23/05/2020

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A Ascensão de Jesus ao Céu


A Ascenção de Jesus ao Céu

Orações de Maio



A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da Sua serva, de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas, santo é o Seu nome. O Seu Amor se estende de geração em geração sobre os que O temem. Manifestou o poder do Seu braço, derrubou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel Seu servo, lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a Abraão e à sua descendência para sempre.

LEITURA ESPIRITUAL


São João

Cap. I


1 No princípio existia o Verbo; o Verbo estava em Deus; e o Verbo era Deus. 2 No princípio Ele estava em Deus. 3 Por Ele é que tudo começou a existir; e sem Ele nada veio à existência. 4 Nele é que estava a Vida de tudo o que veio a existir. E a Vida era a Luz dos homens. 5 A Luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam. 6 Apareceu um homem, enviado por Deus, que se chamava João. 7 Este vinha como testemunha, para dar testemunho da Luz e todos crerem por meio dele. 8 Ele não era a Luz, mas vinha para dar testemunho da Luz. 9 O Verbo era a Luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina. 10 Ele estava no mundo e por Ele o mundo veio à existência, mas o mundo não o reconheceu. 11 Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. 12 Mas, a quantos o receberam, aos que nele crêem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. 13 Estes não nasceram de laços de sangue, nem de um impulso da carne, nem da vontade de um homem, mas sim de Deus. 14 E o Verbo fez-se homem e veio habitar connosco. E nós contemplámos a sua glória, a glória que possui como Filho Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade. 15 João deu testemunho dele ao clamar: «Este era aquele de quem eu disse: ‘O que vem depois de mim passou-me à frente, porque existia antes de mim.’»      16 Sim, todos nós participamos da sua plenitude, recebendo graças sobre graças. 17 É que a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo. 18 A Deus jamais alguém o viu. O Filho Unigénito, que é Deus e está no seio do Pai, foi Ele quem o deu a conhecer. 19 Foi este o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram, de Jerusalém, sacerdotes e levitas, para lhe perguntarem: Tu quem és? 20 Ele confessou e não negou: Eu não sou o Messias – confessou. 21 Quem és então? – perguntaram-lhe: – És Elias? Não sou – respondeu ele. És o Profeta? Ele retorquiu: Não! 22 Disseram-lhe então: Quem és tu? É para darmos resposta aos que nos enviaram: Que dizes de ti mesmo? 23 Ele declarou: Sou a voz de um que brada no deserto: ‘Endireitai o caminho do Senhor’. Como disse o profeta Isaías. 24 Tinham sido enviados alguns dos Fariseus. 25 Interrogaram-no eles nestes termos: Então porque é que baptizas, se não és o Messias, nem Elias nem o Profeta? 26 Respondeu-lhes João dizendo: Eu baptizo em água; mas no meio de vós se encontra quem vós não conheceis. 27 Aquele que vem depois de mim; a quem eu não sou digno de desatar as correias das sandálias. 28 Deram-se estes factos em Betânia, além-Jordão, onde João estava a baptizar. 29 No dia seguinte, vê este a Jesus, que vinha ter com ele, e diz: aí está o Cordeiro de Deus, que vai tira o pecado do mundo. 30 Era deste que eu dizia: Depois de mim vem um homem que passou à minha frente porque era antes de mim. 31 Eu não O conhecia, mas para Ele se manifestar a Israel é que eu vim baptizar em água. 32 João deu mais este testemunho: Eu, eu vi o Espírito que descia do Céu como uma pomba, e permaneceu sobre Ele. 33 E eu não O conhecia, mas quem me enviou a baptizar em água é que me disse: ‘Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer é o que baptiza no Espírito Santo’. 34 Ora eu vi e sou testemunha de que Ele é o Filho de Deus. 35 No dia seguinte, João encontrava-se de novo ali com dois dos seus discípulos. 36 Então, pondo o olhar em Jesus, que passava, disse: «Eis o Cordeiro de Deus!» 37 Ouvindo-o falar desta maneira, os dois discípulos seguiram Jesus. 38 Jesus voltou-se e, notando que eles o seguiam, perguntou-lhes: «Que pretendeis?» Eles disseram-lhe: «Rabi - que quer dizer Mestre - onde moras?» 39 Ele respondeu-lhes: «Vinde e vereis.» Foram, pois, e viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia. Eram as quatro da tarde. 40 André, o irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João e seguiram Jesus. 41 Encontrou primeiro o seu irmão Simão, e disse-lhe: «Encontrámos o Messias!» - que quer dizer Cristo. 42 E levou-o até Jesus. Fixando nele o olhar, Jesus disse-lhe: «Tu és Simão, o filho de João. Hás-de chamar-te Cefas» - que significa Pedra. 43 No dia seguinte, Jesus resolveu sair para a Galileia. Encontrou Filipe, e disse-lhe: «Segue-me!» 44 Filipe era de Betsaida, a cidade de André e de Pedro. 45 Filipe encontrou Natanael e disse-lhe: «Encontrámos aquele sobre quem escreveram Moisés, na Lei, e os Profetas: Jesus, filho de José de Nazaré.» 46 Então disse-lhe Natanael: «De Nazaré pode vir alguma coisa boa?» Filipe respondeu-lhe: «Vem e verás!» 47 Jesus viu Natanael, que vinha ao seu encontro, e disse dele: «Aí vem um verdadeiro israelita, em quem não há fingimento.» 48 Disse-lhe Natanael: «Donde me conheces?» Respondeu-lhe Jesus: «Antes de Filipe te chamar, Eu vi-te quando estavas debaixo da figueira!» 49 Respondeu Natanael: «Rabi, Tu és o Filho de Deus! Tu és o Rei de Israel!» 50 Retorquiu-lhe Jesus: «Tu crês por Eu te ter dito: ‘Vi-te debaixo da figueira’? Hás-de ver coisas maiores do que estas!» 51 E acrescentou: «Em verdade, em verdade vos digo: vereis o Céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo por meio do Filho do Homem.»

