Tempo de Advento
São Pedro Canísio – Doutor da Igreja
Evangelho:
Lc 1, 39-45
Comentário:
A visitação da Senhora a Santa Isabel ficará para sempre como
expressão máxima fé com dois exemplos: a humildade e a solidariedade.
A Mãe de Deus humildemente, sabendo embora Aquele que já começa a formar-se no
seu seio puríssimo, é O próprio Salvador da humanidade, o que sem dúvida alguma
lhe confere um estatuto mais elevado de qualquer criatura humana, toma uma
atitude perfeitamente normal sem se preocupar com os incómodos que viagem
implicava.
A sua prima precisa do seu apoio e, ela, não se detém, apressadamente, faz o
que sente tem a fazer.
(ama, comentário sobre Lc 1, 39-45, Carvide, 2012.12.23)
Leitura espiritual
Eucaristia
A Presença Real de Cristo
na Eucaristia - Parte II
-
"Confesso que o corpo está no céu e confesso também que está no
Sacramento. Se isto é ou não contrário à natureza, não me importa, contanto que
não seja contrário à Fé" [i].
-
"Um corpo físico ocupa espaço e, portanto, só pode estar em um só lugar em
um determinado tempo" [ii].
INÁCIO DE ANTIOQUIA
Uma
das testemunhas mais importantes da Igreja Pós-Apostólica. Nascido na Síria,
por volta do ano 50, mártir em Roma entre os anos 98 e 117 (mais possivelmente
por volta do ano 110, devorado pelas feras).
Foi
o terceiro Bispo de Antioquia, logo após o Apóstolo Pedro e Evódio.
Recebeu
a doutrina evangélica da boca dos sucessores imediatos dos Apóstolos, sendo que
alguns afirmam que foi discípulo directo de São João Evangelista.
Conservam-se
várias cartas que escreveu às jovens igrejas enquanto era conduzido a Roma para
ser martirizado.
A
ele se deve a mais antiga aplicação da palavra "Eucaristia" (em
grego, "acção de graças") à celebração da Ceia do Senhor.
Nos
textos aqui citados deve saber-se que Inácio precisou enfrentar, entre outras,
a heresia chamada "Docetismo", uma forma de Gnosticismo, segundo a
qual Jesus Cristo não veio realmente em carne, mas apenas em aparência.
Segundo
esta heresia, o Seu corpo não era real como o nosso, mas seria uma espécie de
ilusão.
Diziam,
por exemplo, que a expressão "E o Verbo se fez carne" [iii]
devia ser entendida de modo simbólico, pois é "o espírito" que
"vivifica; a carne para nada serve" [iv],
[v].
Santo
Inácio fala acerca deles ao escrever para os cristãos de Esmirna, dizendo-lhes:
-
"Eles se mantêm distantes da Eucaristia e da oração porque não querem
confessar que a Eucaristia é a carne do Nosso Salvador Jesus Cristo, carne que
sofreu pelos nossos pecados e foi ressuscitada pela bondade do Pai" [vi].
Interessado
em guardar a unidade da Igreja, escreveu também aos cristãos de Filadélfia:
-
"Tomai cuidado para não celebrar mais do que uma só Eucaristia, porque não
há mais do que uma só carne de Nosso Senhor Jesus Cristo e não há mais do que
um cálice para a reunião de Seu sangue. Há um só altar, assim como há um só
Bispo com os seus Presbíteros e meus irmãos, os Diáconos" [vii].
Inácio
reconhece na Eucaristia a única Carne e o único Sangue do Senhor, razão pela
qual não pode ser aceite nenhuma celebração "paralela", à margem da
Igreja visível [viii].
Seguindo
a prática da Igreja Apostólica, a Igreja Católica não admite como válidas as
celebrações da Ceia do Senhor que não sejam presididas pelo Bispo ou por alguém
por este designado, isto é, um Presbítero validamente ordenado [ix].
JUSTINO MÁRTIR
Nasceu
em Nablos, Palestina, entre os anos 100 e 110, de família pagã.
Na
sua juventude dedicou-se à filosofia, passando por diversas escolas, até que
conheceu o Cristianismo e abraçou a fé.
Juntamente
com outros companheiros, foi decapitado por professar a religião cristã por
volta de 165.
As
obras que nos chegaram são de carácter apologético, em defesa do Cristianismo
contra os que o impugnavam.
