glória do meu Pai: em que deis muito fruto e vos
comporteis como meus discípulos.» 9 «Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos
amo a vós. Permanecei no meu amor. 10 Se guardardes os meus mandamentos,
permanecereis no meu amor, assim como Eu, que tenho guardado os mandamentos do
meu Pai, também permaneço no seu amor. 11 Manifestei-vos estas coisas, para que
esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa. 12 É este o meu
mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei. 13 Ninguém tem mais
amor do que quem dá a vida pelos seus amigos. 14 Vós sois meus amigos, se
fizerdes o que Eu vos mando. 15 Já não vos chamo servos, visto que um servo não
está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque
vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai. 16 Não fostes vós que me escolhestes;
fui Eu que vos escolhi a vós e vos destinei a ir e a dar fruto, e fruto que
permaneça; e assim, tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vo-lo concederá.
17 É isto o que vos mando: que vos ameis uns aos outros.» 18 «Se o mundo vos
odeia, reparai que, antes que a vós, me odiou a mim. 19 Se viésseis do mundo, o
mundo amaria o que é seu; mas, como não vindes do mundo, pois fui Eu que vos
escolhi do meio do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. 20 Lembrai-vos da
palavra que vos disse: o servo não é mais que o seu senhor. Se me perseguiram a
mim, também vos hão-de perseguir a vós. Se cumpriram a minha palavra, também
hão-de cumprir a vossa. 21 Mas tudo isto vos farão por causa de mim, porque não
reconhecem aquele que me enviou. 22 Se Eu não tivesse vindo e não lhes tivesse
dirigido a palavra, não teriam culpa, mas, agora, não têm escusa do seu pecado.
23 Quem me odeia a mim odeia também o meu Pai. 24 Se, diante deles, Eu não
tivesse realizado obras que ninguém mais realizou, não teriam culpa; mas agora,
apesar de as verem, continuam a odiar-me a mim e ao meu Pai. 25 Tinha, porém,
de se cumprir a palavra que ficou escrita na sua Lei: Odiaram-me sem razão.» 26
«Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, e que Eu
vos hei-de enviar da parte do Pai, Ele dará testemunho a meu favor. 27 E vós
também haveis de dar testemunho, porque estais comigo desde o princípio.»
Comentários:
Todos compreendem estas imagens usadas
por Cristo. Não e necessário ser agricultor para saber que um ramo qualquer
separado do tronco não serve para nada e acaba por secar. E, a razão porque tal
acontece é compreendida por todos: o ramo vive enquanto recebe a seiva que
corre no tronco. Separados de Cristo, a Sua Palavra, que é a seiva que alimenta
a vida, deixa de correr em nós, alimentar a nossa alma e, o resultado é o
mesmo, mortos espiritualmente, não servimos para nada. O que se pode concluir, sem
esforço, é que a nossa união com Deus é vital para a nossa própria
sobrevivência.
Unidos
a Ele, viveremos uma vida com sentido e com proveito donde que, o contrário,
isto é, separados d’Ele, acabamos por morrer por não ter qualquer préstimo.
Pela segunda vez este ano a Liturgia
apresenta este trecho de São João e, parece-me que a razão se compreende com
facilidade: A Igreja quer chamar-nos a atenção para a necessidade de uma
constante revisão de vida, para um exame cuidado e sério do nosso comportamento
como cristãos. O que temos que conservar e desenvolver e o que não interessa e
convém deixar.
Este Mandamento – o Mandamento Novo –
é, digamos assim, a razão da vinda do Senhor à terra. Ao mandar-nos ter o amor
como motivo e razão da nossa vida, mais não faz que confirmar que, sem o AMOR,
não é possível fazer parte da família divina como filhos de Deus. Mais: sem
amor, nem sequer seremos considerados como amigos - o que já seria muito – mas
servos que não têm nem escolha ou outra vontade que as do seu Senhor. Amando,
deveras, alcançaremos essa dignidade extraordinária de amigos escolhidos, um a
um, pelo próprio Jesus Cristo. Poderá haver quem não goste desta palavra –
servo! – uns, porque acham, e com alguma razão, que é de certo modo pejorativa
e, outros, porque parece estar em contradição com a própria liberdade que o
nosso Criador nos outorgou. Mas, de facto, nem uns nem outros veem como devem
ver: Em primeiro lugar, qualquer um de nós pode considerar-se servo de alguém,
seja o patrão para o qual trabalha, seja a própria profissão que escolheu e que
o obriga a cumprir com os princípios de ética e outros dessa mesma profissão;
Depois porque a liberdade que disfrutamos não a conquistámos, por assim dizer,
foi-nos dada sem nenhuma contribuição da nossa parte. Mas, então, pode
aduzir-se, nunca se é inteiramente livre! É verdade, a nossa liberdade, que
tanto prezamos, permite-nos fazer o que bem entendermos, mas, naturalmente que
ela só existirá se as nossas escolhas forem acertadas quando não acabamos por
ser servos – melhor dito – escravos dos nossos defeitos, tendências e vícios.
