18/06/2014

Maria, Mestra de entrega sem limites

A Virgem Santa Maria, Mestra da entrega sem limites! Lembras-te? Com um louvor dirigido a Ela, Cristo afirmou: "Quem cumpre a vontade de Meu Pai, esse – essa – é Minha mãe!...". Pede a esta boa Mãe que na tua alma ganhe força – força de amor e de libertação – a sua resposta de generosidade exemplar: "Ecce ancilla Domini!", eis aqui a escrava do Senhor! (Sulco, 33)

Queres pensar – pela minha parte também farei o meu exame – se manténs imutável e firme a tua escolha da Vida? Se, ao ouvires essa voz de Deus, amabilíssima, que te estimula à santidade, respondes livremente que sim? Dirijamos o olhar para o nosso Jesus, quando falava às multidões pelas cidades e campos da Palestina. Não pretende impor-se. Se queres ser perfeito..., diz ao jovem rico. Aquele rapaz rejeitou o convite e o Evangelho conta que abiit tristis , que se retirou entristecido. Por isso, alguma vez lhe chamei a ave triste: perdeu a alegria, porque se negou a entregar a liberdade a Deus.


Consideremos agora o momento sublime em que o Arcanjo São Gabriel anuncia a Santa Maria o desígnio do Altíssimo. A nossa Mãe ouve e interroga para compreender melhor aquilo que Nosso Senhor lhe pede; depois, surge a resposta firme: Fiat! – faça-se em mim segundo a tua palavra! –, o fruto da melhor liberdade: a de se decidir por Deus. (Amigos de Deus, nn 24–25)

Pequena agenda do cristão


Quarta-Feira




(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:

Simplicidade e modéstia.


Senhor, ajuda-me a ser simples, a despir-me da minha “importância”, a ser contido no meu comportamento e nos meus desejos, deixando-me de quimeras e sonhos de grandeza e proeminência.


Lembrar-me:
Do meu Anjo da Guarda.


Senhor, ajuda-me a lembrar-me do meu Anjo da Guarda, que eu não despreze companhia tão excelente. Ele está sempre a meu lado, vela por mim, alegra-se com as minhas alegrias e entristece-se com as minhas faltas.

Anjo da minha Guarda, perdoa-me a falta de correspondência ao teu interesse e protecção, a tua disponibilidade permanente. Perdoa-me ser tão mesquinho na retribuição de tantos favores recebidos.

Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?



Temas para meditar 149

Pecado

O pecado é tal ponto mal voluntário, que de nenhum modo seria pecado, se não tivesse o seu princípio na vontade; esta afirmação goza de tal evidência, que estão de acordo os poucos sábios e os muito ignorantes que habitam o mundo.




(Stº agostinhoDe vera religione, XIV 27 pi 34 133)

Tratado da lei 27

Questão 96: Do poder da lei humana.

Art. 5 — Se todos estão sujeitos à lei.

(Ad Rom., cap. XII, lect I).

O quinto discute-se assim. — Parece que nem todos estão sujeitos à lei.

1. — Pois, só estão sujeitos à lei aqueles para quem ela foi feita. Ora, o Apóstolo diz (1 Tm 1, 9): A lei não foi posta para o justo. Logo, o justo não está sujeito à lei humana.

2. Demais. — Urbano II, Papa, diz, conforme está nas Decretais: Nenhuma razão exige que seja governado por uma lei pública quem o é por uma lei particular. Ora, pela lei particular do Espírito Santo são governados todos os homens espirituais, que são filhos de Deus, segundo a Escritura (Rm 8, 14): Todos os que são levados pelo Espírito de Deus estes tais são filhos de Deus. Logo, nem todos os homens estão sujeitos à lei humana.

3. Demais. — O jurisperito diz: O príncipe está a salvo da lei. Ora, quem está a salvo da lei a ela não está sujeito. Logo, nem todos estão sujeitos à lei.

Mas, em contrário, diz o Apóstolo (Rm 13, 1): Todo homem está sujeito às potestades superiores. Ora, não está sujeito ao poder quem não o está à lei estabelecida por ele. Logo, todos os homens devem estar sujeitos à lei.

