Tempo comum XXV Semana
Evangelho:
Lc 9, 1-6
1 Convocados os doze
Apóstolos, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demónios, e para curar as
doenças. 2 Enviou-os a pregar o reino de Deus e a curar os doentes. 3
Disse-lhes: «Não leveis nada para o caminho, nem bastão, nem alforge, nem pão,
nem dinheiro, nem leveis duas túnicas. 4 Em qualquer casa em que
entrardes, ficai lá, e não saiais dela até à vossa partida, 5 e se
alguém não vos receber, ao sair dessa cidade, sacudi até o pó dos vossos pés,
em testemunho contra eles». 6 Tendo eles partido, andavam de aldeia
em aldeia pregando a boa nova, e fazendo curas por toda a parte.
Comentário:
Podemos ser levados a pensar: Se nós,
homens e mulheres comuns, pudéssemos fazer milagres, que frutos não daria o
nosso apostolado!
Mas, de facto, pudemos fazer milagres,
foi o Senhor Quem o disse e, Ele, não Se engana nem nos engana.
Contudo, há uma condição: Ter Fé!
(ama, comentário sobre Lc 9, 1-6, V.
Moura, 2013.09.25)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
CARTA ENCÍCLICA
INSCRUTABILI DEI CONSILIO
DE SUA SANTIDADE O PAPA LEÃO XIII
A TODOS OS NOSSOS VENERÁVEIS
IRMÃOS, OS PATRIARCAS, PRIMAZES, ARCEBISPOS
E BISPOS DO ORBE CATÓLICO, EM GRAÇA
E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE OS MALES DA SOCIEDADE MODERNA,
SUAS CAUSAS E SEUS REMÉDIOS
9.
Mas, oxalá essa autoridade salutar nunca tivesse sido desprezada ou repudiada!
Não
teria então o poder civil perdido essa auréola augusta e sagrada que o
distinguia, que a religião lhe dera, e que é só o que torna o estado de
obediência nobre e digno do homem; não se teriam visto atear-se tantas sedições
e guerras que foram a causa funesta de calamidades e morticínios; e tantos
reinos, outrora tão florescentes, tombados hoje do fastígio da prosperidade,
não estariam esmagados sob o peso de toda sorte de miséria. Temos ainda um
exemplo das desgraças acarretadas pelo repúdio da autoridade da Igreja nos
povos orientais que, quebrando os laços dulcíssimos que os uniam a esta Sé Apostólica,
perderam o esplendor da sua antiga reputação, a glória das ciências e das
letras e a dignidade do seu império.
10.
Ora, esses admiráveis benefícios que a Sé Apostólica derramou sobre todas as
plagas da terra, e de que fazem fé os mais ilustres monumentos de todos os
tempos, foram especialmente sentidos por esta terra da Itália que tirou do
Pontificado Romano frutos tanto mais abundantes quanto, em razão da sua
situação, se achava ela mais próxima dele. É com efeito, aos Pontífices Romanos
que a Itália deve reconhecer-se devedora da glória sólida e da grandeza com que
brilhou no meio das outras nações. A autoridade e os desvelos paternais deles
várias vezes a protegeram contra os vivos ataques dos inimigos, e foi deles que
ela recebeu o alívio e o socorro necessário para que a fé católica fosse sempre
integralmente conservada no coração dos Italianos.
11.
Estes méritos dos Nossos predecessores, para não citar outros, são-Nos
atestados sobretudo pela história dos tempos de S. Leão Magno, de Alexandre III,
de Inocêncio III, de S. Pio V, de outros Pontífices, pelos cuidados e sob os
auspícios dos quais a Itália escapou à última destruição de que estava ameaçada
pelos bárbaros, conservou intacta a antiga fé, e, no meio das trevas e das
barbáries de uma época mais grosseira, desenvolveu a luz das ciências e o
esplendor das artes, e as conservou florescentes. São-Nos eles atestados ainda
por esta santa cidade, sede dos Pontífices, a qual deles tirou esta grande
vantagem não somente de ser a mais forte cidadela da fé, mas ainda de haver
granjeado a admiração e o respeito do mundo inteiro, tornando-se o asilo das
belas artes e a mansão da sabedoria. E, como a grandeza destas coisas foi
transmitida à lembrança eterna da posteridade pelos monumentos da história, fácil
é compreender que só por uma vontade hostil e por uma indigna calúnia, ambas
empregues em enganar os homens, é que se tem feito acreditar, pela palavra e
pelos escritos, ter sido esta Sé Apostólica um obstáculo à civilização dos
povos e à prosperidade da Itália.
Restauração do Poder
Temporal dos Papas
12.
