[1] Bernardo de Fontaine foi um abade de Claraval, santo e Doutor da Igreja. Nascido em 1090 em Dijon, falecido em 1153 na abadia de Claraval. Foi um monge cisterciense e grande propagador da Ordem e defensor da Igreja. Uma das personalidades mais influentes do século XII.
Nascido numa grande família nobre da Borgonha, no castelo de Fontaine-lès-Dijon, Bernardo foi o terceiro de sete filhos de Tescelin o Vermelho (Tescelin Sorrel) e de Aleth de Montbard. Com a idade de nove anos, é enviado para a Escola Canónica de Châtillon-sur-Seine, onde mostra um gosto particular pela literatura. Em1112, decide entrar na Abadia de Cister, fundada em 1098 por São Roberto de Molesme, e na qual Santo Estêvão Harding havia acabado de ser eleito Abade. Convence vários amigos, irmãos e parentes a ingressarem com ele na vida monástica e chega assim com outros 30 candidatos para entrar na Abadia.
Em 1115, Estêvão Harding envia o jovem à frente de um grupo de monges para fundar uma nova casa cisterciense no vale de Langres. A fundação é chamada "Vale Claro", ou Clairvaux – Claraval. Bernardo é nomeado Abade desta nova Abadia, e confirmado por Guilherme de Champeux, bispo de Châlons e célebre teólogo.
Os primórdios de Claraval são difíceis: a disciplina imposta por São Bernardo é bastante severa. Bernardo busca formação nas Sagradas Escrituras e nos Padres da Igreja. Ele tem uma predilecção quase exclusiva pelo Cântico dos Cânticos e por Santo Agostinho. O livro e o autor correspondem às tendências da época.
Muitas pessoas afluem à nova abadia e Bernardo acaba de converter toda sua família: seu pai, Tescelin, e seus cinco irmãos tornam-se monges em Claraval. Sua irmã, Umbelina, toma igualmente o hábito no priorado de Jully-les-Nonnains. A partir de 1118, novas casas são fundadas (a exemplo da Abadia Nossa Senhora de Fontenay, para evitar a superlotação de Claraval. Em 1119, Bernardo faz parte do Capítulo Geral dos Cistercienses convocado por Estêvão Harding, que dá sua forma definitiva à Ordem. A Carta da Caridade, que é então redigida, é confirmada pouco depois pelo papa Calixto II.
É nesta época que Bernardo escreve suas primeiras obras, tratados e homilias e, sobretudo, uma Apologia, escrita a pedido de Guilherme de Saint-Thierry, que defende os beneditinos brancos (os cistercienses segundo a cor de seu hábito) contra os beneditinos negros (clunisienses). Pedro, o Venerável, abade de Cluny, responde-lhe amigavelmente, e apesar de suas diferenças ideológicas, os dois homens tornam-se amigos. Envia igualmente numerosas cartas para incentivar a reforma o resto do clero, em particular dos bispos. A sua carta ao arcebispo de Sens, Henrique de Boisrogues, chamada mais tarde de De Officiis Episcoporum (Da conduta dos Bispos) é reveladora do importante papel dos monges no XII século, e das tensões entre o clero regular e secular.
Em 1128, Bernardo participa do concílio de Troyes, convocado pelo papa Honório II e presidido por Matthieu d’Albano, legado do papa. Bernardo é nomeado secretário do concílio, mas ao mesmo tempo é contestado por uma parte do clero, que pensa que Bernardo, simples monge, se intromete em coisas que não são lhe concernem. Acaba por se desculpar, mas o concílio é fortemente influenciado por sua actuação. É durante o concílio que Bernardo consegue o reconhecimento para a Ordem do Templo, os Templários, cujos estatutos são escritos por ele mesmo.
Torna-se uma personalidade importante e respeitada na Cristandade; intervém em assuntos públicos, defende os direitos da Igreja contra os príncipes seculares e aconselha papas e reis. Em 1130, depois da morte de Honório II, durante o cisma de Anacleto II, é a sua voz que faz com que Inocêncio II seja aceite. Em 1132, ele consegue do papa a independência de Claraval em relação a Cluny.
Nesse período de desenvolvimento das escolas urbanas, no qual os novos problemas são discutidos na forma de questões (quaestio), de argumentação e busca de uma conclusão (disputatio), São Bernardo é defensor de uma linha tradicionalista. Combate as posições de Abelardo, que faz ser condenadas no concílio de Sens em 1140.
Em 1145, Claraval dá um papa à Igreja, Eugénio III. Quando o reino de Jerusalém é ameaçado, Eugénio III, ele mesmo um cisterciense, pede a Bernardo que pregue a segunda cruzada em Vézelayem 31 de Março de 1146 e mais tarde em Spire. Fá-lo com tanto sucesso que o rei Luís VII o Jovem e o imperador Conrado III tomam eles mesmos a cruz.
No concílio de Reims, em 1148, ele faz uma acusação de heresia contra Gilbert de la Porreé, bispo de Poitiers. Não obtém grande sucesso e seu adversário conserva sua posição e prestígio. Cheio de zelo pela Ortodoxia, combate também as teses de Pierre de Bruys, de Arnaldo de Bréscia, e condena os excessos de Raul, um antigo monge de Claraval, que exige o massacre dos Judeus. Neste mesmo ano, ele prega a cruzada em Hainaut e permanece em Mons, a capital dos condes de Hainaut.
São Bernardo fundou 72 mosteiros, espalhados por toda Europa: 35 na França, 14 na Espanha, 10 na Inglaterra e Irlanda, 6 em Flandres, 4 na Itália, 4 na Dinamarca, 2 na Suécia e 1 na Hungria, além de muitos outros que se filiaram à Ordem.
Em 1151, dois anos antes de sua morte, existem 500 abadias cistercienses. Há 700 monges ligados a Claraval.
Bernardo morre em 1153 com 63 anos. Foi canonizado em 18 de Junho de 1174 por Alexandre III e declarado Doutor da Igreja por Pio VIII em 1830.
São Bernardo e Portugal
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Mosteiro de Alcobaça |
Estudos recentes dão como certo que São Bernardo esteja associado à independência de Portugal. Parece ter sido por sua mediação (ou pelo menos, por mediação da sua abadia) que o Papa enviou um legado à Península Ibérica, o qual reconheceu, senão a independência nacional, pelo menos o título de duxa Afonso Henriques e a submissão do novo país à Santa Sé, pelo pagamento de quatro onças de ouro anuais.