São Josemaria Escrivá
Cristo que passa 186 a 187
186
Que há muita gente
empenhada em comportar-se com injustiça? Sim, mas o Senhor insiste: pede-me, e
eu te darei as nações em herança, e os teus domínios irão até aos confins da
Terra.
Tu os governarás com vara
de ferro, e quebrá-los-ás qual vaso de oleiro.
São promessas fortes e são
de Deus.
Por isso, não podemos
dissimulá-las.
Não é em vão que Cristo é
o Redentor do mundo, e reina, soberano, à direita do Pai.
É o terrível anúncio
daquilo que espera a cada um de nós, quando a vida passar - porque passa - e a
todos, quando a história acabar, se o coração se endurece no mal e na
desesperança.
Contudo, Deus, que sempre
pode vencer, prefere convencer: E agora, ó reis, atendei: instruí-vos, vós que
governais a Terra.
Servi ao Senhor com temor,
e louvai-o com alegria; com tremor, prestai-lhe vassalagem, para que não Se
ire, e não pereçais fora do caminho, quando daqui a pouco se incendiar a sua
indignação. Cristo é o Senhor, o Rei.
E nós vos anunciamos que
aquela promessa, que foi feita a nossos pais, Deus a cumpriu para nossos
filhos, ressuscitando Jesus, como também está escrito no salmo segundo: Tu és
meu Filho, eu te gerei hoje...
Seja-vos, pois, notório,
homens, irmãos, que por Ele vos é anunciada a remissão dos pecados e de tudo
aquilo de que não pudestes ser justificados pela lei de Moisés.
Por Ele é justificado todo
aquele que crê. Tomai pois cuidado que não venha sobre vós o que foi fito pelos
profetas: Vede, ó despertadores, e admirai-vos e desaparecei, que eu faço uma
obra em vossos dias, uma obra que vós não crereis, se alguém vo-la contar.
É a obra da salvação, o
reinado de Cristo nas almas, a manifestação da misericórdia de Deus.
Bem-aventurados todos os
que confiam n'Ele!
Nós, cristãos, temos
direito a enaltecer a realeza de Cristo, porque, ainda que a injustiça abunde,
ainda que muitos não desejem este reinado de amor, na própria história humana
que é o cenário do mal, vai-se tecendo a obra da salvação eterna.
187
Anjos de Deus
Ego cogito cogitationes
pacis, et non afilictionis, eu tenho pensamentos de paz e não de tristeza, diz
o Senhor.
Sejamos homens de paz,
homens de justiça, fazedores do bem, e o Senhor não será para nós juiz, mas
amigo, irmão.
Que neste caminhar -
alegre! - pela Terra, nos acompanhem os anjos de Deus.
Antes do nascimento do
nosso Redentor - escreve São Gregório Magno - tínhamos perdido a amizade dos
Anjos.
O pecado original e os
nossos pecados quotidianos tinham-se afastado da sua luminosa pureza...
Mas desde o momento que
nós reconhecemos o nosso Rei, os anjos reconheceram-nos como concidadãos.
E como o Rei dos Céus quis
tornar a nossa carne terrena, os Anjos já não se afastam da nossa miséria.
Não se atrevem a
considerar inferior à sua esta natureza que adoram, vendo-a exaltada, acima
deles, na pessoa do Rei do Céu; e não sentem já inconveniente em considerar o
homem como companheiro.
Maria, a Mãe santa do
nosso Rei, a Rainha do nosso coração, cuida de nós como só Ela sabe fazê-lo.
Mãe compassiva, trono da
graça, pedimos-te que saibamos compor na nossa vida e na vida dos que nos
rodeiam, verso a verso, o poema simples da caridade, quasi fluvium pacis, como
um rio de paz.
Porque tu és mar de
inesgotável misericórdia: os rios vão dar todos ao mar e o mar não se enche.
FIM