19/03/2016

Publicações em Mar 19

nunc coepi – Índice de publicações em Mar 19

São Josemaria – Textos

AMA - Comentários ao Evangelho Lc 2 41-51, Confissões - Santo Agostinho

CIC – Compêndio


JMA - Quaresma

Formação, 

AT - Salmos – 138


Agenda Sábado

Reflexão no Ano Jubilar da Misericórdia – 2


Próximos do próximo [i]

O Samaritano.

Sou um samaritano e o que hoje aconteceu comigo, tem a sua raiz há tempos atrás.

Vivia com a minha família em Sicar.
A minha vida corria bem, os negócios prosperavam, embora tivesse que deslocar-me com frequência a Jericó o que era assaz perigoso dada a frequência dos assaltos e atropelos praticados pelos mal feitores que infestavam o caminho.


Um dia, sem aviso, comecei a notar sinais alarmantes no meu corpo e, depois de observado pelo médico as suspeitas confirmaram-se: estava a ser “atacado” pelo terrível flagelo da lepra.


Como se calcula, toda a minha vida se transformou, não ousava sair de casa e evitava qualquer contacto com outras pessoas sempre à espera que a minha doença fosse conhecida pelas autoridades que me obrigariam a um exílio e imporiam uma segregação social extrema.


Um dia, porém, não pude deixar de assomar a uma janela de minha casa para verificar a que se devia o burburinho e agitação que percorria toda a aldeia.


Uma mulher, no meio do povo que a rodeava cada vez em maior número contava entre lágrimas e risos, numa excitação quase frenética, algo espantoso.


Dizia ela que tendo ido buscar água ao poço de Jacob encontrara um judeu sentado na borda do poço que, sem mais, lhe pediu de beber. [ii]


Na sua surpresa argumentara:


«Como, sendo Tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou samaritana?» [iii]


Mas, continuava, a resposta foi ainda mais surpreendente de tal forma que regressara a correr à aldeia a dar conta do sucedido e acrescentava:


«Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz; será este, porventura, o Cristo?».[iv]


Muitos ficaram excitados e correram atrás da mulher em direcção ao poço, outros continuaram discutindo entre si tão insólita novidade.


Eu recolhi-me de novo dentro de casa sem saber o que pensar mas, dentro de mim algo me dizia que este assunto não acabaria ali.


A doença avançava com rapidez e, tal como temia, as autoridades vieram, forçaram-me a sair de casa e ir para uma furna onde mal viviam outros dez homens com o mesmo mal.


Desesperava… as condições de vida eram insuportáveis, ninguém ousava aproximar-se de nós e os escassos alimentos eram atirados do alto da ravina como se fossemos animais perigosos.


Um dia, passado algum tempo, ouviam-se gritos e agitação no caminho que passava perto do local onde nos encontrávamos e, um de nós, arriscou-se a subir ao parapeito a dar-se conta do que acontecia.


Regressou e, ofegante, disse-nos que o tal homem de que a mulher falara vinha pelo caminho seguido por uma multidão de gente que o apertava e assediava com perguntas. [v]


Tomámos uma decisão e, os dez, subimos ao caminho e gritámos de longe:


«Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!» [vi]

Ele viu-nos e disse-nos:

«Ide, mostrai-vos aos sacerdotes» [vii]

Não pensámos mais e pusemo-nos imediatamente a caminho.

Dei-me conta então que o meu corpo coberto de chagas estava limpo, a pele sã e – espantoso! – não havia qualquer sinal de lepra!

Parei de repente e, enquanto os outros continuavam a caminhar, voltei para trás quase gritando incontrolavelmente graças ao Senhor Deus Todo Poderoso que operara em mim tal maravilha.

Rompendo pelo meio dos que o rodeavam e prostrei-me a seus pés continuando a dar graças. [viii]

E foi então que a minha vida se modificou radicalmente porque, o Mestre, disse-me simplesmente:

«Levanta-te, vai; a tua fé te salvou». [ix]

Sempre que tinha uma oportunidade ocorria ao local onde me diziam que Ele estava a pregar, a ensinar, a anunciar que o Reino de Deus estava próximo e que todos – absolutamente todos – os homens devemos amar-nos uns aos outros.


A normalidade tinha regressado à minha vida e retomando os meus negócios recomecei as minhas viagens a Jericó.


