29/03/2014

Diário: 29 Mar 2014

Publicações de hoje

Evangelho diário e comentário

Tempo de Quaresma Semana III
Evangelho: Lc 18, 9-14

9 Disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos por se considerarem justos, e desprezavam os outros: 10 «Subiram dois homens ao templo a fazer oração: um era fariseu e o outro publicano. 11 O fariseu, de pé, orava no seu interior desta forma: Graças Te dou, ó Deus, porque não sou como os outros homens: ladrões, injustos, adúlteros, nem como este publicano. 12 Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de tudo o que possuo. 13 O publicano, porém, conservando-se a distância, não ousava nem sequer levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Meu Deus, tem piedade de mim, pecador. 14 Digo-vos que este voltou justificado para sua casa e o outro não; porque quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado». 

Comentário:

Este trecho do Evangelho de São Lucas, tão conhecido, é um excelente meio para fazer um exame pessoal bem profundo: 

Como é a nossa oração? 

Temos de ser leais e concretos e considerar como nos comportamos nessa conversa com Deus que é – deve ser – a oração.

Pedimos o que julgamos precisar, seja o que for e está bem porque o Senhor espera que Lhe digamos das nossas necessidades, mesmo aquelas que não sabemos bem se são, de facto, necessidades ou meros desejos insatisfeitos. Ele fará o Seu juízo que é, sempre, justíssimo. 

Mas, se depois desse exame chegarmos a uma conclusão que defina que não estamos contentes com a forma como rezamos, então,  digamos-lhe com toda a franqueza e simplicidade: 

Senhor: ensina-me, ajuda-me a rezar! 

(ama, comentário sobre Lc 18, 9-14, 2014.01.22)

Leitura espiritual para Mar 29

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.

Evangelho: Lc 13, 31-35; 14, 1-14

31 No mesmo dia alguns dos fariseus foram dizer-Lhe: «Sai e vai-Te daqui porque Herodes quer matar-Te». 32 Ele respondeu-lhes: «Ide dizer a essa raposa: Eis que Eu expulso os demónios e faço curas hoje e amanhã, e ao terceiro dia atinjo o Meu termo. 33 Importa, contudo, que Eu caminhe ainda hoje, amanhã e no dia seguinte; porque não convém que um profeta morra fora de Jerusalém. 34 «Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados, quantas vezes quis juntar os teus filhos como a galinha recolhe os seus pintainhos debaixo das asas, e tu não quiseste! 35 Eis que a vossa casa vos será deixada deserta. Digo-vos que não Me vereis, até que venha o dia em que digais: “Bendito O que vem em nome do Senhor”».
14 1 Entrando Jesus, um sábado, em casa de um dos principais fariseus, para comer, eles estavam a observá-l'O. 2 Encontrava-se diante d'Ele um homem hidrópico.3 Jesus, dirigindo a palavra aos doutores da lei e aos fariseus, disse-lhes: «É lícito ou não fazer curas ao sábado?».4 Eles ficaram calados. Então Jesus, pegando no homem pela mão, curou-o e mandou-o embora. 5 Dirigindo-se depois a eles, disse: «Qual de vós, se o seu filho ou seu boi cair num poço, não o tirará imediatamente ainda que seja em dia de sábado?». 6 Eles não sabiam que replicar a isto. 7 Disse também uma parábola, observando como os convidados escolhiam os primeiros lugares à mesa: 8 «Quando fores convidado para um banquete nupcial, não te coloques no primeiro lugar, porque pode ser que outra pessoa de mais consideração do que tu tenha sido convidada pelo dono da casa,9 e que venha quem te convidou a ti e a ele e te diga: Cede o lugar a este; e tu, envergonhado, vás ocupar o último lugar. 10 Mas, quando fores convidado, vai tomar o último lugar, para que, quando vier quem te convidou, te diga: Amigo, vem mais para cima. Então terás com isto glória na presença de todos os convidados;11 porque todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado». 12 Dizia mais àquele que O tinha convidado: «Quando deres um almoço ou um jantar, não convides os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem os vizinhos ricos; para que não aconteça que também eles te convidem e te paguem com isso. 13 Mas, quando deres algum banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos; 14 e serás bem-aventurado, porque esses não têm com que retribuir-te; mas ser-te-á isso retribuído na ressurreição dos justos».