Como do sobredito resulta (q. 90, a. 1, a. 2; a. 3 ad 2), a lei é por essência duas coisas: regra dos actos humanos e dotada de força coactiva. Logo, pode-se estar sujeito à lei de dois modos. — Primeiro, como o regulado à regra. E deste modo, todos os que estão sujeitos ao poder o estão à lei, que ele estabelece. De duas maneiras, porém, pode dar-se que alguém não esteja sujeito à lei. Ou por estar absolutamente livre da sua sujeição; por isso os que fazem parte de um Estado ou reino não estão sujeitos às leis nem ao domínio do chefe de outro Estado ou reino. Ou por ser governado por uma lei superior; assim, quem está sujeito a um procônsul deve regular-se pelas suas ordens, não porém naquilo que lhe ordena o imperador; no que não está sujeito à ordem de um poder inferior, desde que é mandado por um superior. E assim, pode dar-se que quem, absolutamente falando, está sujeito à lei, não o está, de algum modo, desde que é governado por uma lei superior. — De outra maneira, diz-se que alguém está sujeito à lei como o coagido o está a quem coage. E deste modo, os homens justos e virtuosos não lhe estão sujeitos, mas só os maus. Pois, o coagido e violento é contrário à vontade. Ora, a vontade dos bons submete-se à lei, à qual não se submete a dos maus. Donde, assim sendo, os bons não estão sujeitos à lei, mas só os maus.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A objecção procede quanto à sujeição a modo de coação. Pois, assim, a lei não foi posta para os justos, que são a sua própria lei, porque mostram a obra da lei, escrita nos seus corações, como diz o Apóstolo (Rm 2, 14-15). Donde, para eles a lei não tem força coactiva, como para os maus.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A lei do Espírito Santo é superior a toda lei posta pelo homem. Por isso, os homens espirituais, enquanto levados pela lei do Espírito Santo, não estão sujeitos à lei, enquanto ela repugne à direcção desse Espírito. Mas é a própria direcção do Espírito Santo que leva os homens espirituais a serem sujeitos à lei humana, conforme a Es­critura (1 Pd 2, 13): Submetei-vos pois, a toda criatura humana, por amor de Deus.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Diz-se que o príncipe está a salvo da lei, quanto à força coactiva dela. Pois ninguém pode ser obrigado por si mesmo; e a lei não tem força coactiva senão pelo poder do príncipe. Donde, diz-se que o príncipe está a salvo da lei, porque ninguém pode pronunciar contra ele um juízo condenatório, se agir contra ela. Por isso, a Escritura — Contra ti só pequei, etc. — diz a Glosa: Não há homem que possa julgar as acções do rei. Mas quanto à força directiva da lei, o príncipe, por vontade própria, está sujeito a ela, conforme esta disposição: Quem estabeleceu uma lei para outrem também deve se lhe submeter. E a autoridade do Sábio o diz: Obedece à lei que fizeste. E no Código os imperadores Teodósio e Valentiniano escrevem ao prefeito Volusiano: É palavra digna da majestade reinante, que o príncipe se considere ligado pelas leis; pois, da autoridade da lei depende a nossa autoridade. E por certo, é mais que o império sujeitar-se o principado às leis. E também o Senhor repreende os que dizem e não fazem, e os que impõem cargas pesadas e nem com o seu dedo as querem mover, como está no Evangelho (Mt 23, 3-4). Donde, o príncipe não está a salvo do poder directivo do juízo de Deus; mas deve cumprir a lei, não coagido, mas voluntariamente. Está ainda o príncipe acima da lei por poder mudá-la, se for conveniente, e dispensar-se dela conforme ao lugar e ao tempo.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Evangelho diário, comentário e leitura espiritual (A Paciência 7)


Tempo comum Semana XI

Evangelho: Mt 6, 1-6. 16-18

1 «Guardai-vos de fazer as boas obras diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles. De contrário não tereis direito à recompensa do vosso Pai que está nos céus.2 «Quando, pois, dás esmola, não faças tocar a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa.3 Mas, quando dás esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita,4 para que a tua esmola fique em segredo, e teu Pai, que vê o que fazes em segredo, te pagará.5 «Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, a fim de serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa.6
16 «Quando jejuais, não vos mostreis tristes como os hipócritas que desfiguram o rosto para mostrar aos homens que jejuam. Na verdade vos digo que já receberam a sua recompensa.17 Mas tu, quando jejuares, unge a tua cabeça e lava o teu rosto,18 a fim de que não pareça aos homens que jejuas, mas sim a teu Pai, que está presente no oculto, e teu Pai, que vê no oculto, te dará a recompensa.