É bem de ver que podar as videiras é
uma tarefa absolutamente necessária para não só manter a saúde e o vigor das
plantas, como para garantir frutos abundantes e de bom calibre. Abandonada, a
videira continuará a dar frutos mas, em pouco tempo, este tornam-se enfezados e
sem qualquer préstimo e a própria videira crescerá sem forma, num emaranhado de
ramos e folhas que acabarão por abafar as outras plantas que estiverem próximo.
Assim connosco, os cristãos, temos de "podar" quanto não presta ou
está a mais na nossa vida, mantendo o vigor e a saúde da nossa alma para que as
obras sejam boas, dêem os frutos que O Senhor legitimamente espera colher. Por
vezes pode custar esse corte, essa "limpeza" desses inúmeros
"ramos" que são os desejos de ter, os atilhos que nos prendem a
coisas supérfluas, o lastro que vamos acumulando que nos pesa e tolhe. Mas vale
a pena! As importantes declarações de Jesus unem indissoluvelmente o amor e a
alegria. Não é possível existir uma sem o outro e compreende-se bem porquê: A
alegria que o amor – verdadeiro, sincero, total – produz no ser humano, é de
tal forma visível, palpável, que não há quem se atreva a negá-lo. O inverso,
infelizmente, é bem verdadeiro, sem amor o homem vive mergulhado na tristeza e
não é, de modo nenhum, e um ser completo porque Deus criou-nos para amar. Há
quem aduza que todos os amores humanos por honestos, verdadeiros, puros, que
possam existir não se podem comparar com o Amor de Deus porque Ele É O Amor!
Mas Cristo diz o contrário, que o amor é só um, o que vale, o que interessa: O
Amor do Pai pelo Filho e, sendo assim, é este Amor que devemos perseguir com
afinco para atingirmos aquela alegria de Cristo, sumo bem e consolação. Por
isso mesmo nos diz categoricamente: «o que vos mando: que vos ameis uns aos
outros». Amar como Jesus pede é possível? Temos de convir que sim ou ele não o
teria pedido. Aliás, faz mais que um pedido, dá uma instrução, uma regra. Sem amor,
que interessa a vida? Como são possíveis as boas obras? Quem ama está por
natureza definitivamente empenhado no que ama. É o que mais quer, o que mais
entranhadamente deseja porque o tem como um autêntico bem que não pode
desperdiçar. Não tenhamos medo do amor e de o demonstrar com palavras e com
obras.
Alegria, alegria... É principal
característica dos filhos de Deus porque a alegria nasce do amor e os filhos de
Deus são reconhecidos exactamente pelo amor que os une entre si, a todos os homens,
a Deus. Tudo começa na extraordinária noite do nascimento de Cristo em que os
Anjos do Céu anunciam aos pastores de Belém «uma grande alegria». Esta alegria
incomensurável perdurará para sempre até ao final dos tempos e, depois,
continua no Céu no gozo da presença de Deus.
Qual
é o “motor” da alegria? O amor! Alguém que ama – verdadeiramente ama – tem de
ser uma pessoa alegre porque não há forma de se poder amar como convém – isto
é, totalmente – sem essa alegria que vem de dentro, do mais fundo do coração. E
isto - perdoe-se-me – não é poesia, mas uma realidade. Jesus Cristo declara-se
alegre, totalmente alegre, o que é natural porque o Seu Amor é total, não tem
nem condições nem limites.
