Tempo comum XXV Semana
Evangelho:
Lc 9, 18-22
18 Aconteceu que, estando a orar só, se encontravam com
Ele os Seus discípulos. Jesus interrogou-os: «Quem dizem as multidões que Eu
sou?». 19 Responderam e disseram: «Uns dizem que és João Baptista,
outros que Elias, outros que ressuscitou um dos antigos profetas». 20
Ele disse-lhes: «E vós quem dizeis que sou Eu?». Pedro, respondendo, disse: «O
Cristo de Deus». 21 Mas Ele, em tom severo, mandou que não o
dissessem a ninguém, 22 acrescentando: «É necessário que o Filho do
Homem padeça muitas coisas, que seja rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes
dos sacerdotes e pelos escribas, que seja morto e ressuscite ao terceiro dia. 23
Depois, dirigindo-Se a todos disse: «Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si
mesmo, tome a sua cruz todos os dias, e siga-Me. 24 Porque quem
quiser salvar a sua vida, a perderá; e quem perder a sua vida por causa de Mim,
salvá-la-á. 25 Que aproveita ao homem ganhar todo o mundo, se se
perde a si mesmo ou se faz dano a si? 26 Porque quem se envergonhar
de Mim e das Minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele,
quando vier na Sua majestade e na de Seu Pai e dos santos anjos.
Comentário:
Quando se dá a vida para seguir Jesus
tem-se duas certezas:
A primeira traduz uma escolha de primeira grandeza com recompensas e benefícios
incontáveis aqui nesta terra;
A segunda - seguramente a mais importante - é a certeza do prémio final que é a
conquista da vida eterna.
(ama,
comentário sobre Lc
18 19-22 2014.09.26)
Leitura espiritual
CRISTO QUE
PASSA
Oposição a Cristo
Muitos não suportam que
Cristo reine.
Opõem-se-lhe de mil
maneiras, quer nos planos gerais de governo do mundo e da convivência humana,
quer nos costumes, quer na arte ou na ciência.
Até na própria Igreja!
Eu não falo - escreve Santo Agostinho - dos
malvados que blasfemam de Cristo.
São raros,
efectivamente, os que O blasfemam com a língua, mas são muitos os que O
blasfemam com a própria conduta.
Para alguns é molesta a
própria expressão Cristo Rei, talvez por uma superficial questão de palavras
como se o reinado de Cristo pudesse confundir-se com fórmulas políticas, ou
porque a confissão da realeza do Senhor os levaria a admitir uma lei.
E não toleram a lei,
mesmo a do amável preceito da caridade, visto que não querem aproximar-se do
amor de Deus. São os que só ambicionam servir o seu próprio egoísmo.
O Senhor levou-me a
repetir, desde há muito tempo, um grito calado: serviam! servirei.
Que Ele nos aumente
essas ânsias de entrega, de fidelidade ao seu chamamento divino - com
naturalidade, sem aparato, sem barulho - no meio da rua.
Demos-lhe graças do
fundo do coração. Dirijamos-lhe uma oração de súbditos, de filhos! - e a língua
e o paladar encher-se-nos-ão de doçura com tal intensidade, que tratar do Reino
de Deus nos saberá como a favo de mel, porque se trata dum Reino de liberdade,
da liberdade que Ele ganhou para nós.
180
Cristo, Senhor do mundo
Gostaria de considerar
convosco como esses Cristo, que - terna criança - vimos nascer em Belém, é o
Senhor do mundo.
Eis as razões: por Ele
foram criados todos os seres nos céus e na Terra; Ele reconciliou com o Pai
todas as coisas, restabelecendo a paz entre o Céu e a Terra, por meio do sangue
que derramou na Cruz. Hoje Cristo reina, à direita do Pai; aqueles dois anjos
de vestes brancas declararam aos discípulos que, atónitos, estavam a contemplar
as nuvens, depois da Ascensão do Senhor: Homens
da Galileia, porque estais assim a olhar para o Céu? Esse Jesus, que vos foi arrebatado
para o Céu, virá da mesma maneira, como agora O vistes partir para o Céu.
Por Ele reinam os reis,
com a diferença de que os reis, as autoridades humanas, passam e o reino de
Cristo permanecerá por toda a eternidade, o seu reino é um reino eterno e o seu
domínio perdurará de geração em geração.