Se, pois, todas as esperanças da Itália e do mundo inteiro estão colocadas
nessa força, tão favorável ao bem e à unidade de todos, de que goza a
autoridade da Sé Apostólica, e nesse vínculo tão estreito que une todos os
fiéis ao Pontífice Romano, compreendemos que nada devemos ter mais a peito do
que conservar religiosamente intacta a dignidade da Cátedra Romana e estreitar
cada vez mais a união dos membros com a cabeça e a dos filhos com seu Pai.
13.
É por isso que, para manter antes de tudo, tanto quanto está em Nosso poder, os
direitos da liberdade desta Santa Sé, jamais cessaremos de combater para
conservar à nossa autoridade a obediência que lhe é devida, para afastar os
obstáculos que impedem a plena liberdade do Nosso ministério e do Nosso poder,
e para conseguir o retorno àquele estado de coisas em que os desígnios da
Divina Sabedoria haviam outrora colocado os Pontífices Romanos. E não é, Veneráveis
Irmãos, nem por espírito de ambição, nem por desejo de domínio que somos
impelidos a pedir esse retorno; mas sim pelos deveres do Nosso cargo e pelos
compromissos religiosos do juramento que Nos liga: ademais, somos a isso
impelidos não somente pela consideração de que esse principado Nos é necessário
para defender e conservar a plena liberdade do poder espiritual, como ainda
porque tem sido plenamente verificado que, quando se trata do Principado
temporal da Sé Apostólica, é a própria causa do bem público e da salvação de
toda a sociedade humana que está em questão. Daí se segue que, em razão do
dever do Nosso cargo, que nos obriga a defender os direitos da Santa Igreja,
não Nos podemos dispensar de renovar e de continuar nesta carta as declarações
e os protestos que o Nosso predecessor Pio IX, de santa memória, várias vezes
formulou e renovou, tanto contra a ocupação do poder temporal como contra a
violação dos direitos da Igreja Romana. Volvemos ao mesmo tempo Nossa voz para
os príncipes e para os chefes supremos dos povos e instantemente lhes suplicamos,
pelo augusto nome do Deus poderosíssimo, não repelirem o auxilio que a Igreja
lhes oferece em momento tão necessário, cercarem amistosamente, como de
desvelos unânimes, esta fonte de autoridade e de salvação, e a ela se prenderem
cada vez mais pelos laços de um amor estreito e de um profundo respeito. Faça o
céu que eles reconheçam a verdade de tudo o que havemos dito, e se persuadam de
que a doutrina de Jesus Cristo, como dizia Santo Agostinho, é a grande salvação
do país quando as pessoas conformam a ela seus actos (Ep. 138)! Possam eles compreender
que a sua segurança e tranquilidade, tanto como a segurança e a tranquilidade
públicas, dependem da conservação da Igreja e da obediência que lhes prestarem,
e aplicar então todos os seus pensamentos e todos os seus cuidados a fazer
desaparecer os males de que a Igreja e seu Chefe visível são afligidos! Possa
daí, enfim, resultar que os povos que eles governam entrem na trilha da justiça
e da paz, e gozem de uma era feliz de prosperidade e de glória.
Fidelidade à Santa Sé
Apostólica
14.
Querendo também, em seguida, manter cada vez mais estreita a concórdia entre
todo o rebanho católico e seu Pastor supremo, com afeto particular aqui Vos
concitamos, Veneráveis Irmãos, e vos exortamos calorosamente a, pelo Vosso zelo
sacerdotal e pela Vossa vigilância pastoral, inflamardes do amor da religião os
fiéis que Vos são confiados, a fim de que eles se prendam cada vez mais
estreitamente a esta Cátedra de verdade e de justiça, a fim de que aceitem
todos a sua doutrina com a mais profunda submissão de espírito e de vontade, e
a fim de que rejeitem, enfim, absolutamente todas as opiniões, mesmo as mais
difundidas, que souberem ser contrárias aos ensinamentos da Igreja. Sobre este
assunto, os Pontífices Romanos Nossos predecessores, e em particular Pio IX, de
santa memória, sobretudo no concilio do Vaticano, tendo incessantemente diante
dos olhos estas palavras de S. Paulo: Vede que ninguém vos engane por meio da
filosofia ou de um vão artifício que seja segundo a tradição dos homens ou
segundo os elementos do mundo, e não segundo Jesus Cristo (Col 2, 8), todas as
vezes que se tornou necessário não descuraram reprovar os erros que irrompiam e
fulminá-los com as censuras apostólicas. Nós também, seguindo as pegadas dos
Nossos predecessores, confirmamos e renovamos todas essas condenações do alto
desta Sé Apostólica de verdade, e ao mesmo tempo pedimos vivamente ao Pai das
luzes faça com que todos os fiéis, inteiramente unidos num mesmo sentimento e
numa mesma crença, pensem e falem absolutamente como Nós. O Vosso dever,
Veneráveis Irmãos, é empregardes os Vossos assíduos desvelos em espalhar ao
longe no campo do Senhor a semente das celestes doutrinas, e em fazer penetrar
oportunamente na mente dos fiéis os princípios da fé católica, para que lancem
nela profundas raízes e nela se conservem ao abrigo do contágio dos erros.