Documentos do Concílio Vaticano II

CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA
LUMEN GENTIUM
SOBRE A IGREJA

CAPÍTULO VI

A VOCAÇÃO DE TODOS À SANTIDADE NA IGREJA

OS RELIGIOSOS

Os conselhos evangélicos e o estado religioso

43. Os conselhos evangélicos de castidade consagrada a Deus, de pobreza e de obediência, visto que fundados sobre a palavra e o exemplo de Cristo e recomendados pelos Apóstolos, pelos Padres, Doutores e Pastores da Igreja, são um dom divino, que a mesma Igreja recebeu do seu Senhor e com a Sua graça sempre conserva. A autoridade da Igreja, sob a direcção do Espírito Santo, cuidou de regular a sua prática e também de constituir, à base deles, formas estáveis de vida. E assim sucedeu que, como em árvore plantada por Deus e maravilhosa e variamente ramificada no campo do Senhor, surgiram diversas formas de vida, quer solitária quer comum, e várias famílias religiosas, que vêm aumentar as riquezas espirituais, tanto em proveito dos seus próprios membros como no de todo o Corpo de Cristo (136). Com efeito, essas famílias dão aos seus membros os auxílios duma estabilidade mais firme no modo de vida, duma doutrina segura em ordem a alcançar a perfeição, duma comunhão fraterna na milícia de Cristo, duma liberdade robustecida pela obediência, para assim poderem cumprir com segurança e guardar fielmente a profissão religiosa e avançar jubilosos no caminho da caridade (137).

Tendo em conta a constituição divina hierárquica da Igreja, este estado não é intermédio entre o estado dos clérigos e o dos leigos, de ambos estes estados são chamados por Deus alguns cristãos, a usufruirem um dom especial na vida da Igreja e, cada um a seu modo, a ajudarem a sua missão salvadora (138).

Consagração ao serviço divino, o testemunho de vida

44. Pelos votos, ou outros compromissos sagrados a eles semelhantes, com os quais se obriga aos três mencionados conselhos evangélicos, o cristão entrega-se totalmente ao serviço de Deus sumamente amado, de maneira que por um título novo e especial fica destinado ao serviço do Senhor. Já pelo Baptismo, morrera ao pecado e fora consagrado a Deus, mas, para poder recolher frutos mais abundantes dá graça baptismal, pretende libertar-se, pela profissão dos conselhos evangélicos na Igreja, dos impedimentos que o poderiam afastar do fervor da caridade e da perfeição do culto divino, é consagrado mais intimamente ao serviço divino (139). E esta consagração será tanto mais perfeita quanto mais a firmeza e a estabilidade dos vínculos representarem a indissolúvel união de Cristo à Igreja, Sua esposa.

E como os conselhos evangélicos, em razão da caridade a que conduzem (140), de modo especial unem à Igreja e ao seu mistério aqueles que os seguem, deve também a sua vida espiritual ser consagrada ao bem de toda ela. Daqui nasce o dever de trabalhar na implantação e consolidação do reino de Cristo nas almas e de o levar a todas as regiões com a oração ou também com a acção, segundo as próprias forças e a índole da própria vocação. Por isso, a Igreja defende e favorece a índole própria dos vários Institutos religiosos.

A profissão dos conselhos evangélicos aparece assim como um sinal, que pode e deve atrair eficazmente todos os membros da Igreja a corresponderem animosamente às exigências da vocação cristã. E porque o Povo de Deus não tem na terra a sua cidade permanente, mas vai em demanda da futura, o estado religioso, tornando os seus seguidores mais livres das preocupações terrenas, manifesta também mais claramente a todos os fiéis os bens celestes, já presentes neste mundo, é assim testemunha da vida nova é eterna, adquirida com a redenção de Cristo, e preanuncia a ressurreição futura e a glória do reino celeste. O mesmo estado religioso imita mais de perto, e perpetuamente representa na Igreja aquela forma de vida que o Filho de Deus assumiu ao entrar no mundo para cumprir a vontade do Pai, e por Ele foi proposta aos discípulos que O seguiam. Finalmente, o estado religioso patenteia de modo especial a elevação do reino de Deus sobre tudo o que é terreno e as suas relações transcendentes, e revela aos homens a grandeza do poder de Cristo Rei e a potência infinita com que o Espírito Santo maravilhosamente actua na Igreja.