E, hoje, o que aconteceu – o que me aconteceu – ao ver um pobre desgraçado estendido no chão, maltratado e ferido por salteadores foi aproximar-me dele e prestar-lhe o auxílio que estava nas minhas mãos prestar-lhe. [x]


Agora, descansa na estalagem para onde o levei e, eu, já deitado, sinto-me tão bem comigo próprio, tão – porque não admiti-lo - orgulhoso com o meu comportamento que não posso deixar de pensar no Nazareno que me deu tão preciosa lição de vida que resumirei assim:


“Faz aos outros o que desejas que te façam a ti”.


(ama, reflexões no Ano Jubilar da Misericórdia – 2)




[i] Lc 10, 25-27

Nota: Este trecho do Evangelho escrito por São Lucas poderia ser o Evangelho “oficial” do Ano Jubilar da Misericórdia.

De facto, aparte a magistral descrição da parábola proferida por Jesus Cristo, a beleza do texto, a economia das palavras, o ritmo da descrição – características deste Evangelista – põem-nos perante um autêntico quadro ou, melhor, perante um filme que se desenrola aos nossos olhos prendendo-nos a atenção e excitando os nossos sentidos.

São Josemaria recomendou: aconselho-te a que, na tua oração, intervenhas nas passagens do Evangelho, como um personagem mais. [i]

É isso mesmo que me proponho fazer.

Sob o Título: “Próximos do próximo (sugerido por um bom amigo) vou tentar personificar alguns dos personagens da parábola e, também, introduzir-me nela como observador directo.

[ii] Cfr. Jo 4, 7
[iii] Cfr. Jo 4, 9
[iv] Cfr. Jo 4, 29
[v] Cfr. Lc 17, 11
[vi] Cfr. Lc 17, 13
[vii] Cfr. Lc 17, 14
[viii] Cfr. Lc 17, 15-16
[ix] Cfr. Lc 17, 19
[x] Cfr. Lc 10, 33-35

Reflexões quaresmais

Quaresma de 2016 – 37ª Reflexão

Chego-me a Ti, Senhor, e pergunto-Te:

Senhor, porque é que à medida que me vou aproximando de Ti, o caminho não me parece mais fácil, mas sempre mais exigente?

Dás-me o braço e, caminhando comigo, vais-me dizendo:

Sabes, meu filho, não é uma questão de ser mais fácil ou difícil, de ser mais ou menos exigente.
Repara que Eu nada te exijo, pois dou-te inteira liberdade. És tu mesmo que vais constatando as tuas fraquezas, os teus problemas, os teus vícios, sobretudo aqueles que antes para ti nada significavam e agora incomodam a tua vida, e o caminho que queres fazer.
Se vires uma obra de arte na escuridão ou na penumbra, não consegues perceber se ela tem imperfeições ou defeitos, mas se a aproximares da luz, se a expuseres à luz, vais perceber todas as imperfeições, todos os defeitos que ela contém, até porque a vais conhecendo cada vez melhor.
Assim acontece contigo. À medida que te vais aproximando de Mim, que sou a Luz, vais-te conhecendo cada vez melhor e assim vais descobrindo todas as fraquezas, todos os problemas, todos os vícios, que antes não conseguias ver.
E, por isso mesmo, porque percebes que é em Mim que encontras a vida e a felicidade, vais exigindo de ti cada vez mais, para corrigires, (por Minha graça), por vezes com grande luta e sacrifício, o caminho para a perfeição, para assim praticares a Minha Palavra: «Sede perfeitos, como o vosso Pai Celeste é perfeito».
Porque sabes, meu filho, todos os outros e tu, são as minhas “obras de arte “!

Achego-me ainda mais a Ti e peço-Te:

Dá-me força, Senhor, e discernimento, para encontrar e corrigir todas as minhas fraquezas, todos os meus problemas, todos os meus vícios.
E muda, Senhor, transforma, converte, abate as barreiras, as incertezas, a incredulidade, que existam na vida que me deste e modela-a segundo a Tua vontade.

Eu quero ser, Senhor, uma Tua “obra de arte”, não para meu orgulho ou vaidade, mas para Te servir melhor, sempre para a Tua maior glória.
Obrigado, Senhor, pela “obra de arte” que fizeste de cada um de nós, frutos do Teu infinito amor.