Comentário:

Algumas interpretações deste trecho de São Mateus têm servido de ‘desculpa’ para que muitos cristãos não cumpram as suas obrigações que o Baptismo os obriga.

‘Não vou à Missa porque não sinto nada’!

‘Rezo mas é cá para mim… ninguém tem nada com isso´!

‘Mortificações? Isso é para os “consagrados”!’

Depois, quando chegar o momento que, sabemos, virá quando menos o esperar-mos, ser-lhes-á perguntado do exemplo que não deram, da assistência que não prestaram, da colaboração que não deram à Igreja.

O que responderão?

(ama, comentário sobre Mt 6, 1-6. 16-18, 2013.06.19)


Leitura espiritual



Temas


A PACIÊNCIA

…/7

DEMORAS, CANSAÇOS E ARDORES

RAÍZES ILUMINADAS

Há cerca de dois anos, chegou-me às mãos um recorte de jornal que me sensibilizou profundamente. A autora do artigo, uma professora de uns trinta e poucos anos, evocava a memória de seus pais, já falecidos, que tinham sido em tempos idos meus conhecidos. O artigo foi escrito por ocasião da Beatificação do Fundador do Opus Dei e continha uma dupla homenagem: ao Bem-aventurado Josemaría Escrivá e aos pais da autora, que tinham sabido encarnar na vida do lar a espiritualidade aprendida do Beato Josemaría.

O leitor há-de permitir-me que introduza nestas páginas algumas citações desse artigo.

Maria Antônia – assim se chama a professora – conta a redescoberta que fez da “alma” de seus pais quando, depois de ambos terem falecido, remexia com carinho filial nos seus escritos, cartas e apontamentos, e especialmente na correspondência que o pai tinha mantido com Mons. Escrivá.

“Até que ambos tornaram a reunir-se na vida eterna, havia muitos aspectos da vida interior deles que eu só podia intuir – escreve a filha –. Captava-se a força do exemplo, a força da vocação dos dois, mas, como é lógico, perdiam-se muitos matizes, que ficavam só na intimidade deles.

Através de alguns excertos da correspondência encontrada, aprendi algumas coisas que agora tento transmitir”.

Olhando para trás, Maria Antônia evoca a progressiva descoberta que foi fazendo de muitas coisas maravilhosas que teciam, por assim dizer, o ambiente de seu lar, e que hoje percebia que não estavam lá por acaso nem por geração espontânea, mas como fruto do espírito cristão, generosamente vivido e cultivado pelos pais, num dia-a-dia amoroso, abnegado, paciente.

“Meus pais já eram do Opus Dei naqueles duros anos 50 de Barcelona, quando eu ainda não tinha nascido. À medida que fui tendo uso de razão e tornando-me mais consciente do que me rodeava, julguei sempre que o ambiente reinante na minha família, a educação que estávamos recebendo, e que tantas vezes tenho agradecido a Deus, fosse a normal em todas as famílias. Com o decorrer dos anos, fui percebendo que nem de longe era tão normal. Os princípios dessa educação eram bem claros: uma grande liberdade, baseada no senso de responsabilidade inculcado desde crianças; otimismo e alegria fundamentados claramente na fé, pois não faltaram dificuldades e obstáculos em todo o caminho terreno de meus pais; uma sólida formação na doutrina cristã, unida a um modo positivo de nos sugerir, sem impor, detalhes de vida de oração, e uma profunda e arraigada devoção a Nossa Senhora, a quem todos considerávamos e continuamos a considerar a especial intercessora para os assuntos familiares. Ficou-me muito claro que um dos pilares básicos para que esse ambiente familiar se mantivesse era o facto de que, em todos os momentos, o exemplo de meus pais, os seus actos, iam na frente das palavras. Passados os anos, percebi, sem que eles nada me dissessem, que aquilo era o espírito do Opus Dei”...