Portanto, o estado constituído pela profissão dos conselhos evangélicos, embora não pertença à estrutura hierárquica da Igreja, está contudo inabalavelmente ligado à sua vida e santidade.

Regras e constituições
A relação com a Hierarquia

45. Sendo dever da Hierarquia pastorear o Povo de Deus e conduzi-lo a abundante pastio (cfr. Ez. 34,14), a ela pertence regular com sábias leis a prática dos conselhos evangélicos, que tanto ajudam à perfeição da caridade para com Deus e o próximo (141). Dócil à moção do Espírito Santo, ela acolhe as regras, propostas por homens e mulheres eminentes é, depois de aperfeiçoadas, aprova-as autenticamente, e assiste com vigilância e protecção de sua autoridade aos Institutos, por toda a parte fundados para a edificação do Corpo de Cristo, para que cresçam e floresçam segundo o espírito dos fundadores.

Para que melhor se atenda às necessidades de todo o rebanho do Senhor, qualquer Instituto de perfeição e cada um dos seus membros, podem ser isentos pelo Sumo Pontífice, em razão do seu primado sobre toda a Igreja, da jurisdição do Ordinário do lugar e ficar sujeitos só a ele, em vista do bem comum (142). Podem igualmente ser deixados, ou confiados, à autoridade patriarcal própria. E os membros dos Institutos de perfeição, ao cumprir o seu dever para com a Igreja, segundo o modo peculiar da sua vida, devem, de acordo com as leis canónicas, respeito e obediência aos Bispos, em atenção à sua autoridade de pastores das igrejas particulares e à necessária unidade e harmonia no trabalho apostólico (143).

Mas a Igreja não se limita a elevar, com a sua aprovação, a profissão religiosa à dignidade de estado canónico, senão que a manifesta também na sua liturgia como estado consagrado a Deus. Com efeito, pela autoridade que Deus lhe concedeu, ela recebe os votos dos que professam, implora para eles, com a sua oração pública, os auxílios da graça, recomenda-os a Deus e concede-lhes a bênção espiritual, unindo a sua oblação ao sacrifício eucarístico.

Pureza de vida ao serviço do mundo

46. Procurem os religiosos com empenho que, por seu intermédio, a Igreja revele cada vez mais Cristo aos fiéis e infiéis, Cristo orando sobre o monte, anunciando às multidões o reino de Deus, curando os doentes e feridos, trazendo os pecadores à conversão, abençoando as criancinhas e fazendo bem a todos, obediente em tudo à vontade do Pai que O enviou (144).

Finalmente, todos tenham presente que a profissão dos conselhos evangélicos, ainda que importa a renúncia a bens de grande valor, não se opõe, contudo, ao verdadeiro desenvolvimento da pessoa humana, más antes a favorece grandemente. Na verdade, os conselhos evangélicos, assumidos livremente segundo a vocação pessoal de cada um, contribuem muito para a pureza de coração e liberdade de espírito, alimentam continuamente o fervor da caridade e, sobretudo, como bem o demonstra o exemplo de tantos santos fundadores, podem levar o cristão a conformar-se mais plenamente com o género de vida virginal e pobre que Cristo Nosso Senhor escolheu para Si e a Virgem Sua mãe abraçou. Nem se pense que os religiosos, pela sua consagração, se tornam estranhos aos homens ou inúteis para a cidade terrena. Pois, mesmo quando não prestam uma ajuda directa aos seus contemporâneos, têm-nos sempre presentes dum modo mais profundo, no amor de Cristo, e colaborara espiritualmente com eles, a fim de que a construção da cidade terrena se funde sempre no Senhor e para Ele se oriente, não seja que trabalhem em vão os que edificam a casa (145).