Quanto maiores esforços fazem os inimigos da religião para ensinar aos homens
sem instrução, e sobretudo aos jovens, princípios que lhes obscurecem a mente e
corrompem o coração, tanto mais é precioso trabalhar ardentemente não só para
fazer prosperar um hábil e sólido método de educação, mas sobretudo para não se
apartar da fé católica, no ensino das letras e das ciências e em particular da
filosofia, da qual depende em grande parte a verdadeira direcção das outras
ciências, e que, longe de tender a derrubar a divina revelação, pelo contrário,
se alegra de lhe aplanar o caminho e de defendê-la contra os seus assaltantes,
como pelo exemplo e pelos escritos no-lo ensinaram o grande Agostinho e o
Doutor Angélico, e todos os demais mestres da sabedoria cristã.
Reforma do Lar cristão
15.
Todavia, torna-se necessário que, para ser uma garantia da verdadeira fé e da
religião, e uma salvaguarda da integridade dos costumes, essa excelente
educação da juventude comece no próprio interior da família, dessa família que,
infelizmente perturbada nos tempos actuais, só pode recuperar a sua liberdade
por essas leis que o próprio divino Autor lhe fixou ao instituí-la na Igreja.
Jesus Cristo, com efeito, elevando à dignidade de sacramento a aliança do matrimónio,
que Ele quis fazer servir a simbolizar a sua união com a Igreja, não somente
tornou mais santa a ligação dos esposos, como também preparou tanto aos pais
como aos filhos meios eficacíssimos próprios para lhes facilitar, pela
observância dos seus deveres recíprocos, a obtenção da felicidade temporal e
eterna.
16.
Infelizmente, depois que leis ímpias e sem nenhum respeito pela santidade desse
grande sacramento o rebaixaram à mesma categoria dos contratos civis, tem
sucedido que, profanando a dignidade do matrimónio cristão, cidadãos tenham
adotado o concubinato legal ao invés das núpcias religiosas; esposos têm
descurado os deveres da fé que se haviam prometido, filhos têm recusado aos
pais a obediência e o respeito que lhes deviam, os laços da caridade doméstica
têm-se afrouxado, e, o que é bem triste exemplo e mui prejudicial aos costumes
públicos, a um amor insensato muitíssimas vezes têm sucedido separações funestas
e perniciosas. Impossível é, Veneráveis Irmãos, que a vista dessa miséria e
dessas calamidades lamentáveis não excite o Vosso zelo e não nos induza a, com
cuidado e sem tréguas, exortar os fiéis confiados à Vossa guarda a prestarem
ouvido dócil aos ensinamentos que se relacionam com a santidade do matrimónio
cristão, e a obedecerem às leis da Igreja que regulam os deveres dos esposos e
dos filhos.
Reforma dos costumes
públicos
17.
Assim é que conseguireis essa reforma tão desejável dos costumes e do modo de
viver de cada homem em particular, porquanto, assim como de um tronco
apodrecido não podem brotar senão galhos estragados e frutos pecos, assim
também por um triste contágio essa funesta chaga que corrompe as famílias
estende-se a todos os cidadãos e torna-se um mal e um defeito comum. Ao
contrário, uma vez moldada a sociedade doméstica a uma forma de vida cristã,
cada membro se acostumará pouco a pouco a amar a religião e a piedade, a
detestar as falsas e perniciosas doutrinas, a praticar a virtude, a obedecer
aos seus superiores e a reprimir essa procura insaciável do interesse puramente
privado que tão profundamente abaixa e enerva a natureza humana. Um bom meio
para realizar este objectivo será dirigir e incentivar essas pias associações
que, mormente nestes tempos de agora, têm sido mais particularmente instituídas
para favorecer os interesses católicos.
18.
