Tenho
por hábito dialogar com Deus, a Santíssima Virgem, o Anjo da minha Guarda...
enfim… e, também, com aqueles que me são muito queridos que estão no Céu!
Porque
faço isto?
Na
verdade não sei. Parece-me que se alguém me escutasse pensaria que estaria na
presença de um tonto a falar sozinho!
Mas,
isso, não me importa para nada. Sinto-me bem, apetece-me, são conversas que, às
vezes, surgem sem aviso como se de repente sentisse uma necessidade imperiosa
de falar – em voz alta – de dizer o que me vai cá dentro.
Disse
“conversas” e disse bem porque sinto que estabeleço um diálogo algumas vezes
comigo próprio, outras com… já o disse acima.
Falo
em português, em castelhano, em inglês, em francês…
É
estranho???
Não
sei nem me importo em saber porque o faço.
Às
vezes – é quase inevitável – emociono-me e choro como um “fontanário”, não
porque sofra mas porque me emociona “ouvir” as respostas às perguntas que se me
vão colocando.
“A
imaginação é a louca da casa” dizia Santa Teresa, mas aqui não se trata disso,
não imagino nada, não arquitecto coisa nenhuma, não escolho um tema.
E
oiço realmente?
Sim,
é verdade, oiço.
De
alguma forma parece que, algumas vezes, estou a fazer apostolado comigo próprio
que é, no fim e ao cabo, um exame exaustivo, profundo, sem reservas nem
limites, vou por aí fora pensando – falando – na maravilha que deve ser a morte
assistida pela Mãe do Céu, no seu carinho e cuidado, no seu desvelo de Mãe que
não perde um filho antes o ganha definitivamente.
Vejo-a
no Céu passando tranquilamente entre miríades dos seus filhos, sorrindo tão
docemente que não posso deixar de sorrir também.
Vejo
à sua volta os Anjos e os Santos admirados com a sua presença tão discreta, tão
cheia de simplicidade que a tornam num Magnificat
estentóreo que ressoa pelos Céus fora.
Vejo
o Seu Filho, complacente e atento ao que ela possa querer sugerir-lhe.
Ele
está sempre sentado no Seu trono de Juiz supremo dando “despacho” aos que não
param de chegar.
Sendo
– como é – Ele próprio a Justiça, não tem nenhuma dúvida ou questão a colocar
mas, é verdade, sinto-o, olha sempre para a Sua Mãe como que procurando um
pequeno sinal de intervenção.
E
imagino que Ela lhe diz quase num sussurro:
‘Olha
que o António rezou quase diariamente o Rosário completo!’
E,
o Senhor, fica por brevíssimos instantes como que suspenso:
‘Eu,
ali à Sua frente, honrava a Sua Santíssima Mãe!’
Bom…
isto tem muito “peso”, é um handicap de enormíssima importância que não pode
deixar de ter em conta.
Outras
vezes:
‘Nunca
passava em frente de uma imagem minha – e tinha várias em casa – sem me dar um
beijo, até ensinou os netos a fazer o mesmo. Diariamente… quantas vezes beijava
a minha imagem?! Não sei… mas eram muitas’.
As
Mães não “contabilizam” os beijos que os filhos lhes dão!
Ao
lado, também discretamente, o Anjo da Guarda assentia com um sorriso, afinal,
ele mesmo era uma testemunha.
E,
a Senhora vestida de luz, continua:
‘Monstra te esse Matrem’, repetia-me
vezes sem conto, com uma ternura feita esperança e certeza ao mesmo tempo e,
eu, não podia mais que aceitar esses pedidos feitos a propósito de tudo e de
nada, de coisas importantes como de outras de escasso relevo’.
Mas…
eu penso na morte? Na minha morte?
Claro
que penso como não haveria de pensar se estou vivo?
Detenho-me
um pouco e acendo um cigarro. Não é falta de respeito ou de consideração, Ela
sabe muito bem que eu fumo porque haveria de se importar que fume quando falo
com ela?
E…
o Senhor? Importa-se?
Também
não, pois se Ele está sempre comigo me vê e me ouve que Lhe pode importar que
eu fume um cigarro só porque estou a falar com Ele?
Quando
falo, por exemplo, em castelhano, sorri como se achasse graça.
Ele
sabe quem estou a tentar imitar!
Y
le cuento sencillamente cuanto me va dentro del alma, le pido que desanude el
nudo en mi garganta y qué me haga fuerte, sencillo, humilde, y, sobretodo,
grato!
Raramente
tenho medo, ou melhor, receio de me “escalpelizar” demais ao ponto de ficar
reduzido a nada.
Sei
que, de facto, sou só um bocadinho mais – pequeno, ínfimo – de nada porque o
Senhor não quer um nada, para quê o quereria?
O
que faria com um nada!
Não!
Ele
quer algo – talvez uns escassos cinco peixes e dois pães para alimentar uns
largos milhares de bocas famintas – portanto, esta é a minha convicção, eu
valho qualquer coisa; aliás, Ele próprio o disse, «muito mais que muitos
passarinhos».
E
com uma familiaridade que Ele me permite – sei que me permite e até gosta –
digo-lhe francamente:
‘Olha
para mim, Senhor!
Vê
o triste estado em que me encontro; como me debato comigo próprio avaliando e
“pesando” os meus projectos e sonhos, a minha vontade e desejos de melhorar, de
ser SANTO e chego a esta conclusão que tanto me dói: fico-me por aqui, sentado,
imóvel, à espera que a santidade venha ter comigo!’
A
verdade, é que sinto que “consegui” captar a Tua atenção e num acto súbito de
perfeito Amor sugeres-me que deite o meu olhar à imagem da Nossa Mãe Santíssima
e… é o que faço!
Sinto
– imediatamente – os olhos húmidos e uma vontade irreprimível de a beijar pela
enésima vez.
E
que paz!
Que
tranquilidade!
A
minha alma agiganta-se e o meu coração, ao invés, torna-se pequeno, tão
pequenino que o posso colocar aos seus pés para que o guarde.
Y
ahora!
No
puedo más que decir repetidamente: Te amo! Te amo! Te amo!
Y
luego añadir:
Gratias
tibi! Gratias tibi! Gratias tibi!
E
o diálogo termina finalmente! Vou deitar-me e sei que vou dormir tranquilamente
e em paz!
(ama, Abril, 2016)