Por isso, finalmente, o sagrado Concílio confirma e louva os homens e mulheres, Irmãos e Irmãs, que, nos mosteiros, escolas, hospitais ou missões, embelezam a Igreja com a sua perseverante e humilde fidelidade na mencionada consagração, e prestam generosamente aos homens os mais variados serviços.

Conclusão: perseverança e santidade

47. Cada um dos que foram chamados à profissão dos conselhos, cuide com empenho de perseverar na vocação a que o Senhor o chamou, e de nela se aperfeiçoar para maior santidade da Igreja e maior glória da una e indivisa Trindade, a qual em Cristo e por Cristo é a fonte e origem de toda a santidade.


CAPÍTULO VII

A ÍNDOLE ESCATOLÓGICA DA IGREJA PEREGRINA E A SUA UNIÃO COM A IGREJA CELESTE

Caráter escatológico da nossa vocação à Igreja

48. A Igreja, à qual todos somos chamados e na qual por graça de Deus alcançamos a santidade, só na glória celeste alcançará a sua realização acabada, quando vier o tempo da restauração de todas as coisas (cfr. Act. 3,21) e, quando, juntamente com o género humano, também o universo inteiro, que ao homem está intimamente ligado e por ele atinge o seu fim, for perfeitamente restaurado em Cristo (cfr. Ef, 1,10, Col. 1,20, 2 Ped. 3, 10-13).

Na verdade, Cristo, elevado sobre a terra, atraiu todos a Si (cfr. Jo. 12,32 gr.), ressuscitado de entre os mortos (cfr. Rom. 6,9), infundiu nos discípulos o Seu Espírito vivificador e por Ele constituiu a Igreja, Seu corpo, como universal sacramento da salvação, sentado à direita do Pai, actua continuamente na terra, a fim de levar os homens à Igreja e os unir mais estreitamente por meio dela, e, alimentando-os com o Seu próprio corpo e sangue, os tornar participantes da Sua vida gloriosa. A prometida restauração que esperamos, já começou, pois, em Cristo, progride com a missão do Espírito Santo e, por Ele, continua na Igreja, nesta, a fé ensina-nos o sentido da nossa vida temporal, enquanto, na esperança dos bens futuros, levamos a cabo a missão que o Pai nos confiou no mundo e trabalhamos na nossa salvação (cfr. Fil. 2,12).

Já chegou, pois, a nós, a plenitude dos tempos (cfr. 1 Cor. 10,11), a restauração do mundo foi já realizada irrevogavelmente e, de certo modo, encontra-se já antecipada neste mundo: com efeito, ainda aqui na terra, a Igreja está aureolada de verdadeira, embora imperfeita, santidade. Enquanto não se estabelecem os novos céus e a nova terra em que habita a justiça (cfr. 2 Ped. 3,13), a Igreja peregrina, nos seus sacramentos e nas suas instituições, que pertencem à presente ordem temporal, leva a imagem passageira deste mundo e vive no meio das criaturas que gemem e sofrem as dores de parto, esperando a manifestação dos filhos de Deus (cfr. Rom. 8, 19-22).

