Art.
3 — Se Cristo começou a fazer milagres por ocasião das bodas de Caná, mudando
água em vinho.
O terceiro discute-se assim. — Parece que
Cristo não começou a fazer milagres por ocasião das bodas de Caná, mudando água
em vinho.
1. — Pois, um autor diz que Cristo, na
sua puerícia, fez muitos milagres. Ora, o milagre da conversão da água em vinho
fê-lo nas bodas de Caná, no trigésimo ou no trigésimo primeiro ano da sua
idade. Logo, parece que não foi então que começou a fazer milagres.
2. Demais. — Cristo fazia milagres
pelo seu poder divino. Ora, esse poder divino teve-o desde o princípio da sua
concepção: pois, desde então era Deus e
homem. Logo, parece que desde o princípio fez milagres.
3. Demais. — Cristo, depois do baptismo
e da tentação começou a congregar os discípulos, com se lê no Evangelho. Ora,
foram sobretudo os seus milagres que o levaram a angariar discípulos; assim,
como refere o Evangelho, chamou a Pedro, estupefacto pelo milagre que fizera, na
captura dos peixes. Logo, parece que antes do milagre das bodas de Caná, fez
outros.
Mas, em contrário, o Evangelho: Com este milagre deu Jesus princípio aos
seus, em Caná de Galileia.
Cristo fez milagres para
confirmar a sua doutrina e para manifestar o seu poder divino. — Por isso,
quanto à confirmação, não devia fazer milagres antes de começar a ensinar. E não
devia começar a ensinar antes de atingir à idade perfeita, como dissemos,
quando tratamos do baptismo. — Quanto à manifestação do seu poder, devia
mostrar a sua divindade pelos seus milagres; de modo que acreditassem na sua
humanidade verdadeira. Por isso, como
diz Crisóstomo, fez bem não começando
fazer milagres desde a sua primeira idade; do contrário, pensariam que a sua
Encarnação era fantástica, e antes do tempo oportuno tê-lo-iam crucificado.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Como diz Crisóstomo, pelas palavras de João Baptista, quando diz - Eu vim baptizar em água, para ele ser
conhecido em Israel — é manifesto que
esses milagres, que alguns consideram como feitos por Cristo na sua puerícia,
são mentiras e ficções. Pois, se na
sua primeira idade Cristo tivesse feito milagres, nem João os teria ignorado
nem a restante multidão teria necessidade do mestre para manifestá-lo.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Cristo obrava
pelo seu poder divino quando era necessário para a salvação humana, por causa
da qual se encarnava. Por isso, fez milagres com o seu poder divino, de modo
que não prejudicasse a verdade da sua encarnação.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Os discípulos merecem louvor por terem
seguido a Cristo, apesar de não o verem fazer nenhum milagre, como diz Gregório
numa homilia. E, como diz Crisóstomo,
era necessário fazer milagres, sobretudo
quando os discípulos já estavam reunidos e devotados a Cristo e atentos às suas
obras. Por isso, o evangelista acrescenta: E acreditaram nele os seus discípulos. Não que então começassem a
crer; mas, que então acreditaram mais diligente e perfeitamente. - Ou que chama discípulos aos que haveriam de
sê-lo, como expõe Agostinho.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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