Justino
escreveu sua 1ª Apologia por volta do ano 155, onde explica ao Imperador
Antonino Pio quais eram as verdadeiras práticas dos cristãos, já que sabia que
o Imperador era frequentemente informado acerca desta nova religião através de
testemunhos falsos ou grosseiras tergiversações, devidas à má vontade do
informante ou sua ignorância sobre o culto cristão.
-
"Este alimento chama-se entre nós 'Eucaristia', do qual ninguém mais é
lícito participar senão aquele que crê que a nossa doutrina é verdadeira e que
foi purificado com o baptismo para o perdão dos pecados e regeneração, além de
viver como Cristo ensinou.
Porque
estas coisas (o pão e o vinho durante a celebração da Eucaristia) não as
recebemos como se fossem pão comum e bebida comum, mas do mesmo modo que Jesus
Cristo nosso Salvador se fez carne pela Palavra de Deus e tomou carne e sangue
para nos salvar, assim também nos foi ensinado que o alimento convertido em
Eucaristia pelas palavras de uma oração procedente Dele (de Jesus) - alimento
com que são alimentados o nosso sangue e a nossa carne através de uma
transmutação - é a carne e o sangue daquele Jesus que Se encarnou por nós.
Pois
os Apóstolos, nos Comentários por eles redigidos, chamados 'Evangelhos', nos
transmitiram que assim lhes foi ordenado: que Jesus, tendo tomado o pão e dado
graças, disse: 'Fazei isto em memória de Mim; isto é Meu corpo' [x];
e tendo tomado do mesmo modo o cálice, e dado graças, disse: 'Isto é Meu
sangue' [xi].
E
somente eles (os Apóstolos) foram feitos participantes (dessa Eucaristia).
No
que diz respeito aos mistérios (a refeição) de Mitra, quem ensinou tais coisas
foram os malvados demónios, pois sabeis, ou podereis saber, que quando alguém é
iniciado neles, oferece-se-lhe pão e um cálice de água, acrescentando certos
versos" [xii].
Justino
estabelece um paralelo entre a consagração da Eucaristia e o mistério da
Encarnação.
Como
resultado, o que se tem na Eucaristia é o que se tem na Encarnação: é o corpo e
o sangue de Jesus Cristo.
E
transmite isto com toda simplicidade, como algo aceito por toda a Igreja.
Há
uma circunstância em que o texto citado recebe uma força particular: Justino
está explicando ao imperador pagão em que consiste uma celebração dominical
cristã; entre outras coisas, explica a doutrina que certamente ninguém poderia
compreender sem possuir fé, pois pareceria loucura.
Apesar
disto, Justino, homem prudente e inteligente, diz ao imperador que o alimento
eucarístico é a carne e o sangue de Jesus, aquela mesma que foi assumida pelo
Verbo de Deus para a nossa salvação. Se a Igreja Pós-Apostólica tivesse
acreditado na interpretação simbólica das palavras de Jesus - ao modo
"evangélico" moderno - sem dúvida alguma este seria o momento para
explicar ao imperador pagão que não era necessário preocupar-se com qualquer
forma de "canibalismo", pois o pão e o vinho consumidos nas
celebrações cristãs (apenas) simbolizariam o corpo e o sangue de Jesus.
No
entanto, Justino afirma, sem recuar um passo da doutrina, que o pão e o vinho
eucarísticos "é a carne e o sangue daquele Jesus que se encarnou por
nós".
IRENEU DE LIÃO
Segundo
Bispo de Lião, na França, sucedeu a São Fotino.
Nascido
na Ásia Menor por volta de 140, morreu em torno de 202 em Lião, possivelmente
martirizado.
Na
sua juventude foi discípulo do Bispo de Esmirna, Policarpo, que, por sua vez,
fora discípulo de São João Evangelista.
A
sua principal - e importantíssima - obra é "Exposição e Refutação da Falsa
Gnose", melhor conhecida como "Adversus
Haereses" [xiii],
que escreveu em grego e a completou por volta do ano 200. É o teólogo mais
importante do século II, testemunha universalmente reconhecida da Fé
Apostólica.
Ireneu
teve que enfrentar a primeira e mais importante heresia do início da Igreja, o
Gnosticismo, que encerrava uma grande variedade de formas e erros, mas que
segundo a qual havia um grupo de pessoas que, por iniciação secreta, pôde obter
o autêntico conhecimento da Divindade e da Salvação.