Unidos, pois, a Cristo na Igreja, e marcados com o sinal do Espírito Santo «que é o penhor da nossa herança» (Ef. 1,14), chamamo-nos filhos de Deus e em verdade o somos (cfr. 1 Jo. 3,1), mas não aparecemos ainda com Cristo na glória (cfr. Col. 3,4), na qual seremos semelhantes a Deus, porque O veremos como Ele é (cfr. 1 Jo. 3,2). E assim, «enquanto estamos no corpo, vivemos exilados, longe do Senhor» (2 Cor. 5,6) e, tendo recebido as primícias do Espírito, gememos no nosso íntimo (cfr. Rom. 8,23) e anelamos por estar com Cristo (cfr. Fil. 1,23). Por este mesmo amor somos incitados a viver mais para Ele, que por nós morreu e ressuscitou (cfr. 2 Cor. 5,15). Esforçamo-nos, por isso, por agradar a Deus em todas as coisas (cfr. 2 Cor. 5,9) e revestimo-nos da armadura de Deus, para podermos fazer frente às maquinações do diabo e resistir no dia perverso (cfr. Ef. 6, 11-13). Mas, como não sabemos o dia nem a hora, é preciso que, segundo a recomendação do Senhor, vigiemos continuamente, a fim de que no termo da nossa vida sobre a terra, que é só uma (cfr. Hebr. 9,27), mereçamos entrar com Ele para o banquete de núpcias e ser contados entre os eleitos (cfr. Mt. 25, 51-46), e não sejamos lançados, como servos maus e preguiçosos (cfr. M t. 25,26), no fogo eterno (cfr. Mt. 25,41), nas trevas exteriores, onde «haverá choro e ranger de dentes» (Mt. 22,13, 25,30). Com efeito, antes de reinarmos com Cristo glorioso, cada um de nós será apresentado «perante o tribunal de Cristo, a fim de ser remunerado pelas obras que realizou enquanto vivia no corpo, boas ou más» (2 Cor. 5,10), e, no fim do mundo, «os que tiverem feito boas obras, irão para a ressurreição da vida, os que tiverem praticado más acções, para a ressurreição da condenação (Jo. 5,29, cfr. Mt. 25,46). Pensando, pois, que «os sofrimentos desta vida não têm proporção com a glória que se há-de revelar em nós» (Rom. 8,18, cfr. 2 Tim. 2, 11-12), fortalecidos pela fé, aguardamos «a bem-aventurada esperança e a vinda gloriosa do grande Deus e salvador nosso Jesus Cristo), (Tit. 2,13), «o qual transformará o nosso corpo miserável, tornando-o conforme ao Seu corpo glorioso), (Fil. 3,21) e virá «ser glorificado nos Seus santos e admirado em todos os que acreditaram), (2 Tess. 1,10).

União da Igreja celeste com a Igreja peregrina

49. Deste modo, enquanto o Senhor não vier na Sua majestade e todos os Seus anjos com Ele (cfr. Mt. 25,31) e, vencida a morte, tudo Lhe for submetido (cfr. 1 Cor. 15, 26-27), dos Seus discípulos uns peregrinam sobre a terra, outros, passada esta vida, são purificados, outros, finalmente, são glorificados e contemplam «claramente Deus trino e uno, como Ele é» (146), todos, porém, comungamos, embora em modo e grau diversos, no mesmo amor de Deus e do próximo, e todos entoamos ao nosso Deus o mesmo hino de louvor. Com efeito, todos os que são de Cristo e têm o Seu Espírito, estão unidos numa só Igreja e ligados uns aos outros n'Ele (cfr. Ef. 4,16). E assim, de modo nenhum se interrompe a união dos que ainda caminham sobre a terra com os irmãos que adormeceram na paz de Cristo, mas antes, segundo a constante fé da Igreja, é reforçada pela comunicação dos bens espirituais (147). Porque os bem-aventurados, estando mais ìntimamente unidos com Cristo, consolidam mais firmemente a Igreja na santidade, enobrecem o culto que ela presta a Deus na terra, e contribuem de muitas maneiras para a sua mais ampla edificação em Cristo (cfr. 1 Cor. 12, 12-27) (148). Recebidos na pátria celeste e vivendo junto do Senhor (cfr. 2 Cor. 5,8), não cessam de interceder, por Ele, com Ele e n'Ele, a nosso favor diante do Pai (149), apresentando os méritos que na terra alcançaram, graças ao mediador único entre Deus e os homens, Jesus Cristo (cfr. 1 Tim., 2,5), servindo ao Senhor em todas as coisas e completando o que falta aos sofrimentos de Cristo, em favor do Seu corpo que é a Igreja (cfr. Col. 1,24) (150). A nossa fraqueza é assim grandemente ajudada pela sua solicitude de irmãos.

(cont)

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.