Comentários:

O início do Evangelho escrito por São João sugere-me reflexões que vou “dividir” em 5 partes.

Parte 1 - Jesus Cristo: Considerando que conhecemos que Deus É Três Pessoas – a Santíssima Trindade – tal como nos foi revelado por Jesus Cristo, ficamos também a saber que Quem encarnou da Santíssima Virgem assumindo um corpo humano foi a Santíssima Trindade, já que sendo Deus Trino e Uno tudo quanto faz é assim assumido. Humanamente não podemos compreender como é isto possível, ou melhor, porque Jesus Cristo se refere ao Pai como se Seu Deus se tratasse. De facto quando o faz – reza, ou invoca, ou interpela como por exemplo na Cruz «porque me abandonaste?», - fá-lo como Jesus Cristo Homem, porque, de facto, Deus não reza nem Se interpela a Si Próprio. Esta “dupla” categoria de Jesus Cristo – Deus verdadeiro e homem verdadeiro (União hipostática) - não inpede que, umas vezes, actue como homem e, outras como Deus. Como é então possível? Só me ocorre uma pálida comparação: Sendo, eu, um homem e um cristão, não é concebível – ou melhor, aceitável – que umas vezes proceda como homem e outras como ho­mem cristão. Não estaria certo fundamentalmente porque sendo homem cristão, isto é, tendo recebido o Baptismo – que como sabemos imprime carácter indelével (não pode suprimir-se) – tudo quanto faço, penso, desejo ou quero, é assumido pela minha pessoa “completa”: Homem e Cristão. Mas, mais: Com a Sua Ressurreição, Jesus Cristo deu-me a categoria de Filho de Deus que é, também, indelével e para sempre. Mas, esta “categoria” foi dada a todos os homens pelo que, qualquer um – com Fé ou sem ela, Baptizado ou não – vive e actua, pensa, deseja e quer como Filho de Deus. Mas, mais ainda: Tenho uma alma que foi criada expressamente por Deus para a minha pessoa, tal como para todos os homens. A alma – que é o sopro da Vida – é a Imagem de Deus impressa – também indelevelmente – no ser humano, logo existe de facto – inde­pendentemente da vontade própria de cada um – uma como que au­têntica personalidade divina em cada um, em cada uma. Isto leva-me a pensar que quando erro, actuo mal, desejo o que não devo, não faço o que deveria fazer – que é lícito a Deus esperar de cada um – de acordo com as minhas capacidades, forças e potências, virtudes e defeitos, sou eu apenas – isto é, homem – que assim pro­cedo, porque eu divino não posso actuar desse modo.

Parte 2 - Família Divina: Quase sempre quando nos referimos à Santíssima Virgem lhe chama­mos “MÃE DE DEUS”, e embora por vezes também a invoquemos como “FILHA DE DEUS PAI, MÃE DE CRISTO, ESPOSA DO ES­PÍRITO SANTO”, a referência, digamos assim, que procede é: “MÃE DE DEUS”. Esta realidade vem “confirmar” a nossa qualidade de autênticos Filhos de Deus porque, sendo ela nossa Mãe a partir daquele entranhável momento no Gólgota (Cfr. Jo 19, 25-27), somos irmãos de Cristo o que “reforça” a nossa categoria de pertencermos – de facto – à Família Divina. Assim como um membro de uma família humana que tendo uma enti­dade própria possui também uma entidade familiar. Também esta situação é indelével, isto é, ninguém poderá jamais “apa­gar” a realidade de ter Pais, irmãos, etc. Sendo assim – como estou convicto que é – chego a uma conclusão: Qualquer ser humano nasce para a eternidade, porque embora, o corpo desapareça a sua alma continua viva para todo o sempre. “Estendendo” a conclusão mais além, posso afirmar que, eu, sou eterno? Então e se acredito que assim é, a minha vida ganha uma dimensão extraordinária que ultrapassa a minha compreensão porque, real­mente, não sei o que é a eternidade! Sei muito bem que Deus é eterno na verdadeira acepção da palavra: não conheceu princípio nem terá fim. Sendo assim, como de facto é, a minha “eternidade” não é comparável à de Deus já que houve um momento no tempo em que comecei a existir. De certa forma fica respondida a questão: não sou eterno! O que acontece é um bastante diferente e, por isso mesmo, mais ex­traordinário: Deus deu-me vida para sempre! Ele que é o «Deus dos vivos e não dos mortos» (Cfr. Mt 22, 32), quer que viva para sempre com Ele, essa foi a verdadeira razão para me dar a vida. Às vezes pergunto-me – sob o efeito da saudade, da “pressão” da au­sência de quem me era tão querido – para que quer o Senhor que eu viva? (Claro que me refiro a esta vida terrena que tanto me custa viver.) E dizem-me – e eu compreendo e entendo – que tenho de viver para ter acesso à “vida verdadeira”, aquela porque anseio. E, nesta ânsia de viver a “vida verdadeira”, pergunto-me também: Pode desejar-se a morte? Estou dividido na resposta porque penso que esta depende muito das circunstâncias mas, de facto, só me ocorre uma em que esse desejo se pode aceitar e que é: morrer em vez de pecar mortalmente. Se o pecado mortal traz consigo a morte da alma porque corta de forma abrupta a relação com Deus, que, definitivamente é o pior que pode acontecer, então talvez se justifique desejar que o Senhor conceda a graça de uma morte na segurança da Vida Eterna. Neste caso talvez não se deva chamar "desejo de morrer" mas sim ânsia de salvação. (ama, reflexões, 2014.11.23).

