Tempo comum XXV Semana
Evangelho:
Lc 9, 7-9
7 O tetrarca Herodes
ouviu falar de tudo o que se passava, e não sabia que pensar, porque uns
diziam: 8 «É João que ressuscitou dos mortos»; outros: «É Elias que
apareceu»; outros: «É um dos antigos profetas que ressuscitou». 9
Herodes disse: «Eu mandei degolar João. Quem é, pois, Este de quem ouço tais
coisas?». E buscava ocasião de O ver.
Comentário:
Pelas palavras de São Lucas, parece
evidente que Herodes, embora judeu, não acreditava na ressurreição porque, à
partida, exclui que Jesus Cristo possa ser João Baptista ressuscitado.
Este personagem sinistro que atravessa
a história da salvação humana ficará como um marco assinalando o perigoso
caminho da luxúria, avidez e desprezo pelo seu semelhante.
(ama,
comentário sobre Lc 9, 7-9, V. Moura, 2013.09.26)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
CARTA ENCÍCLICA
IMMORTALE DEI
DO SUMO PONTIFÍCE PAPA LEÃO XIII
A TODOS OS NOSSOS VENERÁVEIS
IRMÃOS, OS PATRIARCAS, PRIMAZES, ARCEBISPOS
E BISPOS DO ORBE CATÓLICO,
EM GRAÇA E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE A CONSTITUIÇÃO CRISTÃ
DOS ESTADOS
Veneráveis
Irmãos,
Saudação
e Bênção Apostólica
1.
A obra imortal do Deus de misericórdia, a Igreja, se bem que em si e por sua
natureza tenha por fim a salvação das almas e a felicidade eterna, é
entretanto, na própria esfera das coisas humanas, a fonte de tantas e tais
vantagens, que as não poderia proporcionar mais numerosas e maiores mesmo
quando tivesse sido fundada sobretudo e directamente em mira a assegurar a
felicidade desta vida.
Com
efeito, onde quer que a Igreja tenha penetrado, imediatamente tem mudado a face
das coisas e impregnado os costumes públicos não somente de virtudes até então
desconhecidas, mas ainda de uma civilização toda nova. Todos os povos que a têm
acolhido se distinguiram pela doçura, pela equidade e pela glória dos
empreendimentos.
2.
E, todavia, acusação já bem antiga é que a Igreja, dizem, é contrária aos
interesses da sociedade civil e incapaz de assegurar as condições de bem-estar
e de glória que, com inteira razão e por uma aspiração natural, toda sociedade
bem constituída reclama.
Desde
os primeiros dias da Igreja, como sabemos, os cristãos foram inquietados em
consequência de injustos preconceitos dessa espécie, e expostos ao ódio e ao
ressentimento, a pretexto de serem inimigos do Império.
Naquela
época, a opinião pública imputava de bom grado ao nome cristão os males que assaltavam
a sociedade, ao passo que era Deus, o vingador dos crimes, quem infligia justas
penas aos culpados.
Essa
odiosa calúnia indignou com toda razão o génio de Santo Agostinho e lhe acusou
o estilo.
Foi
principalmente no seu livro da “Cidade de Deus” que ele pôs em evidência a
virtude da sabedoria cristã em suas relações com a coisa pública, de tal sorte
que ele parece haver menos advogado a causa dos cristãos de seu tempo do que
alcançado um triunfo perpétuo sobre tão falsas acusações.
3.
Todavia, o pendor funesto para essas queixas e para esses agravos não cessou, e
muitos se comprouveram em buscar a regra da vida social fora das doutrinas da
Igreja Católica. E, mesmo de então por diante, o “direito novo”, como lhe
chamam, e que pretende ser o fruto de uma idade adulta e o produto de uma
liberdade progressista, começa a prevalecer e a dominar por toda parte.
