Tempo Comum
Santo
Hilário Doutor da Igreja
Evangelho: Mc 1 21-28
21 Depois foram a
Cafarnaum; e Jesus, tendo entrado no sábado na sinagoga, ensinava. 22
Os ouvintes ficavam admirados com a Sua doutrina, porque os ensinava como quem
tem autoridade e não como os escribas. 23 Na sinagoga estava um
homem possesso dum espírito imundo, que começou a gritar: 24 «Que
tens que ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos perder? Sei Quem és, o
Santo de Deus». 25 Mas Jesus o ameaçou dizendo: «Cala-te, e sai
desse homem!». 26 Então o espírito imundo, agitando-o violentamente
e dando um grande grito, saiu dele. 27 Ficaram todos tão admirados,
que se interrogavam uns aos outros: «Que é isto? Que nova doutrina é esta? Ele
manda com autoridade até nos espíritos imundos, e eles obedecem-Lhe». 28
E divulgou-se logo a Sua fama por toda a região da Galileia.
Comentário:
A autoridade de quem ensina não lhe virá de outra coisa
senão do conhecimento profundo do que transmite.
Ninguém deve colocar-se numa situação de falar sobre o
que não sabe ou conhece deficientemente. Será, com toda a certeza, posto à
prova e, mais cedo ou mais tarde, aqueles que o ouviram, duvidarão do que lhes
transmitiu.
No apostolado, que se faz sempre e exclusivamente em
nome de Jesus Cristo Nosso Senhor o conhecimento da Doutrina, segura, séria,
fundamentada, é condição absolutamente imprescindível.
Ah! E depois, praticar o que se diz!
(ama, comentário
sobre Mc 1, 21-28, 2014.01.15)
Leitura espiritual
São Josemaria Escrivá
Amar a Igreja 22 a 32
22
Agora
compreendem porque não se pode separar a Igreja visível da Igreja invisível. A
Igreja é, simultaneamente, corpo místico e corpo jurídico. Pelo próprio facto
de ser corpo, a Igreja distingue-se com os olhos, ensinou Leão XIII. No corpo
visível da Igreja - no comportamento dos homens que dela fazemos parte aqui na
terra - aparecem misérias, vacilações, traições. Mas a Igreja não se esgota aí,
nem se confunde com essas condutas erradas: pelo contrário, não faltam, aqui e
agora, generosidades, afirmações heróicas, vidas de santidade que não fazem
barulho, que se consomem com alegria no serviço dos irmãos na fé e de todas as
almas.
Considerem
também que, se as claudicações superassem numericamente as atitudes corajosas,
ficaria ainda essa realidade mística - clara, inegável, embora a não percebamos
com os sentidos - que é o Corpo de Cristo, o próprio Senhor Nosso, a acção do
Espírito Santo, a presença amorosa do Pai.
A
Igreja é, por conseguinte, inseparavelmente humana e divina. É sociedade divina
pela sua origem, sobrenatural pelo seu fim e pelos meios que se ordenam
proximamente a esse fim; mas, na medida em que se compõe de homens, é uma
comunidade humana. Vive e actua no mundo, mas o seu fim e a sua força não estão
na terra, mas no Céu.
Enganar-se-iam
gravemente aqueles que procurassem separar uma Igreja carismática - que seria a
verdadeiramente fundada por Cristo-, doutra jurídica ou institucional, que
seria obra dos homens e simples efeito de contingências históricas. Só há uma
Igreja. Cristo fundou uma única Igreja: visível e invisível, com um corpo
hierárquico e organizado, com uma estrutura fundamental de direito divino e uma
íntima vida sobrenatural que a anima, sus - tenta e vivifica.
E
não é possível deixar de recordar que Nosso Senhor, ao instituir a Sua Igreja,
não a concebeu nem formou de modo a compreender uma pluralidade de comunidades
semelhantes no seu género, embora diferentes, e não ligadas por aqueles
vínculos que tornam a Igreja indivisível e única... Por isso, quando Jesus fala
deste místico edifício, refere-se apenas a uma Igreja a que chama Sua:
edificarei a Minha Igreja (Mat. XVI, 18). Qualquer outra que se imagine fora desta,
em virtude de não ter sido fundada por Ele, não pode ser a Sua verdadeira
Igreja.
