A instituição familiar
24.
Na Obra, devemos mover-nos sempre com optimismo e visão sobrenatural, que estão
ligados à filiação divina, mas não podemos ignorar que, nestes momentos, um dos
âmbitos mais ameaçados pela onda do hedonismo é a família. Entre os graves
danos que esta situação produz, saltam à vista o aumento das infidelidades
conjugais e a crescente dificuldade para que a gente jovem se encontre em condições
de ouvir e de seguir a chamada de Deus, sobretudo ao celibato apostólico. Por
isso, hoje é especialmente urgente e necessária uma «cruzada de virilidade e de
pureza» [41], nos diferentes níveis da sociedade.
Nesta
batalha de limpeza, como em todas as outras virtudes, reveste-se de grande
importância a delicadeza para praticar pessoalmente esta afirmação gozosa que é
a santa pureza, de acordo com estado de cada um, e também para não descuidar a
influência que se pode exercer mediante o apostolado de amizade e de
confidência. Além disso, são sempre úteis os estudos interdisciplinares sobre a
forma de ajudar que muitas pessoas e instituições, em todo o mundo, fomentem,
seguindo o exemplo dos primeiros cristãos, uma nova cultura, uma nova
legislação, uma nova moda, a que me referia anteriormente.
Será
necessário rezar perseverantemente, será necessário trabalhar muito para
alcançar um objectivo tão ambicioso. Mas é assim que os cristãos estabelecem as
metas: magnânimas nos desejos e adaptadas à realidade daquilo que se está em
condições de conseguir individualmente. Temos de nos convencer que cada um está
capacitado para chegar a mais, a bastante mais do que pensamos, à base de
coisas pequenas no próprio ambiente: afirmações, exemplos, santa
intransigência. Vem-me à memória uma imagem que S. Josemaria empregava a
propósito do problema ecológico. Copio-a aqui, porque me parece muito
elucidativa do que estou a comentar.
«Recentemente
dizia aos vossos irmãos mais velhos, lembrando-me de que falámos tantas vezes
de barcas e de redes, que agora se fala e se escreve muito em todos os sítios
de ecologia. E dedicam-se, nos rios e nos lagos, e em todos os mares, a tomar
amostras de água, a analisá-la... Quase sempre o resultado é que aquilo está em
más condições: os peixes não dispõem dum ambiente sadio, habitável.
Quando
falámos de barcos e de redes, vós e eu referíamo-nos sempre às redes de Cristo,
à barca de Pedro e às almas. Por algo disse o Senhor: Vinde após mim, que eu
farei de vós pescadores de homens (Mt 4, 19). Pois bem, pode acontecer que
alguns desses peixes, desses homens, vendo o que está a suceder em todo o mundo
e dentro da Igreja de Deus, ante esse mar, que parece coberto de imundície, e
ante esses rios que estão cheios como de babas repugnantes, onde não encontram
alimento nem oxigénio; se estes peixes pensassem e estamos a falar de uns
peixes que pensam, porque têm alma, poderia vir-lhes à cabeça a decisão de
dizer: basta, eu dou um salto, e fora! Não vale a pena viver assim. Vou
refugiar-me na margem, e ali darei umas arfadas, e respirarei um pouquinho de
oxigénio. Basta!
Não,
meus filhos; nós temos de continuar no meio deste mundo podre, no meio deste
mar de águas turvas; no meio desses rios que passam pelas grandes cidades e
pelas aldeias, e que não têm nas suas águas a virtude de fortalecer o corpo, de
saciar a sede, porque envenenam. Meus filhos, havemos de estar sempre no meio
da rua, no meio do mundo a tratar de criar à nossa volta um remanso de águas
limpas, para que venham outros peixes e, entre todos, vamos ampliando o
remanso, purificando o rio, devolvendo a sua qualidade às águas do mar» [42].
Copyright © Prælatura Sanctæ Crucis et
Operis Dei
Nota: Publicação devidamente
autorizada
____________________
Notas:
[41]
S. Josemaria, Caminho, n. 121.
[42]
S. Josemaria, Notas de uma reunião familiar, 20-V-1973.