Mas,
a despeito de tantos ensaios, é facto que, para constituir e reger o Estado,
nunca se achou sistema preferível àquele que é a florescência espontânea da
doutrina evangélica.
Julgamos,
pois, ser de suma importância e conforme ao Nosso múnus Apostólico confrontar
as novas teorias sociais com a doutrina cristã. Destarte, temos a confiança de
que a verdade dissipará, por um só brilho, toda causa de erro e de dúvida, de
tal sorte que cada um facilmente poderá ver essas supremas regras de conduta
que deve seguir e observar.
4.
Não é muito difícil estabelecer que aspecto e que forma terá a sociedade se a
filosofia cristã governa a coisa pública. O homem nasceu para viver em
sociedade, portanto, não podendo no isolamento nem proporcionar-se o que é
necessário e útil à vida, nem adquirir a perfeição do espírito e do coração, a
Providência o fez para se unir aos seus semelhantes, numa sociedade tanto
doméstica quanto civil, única capaz de fornecer o que é preciso à perfeição da
existência. Mas, como nenhuma sociedade pode existir sem um chefe supremo e sem
que a cada um imprima um mesmo impulso eficaz para um fim comum, daí resulta
ser necessária aos homens constituídos em sociedade uma autoridade para
regê-los; autoridade que, tanto como a sociedade, procede da natureza e, por
consequência, tem a Deus por autor.
5.
Daí resulta ainda que o poder público só pode vir de Deus.
Só
Deus, com efeito, é o verdadeiro e soberano Senhor das coisas; todas, quaisquer
que sejam, devem necessariamente ser-lhes sujeitas e obedecer-lhe; de tal sorte
que todo aquele que tem o direito de mandar não recebe esse direito senão de
Deus, Chefe supremo de todos. “Todo poder vem de Deus” (Rom 13,1).
6.
Aliás, em si mesma a soberania não está ligada a nenhuma forma política; pode
muito bem adaptar-se a esta ou àquela, contanto que seja de facto apta à
utilidade e ao bem comum.
7.
Mas, seja qual for a forma de governo, todos os chefes de Estado devem
absolutamente ter o olhar fito em Deus, soberano Moderador do mundo, e, no
cumprimento do seu mandato, a Ele tomar por modelo e regra.
Com
efeito, assim como na ordem das coisas visíveis Deus criou causas segundas, nas
quais se reflectem de algum modo a natureza e a acção divinas, e que concorrem
para conduzir ao fim para que tende este universo, assim também quis Ele que,
na sociedade civil, houvesse uma autoridade cujos depositários fossem como que
uma imagem do poder que Ele tem sobre o género humano, ao mesmo tempo que da
sua Providência.
Deve,
pois, o mando ser justo; é menos o governo de um Senhor do que de um Pai, pois
é justíssima a autoridade de Deus sobre os homens e se acha unida a uma bondade
paternal.
Deve
ele, aliás, exercer-se para as vantagens dos cidadãos, pois os que tem
autoridade sobre os outros são dela investidos exclusivamente para assegurar o
bem público. Sob pretexto algum deve a autoridade civil servir à vantagem de um
só ou de alguns, visto haver sido constituída para o bem comum.
8.
Se os chefes de Estado se deixarem arrastar a uma dominação injusta, se pecarem
por abuso de poder ou por orgulho, se não proverem ao bem do povo, saibam que
um dia terão de dar contas a Deus, e essas contas serão tanto mais severas
quanto mais santa for a função que eles exercerem e mais elevado o grau da
dignidade de que estiverem investidos. “Os poderosos serão poderosamente punidos”
(Sab 6, 7).
9.
Desta maneira, a supremacia do mando arrastará a homenagem voluntária do
respeito dos súditos.
Com
efeito, se estes estiverem uma vez bem convencidos de que a autoridade dos
soberanos vem de Deus, sentir-se-ão obrigados em justiça a acolher docilmente
as ordens dos príncipes e a prestar-lhes obediência e fidelidade, por um
sentimento semelhante à piedade que os filhos tem para com seus pais. “Seja
toda alma sujeita aos poderes mais elevados” (Rom 13,1).