Parte 3 - A Plenitude: “Plenitude” tem significados como: Totalidade; Integridade. Por isso, no episódio da “sarça-ardente” (Cfr. Ex 3, 2-6), Deus explica a Moisés: O meu nome é: «Eu Sou». Jesus Cristo repetirá exactamente as mesmas palavras (Cfr. por ex. Jo 8, 24) e alguma vez com uma advertência solene: «Por isso Eu vos disse que morreríeis nos vossos pecados; sim, se não crerdes que “Eu sou”, morrereis nos vossos pecados» (Cfr. Jo 8, 24). Dado o que atrás disse poderemos nós, criaturas, membros da Família divina, dizer o mesmo: ‘Eu Sou’? Evidentemente não! Mas, pode argumentar-se: sendo da Família divina não é verdade que somos Deus? O próprio Jesus Cristo afirmou: «Vós sois deuses(Cfr. Jo 10, 34) A resposta não é fácil de argumentar, mas se considerarmos a decla­ração de Jesus Cristo, verificaremos que Ele emprega o plural “Deu­ses”, e não o singular “Deus”. Por outras palavras não podemos ser “Deus”, apenas conseguiremos – se cumprirmos o que Ele espera de nós – parecer-nos com Ele. Bom… mas Jesus Cristo também afirmou: «Para que todos sejam um, como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti, para que também eles sejam um em Nós» (Cfr. Jo 17, 21) Parece-me claro que estas palavras de Jesus Cristo se referem à dese­jável unidade dos cristãos que, se de facto existir, se configura com a Unidade Divina, da Santíssima Trindade. Em breve parêntesis direi que nós os cristãos, devemos ter o cuidado de não cair no erro, infelizmente tão comum entre outras Igrejas - ou assim chamadas – de retirar do seu contexto palavras ou afirmações das Escrituras – inclusive proferidas pelo próprio Senhor Jesus Cristo – para justificar conceitos próprios ou para fins não de todo aceitáveis.

Parte 4 - A Palavra: «O Verbo era Deus» diz o Evangelista logo no início do Evangelho que escreveu. Verbo e Palavra são sinónimos, como sabemos, e ambos se aplicam a Deus Uno e Trino. Parece-me lógico! A palavra é a expressão mais concreta que se pode ter quando se quer comunicar algo. Deus não criou o homem por um “capricho” adrede ou para satisfação de alguma necessidade; Ele não precisa de coisa nenhuma e, neste caso, não necessita do homem para nada. Então? O “responsável” pela criação do homem foi o Amor Imenso, Absoluto de Deus que, encontrou na criação da humanidade como que uma ex­tensão desse mesmo Amor: ter o que amar, neste caso, o homem. Como poderia deixar de FALAR com o objecto do Seu Amor? Como não fazer tudo para que esse objecto do Seu Amor tivesse pos­sibilidades de O amar também, considerando que só amando-o poderia ser totalmente feliz? O Senhor, então, fala ao homem, constantemente, sem descanso e como em certa altura da história da criação o homem já não escutava – ou entendia correctamente – o que Ele lhe comunicava vem Ele pró­prio ter com o homem – fazendo-se homem – comunicar de viva voz o que quer que o homem saiba, o que o homem necessita saber. Jesus Cristo é A Palavra, O Verbo em Pessoa Verdadeira e Concreta que fala, discursa, explica, ensina, urge a que O escutem. Ciente disto mesmo, São Pedro dirá: «A quem iremos, Senhor, Tu tens palavras de vida eterna» (Cfr. Jo 6, 68). Escutar a Palavra é ouvir o próprio Deus a falar, fazer o que Ele diz, é cumprir a Sua Vontade; cumprir a Sua Vontade é assegurar – a única forma – a Vida Eterna.


