Novo Testamento 1
Evangelho
Mc XII, 35-44; Mc XIV, 1-13
Cristo filho e Senhor de David
35 Ensinando no templo, Jesus tomou a
palavra e perguntou: «Como dizem os doutores da Lei que o Messias é filho de
David? 36 O próprio David afirmou, inspirado pelo Espírito Santo: Disse o
Senhor ao meu Senhor: ‘Senta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos
debaixo dos teus pés’. 37 O próprio David chama-lhe Senhor; como é Ele seu
filho?» E a numerosa multidão ouvia-o com agrado.
Hipocrisia dos escribas
38 Continuando o seu ensinamento, Jesus
dizia: «Tomai cuidado com os doutores da Lei, que gostam de exibir longas
vestes, de ser cumprimentados nas praças, 39 de ocupar os primeiros lugares nas
sinagogas e nos banquetes; 40 eles devoram as casas das viúvas a pretexto de
longas orações. Esses receberão uma sentença mais severa.» 41 Estando sentado
em frente do tesouro, observava como a multidão deitava moedas. Muitos ricos
deitavam muitas. 42 Mas veio uma viúva pobre e deitou duas moedinhas, uns
tostões.
O óbulo da viúva pobre
43 Chamando os discípulos, disse: «Em
verdade vos digo que esta viúva pobre deitou no tesouro mais do que todos os
outros; 44 porque todos deitaram do que lhes sobrava, mas ela, da sua penúria,
deitou tudo quanto possuía, todo o seu sustento.»
Profecias da ruína de Jerusalém e fim do mundo
XIII 1 Ao sair do templo, um dos discípulos disse-lhe:
«Repara, Mestre, que pedras e que construções!» 2 Jesus respondeu: «Vês estas
grandiosas construções? Não ficará delas pedra sobre pedra; tudo será
destruído.» 3 E, estando sentado no Monte das Oliveiras frente ao templo,
Pedro, Tiago, João e André perguntaram-lhe em particular: 4«Diz-nos quando tudo isto acontecerá e qual
o sinal de que tudo está para acabar.» 5 Jesus começou a dizer-lhes:
«Acautelai-vos para que ninguém vos iluda. 6 Surgirão muitos com o meu nome,
dizendo: ‘Sou eu’. E seduzirão a muitos. 7 Quando ouvirdes falar de guerras e
de rumores de guerras, não vos alarmeis; é preciso que isso aconteça, mas ainda
não será o fim. 8 Há-de erguer-se povo contra povo e reino contra reino; haverá
terramotos em vários lugares, haverá fome. Isto apenas será o princípio das
dores.» 9 «Tomai cuidado convosco! Hão-de entregar-vos aos tribunais, sereis
açoitados nas sinagogas e comparecereis diante dos governadores e dos reis por
minha causa, para dar testemunho diante deles. 10 Mas, antes disso, deve
proclamar-se o Evangelho a todas as nações. 11 Quando vos levarem para serdes
entregues, não vos inquieteis com o que haveis de dizer; dizei o que vos for
dado nessa hora, pois não sereis vós a falar, mas sim o Espírito Santo. 12 O
irmão entregará à morte o seu irmão, e o pai, o seu filho; os filhos hão-de
erguer-se contra os pais e causar-lhes a morte. 13 E sereis odiados por todos,
por causa do meu nome; mas quem perseverar até ao fim será salvo.»
Nota: (1 Sequencial todos os dias do ano)
Texto:
Onde temos o coração?
‘Estar no que se
faz e fazer o que se deve’, é o singular conselho de um extraordinário condutor
de almas, de um ‘santo dos nossos dias’ , como lhe chamaria João Paulo II, e, de facto, não fora,
como é, tão difícil de seguir, não seria a sociedade humana muito mais cordata,
pacífica e cordial?
Mas não!
Como infelizmente
não se segue tão salutar princípio, cada um faz o que compete a outro fazer,
num tempo que não é o adequado.
Por isso passamos a vida a tentar emendar erros, a
corrigir enganos, a voltar sobre os passos já dados uma e outra vez,
descrevendo uma curva em vez de seguir a evidente linha recta que conduz ao
objectivo.
Há sempre tanto a
fazer que espanta e admira como alguns ficam como que sentados na vera do
caminho, assistindo à vida que vai passando em vez de acompanhar os outros, na
caminhada.