10.
Porquanto não é lícito desprezar o poder legítimo, seja qual for a pessoa em
que ele resida, mais do que resistir à vontade de Deus; ora, os que lhe
resistem correm por si mesmos para sua perda. “Quem resiste ao poder resiste à
ordem estabelecida por Deus, e os que lhe resistem atraem a si mesmos a
condenação” (Rom 5, 2). Assim, pois, sacudir a obediência e revolucionar a
sociedade por meio da sedição é um crime de lesa-majestade, não só humana, mas
divina.
11.
Sendo a sociedade política fundada sobre estes princípios, é evidente que ela
deve, sem falhar, cumprir por um culto público os numerosos e importantes
deveres que a unem a Deus.
Se
a natureza e a razão impõem a cada um a obrigação de honrar a Deus com um culto
santo e sagrado, porque nós dependemos do poder dele e porque, saídos dele, a
Ele devemos tornar, à mesma lei adstringem a sociedade civil.
Realmente,
unidos pelos laços de uma sociedade comum, os homens não dependem menos de Deus
do que tomados isoladamente; tanto, pelo menos, quanto o indivíduo, deve a
sociedade dar graças a Deus, de quem recebe a existência, a conservação e a
multidão incontável dos seus bens.
É
por isso que, do mesmo modo que a ninguém é lícito descurar os seus deveres
para com Deus, e que o maior de todos os deveres é abraçar de espírito e de
coração a religião, não aquela que cada um prefere, mas aquela que Deus
prescreveu e que provas certas e indubitáveis estabelecem como a única
verdadeira entre todas, assim também as sociedades não podem sem crime
comportar-se como se Deus absolutamente não existisse, ou prescindir da
religião como estranha e inútil, ou admitir uma indiferentemente, segundo seu
beneplácito.
Honrando
a Divindade, devem seguir estritamente as regras e o modo segundo os quais o
próprio Deus declarou querer ser honrado.
12.
Devem, pois, os chefes de Estado ter por santo o nome de Deus e colocar no
número dos seus principais deveres favorecer a religião, protegê-la com a sua
benevolência, cobri-la com a autoridade tutelar das leis, e nada estatuírem ou
decidirem que seja contrário à integridade dela.
E
isso devem-no eles aos cidadãos de que são chefes.
Todos
nós, com efeito, enquanto existimos, somos nascidos e educados em vista de um
bem supremo e final ao qual é preciso referir tudo, colocado que está nos céus,
além desta frágil e curta existência. Já que disso é que depende a completa e
perfeita felicidade dos homens, é do interesse supremo de cada um alcançar esse
fim. Como, pois, a sociedade civil foi estabelecida para a utilidade de todos,
deve, favorecendo a prosperidade pública, prover ao bem dos cidadãos de modo
não somente a não opor qualquer obstáculo, mas a assegurar todas as facilidades
possíveis à procura e à aquisição desse bem supremo e imutável ao qual eles
próprios aspiram.
A
primeira de todas consiste em fazer respeitar a santa e inviolável observância
da religião, cujos deveres unem o homem a Deus.
13.
Quanto a decidir qual religião é a verdadeira, isso não é difícil a quem quiser
julgar disso com prudência e sinceridade.
Efectivamente,
provas numerosíssimas e evidentes, a verdade das profecias, a multidão dos
milagres, a prodigiosa celeridade da propagação da fé, mesmo entre os seus
inimigos e a despeito dos maiores obstáculos, o testemunho dos mártires e
outros argumentos semelhantes, provam claramente que a única religião
verdadeira é a que o próprio Jesus Cristo instituiu e deu à sua Igreja a missão
de guardar e propagar.
(cont)
(revisão
da versão portuguesa por ama)