Parte 5 - A Luz: Alguma vez Jesus Cristo chamou-nos «filhos da luz»! (Cfr. Jo 12, 36) dando como que uma indicação de como o poderemos ser: «Enquanto tendes a luz, crede na luz» (Cfr. Jo 12, 36). Que luz é esta? Exactamente a luz de que fala o Evangelista: (Cfr. Jo 1, 4-9) Jesus Cristo é a Luz por excelência! Jesus Cristo é a vida verdadeira! A luz, portanto, é a vida, como aliás o Apóstolo atesta. O Baptismo concede a Vida Verdadeira – simbolizada na água - que é a Vida em Deus, logo dá a Luz – aliás identificada na vela que os pa­drinhos apresentam ao baptizando. Noutro breve parêntesis cabe perguntar se alguma vez nos interroga­mos porquê os pintores colocam uma auréola de luz envolvendo a ca­beça dos Santos, da Santíssima Virgem, das figuras celestes… Pensamos que esta auréola assinala a santidade do retratado na pin­tura. Talvez… mas, eu, creio que a realidade, quer dizer exactamente, que essa santidade era tão grande que a luz própria do retratado se tornava visível. A Escritura fala-nos algumas vezes de pessoas cujo estreito contacto com Deus por vezes lhes fazia resplandecer tal luminosidade no rosto que era difícil fixá-lo. Podemos referir, por exemplo, Moisés, mas, na história recente da Igreja também revela outros casos como São Filipe de Néri, o Santo Padre Pio de Peltrecina, São João Maria Vianey. Quer dizer: esse “estreito contacto com Deus” traduz-se numa santi­dade pessoal cuja luz resplandece. Caminhar na Luz – sempre preferível que andar na escuridão – é seguir Cristo: A LUZ! «Eu sou a luz do mundo; quem Me segue não anda nas trevas, mas terá a luz da vida». (Cfr. Jo 8, 12) Outra vez a Luz e a Vida que, para Jesus Cristo, são sinónimos, ou por outras palavras: sem Luz – a Luz de Cristo – não há vida, a única vida que vale a pena viver! Algumas vezes pode acontecer que a nossa alma se sinta como que envolta em escuridão o que acontece, principalmente, quando sucum­bimos à tentação e nos deixamos levar por e para onde não devemos. É uma situação a que urgentemente se tem de pôr cobro porque, per­manecer na escuridão, é o mesmo que estar morto, não ter vida. E o remédio, a solução, está claramente indicada pela Fé: ir ter com Jesus! Junto ao sacrário das Igrejas deste mundo existe sempre uma pequena luz acesa que nos lembra exactamente que, ali, naquele pequeno ce­náculo, escondido, inerme e humildissimamente expectante, está a “Luz do Mundo”, a “Vida”! É com enorme dor que a Santa Igreja constata que tantos dos seus filhos se afastam, se deixam corromper por falsas e insidiosas promessas, por desleixo ou incúria e não usam com a frequência necessária – e re­comendável – desse maravilhoso instrumento que lhes coloca à dispo­sição: o Sacramento da Confissão Sacramental. Com efeito, poderíamos apelidá-lo de “Sacramento da Luz” porque exactamente, pelo poder que lhe foi transmitido pelo próprio Jesus Cristo seu Chefe e Cabeça, restitui à Luz aquele que a tenha perdido. Por isso, penso, que um dos maiores actos de caridade – misericórdia – que possamos praticar com o nosso próximo é exactamente esse apostolado da Confissão! Penso em tantos e tantas que morrem sem que alguém – movido, tal­vez por uma “falsa piedade” de “não ferir susceptibilidades” – lhes fale desse extraordinário bem e, não menos, extraordinária graça de se confessar na previsão da morte eminente. Tenho a certeza que não me engano se afirmar que quem tendo podido fazê-lo não o fez comete uma falta grave de que terá de dar estreitas contas. Até há poucos anos a filmologia nomeadamente norte-americana, apresentava sempre um sacerdote acompanhando os condenados à morte nos seus últimos momentos antes da execução. (Não sei se ainda hoje sucede…). Como experiência pessoal posso referir companheiros meus que, so­frendo nas vascas da agonia pelos ferimentos mortais recebidos em combate, depois da Absolvição recebida do Capelão militar, apresen­tarem visivelmente um ar de serenidade e paz nos últimos momentos de vida. São João Paulo II alterou uma oração – com séculos de existência -muito querida dos cristãos: o Santo Rosário. Acrescentou, por assim dizer, mais um Terço dedicado à contemplação dos Mistérios Luminosos. O Santo Papa, de tão grata memória, terá entendido que à oração ma­riana, faltaria algo: Aos Mistérios Gozosos, Dolorosos e Gloriosos era conveniente acrescentar os Luminosos. Não sabemos, evidentemente, porque o terá feito, mas não me custa absolutamente admitir que a Santíssima Virgem não será alheia a essa inspiração que terá concedido ao “seu Papa”. Sim… “o seu Papa” tal como ele era dela: “Totus tuus” era o seu lema que, para grande alegria minha, tenho escrito pela sua própria mão numa “pagela” que recebi em Fátima em Treze de Maio de 1991 direc­tamente das mãos de outro grande santo, D. Alberto Cosme do Ama­ral, na altura Bispo de Leiria-Fátima, onde os seus restos repousam na Basílica. A Luz! A grande preocupação dos homens com lugares de mando é terem as ruas das áreas populacionais bem iluminadas para que as pessoas ve­jam bem por onde vão e, também, para afastar aqueles que preferem andar a coberto da escuridão. E, de facto, as pessoas sentem-se mais seguras e confortáveis porque caminham nas ruas iluminadas. Que conforto, então, sentirá quem caminha na Luz Verdadeira, a Luz de Cristo?  O caminho que os magos seguiram para encontrar o Menino Jesus foi indicado por uma luz, uma estrela que os conduziu com segurança desde muito longe até ao local exacto. E para terminar este comentário sirvo-me das palavras com que o Rv. Cónego António Ferreira os Santos terminou a sua homilia na Missa do Dia de Reis de 2016: “Vem Menino Jesus! Precisamos da Tua LUZ!” Quem não conhece esta cena entranhável que nos recorda o Nasci­mento do Salvador? Mesmo os que não celebram esta Festa ou que, por este ou aquele motivo, se colocam à margem sabem que hoje é Dia de Natal. Nunca mais, desde essa Santa Noite há três mil anos, esta história deixou de ser um marco da humanidade.

