DENTRO
DO EVANGELHO
Muitos comentários se
têm escrito sobre o trecho do Evangelho que relata o acontecido em Gerasa.
O demónio não tem
outro objectivo senão fazer o mal.
Ao pedirem a Jesus
que os enviasse para a vara dos porcos, precipitando-se no mar, como que
quiseram demonstrar que os gadarenos não acreditavam em Jesus Cristo, dando
maior importância aos bens materiais que à vida humana. E o Senhor não sabia o
que iria acontecer?
Evidentemente que
sim, Ele sabe tudo, mas não podia permitir que acreditassem nele pela confissão
do demónio que é o pai da mentira.
Talvez sem querer,
ficamos algo decepcionados com Jesus por ter permitido que os demónios
entrassem nos porcos com o resultado que se sabe.
Talvez possamos tirar
duas ou três ilacções: A primeira é a confirmação que o demónio existe o que,
muitos, insistem em negar; A segunda será que Cristo não poderia consentir que
acreditassem nEle pelo testemunho do demónio, que é o pai da mentira; A
terceira é a completa inversão de valores dos gadarenos que dão mais
importância a perda dos porcos que à recuperação da saúde da pessoa humana; E,
uma quarta, - talvez a mais inesperada – é a sua reacção pedindo a Jesus que Se
afaste do seu território, sem procurar compreender, sem fazer uma pergunta, sem
sequer, considerar o extraordinário do acontecimento.
Preferem, de facto,
fechar os olhos e os ouvidos e ignorar o que foi tão patente perante todos.
Disseram em alta voz: «Que tens a ver
connosco, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?». Por
aqui se vê que o demónio não só sabia quem era Jesus como conhecia o que a Sua
vinda à terra significava: que o domínio, quase discricionário, que exercia
sobre a humanidade, iria terminar com a instauração do Reino de Deus.
Já o dissemos: O
Senhor não podia consentir que a Sua Pessoa: Jesus Cristo fosse
revelada pelo demónio que é o Pai da mentira.
O episódio com a vara
de porcos revela claramente a maldade e desprezo do tentador. Fica bem claro
que dele só se pode esperar o mal e o ódio.
Ter amigos como este
pobre paralítico descido por cordas através e um buraco no telhado da casa onde
Jesus estava, é uma prova inestimável que querem o melhor para o seu amigo e
não se deixam vencer nem pelas dificuldades ou circunstâncias desfavoráveis
para levarem por diante o que se propõem. Mas, mais, sabem que Jesus é O Médico
Divino que cura todas as doenças e males por maiores ou graves que sejam,
assim, se o que os move é a amizade a Fé em Jesus é singularmente definitiva
para fazerem o que fizeram. Foi esta Fé que Jesus se deu conta e O levou a
actuar imediatamente.
O milagre é, sem
dúvida, espectacular, mas, o mais importante é a lição, que – talvez por isso
mesmo – o Senhor quis dar aos circunstantes: a confirmação do Seu poder, a Sua
Divindade. Há como que uma aura de excepcional grandeza em todo
este episódio que São Lucas também relata embora com maior detalhe.
Grandeza, desde logo pela demonstração de amizade dos companheiros do
paralítico, também pela docilidade deste em deixar-se conduzir sem receio ou
respeito humano pelo insólito da situação.
Grandeza pela lição que, como sempre, o Senhor dá aos circunstantes numa
catequese alicerçada no exemplo, confirmada pela acção. Sim! O que é mais
fácil: curar uma doença ou perdoar os pecados? Ambas são curas, uma do corpo a
outra da alma. A primeira pode constatar-se imediatamente, a outra só pode
confirmar-se pela Fé. Uma também pode ser conseguida pela ciência humana a
segunda pertence exclusivamente a Deus.
É o próprio Mateus
que relata o seu encontro com Jesus. Encontro, talvez fortuito, mas definitivo
e decisivo para a sua vida.
Será que – podemos
perguntar-nos – já teria ouvido falar de Jesus? Estaria à espera de O
encontrar? Podemos pensar que sim porque o Senhor acaba sempre por Se encontrar
com aqueles que O procuram e que, talvez, a indecisão tolha de dar o “passo em
frente”.
Um dos resultados
deste chamamento – e de o mesmo ter sido prontamente aceite – foi a presença
dos colegas de profissão de Mateus no banquete em sua casa. A simplicidade com
que o Senhor os apelida de “pecadores” – como eram tidos pelos chefes do povo –
não os ofende nem afasta, antes lhes confirma a Sua vontade de emendar os
erros, corrigir os maus procedimentos. Jesus Cristo
afirma claramente que: «Eu não vim chamar
os justos, mas os pecadores.» Esta declaração deve encher-nos de alegria e
consolação porque, efectivamente, todos somos pecadores. E, Ele, chama-nos
constantemente, sem descanso nem tréguas. Procura-nos onde estivermos sejam
quais forem as circunstâncias e, se acaso não damos pela Sua presença, voltará
uma e outra vez até que oiçamos o que tem para nos dizer. Depois… dependerá
exclusivamente de nós acolher ou não o Seu convite para que O sigamos. Da
escolha que fizermos dependerá, portanto, a nossa salvação eterna.
O Senhor cruza-se
constantemente connosco nos caminhos da vida. De facto, procura-nos com
verdadeiro e legítimo desejo de nos encontrar. Verdadeiro, desde logo, porque,
Ele, é a VERDADE! Legítimo porque somos – todos os homens – Seus irmãos!
O que faz uma pessoa
quando se encontra com um irmão? Pois, naturalmente, sente uma grande alegria e
vontade de conviver, saber o que se passa com ele, contar-lhe o que se passa
consigo. Se descobrem pontos em comum – como é natural entre irmãos – a convivência
aprofunda-se cada vez mais até se tornaram “inseparáveis”. É o desejo – íntimo
do Senhor – tornar-se “inseparável” do homem que encontra, num “crescendo de
intimidade cada vez mais forte, de uma união sempre crescente até que, possamos
dizer como São Paulo: «Já não sou eu quem
vive, mas Cristo que vive em mim».
Evidentemente que a “qualificação” de pecadores era, naquele tempo,
altamente pejorativa e muito pouco honesta. De facto, todos somos pecadores e
não aceitar esta realidade é – segundo as palavras do Senhor - excluir-se dos
planos de Deus para a nossa salvação.
Este «segue-me» de Cristo deveria
conter uma força e convicção tais que tornavam o convite irresistível como a
pronta resposta de Mateus sugere. Jesus vem ter connosco onde for e não perde
tempo com explicações, convida claramente a segui-Lo e deixa ao convidado a
liberdade de aceitar ou não o convite.
E, estes convidados, quem são? Ele próprio esclarece: 'não vim chamar os justos mas os pecadores'.
Então, sei, tenho a certeza, veio chamar-me a mim!
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