O Senhor confirma aos Seus Apóstolos,
para que não lhes restem quaisquer dúvidas, que a Segunda Pessoa da Santíssima
Trindade dará testemunho, confirmará por assim dizer, quanto Ele lhes disse e
ensinou. E o mesmo Espírito Santo lhes dará as luzes que possam necessitar para
compreender o que ouviram. Só agora, o Senhor lhes diz isto porque, como disse
e é absolutamente lógico, tudo ouviram directamente da Sua boca enquanto esteve
com eles Talvez que o maior bem que nos foi alcançado por Jesus Cristo seja o
ter-nos retirado do mundo, isto é, pertencendo ao mundo sem ser mundanos. Isto
significa que a podemos viver perfeitamente a nossa vida espiritual que é, no
fim e ao cabo, a nossa íntima relação com Deus, vivendo onde temos de viver nos
ambientes e circunstâncias que cabem a cada um. Não precisamos retirar-nos para
viver uma intensa vida de piedade, de amorosa " ligação " com a
prática da nossa fé, ser santos. Santos no meio do mundo! Esta maravilhosa
realidade foi-nos dada por Jesus que, sem qualquer mérito da nossa parte, nos
proporciona quanto precisamos para a atingir.
Jesus Cristo que É a VERDADE, não
podia enganar-nos, com promessas, “futuros cor-de-rosa”, vidas cheias de bons
momentos e futuros risonhos. Bem ao contrário, diz sem rebuços tudo quanto irá
acontecer aos que decidirem segui-Lo e espalhar o Reino de Deus pela terra. Não
só no futuro imediato, mas ao longo de todos os tempos, como bem vemos agora.
Não parece apelativo este convite a segui-Lo, mas, a verdade, é que não
faltaram – nem faltarão nunca – quem se decida por esse caminho e, o que parece
ser um contra-senso é na verdade, uma escolha de extraordinária eficácia.
Ninguém gosta de sofrer, mas, se for preciso passar dificuldades, amarguras,
maus tratos e, até sacrificar a própria vida pela “causa” Divina haverá sempre
quem escolha esse caminho porque sabe que, o prémio vale bem tudo isso. O que o
Senhor tem reservado para quem O segue é um bem incomensuravelmente maior que
qualquer contratempo, dificuldade ou obstáculo. E, com Ele, depositando n’Ele
inteira confiança que nunca nos faltará com o Seu auxílio, vale bem a pena
percorrer esse caminho.
Na verdade, quando Deus
"decidiu" salvar a humanidade, recuperando os filhos perdidos pelo
pecado de Adão, fá-lo para sempre. Não admira, o homem está feito para a
eternidade. Primeiro Deus Pai envia os profetas e estabelece alianças com o
povo escolhido; logo Deus Filho toma a forma humana gerado no seio puríssimo da
Santíssima Virgem e vive entre os homens, fisicamente, durante trinta e três
anos, entregando o penhor dessa vida eterna, ensinando os meios para a
conquistar, depositando nas mãos de Pedro à chaves do Reino de Deus e, depois,
já legitimados como autênticos filhos de Deus, vem Deus Espírito Santo para
confirmar na fé, consolidar a esperança e fortalecer o amor e, finalmente,
ficar connosco até ao final dos tempos assistindo-nos com os Seus Dons
inefáveis. Temos forçosamente de concluir que Deus não nos abandona nunca e que
o Seu gozo e alegria é que vivamos esta vida terrena de tal forma que possamos
merecer gozar a Sua presença por toda a eternidade.