Temas para reflectir e meditar

VIDA INTERIOR

Na cidadela da própria vida interior, o defeito dominante é o ponto débil, o lugar desguarnecido. 

O inimigo das almas procura precisamente, em cada um, esse ponto débil, facilmente vulnerável, e com facilidade o encontra. 

Por conseguinte, nós também devemos conhecê-lo.

(R. Garrigou-LagrangeLas três edades de la vida interior, Vol. I, nr. 367, trad ama)

Pequena agenda do cristão

SÁBADO

PEQUENA AGENDA DO CRISTÃO

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Honrar a Santíssima Virgem.

A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da Sua serva, de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas, santo é o Seu nome. O Seu Amor se estende de geração em geração sobre os que O temem. Manifestou o poder do Seu braço, derrubou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel Seu servo, lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a Abraão e à sua descendência para sempre.

Lembrar-me:

Santíssima Virgem Mãe de Deus e minha Mãe.

Minha querida Mãe: Hoje queria oferecer-te um presente que te fosse agradável e que, de algum modo, significasse o amor e o carinho que sinto pela tua excelsa pessoa.
Não encontro, pobre de mim, nada mais que isto: O desejo profundo e sincero de me entregar nas tuas mãos de Mãe para que me leves a Teu Divino Filho Jesus. Sim, protegido pelo teu manto protector, guiado pela tua mão providencial, não me desviarei no caminho da salvação.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?




Orações sugeridas:

LEITURA ESPIRITUAL

COMENTANDO OS EVANGELHOS


São Marcos

Cap. I





1 Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. 2 Conforme está escrito no profeta Isaías: Eis que envio à tua frente o meu mensageiro, a fim de preparar o teu caminho. 3 Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.’ 4 João Baptista apareceu no deserto, a pregar um baptismo de arrependimento para a remissão dos pecados. 5 Saíam ao seu encontro todos os da província da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém e eram baptizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados. 6 João vestia-se de pêlos de camelo e trazia uma correia de couro à cintura; alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. 7 E pregava assim: «Depois de mim vai chegar outro que é mais forte do que eu, diante do qual não sou digno de me inclinar para lhe desatar as correias das sandálias. 8 Eu baptizei-vos em água, mas Ele há-de baptizar-vos no Espírito Santo.» 9 Por aqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi baptizado por João no Jordão. 10 Quando saía da água, viu serem rasgados os céus e o Espírito descer sobre Ele como uma pomba. 11 E do céu veio uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado, em ti pus todo o meu agrado.» 12 Em seguida, o Espírito impeliu-o para o deserto. 13 E ficou no deserto quarenta dias. Era tentado por Satanás, estava entre as feras e os anjos serviam-no. 14 Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia, e proclamava o Evangelho de Deus, 15 dizendo: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho.» 16 Passando ao longo do mar da Galileia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. 17 E disse-lhes Jesus: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens.» 18 Deixando logo as redes, seguiram-no. 19 Um pouco adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco a consertar as redes, e logo os chamou. 20 E eles deixaram no barco seu pai Zebedeu com os assalariados e partiram com Ele. 21 Entraram em Cafarnaúm. Chegado o sábado, veio à sinagoga e começou a ensinar. 22  E maravilhavam-se com o seu ensinamento, pois os ensinava como quem tem autoridade e não como os doutores da Lei. 23 Na sinagoga deles encontrava-se um homem com um espírito maligno, que começou a gritar: 24 «Que tens a ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos arruinar? Sei quem Tu és: o Santo de Deus.» 25 Jesus repreendeu-o, dizendo: «Cala-te e sai desse homem.» 26 Então, o espírito maligno, depois de o sacudir com força, saiu dele dando um grande grito. 27 Tão assombrados ficaram que perguntavam uns aos outros: «Que é isto? Eis um novo ensinamento, e feito com tal autoridade que até manda aos espíritos malignos e eles obedecem-lhe!» 28 E a sua fama logo se espalhou por toda a parte, em toda a região da Galileia. 29 Saindo da sinagoga, foram para casa de Simão e André, com Tiago e João. 30 A sogra de Simão estava de cama com febre, e logo lhe falaram dela. 31Aproximando-se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los. 32 À noitinha, depois do sol-pôr, trouxeram-lhe todos os enfermos e possessos, 33 e a cidade inteira estava reunida junto à porta. 34 Curou muitos enfermos atormentados por toda a espécie de males e expulsou muitos demónios; mas não deixava falar os demónios, porque sabiam quem Ele era. 35 De madrugada, ainda escuro, levantou-se e saiu; foi para um lugar solitário e ali se pôs em oração. 36 Simão e os que estavam com Ele seguiram-no. 37 E, tendo-o encontrado, disseram-lhe: «Todos te procuram.» 38 Mas Ele respondeu-lhes: «Vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de pregar aí, pois foi para isso que Eu vim.» 39 E foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas deles e expulsando os demónios. 40 Um leproso veio ter com Ele, caiu de joelhos e suplicou: «Se quiseres, podes purificar-me.» 41 Compadecido, Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: «Quero, fica purificado.» 42 Imediatamente a lepra deixou-o, e ficou purificado. 43 E logo o despediu, dizendo-lhe em tom severo: 44 «Livra-te de falar disto a alguém; vai, antes, mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que foi estabelecido por Moisés, a fim de lhes servir de testemunho.» 45 Ele, porém, assim que se retirou, começou a proclamar e a divulgar o sucedido, a ponto de Jesus não poder entrar abertamente numa cidade; ficava fora, em lugares despovoados. E de todas as partes iam ter com Ele.