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Notas:
136. Cfr. Rosweydus, Vitae Patrum, Anvers, 1628, Apophtegmata Patrum: PG 65. Paladius, Historia Lausiaca: PG 34, 995 ss.: ed. Butler, Cambridge 1898 (1904). Pio XI, Const. Apost. Umbratilem, 8 jul. 1924: AAS 16 (1924) pp. 386-387. Pio XII, Aloc. Nous sommes heureux, 11 abr. 1958:. AAS 50 (1958) p. 283.
137. Cfr. Paulo VI, Aloc. Magno gaudio, 23 maio 1964: AAS 56 (1964), p. 566.
138. Cfr. Cod. Iur. Can., e. 487 e 488, 4.°, Pio XII, Aloc. Annus sacer, 8 dez. 1950: AAS 43 (1951) p. 27 s., Pio XII, Const. Apost. Provida Mater, 2. fev. 1947: AAS 39 (1947) p. 120 ss.
139. Cfr. Paulo VI, 1. c., p. 567.
140. Cfr. S. Tomás, Summa Theol. II-II, q, 184, a. 3 e q. 188, a. 2. S. Boaventura, Opusc. XI, Apologia Pauperum, e. 3, 3: ed. Opera, Quaracchi, 1898, t. 8, p. 245 a.
141. Cfr. Cone. Vat. I, Esquema De Ecclesia Christi, cap. XV, e Adnot. 48: Mansi 51, 549 s. e 619 s. - Leão XIII, Carta Au milieu des consolations, 23 dez. 1900: ASS 33 (1900-01) p. 361. Pio XII, Const. Apost. Provida Mater, l. c., p. 114 s.
142. Cfr. Leão XIII, Const. Romanos Pontifices, 8 maio 1881: ASS 13 (1880-81) p. 483. Pio XII, Aloc. Annus sacer, 8 dez. 1950: AAS 43 (1951) p. 28 s.
143. Cfr. Pio XII, Aloc. Annus sacer, 1. c., p, 28. Pio XII, Const. Apost. Sedes Sapientiae, 31 maio 1956: AAS 48 (1956) p. 355. Paulo VI, Aloc. Magno gaudio, 23 maio 1964: AAS 56 (1964), p. 570-571.
144. Cfr. Pio XII, Encícl. Mystici Corporis, 29 jun. 1943: AAS 35 (1943) p. 214 s.
145. Cfr. Pio XII, Aloc. Annus sacer, 1. c., p. 30. Aloc. Sous Ia maternelle protection, 9 dez. 1957: AAS 50 (1958) p. 39 s.
146. Conc. Florentino, Decretum pro Graecis: Denz. 693 (1305).
147. Além de documentos mais antigos contra qualquer forma de evocação dos espíritos a partir de Alexandre IV (27 set. 1258), efr. Carta do Santo Oficio, De magnetismi abusu, 4 ago. 1856: ASS (1865) pp. 177-178, Denz. 1653-1654 (2823-2825), resposta do Santo Ofício, 24 abr. 1917: AAS 9 (1917) p. 268, Denz. 2182 (3642).
148. Veja-se a exposição sintética desta doutrina paulina em: Pio XII Encícl. Mystici Corporis: AAS 35 (1943) p. 200, etc., etc.
149. Cfr. S. Agostinho, Enar. in Ps. 85, 24: PL 37, 1099. S. Jerónimo, Liber contra Vigilantium, 6: PL 23, 344. S. Tomás, In 4m Sent., d. 45, q. 3, a. 2. S. Boaventura, In 4m Sent., d. 45, a. 3 q. 2, etc.
150. Cfr. Pio XII, Encícl. Mystici Corporis: AAS 35 (1943) p. 245.


Tratado dos vícios e pecados 43

Questão 78: Da causa do pecado, por parte da vontade, chamada malícia.

Art. 3 — Se quem peca por malícia intencional peca por hábito.

(II Sent., dist. XLIII, a. 2; In Matth., cap. XII).

O terceiro discute-se assim. — Parece que quem peca por malícia intencional peca por hábito.

