16/02/2021

Leitura espiritual

 


Novo Testamento 1


Evangelho


Mc XII, 35-44; Mc XIV, 1-13

 

Cristo filho e Senhor de David

35 Ensinando no templo, Jesus tomou a palavra e perguntou: «Como dizem os doutores da Lei que o Messias é filho de David? 36 O próprio David afirmou, inspirado pelo Espírito Santo: Disse o Senhor ao meu Senhor: ‘Senta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés’. 37 O próprio David chama-lhe Senhor; como é Ele seu filho?» E a numerosa multidão ouvia-o com agrado.

 

Hipocrisia dos escribas

38 Continuando o seu ensinamento, Jesus dizia: «Tomai cuidado com os doutores da Lei, que gostam de exibir longas vestes, de ser cumprimentados nas praças, 39 de ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e nos banquetes; 40 eles devoram as casas das viúvas a pretexto de longas orações. Esses receberão uma sentença mais severa.» 41 Estando sentado em frente do tesouro, observava como a multidão deitava moedas. Muitos ricos deitavam muitas. 42 Mas veio uma viúva pobre e deitou duas moedinhas, uns tostões.

 

O óbulo da viúva pobre

43 Chamando os discípulos, disse: «Em verdade vos digo que esta viúva pobre deitou no tesouro mais do que todos os outros; 44 porque todos deitaram do que lhes sobrava, mas ela, da sua penúria, deitou tudo quanto possuía, todo o seu sustento.»

 

Profecias da ruína de Jerusalém e fim do mundo

XIII 1 Ao sair do templo, um dos discípulos disse-lhe: «Repara, Mestre, que pedras e que construções!» 2 Jesus respondeu: «Vês estas grandiosas construções? Não ficará delas pedra sobre pedra; tudo será destruído.» 3 E, estando sentado no Monte das Oliveiras frente ao templo, Pedro, Tiago, João e André perguntaram-lhe em particular:  4«Diz-nos quando tudo isto acontecerá e qual o sinal de que tudo está para acabar.» 5 Jesus começou a dizer-lhes: «Acautelai-vos para que ninguém vos iluda. 6 Surgirão muitos com o meu nome, dizendo: ‘Sou eu’. E seduzirão a muitos. 7 Quando ouvirdes falar de guerras e de rumores de guerras, não vos alarmeis; é preciso que isso aconteça, mas ainda não será o fim. 8 Há-de erguer-se povo contra povo e reino contra reino; haverá terramotos em vários lugares, haverá fome. Isto apenas será o princípio das dores.» 9 «Tomai cuidado convosco! Hão-de entregar-vos aos tribunais, sereis açoitados nas sinagogas e comparecereis diante dos governadores e dos reis por minha causa, para dar testemunho diante deles. 10 Mas, antes disso, deve proclamar-se o Evangelho a todas as nações. 11 Quando vos levarem para serdes entregues, não vos inquieteis com o que haveis de dizer; dizei o que vos for dado nessa hora, pois não sereis vós a falar, mas sim o Espírito Santo. 12 O irmão entregará à morte o seu irmão, e o pai, o seu filho; os filhos hão-de erguer-se contra os pais e causar-lhes a morte. 13 E sereis odiados por todos, por causa do meu nome; mas quem perseverar até ao fim será salvo.»

Nota: (1 Sequencial todos os dias do ano)


Texto:



Onde temos o coração?

  ‘Estar no que se faz e fazer o que se deve’, é o singular conselho de um extraordinário condutor de almas, de um ‘santo dos nossos dias’ [1], como lhe chamaria João Paulo II, e, de facto, não fora, como é, tão difícil de seguir, não seria a sociedade humana muito mais cordata, pacífica e cordial?

  Mas não!

  Como infelizmente não se segue tão salutar princípio, cada um faz o que compete a outro fazer, num tempo que não é o adequado.

Por isso passamos a vida a tentar emendar erros, a corrigir enganos, a voltar sobre os passos já dados uma e outra vez, descrevendo uma curva em vez de seguir a evidente linha recta que conduz ao objectivo.

  Há sempre tanto a fazer que espanta e admira como alguns ficam como que sentados na vera do caminho, assistindo à vida que vai passando em vez de acompanhar os outros, na caminhada.

  O que lhes vale a muitos, sim, o que lhes vale, é que há inúmeros samaritanos no meio dessa multidão que caminha e que, ao vê-los, se detêm com o propósito de tudo fazer para que se levantem, sacudam a inércia e prossigam caminho. 