Joaquim Mexia Alves, Monte Real, 18 de Março de 2016


Evangelho, comentário, L. espiritual


Quaresma

Semana V

São José

Evangelho: Lc 2, 41-51 

41 Seus pais iam todos os anos a Jerusalém pela festa da Páscoa. 42 Quando chegou aos doze anos, indo eles a Jerusalém segundo o costume daquela festa, 43 acabados os dias que ela durava, quando voltaram, o Menino ficou em Jerusalém, sem que os Seus pais o advertissem. 44 Julgando que Ele fosse na comitiva, caminharam uma jornada, e depois procuraram-no entre os parentes e conhecidos. 45 Não O encontrando, voltaram a Jerusalém à procura d'Ele. 46 Aconteceu que, três dias depois, encontraram-no no templo sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. 47 E todos os que O ouviam estavam maravilhados da Sua sabedoria e das Suas respostas. 48 Quando O viram, admiraram-se. E Sua mãe disse-lhe: «Filho, porque procedeste assim connosco? Eis que Teu pai e eu Te procurávamos cheios de aflição». 49 Ele disse-lhes: «Porque Me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me nas coisas de Meu Pai?». 50 Eles, porém, não entenderam o que lhes disse. 51 Depois desceu com eles e foi para Nazaré; e era-lhes submisso. A Sua mãe conservava todas estas coisas no seu coração.

Comentário:

Que Evangelho mais apropriado para o dia de hoje em que toda a cristandade celebra a figura ímpar do Santo Patriarca José!

De facto, o “relevo” que a Senhora dá ao Chefe da Sagrada Família mencionando-o em primeiro lugar revela, pelo menos duas coisas:

A perfeita humildade da Virgem que sendo a Mãe de Deus se coloca em segundo lugar na hierarquia familiar e, depois, a perfeita contenção de S. José que, não obstante o “relevo” que lhe é dado, permanece em silêncio humilíssimo,

As poucas vezes que nos Evangelhos é mencionado o Santo Patriarca poderia levar-nos a pensar que não se lhe atribui nenhum papel de relevo especial.

Os Evangelhos foram escritos principalmente para nos falarem de Jesus Cristo nosso Salvador e não para nos contarem uma “história” de uma família.

O que seguramente podemos concluir é que o Senhor terá a Seu lado a Sua Santíssima Mãe e o Seu Pai putativo.
Aquela pelo amor de Mãe, aquele pelo amor de Pai, guardião e Mestre que foi até que a sua presença foi necessária para assegurar a estabilidade e a tranquilidade da Sagrada Família.

Este Varão insigne que "sendo aio fez as vezes de Pai", como diz a Santa de Ávila, será para sempre o “farol” seguro e fiável do caminho daqueles que procuram a santidade.

(ama, comentário sobre Lc 2, 41-51, 2012.03.19)


Leitura espiritual



SANTO AGOSTINHO - CONFISSÕES

LIVRO SEXTO

CAPÍTULO VII

Alípio

Os que convivíamos em boa amizade lamentávamos estas coisas, mas de modo especial e muito intimamente eu falava com Alípio e Nebrídio. Alípio, como eu, era do município de Tagaste, nascido de uma das melhores famílias da cidade. Era mais jovem do que eu, pois havia sido meu discípulo quando comecei a ensinar na nossa cidade, de depois em Cartago. Ele queria-me muito, por eu lhe parecer bom e douto, e eu apreciava-o pela sua grande inclinação à virtude, que já se manifestava em tenra idade.

Contudo, o abismo dos costumes cartagineses, onde ferve o gosto dos espectáculos frívolos, engolfara-o na loucura dos jogos circenses. Alípio revolvia-se miseravelmente nesse abismo na época em que eu ensinava retórica na escola pública, mas ele não me tinha como mestre por causa de uma desavença que surgira entre mim e seu pai. Eu sabia que Alípio amava morbidamente o circo, e isso muito angustiava-me, por me parecer que se iam perder, se já não o estivessem, magníficas esperanças. Mas não achava meios de alertá-lo e repreendê-lo, nem pela amizade, nem pelo magistério, pois julgava que tinha sobre mim a mesma opinião que seu pai. Mas não era assim. Pondo de parte a vontade paterna sobre isso, começou a cumprimentar-me, comparecia à minha aula, ouvia-me um pouco, e logo se retirava.

