Tempo de Quaresma V Semana
Evangelho:
Jo 8 1-11
1 Jesus foi para o
monte das Oliveiras. 2 Ao romper da manhã, voltou para o templo e todo o povo
foi ter com Ele, e Ele, sentado, os ensinava. 3 Então os escribas e os fariseus
trouxeram-Lhe uma mulher apanhada em adultério; puseram-na no meio, 4 e
disseram-Lhe: «Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante delito de
adultério. 5 Ora Moisés, na Lei, mandou-nos apedrejar tais mulheres. E Tu que
dizes?». 6 Diziam isto para Lhe armarem uma cilada, a fim de O poderem acusar.
Porém, Jesus, inclinando-Se, pôs-Se a escrever com o dedo na terra. 7
Continuando, porém, eles a interrogá-l'O, levantou-Se e disse-lhes: «Aquele de
vós que estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire uma pedra». 8 Depois,
tornando a inclinar-Se, escrevia na terra. 9 Mas eles, ouvindo isto, foram-se
retirando, um após outro, começando pelos mais velhos; e ficou só Jesus com a
mulher diante d'Ele. 10 Então, levantando-Se, disse-lhe: «Mulher, onde estão os
que te acusavam? Ninguém te condenou?». 11 Ela respondeu: «Ninguém, Senhor».
Então Jesus disse: «Nem Eu te condeno; vai e doravante não peques mais».
Comentário:
Jesus nunca condena o pecador, condena o
pecado.
Quanto ao pecador, espera que,
arrependido, peça perdão.
Quanto ao pecado, porque é Santo, não pode
mais que abominá-lo.
Eu, pecador, me confesso...são as palavras
que o Senhor sempre espera ouvir de nós para, depois de nos perdoar, nos mandar
em paz.
(ama, Comentário
sobre Jo 8, 1-11, 2010.04.11)
Leitura espiritual
EXORTAÇÃO APOSTÓLICA EVANGELII GAUDIUM
DO SANTO PADRE FRANCISCO
AO EPISCOPADO, AO CLERO ÀS
PESSOAS CONSAGRADAS E AOS FIÉIS LEIGOS SOBRE O ANÚNCIO DO EVANGELHO NO MUNDO
ACTUAL
O
todo é superior à parte
234. Entre a globalização
e a localização também se gera uma tensão.
É preciso prestar atenção
à dimensão global para não cair numa mesquinha quotidianidade.
Ao mesmo tempo convém não
perder de vista o que é local, que nos faz caminhar com os pés por terra.
As duas coisas unidas
impedem de cair em algum destes dois extremos: o primeiro, que os cidadãos
vivam num universalismo abstracto e globalizante, miméticos passageiros do
carro de apoio, admirando os fogos-de-artifício do mundo, que é de outros, com
a boca aberta e aplausos programados; o outro extremo é que se transformem num
museu folclórico de eremitas localistas, condenados a repetir sempre as mesmas
coisas, incapazes de se deixar interpelar pelo que é diferente e de apreciar a
beleza que Deus espalha fora das suas fronteiras.
235. O todo é mais do que a parte, sendo
também mais do que a simples soma delas.
Portanto, não se deve
viver demasiado obcecado por questões limitadas e particulares.
É preciso alargar sempre o
olhar para reconhecer um bem maior que trará benefícios a todos nós.
Mas há que o fazer sem se
evadir nem se desenraizar.
É necessário mergulhar as
raízes na terra fértil e na história do próprio lugar, que é um dom de Deus.
Trabalha-se no pequeno, no
que está próximo, mas com uma perspectiva mais ampla.
Da mesma forma, uma pessoa
que conserva a sua peculiaridade pessoal e não esconde a sua identidade, quando
se integra cordialmente numa comunidade não se aniquila, mas recebe sempre
novos estímulos para o seu próprio desenvolvimento.
Não é a esfera global que
aniquila, nem a parte isolada que esteriliza.
236. Aqui o modelo não é a
esfera, pois não é superior às partes e, nela, cada ponto é equidistante do
centro, não havendo diferenças entre um ponto e o outro.
O modelo é o poliedro, que
reflecte a confluência de todas as partes que nele mantêm a sua originalidade.
Tanto a acção pastoral
como a acção política procuram reunir nesse poliedro o melhor de cada um.