Entre
outras coisas, os gnósticos desprezavam a Criação.
Ireneu
adverte que, agindo assim, desprezavam também o Senhor que tomou para Si mesmo
carne e sangue e que, além disso, não seria possível crer na realidade de
Eucaristia já que:
-
"...o pão sobre o qual é feita a acção de graças é o corpo do Senhor; e o
cálice é o Seu sangue" [xiv].
E,
na mesma obra, escreve de diversas maneiras sobre o mesmo fato:
-
"São completamente loucos aqueles que rejeitam toda a economia de Deus ao
negar a salvação da carne e desprezar seu novo nascimento, pois dizem que ela
não é capaz de ser incorruptível. Pois se esta (carne, o nosso corpo) não se
salva, então nem o Senhor nos redimiu com Seu sangue, nem o cálice da
Eucaristia é comunhão com Seu sangue, e nem o pão que partimos é comunhão com
Seu corpo [xv];
pois o sangue não pode provir senão das veias e da carne, e de tudo que compõe
a substância do homem, pela qual, tendo sido verdadeiramente assumida pelo
Verbo de Deus, nos redimiu com o Seu sangue (...) Pois Ele mesmo confessou que o
cálice, que é uma criatura, é o Seu sangue [xvi],
com o qual faz crescer o nosso sangue; e o pão, que também é uma criatura,
declarou que é Seu próprio corpo [xvii],
com o qual faz crescer os nossos corpos" [xviii].
Com
efeito, a interpretação "simbólica" da celebração eucarística está em
perfeita harmonia com a heresia gnóstica...
E
se essa tivesse sido a fé da Igreja do século II, todo o discurso de Ireneu não
teria sentido nenhum.
Pelo
contrário, o seu argumento está baseado na afirmação de duas realidades
intimamente unidas: a realidade do corpo do Senhor na Encarnação e a realidade
do corpo do Senhor na Eucaristia.
Os
gnósticos - concluiu Ireneu - devem forçosamente negar uma e outra se quiserem
ser lógicos.
Vejamos
outros textos no mesmo sentido:
-
"Consequentemente, se o cálice misturado (vinho+água) e o pão fabricado (pelo
homem) recebem a Palavra de Deus (em grego, 'epiklesis') para se converterem na
Eucaristia do sangue e do corpo de Cristo, e através destes cresce e se
desenvolve a carne do nosso ser, como podem eles negar que a carne é capaz de
receber o dom de Deus, que é a vida eterna, já que foi nutrida com o sangue e o
corpo de Cristo, e foi convertida em Seu membro?
Quando
o Apóstolo escreve em sua Carta aos Efésios: 'Somos membros do Seu corpo' [xix],
da Sua carne e dos Seus ossos, não fala sobre algum homem espiritual e
invisível - pois 'um espírito não tem carne nem ossos' [xx]
- mas sim daquele ser que é verdadeiro homem, que é formado de carne, ossos e
nervos, o qual se nutre do sangue do Senhor e se desenvolve com o pão do Seu
corpo" [xxi].
-
"Como dizem que se corrompe e não pode participar da Vida a carne (dos
nossos corpos), alimentada com o corpo e o sangue do Senhor?
Mudem,
pois, de opinião ou deixem de oferecer estas coisas (a 'eucaristia' celebrada
pelos gnósticos).
Pelo
contrário, concordem com o que cremos e, quanto a Eucaristia, (concordem) com a
firme Eucaristia em que cremos.
Oferecemos
o que Lhe pertence e proclamamos, de modo concorde, a união e a comum unidade
entre a carne e o espírito, porque assim como o pão brota da terra, uma vez pronunciada
sobre ele a invocação ('epiklesin') de Deus, já não é pão comum, mas a
Eucaristia formada por dois elementos: o terrestre e o celeste; de modo semelhante,
também os nossos corpos, ao participarem da Eucaristia, já não são
corruptíveis, mas têm a esperança de ressuscitarem para sempre" [xxii].
Não
quero encerrar as citações de Ireneu sem antes recordar um belo testemunho seu
sobre a Eucaristia como Sacrifício:
-
"Aconselhando os Seus discípulos a oferecer as primícias das Suas
criaturas a Deus - não porque Este as necessitasse, mas para que não fossem
infrutuosos e ingratos - tomou a criatura pão e, dando graças, disse: 'Isto é o
Meu corpo' [xxiii].