O reino de Cristo não é
um modo de dizer, nem uma imagem de retórica. Cristo vive, também como homem,
com aquele mesmo corpo que assumiu na Encarnação, que ressuscitou depois da
Cruz e subsiste glorificado na Pessoa do Verbo juntamente com a sua alma humana.
Cristo, Deus e Homem verdadeiro, vive e reina e é o Senhor do mundo.
Só por Ele se mantém na
vida tudo o que vive.
Mas então porque é que
não aparece agora em toda a sua glória? Porque o seu reino não é deste mundo,
ainda que esteja no mundo. Replicou Jesus a Pilatos: Eu sou Rei! Para isto nasci, e para isso vim ao mundo, para dar
testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz.
Aqueles que esperavam do
Messias um poderio temporal visível, enganavam-se: porque o Reino de Deus não
consiste em comer e beber, mas em paz, justiça e alegria no Espírito Santo.
Verdade e justiça, paz e
júbilo no Espírito Santo.
Esse é o reino de
Cristo.
A acção divina que salva
os homens culminará com o fim da história, quando o Senhor, que Se senta no
mais alto do paraíso, vier julgar definitivamente os homens.
Quando Cristo inicia a
sua pregação na Terra, não oferece um programa político, mas diz: fazei
penitência, porque está perto o reino dos Céus.
Encarrega os seus
discípulos de anunciar esta boa nova e ensina a pedir, na oração, a chegada do
reino, isto é o reino dos Céus e a sua justiça, uma vida santa, aquilo que
temos de procurar em primeiro lugar, a única coisa verdadeiramente necessária.
A salvação pregada por
Nosso Senhor Jesus Cristo é um convite dirigido a todos: o reino dos céus é
semelhante a um rei, que fez as núpcias de seu filho.
E mandou os seus servos
chamar convidados para as núpcias.
Por isso, o Senhor
revela que o reino dos Céus está no meio de vós.
Ninguém se encontra
excluído da salvação se adere livremente às exigências amorosas de Cristo:
nascer de novo fazer-se como menino, na simplicidade de espírito; afastar o
coração de tudo aquilo que aparte de Deus.
Jesus quer factos; não
só palavras; e um esforço, denodado, porque apenas aqueles que lutam serão
merecedores da herança eterna.
A perfeição do reino - o
juízo definitivo de salvação ou de condenação - não se dará na Terra.
Agora o reino é como uma
semente, como o crescimento do grão de mostarda.
O seu fim será como a
rede que apanhava toda a espécie de peixes, donde - depois de trazida para a
areia - serão extraídos, para destinos diferentes, os que praticaram a justiça
e os que fizeram a iniquidade.
Mas, enquanto aqui
vivemos, o reino assemelha-se à levedura que uma mulher tomou e misturou com
três medidas de farinha, até que toda a massa ficou fermentada.
Quem compreender o reino
que Cristo propõe, reconhece que vale a pena jogar tudo para o conseguir: é a
pérola que o mercador adquire à custa de vender tudo o que possui, é o tesoiro
encontrado no campo.
O reino dos céus é uma
conquista difícil e ninguém tem a certeza de o alcançar, embora o clamor
humilde do homem arrependido consiga que se abram as suas portas de par em par.
Um dos ladrões que foram
crucificados com Jesus suplica-Lhe: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares
no teu reino.
E Jesus disse-lhe: Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no
paraíso.
181
O reino da alma
Como, és grande, Senhor,
Nosso Deus!
Tu és quem dá à nossa
vida sentido sobrenatural e eficácia divina.
Tu és a causa de que,
por amor de teu filho, com todas as forças do nosso ser, com a alma e com o
corpo, possamos repetir: oportet illum
regnare!, enquanto ressoa o eco da nossa debilidade, porque sabes que somos
criaturas - e que criaturas! - feitas de barro, dos pés à cabeça, sem esquecer
o coração. Perante o divino, vibraremos exclusivamente por Ti.
Cristo deve reinar, em
primeiro lugar, na nossa alma.
Mas como Lhe
responderíamos, se Ele nos perguntasse: como é que tu Me deixas reinar em ti?