Fé,
repito; aumentemos a nossa Fé; pedindo-a à Santíssima Trindade, cuja festa hoje
celebramos. Poderá acontecer tudo, excepto que o Deus três vezes Santo abandone
a Sua Esposa.
23
O fim da Igreja
São
Paulo, no primeiro capítulo da Epístola aos Efésios, afirma que o mistério de
Deus, anunciado por Cristo, se realiza na Igreja. Deus Pai pôs debaixo dos pés
de Cristo todas as coisas, e constituiu-O cabeça de toda a Igreja, que é o Seu
corpo e o complemento d'Aquele que cumpre tudo em todos . O mistério de Deus é,
uma vez chegada a plenitude dos tempos, restaurar em Cristo todas as coisas,
assim as que há no céu, como as que há na terra.
Um
mistério insondável, de pura gratuitidade de amor: porque Ele mesmo nos
escolheu antes da criação do mundo, por amor, para sermos santos e imaculados
diante d'Ele. O amor de Deus não tem limites: o próprio São Paulo anuncia que o
Nosso Salvador quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da
verdade.
Este,
e não outro, é o fim da Igreja: a salvação das almas, uma a uma. Para isso o
Pai enviou o Filho, e Eu envio-vos também a vós. Daí o mandato de dar a
conhecer a doutrina e de baptizar, para que, pela graça, a Santíssima Trindade
habite na alma: foi-Me dado todo o poder no Céu e na terra. Ide, pois, ensinai
todas as gentes, baptizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo,
ensinando-as a observar todas as coisas que vos mandei; e eis que Eu estou convosco
todos os dias até à consumação dos séculos.
São
as palavras simples e sublimes do final do Evangelho de S. Mateus: aí se
assinala a obrigação de pregar as verdades de fé, a urgência da vida
sacramental, a promessa da contínua assistência de Cristo à Sua Igreja. Não se
é fiel a Nosso Senhor se se passa por cima destas realidades sobrenaturais: a
instrução na fé e na moral cristãs, a prática dos sacramentos. Com este mandato
Cristo funda a Sua Igreja. Tudo o resto é secundário.
24
Na Igreja está a nossa salvação
Não
podemos esquecer que a Igreja é muito mais do que um caminho de salvação: é o
único caminho. Ora isto não foi inventado pelos homens, mas foi Cristo quem
assim dispôs: o que crer e for baptizado, será salvo; o que, porém, não crer,
será condenado. Por isso se afirma que a Igreja é necessária, com necessidade
de meio, para nos salvarmos. Já no século II Orígenes escrevia: se alguém quer
salvar-se, venha a esta casa, para que possa consegui-lo... Que ninguém se
engane a si mesmo: fora desta casa, isto é, fora da Igreja, ninguém se salva. E
S. Cipriano: se alguém tivesse escapado (do dilúvio) fora da arca de Noé, então
poderíamos admitir que quem abandona a Igreja pode escapar da condenação.
Extra
Ecclesiam, nulla salus. É o aviso contínuo dos Padres: fora da Igreja católica
pode encontrar-se tudo - admite Santo Agostinho - menos a salvação. Pode ter-se
honra, pode haver Sacramentos, pode cantar-se o "aleluia", pode
responder-se "amen", pode defender-se o Evangelho, pode ter-se fé no
Pai, no Filho e no Espírito Santo e, inclusivamente, até pregá-la. Mas nunca,
se não for na Igreja católica, pode encontrar-se a salvação.
No
entanto, como se lamentava Pio XII há pouco mais de vinte anos, alguns reduzem
a uma fórmula vã a necessidade de pertencer à Igreja verdadeira para alcançar a
salvação eterna. Este dogma de fé integra a base da actividade corredentora da
Igreja, é o fundamento da grave responsabilidade apostólica dos cristãos. Entre
os mandatos expressos de Cristo determina-se categoricamente o de nos incorporarmos
no Seu Corpo Místico pelo Baptismo. E o nosso Salvador não só promulgou o
mandamento de que todos entrassem na Igreja, mas estabeleceu também que a
Igreja fosse meio de salvação, sem a qual ninguém pode chegar ao reino da
glória celestial.
É
de fé que quem não pertence à Igreja não se salva; e que quem se não baptiza
não ingressa na Igreja. A justificação, depois da promulgação do Evangelho, não
pode verificar-se sem o lavacro da regeneração ou o seu desejo, estabelece o
Concilio de Trento.