Jesus sublinha uma vez mais que sem
Ele nada podemos fazer. E como proceder? Estando unidos a Ele. Não há outro
processo ou alternativa. Unidos a Cristo como os ramos à videira podemos tudo
mesmo o que aparentemente é impossível. Jesus dá este exemplo muito gráfico da
videira e dos sarmentos para ”reforçar” a absoluta necessidade que temos de
estar unidos a Ele, o que temos a ganhar e o que perderemos se o não
estivermos. O que andam a fazer no monte as ovelhas sem pastor? Andam perdidas
e sem rumo em busca das melhores pastagens que, sem a ajuda do pastor, serão
muito difíceis de encontrar. Andarão perdidas e sem rumo podendo precipitar-se
num barranco que não adivinham ou entrar no território perigoso do lobo que está
sempre à espreita. Sim! Unidos a Cristo com firmeza e determinação e,
sobretudo, com toda a confiança na Sua pronta e eficaz assistência em caso de
necessidade. Todos entendemos bem estas imagens de que o Senhor se serve para
nossa doutrina. Podemos não ser “agricultores experimentados”, mas sabemos o
suficiente para compreender que um ramo só pode produzir frutos se estiver
ligado ao tronco. O nosso “tronco” é Jesus Cristo, que mergulhado na nossa
humanidade por vontade própria – por Amor – nos garante a seiva, o alimento
necessário para que não só vivamos, mas, sobretudo, para que frutifiquemos. E…
que frutos são esses? Nada mais que as boas obras que praticamos e, estas, não
são outra coisa que o cumprimento da Vontade de Deus. São João, com o estilo que
lhe é próprio, reproduz as palavras de Jesus Cristo que nos parece estar a
ouvir o Senhor a explicar-nos com singela simplicidade o que significa ser
cristão: [1] ESTAR UNIDO A CRISTO! Evidentemente que sabemos muito bem que
somos cristãos pela força da graça infundida no Baptismo mas, do que falamos é
viver como cristãos e tal não é possível sem essa união íntima, sólida,
constante como os sarmentos em relação à vide. Então, compreendemos bem, que
tal como a vide só está “completa” com os sarmentos a ela unidos, também nós só
estaremos “completos” se unidos a Cristo. Sem esta união somos incapazes de dar
qualquer fruto aproveitável porque, de facto, Quem os produz é o Próprio Cristo
por nosso intermédio, como instrumentos Seus para espalhar por toda a parte o
Seu Reino de Paz e Amor.
As palavras de Cristo segundo Ele
próprio são «espírito e vida» e, segundo o príncipe dos Apóstolos são «palavras
de vida eterna». As duas afirmações completam-se admiravelmente não sendo
necessárias mais explicações. Ouvindo Cristo, guardando as suas palavras temos
quanto precisamos para viver esta vida de forma a ganhar a vida eterna. Há algo
neste trecho de São João: «Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a
vós» que é tão sério e importante que não podemos deixar de reflectir
detidamente. O amor que Cristo nos tem é igual ao amor que Deus Pai tem por
Deus Filho?! Então… é um amor imenso, sem medida nem comparação possível. Vemos
as “consequências” desse amor: dar a vida por nós! O Senhor quase que resume
todas as Suas recomendações numa única: «É isto o que vos mando: que vos ameis
uns aos outros». Esforçar-se por cumprir este mandato é, pois, o segredo da
nossa salvação.
A Sagrada Liturgia vai, ao longo do
tempo pascal, percorrendo, entre outros, o Capítulo 15 do Evangelho escrito por
São João. Percebemos que esta insistência se deve ao desejo de que gravemos bem
no nosso espírito Quem é de facto Jesus Cristo e – com palavras humanas – a
estrutura da Sua doutrina. Insiste, sobretudo, no amor, ou melhor, no AMOR com
letra grande, porque, de facto, a Sua vinda a este mundo assumindo uma
identidade humana igual a nós em tudo excepto no pecado, se deve a uma “missão”
de amor que terminará no Sacrifício da Cruz como a prova maior e mais completa
desse mesmo AMOR. Não podemos, nós os homens, viver sem amor e, há que primeiro
amar com toda a nossa alma e todas as nossas capacidades a Deus Nosso Senhor e,
depois, como bem sabemos, os outros – todos – por amor de Deus. Nunca o
esqueçamos: Nós somos a prova viva do Amor de Deus!
Nós que ouvimos a Palavra de Deus
e que tentamos pô-la em prática somos, para Jesus Cristo iguais à Sua
Santíssima Mãe? Assusta um pouco esta afirmação do Senhor, mas na verdade temos
de reconhecer que é muito lógica. Quem primeiro pós em prática a Palavra que
ouviu do Anjo? Foi Maria Santíssima donde que imitando-a merecermos tão grande
honra.
Este tempo que vivemos é o tempo do
Espírito Santo. O que sabemos e intuímos é a Ele que o devemos. Presente na
nossa vida diária vai concedendo na medida em que precisamos e Lhe pedimos os
Dons de cujos frutos vivemos. Sem eles ficaríamos absolutamente impedidos de
fazer algo bom é meritório
[1]
São João é o único Evangelista que relata esta parábola da videira.
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