A filha relembra comovida as dificuldades financeiras por que a família numerosa passou, e os equilíbrios que o pai era obrigado a fazer para conjugar aulas na Faculdade, onde era professor, práticas de laboratório, trabalho em uma fábrica, preparação de um concurso e ainda aulas particulares. E relata a emoção que sentiu quando, folheando a correspondência paterna, descobriu que Mons. Escrivá tinha transcrito, no ponto 986 do livro Sulco, palavras de uma carta de seu pai:
“Não irá rir, Padre, se lhe disser que – faz uns dias – me surpreendi oferecendo ao Senhor, de uma maneira espontânea, o sacrifício de tempo que supunha para mim ter de consertar um brinquedo estragado de um dos meus filhos? – Não sorrio, fico feliz! Porque, com esse mesmo amor, Deus se ocupa de recompor os nossos estragos”. “Tenho – comenta a filha – recordações muito vivas dessas cenas: as bonecas descabeçadas ou sem pernas, a peça que precisava ser colada..., tudo isso nós sabíamos que, deixando-o na mesa do escritório de papai, tornaria a adquirir rapidamente a sua forma original. Que pouco valorizávamos, naquela altura, o ato heróico que podia significar para ele o fato de gastar dez ou quinze minutos! Mas como o valorizava aquela alma a quem Deus, através do espírito do Opus Dei, lhe saía ao encontro nesses pormenores minúsculos, mas grandiosos, por estarem cheios de amor”.

“Mais de uma vez – acrescenta a filha – tenho esclarecido em público que eu não seria o que hoje sou, se não tivesse recebido a educação que meus pais me deram, se não tivesse tido o seu exemplo em face de tantas contrariedades e situações difíceis – entre elas a morte de dois filhos – por que Deus permitiu que passassem” [1]

Essa perspectiva de tantos anos de entrega constante e amorosa dos pais iluminou aos olhos dessa mulher as suas próprias raízes. Entendeu-se melhor a si mesma, projetando as suas lembranças sobre o fundo luminoso da dedicação paciente, contínua, calada, carinhosa de seus pais cristãos.

OS FRUTOS DOURADOS DA PACIÊNCIA

Ao captar mais lucidamente a riqueza do exemplo dos pais, Maria Antônia pôde compreender também uma dimensão preciosa da virtude da paciência, de que agora vamos ocuparnos: a da fidelidade persistente, que é feita de amor generoso e constante; uma paciência que não se cansa do sacrifício, que não tem pressa em cobrar resultados, que não desanima quando os esforços parecem baldados e os frutos ainda não se vêm. Esta era a paciência que brilhava, com seu halo doce e envolvente, na recordação dos pais.

Todos nós temos experiência de quanto custa persistir nos esforços ou atitudes que exigem sacrifícios continuados e não trazem compensações imediatas. Não é fácil lutar, manter-se firme no empenho, e ver que tudo demora a realizar-se, a concluir-se, a chegar.

A nossa paciência é testada sempre que temos de aguardar, esperar, voltar, tentar uma e outra vez: desde a interminável espera num consultório dentário até o desgosto do casal de namorados que precisa adiar de novo a data do casamento, porque não têm condições de financiar o apartamento. Com razão diz Hildebrand que “a impaciência se relaciona sempre com o tempo. [2]
Mas todo aquele que quiser conseguir alguma coisa de real valor na vida, não terá outro remédio senão armar-se de paciência e esperar. Demora-se, necessariamente, a ser um profissional experiente; demora-se a amadurecer por dentro até corrigir pelo menos alguns dos defeitos pessoais; demora-se a suavizar arestas no casamento e, aos poucos, ir-se ajustando à base de mútuos perdões e sorridentes renúncias; demora-se a criar um bom ambiente familiar; demora a vida inteira a autêntica formação dos filhos.

“Aprendi a esperar – dizia Mons. Escrivá –; não é pouca ciência”. Mas é importante termos muito presente que esse “esperar” não significa “aguardar” passivamente. Consiste, como estamos vendo, em persistir fiel e confiadamente no cumprimento da nossa missão, do nosso dever – do dever religioso, moral, familiar, profissional... –, durante todo o tempo que for preciso, com aquela convicção que animava Santa Teresa: “A paciência tudo alcança”.

A essa paciente espera se refere o Apóstolo São Tiago, quando nos põe diante dos olhos a imagem do lavrador: Tende, pois, paciência, meus irmãos [...]. Vede o lavrador: ele aguarda o precioso fruto da terra e tem paciência até receber a chuva do outono e a da primavera. Tende também vós paciência e fortalecei os vossos corações (Ti 5, 7-8).