Eu responder-lhe-ia que
para que Ele reine em mim, preciso da sua graça abundante, pois só assim é que
o mais imperceptível pulsar do meu coração, a menor respiração, o olhar menos
intenso, a palavra mais corrente, a sensação mais elementar se traduzirão num
hossana ao meu Cristo Rei.
Se pretendemos que
Cristo reine, temos de ser coerentes, começando por Lhe entregar o nosso
coração.
Se não o fizéssemos,
falar do reino de Cristo seria vozearia sem substância cristã, manifestação
exterior de uma fé inexistente, utilização fraudulenta do nome de Deus para
compromissos humanos.
Se a condição para que
Jesus reinasse na minha alma, na tua alma, fosse contar previamente em nós com
um lugar perfeito, teríamos razão para desesperar.
Mas não temas, filha de
Sião; eis que o teu Rei vem montado num jumentinho.
Vedes?
Jesus contenta-se com um
pobre animal por trono.
Não sei o que se passa
convosco, mas a mim não me humilha reconhecer-me aos olhos do Senhor como um
jumento: fui diante de ti como um jumento.
Porém, estarei sempre
contigo: tomaste-me pela minha mão direita, tu és quem me leva pela arreata.
Pensai nas
características dum jumento, agora que vão ficando tão poucos.
Não falo dum burro velho
e teimoso, rancoroso, que se vinga com um coice traiçoeiro, mas dum burriquito
jovem, com as orelhas tesas como antenas, austero na comida, duro no trabalho,
com o trote decidido e alegre.
Há centenas de animais
mais formosos, mais hábeis e mais cruéis. Mas Cristo preferiu este para se apresentar
como rei diante do povo que O aclamava, porque Jesus não sabe que fazer da
astúcia calculadora, da crueldade dos corações frios, da formosura vistosa mas
vã. Nosso Senhor ama a alegria dum coração moço, o passo simples, a voz sem
falsete, os olhos limpos, o ouvido atento à sua palavra de carinho.
E é assim que reina na
alma.
182
Reinar servindo
Se deixarmos que Cristo
reine na nossa alma, não nos tornaremos dominadores; seremos servidores de
todos os homens.
Serviço.
Como gosto desta
palavra! Servir o meu Rei e, por Ele, todos os que foram redimidos com o seu
sangue.
Se os cristãos soubessem
servir! Vamos confiar ao Senhor a nossa decisão de aprender a realizar esta
tarefa de serviço, porque só servindo é que poderemos conhecer e amar Cristo e
dá-Lo a conhecer e conseguir que os outros O amem mais.
Como o mostraremos às
almas?
Com o exemplo: que
sejamos testemunho seu, com a nossa voluntária servidão a Jesus Cristo em todas
as nossas actividades, porque é o Senhor de todas as realidades da nossa vida,
porque é a única e a última razão da nossa existência.
Depois, quando já tivermos prestado esse
testemunho do exemplo, seremos capazes de instruir com a palavra, com a
doutrina.
Assim procedeu Cristo: coepit facere et docere, primeiro
ensinou com obras, e só depois com a sua pregação divina.
Servir os outros, por
Cristo, exige que sejamos muito humanos.
Se a nossa vida é
desumana, Deus nada edificará nela, porque habitualmente não constrói sobre a
desordem, sobre o egoísmo, sobre a prepotência.
Precisamos de
compreender todas as pessoas, temos de conviver com todos, temos de desculpar
todos, temos de perdoar a todos. Não diremos que o injusto é o justo, que a
ofensa a Deus não é ofensa a Deus, que o mau é bom.
Todavia, perante o mal,
não responderemos com outro mal, mas com a doutrina clara e com a boa acção;
afogando o mal em abundância de bem. Assim Cristo reinará na nossa alma e nas
almas dos que nos rodeiam.
Alguns procuram
construir a paz no mundo sem porem amor de Deus nos seus corações, sem servirem
por amor de Deus as criaturas. Como será possível realizar desse modo uma
missão de paz?
A paz de Cristo é a paz
do reino de Cristo; e o reino de Nosso Senhor há-de alicerçar-se no desejo de
santidade, na disposição humilde para receber a graça, numa, esforçada acção de
justiça, num divino derramamento de amor.
(cont)