Eu já me esquecera de alertá-lo para não desperdiçar s eu talento tão precioso com aquele cego e apaixonado gosto por jogos fúteis. Mas tu, Senhor, que governas o que criaste, não te esqueceste de que Alípio deveria ser ministro dos teus sacramentos entre os teus filhos; e para que fosse atribuída claramente a ti a sua emenda, a realizaste por meu intermédio, mas sem que eu o soubesse.

Um dia, estando sentado no lugar de costume, diante dos meus discípulos, veio Alípio, saudou-me, sentou-se, atento ao assunto de que eu tratava. Por acaso eu trazia nas mãos uma lição; para melhor a expor, e tornar mais clara e agradável a sua explicação, pareceu-me oportuno fazer uma comparação com os jogos circenses, com mordaz sarcasmo aos escravos dessa loucura. Mas tu sabes, Senhor, que então não pensei em curar Alípio dessa peste. Todavia tomou para si as minhas palavras, acreditando que eu só as dissera por sua causa. Qualquer outro tomaria isso com desgosto; mas ele, jovem virtuoso, tomou-o como causa para se censurar a si próprio, e  para me estimar ainda mais.

Já havias dito outrora, e escrito em teus livros: “Corrige o sábio, e ele te amará”. Eu não o repreenderia, mas tu, servindo-te de todos, quer eles o saibam ou quer não, de acordo com a justa ordem que conheces, fizeste do meu coração e da minha língua carvões abrasadores, para cauterizar e curar aquela alma tão promissora, mas pervertida.

Senhor, cale os teus louvores quem não percebe as tuas misericórdias, que eu te confesso do mais íntimo de meu ser. Depois de ouvidas as minhas palavras, Alípio saiu daquele fosso profundo, onde gostosamente se enterrara, cegando-se com o torpe prazer, e sacudiu sua alma com corajosa temperança, afastando de si todas as imundícies dos jogos circenses, para onde nunca mais voltou.

Depois venceu a resistência paterna para me escolher como mestre, e seu pai cedeu e consentiu. Voltando a ser meu discípulo, foi envolvido comigo na superstição dos maniqueus, apreciando neles aquela ostentação de continência, que ele julgava legítima e sincera. Na verdade, porém, era um desvario sedutor, um laço onde caíam almas preciosas, ainda incapazes de avaliar a sublimidade da virtude e, por isso mesmo, vítimas fáceis da aparência que mascara uma virtude hipócrita e fingida.

CAPÍTULO VIII

A atracção do anfiteatro

Não querendo por nada deixar a carreira mundana, tão decantada por seus pais, partira antes de mim para Roma, a fim de estudar Direito; lá se deixou arrebatar de modo incrível, e com incrível avidez, pelos espectáculos de gladiadores.

A princípio, detestava e aborrecia espectáculos semelhantes. Certa vez, encontrando-se com alguns amigos e condiscípulos que voltavam de um jantar, apesar de resistir, foi arrastado por eles com amigável violência para o anfiteatro, onde naquele dia se celebravam jogos funestos e cruéis.

Dizia-lhes Alípio: “Mesmo que arrasteis para lá o meu corpo, e o retenhais ali, podereis por acaso obrigar a minha alma e os meus olhos a contemplar tais espectáculos? Estarei ali como ausente, e assim triunfarei deles e de vós”. Mas eles, não fazendo caso de tais palavras, levaram-no, talvez para verificar se poderia ou não cumprir a palavra.

Quando chegaram, ocuparam os lugares que puderam, pois todo o anfiteatro já fervia nas paixões mais selvagens. Alípio, fechando a porta dos olhos, proibiu que a sua alma se envolvesse em tal crueldade. E oxalá também tivesse tapado os ouvidos! Porque, num lance da luta, foi tão grande o clamor da multidão que, vencido pela curiosidade, e julgando-se preparado para desprezar e vencer a cena, fosse o que fosse, abriu os olhos. Foi logo ferido na alma mais profundamente do que a ferida física do gladiador a quem desejou contemplar e caiu. A sua queda foi mais miserável que a do gladiador, causa de tantos gritos. Estes, entrando-lhe pelos ouvidos, abriram-lhe os olhos, para ferir e abater a sua alma, mais temerária do que forte, e tanto mais fraca por apoiar-se em si mesma, em lugar de se apoiar em ti. Logo que viu sangue, bebeu juntamente a crueldade, e não se afastou do espectáculo; pelo contrário, prestou mais atenção. Assim, sem o saber, absorvia o furor popular e deleitava-se naquela luta criminosa, inebriado de sangrento prazer.

