Em certos momentos angustia-te um
princípio de desânimo, que mata todo o teu entusiasmo, e que mal consegues
vencer à força de actos de esperança. Não importa; é a melhor hora de pedir
mais graça a Deus, e avante! Renova a alegria de lutar, ainda que percas uma
escaramuça. (Sulco, 77)
Com monótona cadência sai da boca de
muitos o ritornello já tão vulgar, de que a esperança é a última coisa que se
perde; como se a esperança fosse um apoio para continuarmos a deambular sem complicações,
sem inquietações de consciência; ou como se fosse um expediente que permite
adiar sine die a oportuna rectificação do procedimento, a luta para alcançar
metas nobres e, sobretudo, o fim supremo de nos unirmos com Deus.
Eu
diria que esse é o caminho para confundir a esperança com a comodidade. No
fundo, não há ânsias de conseguir um verdadeiro bem, nem espiritual, nem
material legítimo; a mais alta pretensão de alguns reduz-se a evitar o que
poderia alterar a tranquilidade – aparente – de uma existência medíocre. Com
uma alma tímida, acanhada, preguiçosa, a criatura enche-se de egoísmos subtis e
conforma-se com o facto de os dias, os anos decorrerem sine spe nec metu, sem
aspirações que exijam esforço, sem os perigos da peleja: o que importa é evitar
o risco do desaire e das lágrimas. Que longe se está de obter uma coisa, se se
malogrou o desejo de a possuir, por temor das exigências que a sua conquista
comporta! (Amigos
de Deus, n. 207)
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