Em verdade, Veneráveis Irmãos, grandes coisas, coisas mesmo superiores às
forças humanas são as que Nós assim abraçamos com os Nossos votos e com as
Nossas esperanças; mas, como Deus fez as nações do mundo curáveis e fundou a
sua Igreja para a salvação dos povos, prometendo assisti-la até à consumação
dos séculos, temos a firme confiança de que o género humano, ferido por tantos
males e calamidades, graças aos Vossos esforços acabará buscando a salvação e a
prosperidade na submissão à Igreja e no magistério infalível desta Cátedra
Apostólica.
CONCLUSÃO
Regozijo pela união e
concórdia entre Bispos
19.
E agora, Veneráveis Irmãos, antes de encerrarmos esta carta, sentimos a
necessidade de participar-vos a Nossa alegria ao vermos a união admirável e a
concórdia que reinam entre Vós e Vos unem tão perfeitamente a esta Sé
Apostólica, e em verdade ficamos persuadidos de que essa perfeita união é não
somente um baluarte inexpugnável contra os assaltos dos inimigos, mas é ainda
um presságio feliz e próspero de tempos melhores para a Igreja; ela proporciona
um grande alívio à Nossa fraqueza, e levanta, assim, de maneira feliz o Nosso
espírito, ajudando-Nos a sustentar com ardor, no difícil múnus que havemos
recebido, todas as fadigas e todos os combates pela Igreja de Deus.
Agradecimento pelas
declarações de amor e obediência
20.
Também não podemos separar dessas causas de esperanças e de alegria que acabamos
de Vos manifestar, essas declarações de amor e de obediência que, nestes
primórdios do Nosso pontificado, Vós, Veneráveis Irmãos, haveis formulado à
Nossa humilde pessoa, e que também Nos têm sido feitas por tantos eclesiásticos
e fiéis, provando assim pelas cartas enviadas, pelas larguezas recolhidas,
pelas peregrinações realizadas e por tantas outras provas de piedade, que essa
devoção e essa caridade que eles não haviam cessado de testemunhar ao Nosso
digno Predecessor permaneceram tão firmes, tão estáveis e tão íntegras, que se
não arrefeceram à vinda de um sucessor tão pouco digno dessa herança. À vista
de testemunhos tão esplêndidos da fé católica, devemos humildemente confessar
que o Senhor é bom e benevolente, e a Vós, Veneráveis Irmãos, e a todos esses
filhos queridos de quem as havemos recebido, exprimimos os numerosos e
profundos sentimentos de gratidão que inundam o nosso coração, cheios de
confiança de que, na angústia e nas dificuldades dos tempos actuais, o Vosso
zelo e o Vosso amor, bem como os dos fiéis, jamais Nos faltarão. Tão pouco
duvidamos de que esses notáveis exemplos de piedade filial e de virtude cristã
contribuam poderosamente para tocar o coração do Deus misericordiosíssimo, e
para o fazer deitar um olhar de benevolência sobre o seu rebanho e conceder à
Igreja a paz e a vitória. E, como estamos convencido de que essa paz e essa
vitória Nos serão mais pronta e mais facilmente concedidas se os fiéis
dirigirem constantemente a Deus preces e votos para lhas pedir, vivamente Vos exortamos,
Veneráveis Irmãos, a excitardes com esse fim o zelo dos fiéis, concitando-os a
empregarem como mediadora junto a Deus a Imaculada Rainha dos Céus, e como
intercessores S. José, padroeiro celeste da Igreja, e os santos apóstolos Pedro
e Paulo, a cujo poderoso patrocínio recomendamos a nossa humilde pessoa, todas
as ordens da hierarquia eclesiástica, e todo o rebanho do Senhor.
Votos e bênção Apostólica
21.
Finalmente, desejamos que estes dias em que festejamos o solene aniversário da
ressurreição de Jesus Cristo sejam, para Vós e para todo o rebanho do Senhor,
felizes, salutares e cheios de santa alegria, pedindo a Deus, que é tão bom,
apague as faltas que havemos cometido e nos faça misericordiosamente remissão
da pena que elas Nos mereceram, e isso pela virtude desse Sangue do Cordeiro
imaculado que apague a sentença lavrada contra nós (Col 2, 14).
22.
A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, a caridade de Deus e a comunicação do
Espírito Santo sejam com todos vós (2 Cor 13, 13), Veneráveis Irmãos, e é de
todo coração que, a Vós e a cada um em particular, bem como aos Nossos caros
filhos o clero e os fiéis de vossas Igrejas, concedemos a bênção apostólica
como penhor da Nossa especial benevolência e como presságio da proteção
celeste.
Dado em Roma, junto a S. Pedro, no dia
solene de Páscoa, a 21 de Abril do ano de 1878, primeiro ano do Nosso
Pontificado.
LEÃO XIII, PAPA
(revisão da versão portuguesa por ama)