13/01/2013

Carta do Prelado do Opus Dei por ocasião do Ano da Fé. 24


A instituição familiar

24. Na Obra, devemos mover-nos sempre com optimismo e visão sobrenatural, que estão ligados à filiação divina, mas não podemos ignorar que, nestes momentos, um dos âmbitos mais ameaçados pela onda do hedonismo é a família. Entre os graves danos que esta situação produz, saltam à vista o aumento das infidelidades conjugais e a crescente dificuldade para que a gente jovem se encontre em condições de ouvir e de seguir a chamada de Deus, sobretudo ao celibato apostólico. Por isso, hoje é especialmente urgente e necessária uma «cruzada de virilidade e de pureza» [41], nos diferentes níveis da sociedade.

Nesta batalha de limpeza, como em todas as outras virtudes, reveste-se de grande importância a delicadeza para praticar pessoalmente esta afirmação gozosa que é a santa pureza, de acordo com estado de cada um, e também para não descuidar a influência que se pode exercer mediante o apostolado de amizade e de confidência. Além disso, são sempre úteis os estudos interdisciplinares sobre a forma de ajudar que muitas pessoas e instituições, em todo o mundo, fomentem, seguindo o exemplo dos primeiros cristãos, uma nova cultura, uma nova legislação, uma nova moda, a que me referia anteriormente.

Será necessário rezar perseverantemente, será necessário trabalhar muito para alcançar um objectivo tão ambicioso. Mas é assim que os cristãos estabelecem as metas: magnânimas nos desejos e adaptadas à realidade daquilo que se está em condições de conseguir individualmente. Temos de nos convencer que cada um está capacitado para chegar a mais, a bastante mais do que pensamos, à base de coisas pequenas no próprio ambiente: afirmações, exemplos, santa intransigência. Vem-me à memória uma imagem que S. Josemaria empregava a propósito do problema ecológico. Copio-a aqui, porque me parece muito elucidativa do que estou a comentar.

«Recentemente dizia aos vossos irmãos mais velhos, lembrando-me de que falámos tantas vezes de barcas e de redes, que agora se fala e se escreve muito em todos os sítios de ecologia. E dedicam-se, nos rios e nos lagos, e em todos os mares, a tomar amostras de água, a analisá-la... Quase sempre o resultado é que aquilo está em más condições: os peixes não dispõem dum ambiente sadio, habitável.

Quando falámos de barcos e de redes, vós e eu referíamo-nos sempre às redes de Cristo, à barca de Pedro e às almas. Por algo disse o Senhor: Vinde após mim, que eu farei de vós pescadores de homens (Mt 4, 19). Pois bem, pode acontecer que alguns desses peixes, desses homens, vendo o que está a suceder em todo o mundo e dentro da Igreja de Deus, ante esse mar, que parece coberto de imundície, e ante esses rios que estão cheios como de babas repugnantes, onde não encontram alimento nem oxigénio; se estes peixes pensassem e estamos a falar de uns peixes que pensam, porque têm alma, poderia vir-lhes à cabeça a decisão de dizer: basta, eu dou um salto, e fora! Não vale a pena viver assim. Vou refugiar-me na margem, e ali darei umas arfadas, e respirarei um pouquinho de oxigénio. Basta!

Não, meus filhos; nós temos de continuar no meio deste mundo podre, no meio deste mar de águas turvas; no meio desses rios que passam pelas grandes cidades e pelas aldeias, e que não têm nas suas águas a virtude de fortalecer o corpo, de saciar a sede, porque envenenam. Meus filhos, havemos de estar sempre no meio da rua, no meio do mundo a tratar de criar à nossa volta um remanso de águas limpas, para que venham outros peixes e, entre todos, vamos ampliando o remanso, purificando o rio, devolvendo a sua qualidade às águas do mar» [42].

Copyright © Prælatura Sanctæ Crucis et Operis Dei
Nota: Publicação devidamente autorizada

____________________
Notas:

[41] S. Josemaria, Caminho, n. 121.
[42] S. Josemaria, Notas de uma reunião familiar, 20-V-1973.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.