Comentários:

1-8 -
São Marcos começa o “seu” Evangelho descrevendo a figura e o papel de João Baptista. De facto, o Baptista está intimamente ligado a Jesus Cristo, mesmo antes do nascimento de ambos. Tem uma missão particularmente difícil, preparar o caminho do Salvador. Efectivamente será ele quem indicará quem É Jesus Cristo e ao que vem e, naturalmente, os seus seguidores – que seriam muitos – seguem as suas instruções e começam a acompanhar Jesus quando este inicia a Sua vida pública. É um homem duro e implacável que não transige de nenhuma forma com situações irregulares, e, isso, há-de custar-lhe a própria vida. O seu exemplo de sacrifício pessoal e austeridade de vida devem ter impressionado muitos, inclusive, do partido dos chefes do povo que o ouviam.

7-11 -
Ao querer ser baptizado, Jesus Cristo segue escrupulosamente as Escrituras. É o que fará sempre ao longo da Sua vida na terra. Poderíamos dizer que foi um acto desnecessário porque Deus não precisa de Baptismo, ou não fará muito sentido já que, o Baptismo é a integração do homem seio da família divina daQual Cristo É a SEGUNDA PESSOA. Mas é preciso que Cristo seja baptizado para assim elevar o Baptismo à categoria de Sacramento de iniciação da fé. Nada do que o Senhor faz ou diz deixa ter um propósito, uma intenção muito concreta: dar aos homens todos os meios necessários para a sua salvação.
Jesus Cristo não precisava ser baptizado porque era o Filho de Deus. Mas, ao fazê-lo, - além de dar cumprimento rigoroso às Escrituras - institui este sacramento de iniciação dos homens na Família Divina. Também foi como que a confirmação de quanto João Baptista vinha anunciando e fazendo, estabelecendo-o definitivamente como o Percursor. Acaba aqui o papel desempenhado pelo Baptista, a partir de agora será o próprio Filho de Deus a anunciar o Reino, a propagar a Doutrina, a apelar à conversão.
O baptismo de Jesus é o primeiro acto público do Salvador e como que o começo de uma nova vida. Tal como para nós, cristãos, o Baptismo é o sinal definitivo e indelével que pertencemos a Deus que nos dá a Honra e Dignidade de nos considerar Seus filhos. Seja a nossa vida o que for, façamos o que fizermos, esse vínculo nunca desaparecerá. A nossa relação com o nosso Pai-Deus, será eterna.

12-15 -
São Marcos não se “alarga” muito sobre a estadia do Senhor no deserto. O seu intuito parece ser unicamente assinalar o começo da vida pública de Jesus e a razão que O trouxe a este mundo. Tem, contudo, uma “palavra chave”: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo». Uma vida totalmente nova irá começar, os homens terão objectivos concretos e bem definidos, a Lei não será revogada, mas devidamente explicada e adaptada aos novos tempos. O “rebanho” de Deus passará a ter um Pastor seguro e fiel.
14-20 -
Quatro irmãos são os primeiros que O Senhor escolhe para O seguirem. Como que a anunciar que pretende formar uma família espiritual à Sua volta com o objectivo de congregar todos os homens numa única família: a família dos Filhos de Deus. São homens simples disponíveis e leais habituados a trabalhar em conjunto levando a carga uns dos outros sempre que necessário. A sua profissão de pescadores ensinou-lhes a necessidade da persistência e da perseverança, a não desanimar perante ausência de resultados imediatos, a fazerem o mesmo quantas vezes forem necessárias até conseguirem a pesca abundante que compensará todos os esforços.