25
É
esta uma contínua exigência da Igreja que se - por um lado - introduz na nossa
alma o aguilhão do zelo apostólico, por outro, manifesta também claramente a
misericórdia infinita de Deus para com as criaturas.
S.
Tomás explica assim: o Sacramento do baptismo pode faltar de dois modos. Em
primeiro lugar, quando não se recebeu nem de facto, nem de desejo. É o caso de
quem não se baptizou nem quer baptizar-se. Esta atitude, nos que têm uso da
razão, implica desprezo pelo Sacramento. E, em consequência, aqueles a quem
falta desta forma o baptismo, não podem entrar no reino dos céus: já que não se
incorporam a Cristo nem sacramentalmente nem espiritualmente e unicamente d'Ele
é que procede a salvação. Em segundo lugar, pode também faltar o Sacramento do
baptismo a uma pessoa, mas não o seu desejo, como no caso daquele que, embora
se deseje baptizar, é surpreendido pela morte antes de receber o Sacramento. A
quem isto suceder, pode salvar-se sem o baptismo actual e só com o desejo do
Sacramento. Este desejo procede da fé que age pela caridade, através da qual
Deus, que não ligou o seu poder aos Sacramentos visíveis, santifica
interiormente o homem.
Apesar
de ser completamente gratuita e de não se dever a ninguém por título algum - e
menos ainda depois do pecado-, Deus Nosso Senhor não recusa a ninguém a
felicidade eterna e sobrenatural: a Sua generosidade é infinita. É coisa
notória que aqueles que sofrem de ignorância invencível acerca da nossa
santíssima religião, quando guardam cuidadosamente a lei natural e os seus
preceitos, esculpidos por Deus nos corações de todos, e estão dispostos a
obedecer a Deus e levam uma vida honesta e recta, podem alcançar a eterna, por
intermédio da acção operante da luz divina e da graça. Só Deus sabe o que se
passa no coração de cada homem, e Ele não trata as almas em massa, mas uma a
uma. Não corresponde a ninguém nesta terra julgar sobre a salvação ou
condenação eternas num caso concreto.
26
Mas
não esqueçamos que a consciência pode deformar-se de modo culpável,
endurecer-se no pecado e resistir à acção salvadora de Deus. Daí, a necessidade
de pregar a doutrina de Cristo, as verdades de fé e as normas morais; e daí
também a necessidade dos Sacramentos, todos instituídos por Jesus Cristo como
causas instrumentais da Sua graça e remédio para as misérias consequentes ao
nosso estado de natureza caída. Daí se deduz também que convém recorrer
frequentemente à Penitência e à Comunhão Eucarística.
Fica,
portanto, bem concretizada a tremenda responsabilidade de todos na Igreja e
especialmente dos pastores com estes conselhos de S. Paulo: Conjuro-te diante
de Deus e de Jesus Cristo que há-de julgar os vivos e os mortos, pela Sua vinda
e pelo Seu reino: prega a palavra de Deus, insiste a tempo e fora de tempo,
repreende, suplica, admoesta com toda a paciência e doutrina. Porque virá tempo
em que os homens não suportarão a sã doutrina, mas multiplicarão para si
mestres conforme os seus desejos, levados pelo prurido de ouvir doutrinas
acomodadas às suas paixões. E afastarão os ouvidos da verdade e os aplicarão às
fábulas.
27
Tempo de provação
Eu
não saberia dizer quantas vezes se cumpriram estas palavras proféticas do
Apóstolo. Mas só um cego deixaria de ver como actualmente se estão a verificar
quase à letra. Rejeita-se a doutrina dos mandamentos da Lei de Deus e da
Igreja, tergiversa-se sobre o conteúdo das bem-aventuranças dando-lhe um
significado político-social: e quem se esforça por ser humilde, manso e limpo
de coração, é tratado como um ignorante ou um atávico defensor de coisas
passadas. Não se suporta o jugo da castidade e inventam-se mil maneiras de
ludibriar os preceitos divinos de Cristo.