1. — Pois, diz o Filósofo, que nem todos podem praticar actos injustos, ao modo do injusto, i. é, por eleição, mas, só o que tem o hábito para tal. Ora, pecar por malícia intencional é fazê-lo, com eleição do mal, conforme já se disse. Logo, só quem tem o hábito pode pecar por malícia intencional.

2. Demais. — Orígenes diz que ninguém se anula ou falha subitamente, mas só paulatinamente e aos poucos há-de resvalar. Ora, o máximo deslize é pecar por malícia intencional. Logo, não é repentinamente e desde o princípio, mas por um costume diuturno, capaz de gerar o hábito, que chegamos a pecar por essa malícia.

3. Demais. — Sempre que pecamos por malícia intencional, necessariamente a vontade por si mesma inclinar-se-á ao mal que elegeu. Ora, pela própria natureza da potência, o homem não se inclina para o mal, mas ao contrário, para o bem. Logo, se escolhe o mal fá-lo necessariamente por alguma coisa sobreveniente, a saber, a paixão ou o hábito. Ora, quem peca por paixão não peca por malícia intencional, mas por fraqueza, como já se disse. Logo, quem peca por malícia intencional há-de, sempre e necessariamente, pecar por hábito.

Mas, em contrário. — O hábito bom está para a eleição do bem, como o mau, para a do mal. Ora, podemos sem termos o hábito da virtude, escolher o que é virtuosamente bom. Logo, também podemos eleger o mal, sem termos um hábito vicioso, e isso é pecar por malícia intencional.

A vontade comporta-se, de um modo, em relação ao bem e, de outro, ao mal. Pois, pela natureza da sua potência, inclina-se para o bem racional como para o objecto próprio, e por isso todo pecado é considerado contrário à razão. Portanto e necessariamente, só por alguma causa estranha a eleição da vontade se inclina para o mal. E, isso às vezes dá-se por deficiência da razão, como quando pecamos por ignorância, outras, por impulso do apetite sensitivo, como quando pecamos por paixão. E em nenhum destes casos pecamos por malícia intencional, mas só quando a vontade se move propriamente para o mal. O que pode dar-se de dois modos. — Primeiro, por alguma disposição corrupta, inclinante para o mal, de modo a, em vista dessa disposição, algum mal nos ser conveniente e semelhante, para o qual, em razão da semelhança, a vontade tende como se fosse bem. Pois, cada ser tende, em si mesmo, ao que lhe é conveniente. E essa disposição corrupta é ou um hábito adquirido pelo costume, que se converteu em natureza, ou algum hábito corpóreo doentio, como quando temos certas inclinações naturais para certos pecados, por causa da corrupção da nossa natureza.

De outro modo, a vontade pode tender, por si mesma, para o mal, pela remoção de um obstáculo proibitivo. Assim, se nos abstivermos de pecar, não propriamente por nos desagradar o pecado, mas pela esperança da vida eterna, ou pelo temor da Geena, uma vez perdida a esperança, pelo desespero, ou o temor, pela presunção, resultará o pecarmos por malícia intencional e quase sem freios.

Donde fica claro, que o pecado, cometido por malícia intencional, sempre pressupõe alguma desordem no homem, que contudo nem sempre é habitual. Portanto, quem peca por malícia intencional nem por isso peca por hábito, necessariamente.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Proceder como o injusto é, não somente praticar actos injustos por malícia intencional, mas ainda com prazer, e sem grave oposição da razão. Ora, isso só o faz quem assim age habitualmente.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Não é repentinamente que resvalamos, pecando por malícia intencional, mas isso pressupõe uma causa que nem sempre é um hábito, como já se disse.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O que inclina a vontade para o mal nem sempre é um hábito ou paixão, mas podem ser algumas outras coisas, como já se disse.

RESPOSTA À QUARTA. — A eleição do bem e a do mal não têm o mesmo fundamento. Pois, ao passo que o mal nunca existe sem o bem natural, o bem pode existir sem o mal da culpa perfeita.