Já não era o mesmo que ali viera, era agora mais um da turba à qual se misturara, digno companheiro daqueles que para ali o arrastaram.

Que mais direi? Contemplou o espectáculo, gritou, apaixonou-se, e foi contaminado de louco ardor, que o estimulava a voltar, não só com os que o haviam levado, mas à sua frente, e arrastando outros. Mas tu te dignaste, Senhor, livrá-lo deste estado com mão forte e misericordiosa, ensinando-o a não confiar em si, mas em ti, embora isto acontecesse muito tempo depois.

CAPÍTULO IX

Alípio, ladrão a contragosto

Contudo, essa aventura gravara-se na sua memória como remédio para o futuro. O mesmo ocorreu com outro facto, quando ainda era estudante em Cartago, e seguia os meus cursos.

Era meio-dia. Alípio estava repassando uma declamação, segundo o costume dos estudantes, quando foi preso como ladrão pelos guardas do foro. Sem dúvida o permitiste, meu Deus, apenas para que esse jovem, tão grande no futuro, começasse já a aprender que, ao julgar outrem, ninguém deve condenar ninguém levianamente, e com temerária credulidade.

Alípio, pois, passeava diante do tribunal, sozinho, com as tábuas e o estilete, quando um jovem estudante, o verdadeiro ladrão, levando um machado escondido, sem que Alípio o percebesse, entrou pelas grades que rodeiam a rua dos banqueiros, e se pôs a cortar o seu chumbo.

Ao ruído dos golpes, os banqueiros que estavam em baixo alvoroçaram-se, e chamaram gente para prender o ladrão, fosse quem fosse. Mas este, ouvindo o vozerio, fugiu depressa, abandonando o machado para não ser preso com ele. Ora, Alípio, que não o vira entrar, viu-o sair e fugir precipitadamente. Curioso, porém, para saber a causa, entrou no lugar. Encontrou o machado e pôs-se, admirado, a examiná-lo. Bem nessa hora chegaram os guardas dos banqueiros, e surpreendem-no sozinho, empunhando o machado, a cujos golpes, alarmados, haviam acudido. Prendem-no, levam-no, e gloriam-se, diante dos inquilinos do foro por ter apanhado o ladrão em flagrante, e já o iam entregar aos rigores da justiça.

Mas a lição devia ficar por aqui, Senhor, porque imediatamente saíste em socorro de sua inocência, da qual eras única testemunha. Quando o conduziam à prisão ou ao suplício, veio-lhes ao encontro um arquitecto, encarregado superior da direcção dos edifícios públicos. Os guardas alegraram-se com esse encontro, pois sempre que faltava alguma coisa no foro o magistrado suspeitava deles. Agora ele saberia quem era o verdadeiro ladrão. Mas este senhor tinha visto várias vezes Alípio na casa de um senador, a quem visitava com frequência. Reconheceu-o, tomou-o pela mão, separou-o da turba, e perguntou-lhe a causa de tamanha desgraça.

Informado do que se passara, o arquitecto mandou à turba alvoroçada e enfurecida contra Alípio que o seguisse. Quando chegaram à casa do jovem autor do roubo, achava-se à porta um menino escravo, novo demais para recear comprometer o seu amo, e que poderia revelar tudo, porque o seguira até o foro. Alípio, ao reconhecê-lo, apontou-o ao arquitecto; este, mostrando-lhe o machado, lhe disse: “Sabe de quem é este machado?” Ao que o menino respondeu sem demora: “Nosso”. Depois de interrogado, confessou o resto.

Deste modo, o processo foi transferido para aquela casa, para confusão da turba, que já imaginara tripudiar de Alípio. O futuro dispensador de tua palavra, e juiz de tantas causas de tua Igreja, saiu dessa aventura com mais experiência e sabedoria.

(cont)

(Revisão de versão portuguesa por ama)


Pequena agenda do cristão


SÁBADO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Honrar a Santíssima Virgem.

A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da Sua serva, de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas, santo é o Seu nome. O Seu Amor se estende de geração em geração sobre os que O temem. Manifestou o poder do Seu braço, derrubou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel Seu servo, lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a Abraão e à sua descendência para sempre.