29-39 -
Jesus Cristo é, de facto, um verdadeiro “médico de família” atento e disponível para assistir os doentes quando necessário seja qual for o mal que os aflige. Uma simples febre! E, Deus Nosso Senhor, O Todo Poderoso, não tem qualquer pejo em assistir a sogra de Pedro. Ficamos comovidos com esta simplicidade de Jesus, comovidos e tranquilos porque temos a segurança do Seu desvelo, interesse e disponibilidade para nos acudir quando necessário.

40-45 -
São Marcos deve ter ficado tão impressionado com este episódio – naturalmente ouvido da boca de São Pedro – que o descreve em pormenor. Talvez que, o mais saliente, seja a afirmação de Fé do leproso: «Se quiseres podes limpar-me». Uma lição para nós homens que precisamos de tudo e tudo pedimos ao Senhor e, por vezes, sem a Fé convicta e profunda demonstrada por este homem. Porquê, se acreditamos que o Senhor pode tudo? Porque a nossa confiança e fé são débeis e precisam, muitas vezes, de um esforço da nossa parte, que passará, naturalmente, por Lhe dizer-mos com frequência: ‘Senhor, eu creio, mas aumenta a minha Fé’.
A liturgia repete no espaço de poucos dias este mesmo trecho do Evangelho de São Marcos. Nunca é demais repetir uma das condições mais importantes na oração de petição: a Fé e Confiança absolutas em Deus. O leproso afirma sem rebuço, claramente: «Se quiseres, podes purificar-me». E esta confiança e fé movem o Coração Misericordioso do Senhor que não pode mais que satisfazer o pedido de quem Se Lhe dirige nessas condições.
Perante Jesus todos somos seres humanos com uma mesma dignidade: Filhos de Deus! Por isso nos toca pessoalmente, sem Se “importar”com a lepra que nos cobre o corpo ou a alma. Sim… a lepra da alma – que é o pecado – bem mais horrível e abjecta que a lepra do corpo. E… o Senhor chama-nos aos Seus pés e, na figura do Sacerdote, abençoa-nos, perdoa as nossas faltas e manda-nos em paz de volta às nossas vidas como se nada se tivesse passado. Jesus Cristo um Deus longínquo e distante? Não! Um Senhor e Rei que nos quer com coração de Pai e de Mãe, que nos ama de tal forma que deu a vida por nós.
«Compadecido, Jesus estendeu a mão, tocou-o». A lepra, um leproso e, o Senhor, tocou-o com a mão! Não Lhe bastaria fazer o milagre, operar a cura do que Lhe pedia, tinha de o tocar como se faz com um amigo quando queremos comunicar-lhe algo importante que envolve afecto, estima. Os circunstantes deverão ter ficado assombrados talvez mais pelo gesto que pelo milagre: Tocar um leproso! Mas, a verdade, é que o Senhor nunca deixa de nos tocar intimamente quando, sujos, imundos com a lepra do pecado, nos aproximamos deLe para Lhe pedir perdão. Ah! E a lepra do pecado é mais repugnante que a lepra física porque não há maior doença, mal mais horrível que a ofensa feita a Deus.

57-66 -
A Igreja celebra o Nascimento de São João Baptista. As Memórias dos Santos são normalmente celebradas no dia natalis isto é, a data em que partiram para o Reino de Deus na eternidade. Mas neste caso é diferente porque sendo João Baptista parente chegado de Jesus Cristo, tendo-O “reconhecido” quando da Visita de Nossa Senhora a sua Mãe (exultando no seu seio), quando nasce já era santo.

14-20 -
São Marcos descreve com pormenores o chamamento de Jesus aos primeiros Apóstolos, aqueles que, como diríamos hoje em dia, constituiriam o “núcleo duro” para O acompanharem na Sua missão apostólica. Neste passo acontecem duas coisas dignas de nota: todos são pescadores e dois grupos de irmãos. O serem pescadores é significativo, porque são homens simples, habituados a um trabalho duro em que a paciência da espera e, também, a frustração de resultados não obtidos, lhes conferem um carácter sólido e perseverante. Serem dois grupos de irmãos, também, porque se conhecem melhor, estão habituados a conviver e a trabalhar juntos, têm confiança e sentido de entreajuda. A prontidão na resposta confere aos quatro, duas características fundamentais: Avaliação de quem lhes fala como credível e sincero; Decisão pronta e incondicional. Homens assim, não podemos surpreender-nos que tenham sido os pilares da Igreja que Nosso Senhor Jesus Cristo fundou.
Jesus Cristo considera que a morte de João Baptista é o fecho do tempo de preparação e o começo do tempo de salvação. Esta passa, naturalmente, pela instauração do Reino de Deus na terra e da conversão de todos os homens em Filhos de Deus. Esta é, verdadeiramente a Sua missão e, durante os próximos três anos é o que fará sem descanso nem desvios. Muitos – como estes que agora escolhe – hão-de segui-Lo sem hesitações outros, talvez a maioria, necessita de O ouvir, de escutar da Sua boca as palavras de Vida Eterna que tem para comunicar, tem de doutrinar, aconselhar, indicar o caminho. Os homens nem supõem a graça extraordinária que é que o próprio Senhor, Criador de todas as coisas, venha, Ele mesmo, na Pessoa do Filho, cumprir essa missão de amor.