Há
um sintoma que os engloba todos: a tentativa de desviar os fins sobrenaturais
da Igreja. Por justiça, alguns já não entendem a vida de santidade, mas uma
luta política determinada, mais ou menos tingida de marxismo, que é
inconciliável com a fé cristã. Por libertação, não admitem a batalha pessoal
para fugir do pecado, mas uma tarefa humana, que pode ser nobre e justa em si
mesma, mas que carece de sentido para o cristão quando implica a desvirtuação
da única coisa necessária, a salvação eterna das almas, uma a uma.
28
Com
uma cegueira originada pelo afastamento de Deus - este povo honra-Me com os
lábios, mas o seu coração está longe de Mim-, fabrica-se uma imagem da Igreja
que não tem a menor relação com a que Cristo fundou. Até o Santo Sacramento do
Altar - a renovação do Sacrifício do Calvário - é profanado, ou reduzido a um
mero símbolo daquilo a que chamam a comunhão dos homens entre si. Que seria das
almas, se Nosso Senhor não se tivesse entregado por nós até à última gota do
Seu precioso Sangue! Como é possível que se despreze esse milagre perpétuo da
presença real de Cristo no Sacrário? Ficou para que vivamos intimamente com
Ele, para que O adoremos, para que nos decidamos a seguir as suas pegadas, como
penhor da glória futura.
Estes
tempos são tempos de provação e temos de pedir a Nosso Senhor, com um clamor
que não cesse, que os abrevie, que olhe com misericórdia para a Sua Igreja e
conceda novamente luz sobrenatural às almas dos pastores e às de todos os
fiéis. Não há motivo algum que leve a Igreja a empenhar-se em agradar aos
homens, porque nunca os homens - nem sós, nem em comunidade - darão a salvação
eterna: quem salva é Deus.
29
Amor filial à Igreja
É
indispensável repetir hoje, em voz bem alta, aquelas palavras de S. Pedro
perante as pessoas importantes de Jerusalém: este Jesus é aquela pedra que vós
rejeitastes ao edificar e que veio para ser a pedra principal do ângulo; fora
d'Ele, não se pode procurar a salvação em mais ninguém, porque não foi dado aos
homens outro nome sob o céu, pelo qual possamos salvar-nos.
Assim
falava o primeiro Papa, a rocha sobre a qual Cristo edificou a Sua Igreja,
levado pela sua filial devoção a Nosso Senhor e pela sua solicitude para com o
pequeno rebanho que lhe tinha sido confiado. Com Pedro e com os outros
Apóstolos, os primeiros cristãos aprenderam a amar profundamente a Igreja.
Viram
já, em contrapartida, com que pouca piedade se fala agora, todos os dias, da
nossa Santa Madre Igreja? Como é consolador ler, nos Padres antigos, aqueles
elogios abrasados de amor à Igreja de Cristo! Amemos o Senhor, Nosso Deus;
amemos a Sua Igreja, escreve Santo Agostinho. A Ele como um pai; a Ela como uma
mãe. Que ninguém diga: "sim, ainda vou aos ídolos, consulto os possessos e
os bruxos, mas não deixo a Igreja de Deus, porque sou católico". Estais
unidos à Mãe, mas ofendeis o Pai. Outro diz, pouco mais ou menos assim:
"Deus não o permita; não consulto os bruxos, nem interrogo os possessos,
não pratico adivinhações sacrílegas, não vou adorar os demónios, não sirvo os
deuses de pedra, mas sou do partido de Donato". De que serve não ofender o
Pai se Ele vingará a Mãe a quem ofendeis? E S. Cipriano escrevia brevemente:
não pode ter Deus como Pai, quem não tiver a Igreja como Mãe.
Nestes
momentos, muitos negam-se a ouvir a verdadeira doutrina sobre a Santa Madre
Igreja. Alguns desejam reinventar a instituição, com a ideia louca de implantar
no Corpo Místico de Cristo uma democracia ao estilo daquela que se concebe na
sociedade civil, ou melhor dito, ao estilo da que se pretende promover: todos
iguais em tudo. E não se convencem de que a Igreja está constituída, por
instituição divina, pelo Papa, com os bispos, os presbíteros, os diáconos e os
leigos. Foi assim que Jesus a quis.
30
A
Igreja é, por vontade divina, uma instituição hierárquica. Sociedade
hierarquicamente organizada, assim lhe chama o Concílio Vaticano II, na qual os
ministros têm um poder sagrado. A hierarquia não só é compatível com a
liberdade, mas está também ao serviço da liberdade dos filhos de Deus.