Ali entram os pobres com a
sua cultura, os seus projectos e as suas próprias potencialidades. Até mesmo as
pessoas que possam ser criticadas pelos seus erros, têm algo a oferecer que não
se deve perder. É a união dos povos, que, na ordem universal, conservam a sua
própria peculiaridade; é a totalidade das pessoas numa sociedade que procura um
bem comum que verdadeiramente incorpore a todos.
237. A nós, cristãos, este
princípio fala-nos também da totalidade ou integridade do Evangelho que a
Igreja nos transmite e envia a pregar.
A sua riqueza plena
incorpora académicos e operários, empresários e artistas, incorpora todos.
A «mística popular»
acolhe, a seu modo, o Evangelho inteiro e encarna-o em expressões de oração, de
fraternidade, de justiça, de luta e de festa.
A Boa Nova é a alegria dum
Pai que não quer que se perca nenhum dos seus pequeninos.
Assim nasce a alegria no
Bom Pastor que encontra a ovelha perdida e a reintegra no seu rebanho.
O Evangelho é fermento que
leveda toda a massa e cidade que brilha no cimo do monte, iluminando todos os
povos.
O Evangelho possui um
critério de totalidade que lhe é intrínseco: não cessa de ser Boa Nova enquanto
não for anunciado a todos, enquanto não fecundar e curar todas as dimensões do
homem, enquanto não unir todos os homens à volta da mesa do Reino.
O todo é superior à parte.
IV.
O diálogo social como contribuição para a paz
238. A evangelização
implica também um caminho de diálogo.
Neste momento, existem
sobretudo três campos de diálogo onde a Igreja deve estar presente, cumprindo
um serviço a favor do pleno desenvolvimento do ser humano e procurando o bem
comum: o diálogo com os Estados, com a sociedade – que inclui o diálogo com as
culturas e as ciências – e com os outros crentes que não fazem parte da Igreja
Católica.
Em todos os casos, «a Igreja
fala a partir da luz que a fé lhe dá»,[i]
oferece a sua experiência de dois mil anos e conserva sempre na memória as
vidas e sofrimentos dos seres humanos.
Isto ultrapassa a razão
humana, mas também tem um significado que pode enriquecer a quantos não creem e
convida a razão a alargar as suas perspectivas.
239. A Igreja proclama o
«evangelho da paz»[ii]
e está aberta à colaboração com todas as autoridades nacionais e internacionais
para cuidar deste bem universal tão grande.
Ao anunciar Jesus Cristo, que
é a paz em pessoa[iii],
a nova evangelização incentiva todo o baptizado a ser instrumento de
pacificação e testemunha credível duma vida reconciliada.[iv]
É hora de saber como
projectar, numa cultura que privilegie o diálogo como forma de encontro, a
busca de consenso e de acordos mas sem a separar da preocupação por uma
sociedade justa, capaz de memória e sem exclusões.
O autor principal, o
sujeito histórico deste processo, é a gente e a sua cultura, não uma classe,
uma fracção, um grupo, uma elite.
Não precisamos de um
projecto de poucos para poucos, ou de uma minoria esclarecida ou testemunhal
que se aproprie de um sentimento colectivo.
Trata-se de um acordo para
viver juntos, de um pacto social e cultural.
240. O cuidado e a
promoção do bem comum da sociedade competem ao Estado.[v]
Este, com base nos
princípios de subsidiariedade e solidariedade e com um grande esforço de
diálogo político e criação de consensos, desempenha um papel fundamental – que
não pode ser delegado – na busca do desenvolvimento integral de todos.
Este papel exige, nas
circunstâncias actuais, uma profunda humildade social.
241. No diálogo com o
Estado e com a sociedade, a Igreja não tem soluções para todas as questões
específicas.
Mas, juntamente com as vá-
rias forças sociais, acompanha as propostas que melhor correspondam à dignidade
da pessoa humana e ao bem comum.
Ao fazê-lo, propõe sempre
com clareza os valores fundamentais da existência humana, para transmitir
convicções que possam depois traduzir-se em acções políticas.
(cont)
(Revisão da versão portuguesa por ama)
[i] Bento XVI, Discurso
à Cúria Romana (21 de Dezembro de 2012): AAS 105 (2013), 51.
[iv] Cf. Propositio
14.181
[v] Cf. Catecismo da
Igreja Católica, 1910; Pont. Conselho «Justiça e Paz», Compêndio de Doutrina
Social da Igreja, 168.