E,
do mesmo modo, o cálice, também tomado entre as criaturas como nós, confessou
ser o Seu sangue; e ensinou que (este) era o Sacrifício do Novo Testamento.
A
Igreja, recebendo isto dos Apóstolos, em todo o mundo oferece a Deus, que nos
dá o alimento, as primícias de Seus dons no Novo Testamento.
Com
estas palavras, um dos Doze Profetas, prenunciou: 'Não me comprazo em vós - diz
o Senhor onipotente - e não receberei o sacrifício das vossas mãos, porque
desde o Oriente até o Ocidente o Meu nome é glorificado nas nações e em todas
as partes se oferece ao Meu nome incenso e um sacrifício puro: porque grande é o
Meu nome nas nações - diz o Senhor onipotente' [xxiv].
Com
estas palavras, apontou claramente que o antigo povo deixaria de oferecer a
Deus e que em todo lugar Lhe seria oferecido o Sacrifício Puro (a Eucaristia);
e Seu nome é glorificado nos povos" [xxv],
[xxvi].
(cont)
p.
juan carlos sack
Revisão
da versão portuguesa por ama.
[ii] Daniel Sapia,
evangélico
[v] Este mesmo
raciocínio dos primeiros inimigos do Cristianismo nascente, visando negar a
realidade da encarnação, se repete literalmente hoje em dia na exegese
"evangélica" simbólica do discurso do Pão da Vida (João 6,25ss),
visando agora negar a realidade da presença real de Cristo na Eucaristia. Isto
merece a mais séria atenção (...).
[vi] Cartas aos
Esminenses 7,1
[vii] Carta aos
Filadelfos 4
[viii] Sobre isso, escreve
na carta aos esmirnenses: "Que ninguém faça nada de importante para a
Igreja sem o consentimento do Bispo. A Eucaristia válida é aquela celebrada
pelo Bispo ou por quem ele designar (...) Nem lhe seja permitido, sem o
consentimento do Bispo, batizar ou celebrar o ágape. Quem for aprovado pelo
Bispo é agradável a Deus, de modo que o que fizer será seguro e válido"
(8,1-2). Compare-se com o que ocorre hoje: enquanto nas igrejas católicas se
continua celebrando o único Sacrifício eucarístico em torno do Bispo "ou
de quem foi por ele designado" (=os sacerdotes), numerosas denominações
"evangélicas" se reúnem por iniciativa própria à margem do Bispo e o
que celebram não é, com certeza, a Eucaristia, ainda que muitas vezes a
parodiem, repartindo - estes sim - pão e vinhos comuns.
[ix] Por outro lado, a
Igreja reconhece a validade das ordenações episcopais das igrejas ortodoxas,
razão pela qual a Eucaristia ali é validamente celebrada.
[x] Lucas 22,19;
1Coríntios 11,24
[xiv] Contra as Heresias
4,18,4
[xvi] Lucas 22,20;
1Coríntios 11,25
[xvii] Lucas 22,19; 1Coríntios
11,24
[xxi] Contra as Heresias
5,2,3
[xxii] Contra as Heresias
4,18,5
[xxv] Contra as Heresias
4,17,5
[xxvi] Neste artigo, não
abordamos diretamente a Eucaristia como Sacrifício. Em todo caso, é bom lembrar
que, assim como a presença real de Jesus nas celebrações eucarísticas válidas é
uma verdade de Fé virtualmente testemunhada por todos os mais importantes
Padres da Igreja, assim também podemos encontrar uma grande quantidade de
textos patrísticos que testemunham a Fé da Igreja primitiva na realidade
sacrificial da Eucaristia, sem que encontremos neles qualquer dificuldade em
admitir a unicidade do sacrifício expiatório de Cristo na Cruz e sua celebração
sacramental na Eucaristia até o fim dos tempos. Falam disto como sacrifício:
Justino, Didaqué, Cipriano, Cirilo de Jerusalém, João Crisóstomo, Ambrósio, Agostinho,
entre outros. Nenhum deles inventou nada, apenas transmitiram a Fé Apostólica.
Será que estes homens não sabiam que Cristo Se ofereceu de uma vez por todos,
como ensina Hebreus 7,27?