O
termo democracia não tem sentido na Igreja que - insisto - é hierárquica por
vontade divina. No entanto, hierarquia significa governo santo e ordem sagrada,
e de modo algum arbitrariedade humana ou despotismo infra-humano. Nosso Senhor
dispôs que existisse na Igreja uma ordem hierárquica, que não há-de
transformar-se em tirania, porque a própria autoridade, bem como a obediência,
é um serviço.
Na
Igreja há igualdade: uma vez baptizados, somos todos iguais, porque somos
filhos do mesmo Deus, Nosso Pai. Como cristãos, não há qualquer diferença entre
o Papa e a última pessoa a incorporar-se na Igreja. Mas esta igualdade radical
não implica a possibilidade de mudar a constituição da Igreja, naquilo que foi
estabelecido por Cristo. Por expressa vontade divina temos uma diversidade de
funções, que comporta também uma capacidade diversa, um carácter indelével
conferido pelo Sacramento da Ordem para os ministros sagrados. No vértice dessa
ordenação está o sucessor de Pedro e, com ele, e sob ele, todos os bispos: com
a sua tríplice missão de santificar, de governar e de ensinar.
31
Permitam-me
que insista repetidamente: as verdades de fé e de moral não se determinam por
maioria de votos, porque compõem o depósito - depositum fidei - entregue por
Cristo a todos os fiéis e confiado, na sua exposição e ensino autorizado, ao
Magistério da Igreja.
Seria
um erro pensar que, pelo facto de os homens já terem talvez adquirido mais
consciência dos laços de solidariedade que mutuamente os unem, se deva
modificar a constituição da Igreja, para a pôr de acordo com os tempos. Os
tempos não são dos homens, quer sejam ou não eclesiásticos; os tempos são de
Deus, que é o Senhor da história. E a Igreja só poderá proporcionar a salvação
às almas, se permanecer fiel a Cristo na sua constituição, nos seus dogmas, na
sua moral.
Rejeitemos,
portanto, o pensamento de que a Igreja - esquecendo-se do sermão da montanha -
procura a felicidade humana na terra, pois sabemos que a sua única tarefa
consiste em levar as almas à glória eterna do paraíso; rejeitemos qualquer
solução naturalista, que não valorize o papel primordial da graça divina;
rejeitemos as opiniões materialistas, que procuram tirar importância aos
valores espirituais na vida do homem; rejeitemos de igual modo as teorias
secularizantes, que pretendem identificar os fins da Igreja de Deus com os dos
estados terrenos: confundindo a essência, as instituições, a actividade, com
características similares às da sociedade temporal.
32
O abismo da sabedoria de
Deus
Recordem
as considerações de São Paulo que acabamos de ler na Epístola: Ó profundidade
das riquezas da sabedoria e da ciência de Deus; quão incompreensíveis são os
Seus juízos, e inesgotáveis os Seus caminhos! Porque, quem conheceu o
pensamento do Senhor? Ou quem foi o Seu conselheiro? Ou quem Lhe deu alguma
coisa primeiro, para que tenha de receber em troca? Todas as coisas são d'Ele e
todas são por Ele, e todas existem n'Ele; a Ele seja dada glória por todos os
séculos dos séculos. Amen. À luz da palavra de Deus, como se tornam tacanhos os
desígnios humanos ao procurarem alterar o que Nosso Senhor estabeleceu!
Não
devo, porém, ocultar-vos que agora se observa, por todo o lado, uma estranha
capacidade do homem: nada conseguindo contra Deus, enfurece-se contra os outros
sendo tremendo instrumento do mal, ocasião e indutor de pecado, semeador dum
tipo de confusão que conduz a que se cometam acções intrinsecamente más,
apresentando-as como boas.
Sempre
houve ignorância: mas, hoje em dia, a ignorância mais brutal em matérias de fé
e de moral disfarça-se, por vezes, com nomes pomposos aparentemente teológicos.
Por isso, o mandato de Cristo aos Apóstolos - acabamos de ouvi-lo no Evangelho
- alcança uma premente actualidade: ide, pois, ensinai todas as gentes. Não podemos
desinteressar-nos, não podemos cruzar os braços, não podemos fechar-nos sobre
nós mesmos. Acorramos a travar, por Deus, uma grande batalha de paz, de
serenidade, de doutrina.
(cont)