Não é verdade que estas palavras nos lembram muitas coisas pessoais? Os frutos dourados da vida só se conseguem com uma luta constante, unida a uma paciência fiel. Mas quanto custa
seguir o conselho do Apóstolo! Muitas vezes já fomos como aquela criança a quem a mãe tinha oferecido uma planta que, com o tempo, iria dar flores. “Mas, quando os botões surgiram, não sabíamos esperar que abrissem. Colaborávamos no seu desabrochar triturando-as, separando talvez as pétalas, para que a floração fosse mais rápida. Nódoas escuras apareciam então, e as flores estiolavam, murchavam...” [3]
Quantas coisas, na vida, não estiolam por cansaços impacientes que nos levam a desistir! Na vida familiar, os exemplos são gritantes. Talvez hoje seja mais necessário do que nunca recordar aos casais que a felicidade que procuram, sem saber bem como achá-la, nunca a conseguirão como fruto do egoísmo defendido de qualquer incômodo, mas como fruto do amor fielmente paciente, do amor cristão. E da mesma coisa deveriam lembrar-se todos os que começaram alguma vez, movidos por um alegre impulso da graça, a esforçar-se decididamente por viver o ideal e as virtudes cristãs. A maior ameaça contra esse bom propósito, mais do que nas fraquezas e nas reincidências no erro, encontra-se no cansaço, na sensação de que “não adianta continuar”, ou de que “custa demais conseguir”, ou seja, na falta de paciência para ir avançando aos poucos, à força de começar e recomeçar.

Nós gostamos de que as coisas nos sejam dadas logo. Deus sabe que as almas e as coisas precisam ter as suas estações. Temos que aprender, por isso, a ser bons semeadores, que esperam a colheita sem pressas inquietas e perseveram sem desânimos exaustos.


Semear é duro. É enterrar o grão e nada ver. Isso exige fé e desprendimento. Eu dou a semente do meu esforço, do meu empenho, do meu sacrifício, da minha oração, e espero, vigilante, até que dê o seu fruto, enquanto continuo, solícito, a zelar pelo campo: rego, limpo, podo, adubo, protejo... Só com essa paciência ativa é que um dia virá o fruto: o fruto da fé, amadurecida a partir da persistência na oração, nos sacramentos, na formação; o fruto dos valores cristãos finalmente arraigados nos filhos; o fruto das virtudes pessoais que desabrocham e se firmam; os frutos do apostolado.

Todos nós já exclamamos mais de uma vez: “Que paciência!”, ao admirarmos obras humanas magníficas, que só se explicam por uma longa aplicação, por um trabalho meticuloso, prolongado e imensamente paciente. É assim que louvamos, por exemplo, os bordados delicadíssimos e artísticos de uma enorme toalha de mesa feita à mão. É assim também que admiramos o trabalho da vida inteira de um pesquisador, que foi coligindo, exaustivamente, um incrível acervo de dados sobre uma matéria até então ainda não estudada. – “Que paciência!”, dizemos. Pois bem, uma paciência igual, pelo menos, e um esmero e uma tenacidade análogos, são os que Deus nos pede para cultivarmos em nós e à nossa volta a vida e as virtudes cristãs.

A paciência produz a virtude comprovada, diz São Paulo (Rom 5, 4). E São Tiago repisa o mesmo ensinamento ao escrever: É preciso que a paciência efetue a sua obra, a fim de serdes perfeitos e íntegros, sem fraqueza alguma (Ti 1, 4). Pela vossa paciência possuireis as vossas almas, havia já dito Jesus (Lc 21, 19).

É muito sugestivo o fato de que, nesses três textos, como em tantos outros da Bíblia, a mesma palavra que significa paciência inclua também o sentido de perseverança, de persistência fiel.

(cont.)




[1] maria antónia virgili, Jornal El Norte de Castilla, Valladolid, 16.05.1992. 
[2] dietrich von hildebrand, A nossa transformação em Cristo, Aster, Lisboa, 1960, pág. 204. 
[3] Romano Guardini, O Deus vivo, Aster, Lisboa, s/d, pág. 71.