DE
PROFUNDIS
Por cima do meu mar revolto levantou-se um
nevoeiro espesso que me envolvia como num manto ou, talvez, uma mortalha bem à
minha medida já que não conseguia mexer-me. Queria muito tocar o nevoeiro, a
sua textura, de que era feito. Parecia-me como que uma espuma das ondas do mar
bravio mas, ao mesmo tempo, também se apresentava como uma nuvem etérea de uma
tarde de Inverno, mas, as minhas mãos não me obedeciam. Estavam onde deviam
estar, nas extremidade dos braços, aparentemente prontas e disponíveis para o que
fosse preciso, mas... não, não conseguia movê-las, ou melhor, moviam-se como se
tivessem vontade própria, para coçar uma comichão no nariz, a mão direita ia
"viajar" até à nuca, depois ao pescoço e, quando lhe parecia, lá
tocava no nariz. Entretanto, a esquerda, para carregar no botão do telemóvel
para atender uma chamada, encarava o serviço como algo tão difícil e custoso
que, normalmente, quem me chamava, desistia.
Nevoeiro e mar... que mais, Senhor, que
mais mandas? Olha que eu... não posso, sou fraco, débil, tenho medo!
Ne
timeas!
Ouvi-Te e... deixei-me “ir” murmurando como
podia: 'Gratias tibi, Gratibi'
(ama, reflexões, no hospital, 2007)
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