21-28 -
Parece algo estranha esta “declaração” do evangelista. Mas temos de compreender que, em Jesus Cristo, tudo era absolutamente novo, isto é, observando a Lei, não alterando um “til”, dava-lhe uma interpretação nova e acessível a qualquer um. E como o fazia com uma convicção e uma autoridade tais que não se admitia discussão. Os ouvintes – as pessoas comuns – estavam habituados a que lhes dissessem que as coisas eram assim, como quem diz, “à letra”, não se importando nem com a interpretação nem com qualquer explicação. Jesus Cristo, bem ao contrário, explica e diz porque é que a Lei é assim, diz isto, estabelece aquilo e qual a forma de entender, compreender e pôr em prática. E as pessoas entendem, finalmente, que a Lei de Deus é uma lei natural acessível a qualquer um e feita de modo a que todos a possam pôr em prática. Ou seja, em vez de rigor… amor!
Porque é que Jesus «não deixava que os demónios falassem»? Porque, sabiam quem Ele era. O Senhor não consentiria que acreditassem que Ele era o Filho de Deus por revelação do demónio, mas sim pelas Suas palavras e actos. A Fé só pode vir de Deus, nunca dos homens e muito menos de Satanás.
Já o dissemos – mas voltamos a repetir – que o Senhor não podia consentir que alguém acreditasse neLe devido a declarações de Satanás. O Pai da Mentira, não merece qualquer credibilidade – nunca! – como poderia, pois, dizer algo verdadeiro acerca de Cristo? Bom… de facto, diz a verdade, mas a sua intenção é malévola e falsa porque, aos que acreditarem nele pelo que diz de Cristo, há-de exigir que acreditem em tudo quanto lhes sugerir, por outras palavras, toma posse desses coitados que se deixam enganar.
Evidentemente que, na sinagoga, os presentes deveriam ser pessoas de várias classes sociais e diferentes graus de cultura. Fica assim provado que as palavras de Jesus eram perfeitamente entendíveis por todos. A Lei de Deus não requer conhecimentos especiais para ser compreendida e, assim, cumprida por qualquer um. Mas é bom que tenhamos as ideias claras e ajustadas e, para isso, está a Direcção Espiritual como auxiliar precioso.
A Sinagoga de Cafarnaum é, mais uma vez, palco da actuação de Jesus Cristo. Talvez em nenhum outro lugar Ele tenha insistido tanto na pregação do Reino de Deus, doutrinando e ensinando as pessoas ávidas de Doutrina. Sobretudo porque, como narra o Evangelista «os ensinava como quem tem autoridade e não como os Doutores da lei». A autoridade é confirmada pelos numerosos milagres, a doutrina assenta no que é essencial, deixando de lado o acessório que não passam de preceitos, um pouco adrede, da vontade dos  que ocupam os lugares de chefia.

26-38 -
Páginas e páginas foram escritas ao longo dos séculos sobre os acontecimentos aqui relatados. Algumas de grande beleza e elevação, outras, de profunda meditação. Nunca serão, no entanto, bastantes e suficientes, trata-se nada mais que o princípio do cumprimento das promessas divinas para a salvação da humanidade. Tudo depende de uma simples e humilde jovem de Nazaré que, embora escolhida por Deus desde ou principio dos tempos, tem de dar o seu consentimento pessoal para aceitar cumprir esses menos desígnios divinos. Deus respeita sumamente a liberdade humana, como aqui fica comprovado, e nem por conhecer o passado, o presente e o futuro passará por cima dessa liberdade individual que Ele próprio concedeu ao homem.
A vida de um cristão deve ser um constante renascimento, como os dias de sucedem às noites assim o cristão deve ir renovando os seus conhecimentos que fundamentem a sua fé. Sem conhecer não se pode viver a fé em plenitude e, para conhecer, é fundamental estudar, informar-se, descobrir novas linhas que talvez estivessem despercebidas. Sim: ler o evangelho diariamente e sobretudo meditando-o.


29-39 -
Nenhuma doença ou debilidade humana é desprezível para o Senhor. Não Se ocupa apenas dos grandes milagres e aparatosas demonstrações do Seu poder. Se umas são convenientes para confirmar na fé os Seus discípulos, outras demonstram a Sua atenção e cuidado pelas necessidades mais comezi­nhas dos homens.
Jesus Cristo mostra uma vez mais que o ser humano, seja quem for, merece a Sua atenção e interesse e está sempre disponível para prestar auxílio e consolação. Assim podemos estar certos que, nos momentos sérios como nos de menor importância, a Sua mão se estende para nós para nos prestar o auxílio que necessitamos.
Saciar a fome a uns milhares de pessoas com apenas uns poucos de pães e alguns peixes, ou curar uma simples febre, são milagres, poderes, que o Senhor usa para resolver os problemas dos outros homens Seus irmãos. Era necessário alimentar toda aquela gente para que não desfalecesse no caminho; era importante curar a febre da sogra de Pedro para que esta pudesse recebe-los e servi-los condignamente em sua casa. Jesus Cristo não faz nada sem um motivo seja lá qual for o “aparato” ou “discrição” que tal possa implicar. O homem precisa e Jesus providencia!