Lembrar-me:

Santíssima Virgem Mãe de Deus e minha Mãe.

Minha querida Mãe: Hoje queria oferecer-te um presente que te fosse agradável e que, de algum modo, significasse o amor e o carinho que sinto pela tua excelsa pessoa.
Não encontro, pobre de mim, nada mais que isto: O desejo profundo e sincero de me entregar nas tuas mãos de Mãe para que me leves a Teu Divino Filho Jesus. Sim, protegido pelo teu manto protector, guiado pela tua mão providencial, não me desviarei no caminho da salvação.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?


Doutrina - 89

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ
PRIMEIRA SECÇÃO: «EU CREIO» – «NÓS CREMOS»

CAPÍTULO SEGUNDO: DEUS VEM AO ENCONTRO DO HOMEM

A REVELAÇÃO DE DEUS

6. O que é que Deus revela ao homem?


Deus revela-se ao homem, na sua bondade e sabedoria. Mediante acontecimentos e palavras, Deus revela-se a Si mesmo e ao seu desígnio de benevolência, que Ele, desde a eternidade, preestabeleceu em Cristo a favor dos homens. Tal desígnio consiste em fazer participar, pela graça do Espírito Santo, todos os homens na vida divina, como seus filhos adoptivos no seu único Filho.

Antigo testamento / Salmos

Salmo 138






1 Eu te louvarei, Senhor, de todo o coração; diante dos deuses cantarei louvores a ti.
2 Voltado para o teu santo templo eu me prostrarei e renderei graças ao teu nome, por causa do teu amor e da tua fidelidade; pois exaltaste acima de todas as coisas o teu nome e a tua palavra.
3 Quando clamei, tu me respondeste; deste-me força e coragem.
4 Todos os reis da terra te renderão graças, Senhor, pois saberão das tuas promessas.
5 Celebrarão os feitos do Senhor, pois grande é a glória do Senhor!
6 Embora esteja nas alturas, o Senhor olha para os humildes, e de longe reconhece os arrogantes.
7 Ainda que eu passe por angústias, tu me preservas a vida da ira dos meus inimigos; estendes a tua mão direita e me livras.

8 O Senhor cumprirá o seu propósito para comigo! Teu amor, Senhor, permanece para sempre; não abandones as obras das tuas mãos!

Ide a José e encontrareis Jesus

Ama muito S. José, quer-lhe com toda a tua alma, porque é a pessoa que, com Jesus, mais amou Santa Maria e quem mais conviveu com Deus: quem mais o amou, depois da Nossa Mãe. Merece o teu carinho e convém-te dar-te com ele, porque é Mestre de vida interior e pode muito ante Nosso Senhor e ante a Mãe de Deus. (Forja, 554)

José foi, no aspecto humano, mestre de Jesus; conviveu com Ele diariamente, com carinho delicado, e cuidou dele com abnegação alegre. Não será esta uma boa razão para considerarmos este varão justo, este Santo Patriarca, no qual culmina a Fé da Antiga Aliança, Mestre de vida interior? A vida interior não é outra coisa senão o convívio assíduo e intimo com Cristo, para nos identificarmos com Ele. E José saberá dizer-nos muitas coisas sobre Jesus. Por isso, não deixeis nunca de conviver com ele; ite ad Joseph, como diz a tradição cristã com uma frase tomada do Antigo Testamento.

Mestre da vida interior, trabalhador empenhado no seu trabalho, servidor fiel de Deus em relação contínua com Jesus: este é José. Ite ad Joseph. Com S. José o cristão aprende o que é ser Deus e estar plenamente entre os homens, santificando o mundo. Ide a José e encontrareis Jesus. Ide a José e encontrareis Maria, que encheu sempre de paz a amável oficina de Nazaré. (Cristo que passa, nn. 56)

A Igreja inteira reconhece S. José como seu protector e padroeiro. Ao longo dos séculos tem-se falado dele, sublinhando diversos aspectos da sua vida, sempre fiel à missão que Deus lhe confiara. Por isso, desde há muitos anos, me agrada invocá-lo com um título carinhoso: Nosso Pai e Senhor.


S. José é realmente Pai e Senhor, protegendo e acompanhando no seu caminho terreno aqueles que o veneram, como protegeu e acompanhou Jesus enquanto crescia e se fazia homem. (Cristo que passa, nn. 39)