  É graças a esses samaritanos que a vida humana prossegue o seu caminhar que não cessa nunca.

 Gente que dá de si, que se dá a si mesma sem pensar em retorno porque se sente totalmente compensada com o que faz e não se importa; na verdade, prefere que não se fale neles.

  Não haverá maior compensação que saber ter contribuído para a recuperação ou reabilitação de alguém sem forças, capacidades ou com escassez de meios para recomeçar o caminho interrompido.

  “As duas moedas” da viúva do Evangelho vêm ao de cima nas nossas referências do eterno gesto de dar e receber que, no fim e ao cabo é a nossa vida.

  Dar do que se precisa, do que pode fazer falta, traz consigo uma satisfação tão grande que se acaba por não desejar outra coisa que ir repetindo esses gestos sempre que o ensejo se nos depare.

  E, não só é garantida a satisfação como o reconhecimento e admiração dos outros embora não se procurem, não deixará de surgir motivando como exemplo a seguir.

  No caso da viúva (as duas moedas), o elogio veio célere, claríssimo, do próprio Jesus Cristo, ficando lavrado para todo o sempre.

  Todas as tentativas que se levam a cabo no sentido de melhorar nalgum particular da nossa personalidade só serão consequentes se houver um plano previamente traçado no qual, com seriedade, se avaliaram e sopesaram esses traços que melhor nos definem.

  A ideia vaga que o progresso, na vida interior, acontece a ritmo mais ou menos constante, não é própria de pessoas com critério.

  Não há nenhum progresso sem luta e esta afirmação não é um chavão usado pelos conselheiros espirituais; é uma realidade.

  Todos temos coisas boas - por vezes muito boas - no nosso carácter mas... também é verdade que transportamos connosco uma quantidade de coisas que não são boas - por vezes até são más - e outras absolutamente inúteis, sem qualquer préstimo.

  Muito do que fomos acumulando ao longo da vida, sem saber muito bem como ou porquê mas que acaba por se tornar um fardo que arrastamos como se fosse uma inevitabilidade.

  E não é!

Nada, absolutamente, é inevitável.

  Tem de ser considerada, sempre, a hipótese de fazer uma mudança tão profunda que seja necessário começar tudo do princípio.

Não é nenhum drama bem pelo contrário; pode e, quase sempre, é algo muito positivo.

  Suponhamos que, como mero exemplo, temos grande dificuldade em resistir à vaidade pessoal.

Podemos ter-nos em conta de inteligentes, capazes, empreendedores, sobressaindo da esmagadora maioria das pessoas que conhecemos.

  (Sim, isto não é nenhum disparate, é muito mais comum do que se julga e é necessário um exame sério para saber se, de facto, no todo ou em parte, não se aplica a nós).

  Emendar ou tentar corrigir pode não ser suficiente nem surtir os efeitos que procuramos.

Então, o remédio pode ser esse recomeçar do princípio.

Despir toda a roupagem e atavios com que nos fomos adornando e, numa atitude de profunda humildade, reconhecer que não somos nada, não valemos nada, não temos nada, não podemos nada, não sabemos nada que, enfim, não somos nada.

  Claro que, estes “nada” são absolutamente verdadeiros em relação a Deus, ao que Ele sabe, pode, tem, vale, numa palavra, É.

  E é esta a comparação que nos interessa fazer, já que compararmo-nos com os outros não tem interesse nenhum.

  A tendência natural do filho é comparar-se com o seu pai que é a sua referência mais forte, logo, se somos efectivamente filhos de Deus, Ele deve ser o nosso modelo e referência, com Quem desejamos assemelhar-nos.

  Nada melhor que seguir, neste caso o conselho do próprio Jesus Cristo a Nicodemos: nascer de novo. [2]

Difícil?

  Dificílimo… porque, muitas vezes, nem sabemos como fazer.

  Volta aqui a surgir a figura do Director ou Conselheiro espiritual.

Realmente, sozinhos, não “vamos lá”, não conseguiremos descolar de nós próprios ou, sequer, sacudir para longe toda essa parafernália de preconceitos, convicções, planos, escrúpulos e esquemas que fomos construindo e que enformam a nossa idiossincrasia.

 

 

 



[1] s. josemaria escrivá

[2] Cfr. Jo 3, 7-15

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