Revisão da tradução portuguesa por ama

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Reflectindo 12

Félix culpa


Ocorre-me que se o Senhor não veio chamar pois justos mas, sim, os pecadores, então posso considerar-me afortunado pois, pecador como dou, Ele não me deixará sem o Seu auxílio e protecção, de me assistir e socorrer nos momentos em que a minhas fraquezas mais se fazem  sentir e as minhas forças mais se debilitam.

Tenho pena de ser pecador ofender meu Senhor e o Meu Deus que não merece que O maltrate, mas, ao mesmo tempo apetece-me exclamar: 

Ó “félix culpa” que me merece o perdão.

ama, 2013


Temas para meditar 57

Serenidade


Temos de fazer um trato com o coração: não actuar, não decidir, não dizer nada enquanto ele estiver agitado, quer pela ira, quer pela paixão ou por qualquer onda de emotividade.



(rafael llano cifuentesFortaleza, Quadrante, 1991, pg. 66)

Pequena agenda do cristão


Sábado

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)

Propósito: Honrar a Santíssima Virgem.

A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da Sua serva, de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas, santo é o Seu nome. O Seu Amor se estende de geração em geração sobre os que O temem. Manifestou o poder do Seu braço, derrubou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel Seu servo, lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a Abraão e à sua descendência para sempre.

Lembrar-me: Santíssima Virgem Mãe de Deus e minha Mãe.

Minha querida Mãe: Hoje queria oferecer-te um presente que te fosse agradável e que, de algum modo, significasse o amor e o carinho que sinto pela tua excelsa pessoa.
Não encontro, pobre de mim, nada mais que isto: O desejo profundo e sincero de me entregar nas tuas mãos de Mãe para que me leves a Teu Divino Filho Jesus. Sim, protegido pelo teu manto protector, guiado pela tua mão providencial, não me desviarei no caminho da salvação.

Pequeno exame: Cumpri o propósito que me propus ontem?

Senhor, não sei rezar!

Se desejas deveras ser alma penitente – penitente e alegre –, deves defender, acima de tudo, os teus tempos diários de oração, de oração íntima, generosa, prolongada, e hás-de procurar que esses tempos não sejam ao acaso, mas a hora fixa, sempre que te for possível. Sê escravo deste culto quotidiano a Deus, e garanto-te que te sentirás constantemente alegre. (Sulco, 994)

Quando vejo como algumas pessoas entendem a vida de piedade, o convívio de um cristão com o seu Senhor, e dela me apresentam uma imagem desagradável, teórica, feita de fórmulas, repleta de lengalengas sem alma, que mais favorecem o anonimato do que a conversa pessoal, de tu a tu, com o nosso Pai Deus – a autêntica oração vocal nunca admite o anonimato – recordo aquele conselho do Senhor: nas vossas orações, não useis muitas palavras, como os gentios, os quais julgam que serão ouvidos à força de palavras. Não os imiteis, porque o Vosso Pai sabe o que vos é necessário antes de que vós lho peçais. E comenta um Padre da Igreja: penso que Cristo manda que evitemos as orações longas; longas, porém, não quanto ao tempo, mas quanto à multiplicidade interminável de palavras... O próprio Senhor nos deu o exemplo da viúva que, à força de súplicas, venceu a renitência do juiz iníquo; e o daquele importuno que chegou a desoras, à noite, e pela sua teimosia, mais do que pela amizade, conseguiu que o amigo se levantasse da cama (cfr. Lc XI, 5–8; XVIII, 1–8). Com esses dois exemplos manda-nos que peçamos constantemente, não compondo orações intermináveis, mas antes contando-lhe com simplicidade as nossas necessidades.


De qualquer modo, se ao iniciar a vossa meditação não conseguis concentrar a atenção para conversar com Deus, se vos sentis secos e a cabeça parece que não é capaz de ter sequer uma ideia ou se os vossos afectos permanecem insensíveis, aconselho-vos o que tenho procurado praticar sempre nessas circunstâncias: ponde-vos na presença do vosso Pai e dizei-Lhe pelo menos: "Senhor, não sei rezar, não me lembro de nada para Te contar!"... e estai certos de que nesse mesmo instante começastes a fazer oração. (Amigos de Deus, 145)