O que lhes vale a
muitos, sim, o que lhes vale, é que há inúmeros samaritanos no meio dessa
multidão que caminha e que, ao vê-los, se detêm com o propósito de tudo fazer
para que se levantem, sacudam a inércia e prossigam caminho.
É graças a esses samaritanos que a vida humana prossegue
o seu caminhar que não cessa nunca.
Gente que dá de
si, que se dá a si mesma sem pensar em retorno porque se sente totalmente
compensada com o que faz e não se importa; na verdade, prefere que não se fale
neles.
Não haverá maior
compensação que saber ter contribuído para a recuperação ou reabilitação de
alguém sem forças, capacidades ou com escassez de meios para recomeçar o
caminho interrompido.
“As duas moedas”
da viúva do Evangelho vêm ao de cima nas nossas referências do eterno gesto de
dar e receber que, no fim e ao cabo é a nossa vida.
Dar do que se
precisa, do que pode fazer falta, traz consigo uma satisfação tão grande que se
acaba por não desejar outra coisa que ir repetindo esses gestos sempre que o
ensejo se nos depare.
E, não só é
garantida a satisfação como o reconhecimento e admiração dos outros embora não
se procurem, não deixará de surgir motivando como exemplo a seguir.
No caso da viúva
(as duas moedas), o elogio veio célere, claríssimo, do próprio Jesus Cristo,
ficando lavrado para todo o sempre.
Todas as
tentativas que se levam a cabo no sentido de melhorar nalgum particular da
nossa personalidade só serão consequentes se houver um plano previamente
traçado no qual, com seriedade, se avaliaram e sopesaram esses traços que
melhor nos definem.
A ideia vaga que
o progresso, na vida interior, acontece a ritmo mais ou menos constante, não é
própria de pessoas com critério.
Não há nenhum
progresso sem luta e esta afirmação não é um chavão usado pelos conselheiros
espirituais; é uma realidade.
Todos temos
coisas boas - por vezes muito boas - no nosso carácter mas... também é verdade
que transportamos connosco uma quantidade de coisas que não são boas - por
vezes até são más - e outras absolutamente inúteis, sem qualquer préstimo.
Muito do que
fomos acumulando ao longo da vida, sem saber muito bem como ou porquê mas que
acaba por se tornar um fardo que arrastamos como se fosse uma inevitabilidade.
E não é!
Nada, absolutamente, é inevitável.
Tem de ser
considerada, sempre, a hipótese de fazer uma mudança tão profunda que seja necessário
começar tudo do princípio.
Não é nenhum drama bem pelo contrário; pode e, quase
sempre, é algo muito positivo.
Suponhamos que,
como mero exemplo, temos grande dificuldade em resistir à vaidade pessoal.
Podemos ter-nos em conta de inteligentes, capazes,
empreendedores, sobressaindo da esmagadora maioria das pessoas que conhecemos.
(Sim, isto não é
nenhum disparate, é muito mais comum do que se julga e é necessário um exame
sério para saber se, de facto, no todo ou em parte, não se aplica a nós).
Emendar ou tentar
corrigir pode não ser suficiente nem surtir os efeitos que procuramos.
Então, o remédio pode ser esse recomeçar do princípio.
Despir toda a roupagem e atavios com que nos fomos
adornando e, numa atitude de profunda humildade, reconhecer que não somos nada,
não valemos nada, não temos nada, não podemos nada, não sabemos nada que,
enfim, não somos nada.
Claro que, estes
“nada” são absolutamente verdadeiros em relação a Deus, ao que Ele sabe, pode,
tem, vale, numa palavra, É.
E é esta a
comparação que nos interessa fazer, já que compararmo-nos com os outros não tem
interesse nenhum.
A tendência
natural do filho é comparar-se com o seu pai que é a sua referência mais forte,
logo, se somos efectivamente filhos de Deus, Ele deve ser o nosso modelo e
referência, com Quem desejamos assemelhar-nos.
Nada melhor que
seguir, neste caso o conselho do próprio Jesus Cristo a Nicodemos: nascer de
novo.
Difícil?
Dificílimo…
porque, muitas vezes, nem sabemos como fazer.
Volta aqui a
surgir a figura do Director ou Conselheiro espiritual.
Realmente, sozinhos, não “vamos lá”, não conseguiremos
descolar de nós próprios ou, sequer, sacudir para longe toda essa parafernália
de preconceitos, convicções, planos, escrúpulos e esquemas que fomos
construindo e que enformam a nossa idiossincrasia.