14/05/2016

PENTECOSTES

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Desde que, por graça de Deus, O reencontrei e reencontrei a Igreja, a maior revelação que ocorreu na minha fé cristã, (se assim posso dizer), foi a percepção, o sentir, o viver, a realidade da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, o Espírito Santo.

Quando era “menino e moço”, o Espírito Santo era o “ilustre desconhecido”, e constato ainda hoje, que apesar de algumas diferenças ocorridas no e pelo Concílio Vaticano II, o Espírito Santo continua, na maior parte dos fiéis, a ser um “desconhecido”, tanto naquilo que Ele é, como naquilo que Ele faz.

E é frequente, (demasiado frequente), quando falo sobre o Espírito Santo, ou ouço falar sobre o Espírito Santo, reparar que muitos cristãos que ouvem, ficam admirados, ou no mínimo surpresos, e chegam mesmo a dizer posteriormente, que nunca tinham ouvido falar assim do Espírito Santo e sobretudo, da acção do Espírito Santo na vida dos que acreditam e até mesmo dos que não acreditam.

Permitam-me que afirme mais uma vez, que o Espírito Santo foi e é a maior revelação do meu reencontro com Deus e com a Igreja, passados mais de 20 anos de afastamento da fé.

É que a revelação do Espírito Santo na minha vida, levou-me ao encontro pessoal com Jesus Cristo, um encontro permanente, não só na Eucaristia, mas realmente em cada momento da minha vida, levou-me ao conhecimento e ao sentir profundo do amor do Pai, fazendo-me perceber que o Seu amor e o Seu perdão são sempre maiores que o meu pecado, e, fez-me até descobrir o amor da Mãe do Céu e a sua intercessão poderosa e constante junto de Seu Filho.

Por isso, hoje, dia de Pentecostes, quero fechar-me com Maria e os Apóstolos naquela sala, pedindo incessantemente o Espírito Santo, na certeza profunda que tenho, pela graça de Deus, que Ele será derramado em nós e em mim, e abrirá todas as portas e janelas, derrubará barreiras, incertezas e dúvidas, e levar-nos-á, levar-me-á, a “sair para fora”, a dar testemunho do infinito amor de Deus, a falar novas línguas, incompreensíveis para mim, mas que podem tocar os corações dos outros, a sentir-me “embriagado” pelo poder de Deus, ou melhor, a sentir-me inebriado pela presença real e viva de Deus no meio de nós e em mim..

Por isso quero clamar sem cessar: Vem Espírito Santo! Vem Espírito Santo! Vem Espírito Santo!


Marinha Grande, 14 de Maio de 2016
Joaquim Mexia Alves
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Os demónios do apostolado 8

Fazer acepção de pessoas

Deste demónio praticamente ninguém escapa. Não é fácil tomar consciência desta tentação. Ele ataca até o apóstolo mais espiritual, não porque não saiba disso, mas por cegueira. Por isso a expulsão deste demónio implica um longo caminho de iluminação das motivações apostólicas, que como toda iluminação de motivos normalmente se faz durante a vida toda.

Habitualmente nesta tentação do apostolado (salvo que tenha caído em níveis muito baixos), as acepções e discriminações de pessoas não são motivadas por preconceitos graves: racismo, classicismo, nacionalismo, tratamento diferenciado de ricos e pobres, etc. Estes graus de discriminação normalmente não estão presentes na pastoral da Igreja, a não ser em casos extremos. O demónio da acepção de pessoas costuma apresentar-se de maneira mais sutil.

Trata-se aqui de dar mais tempo, interessar-se mais e estar mais disponível às pessoas em geral e para os membros da comunidade cristã que têm mais qualidades humanas, que são mais inteligentes, mais interessantes ou agradáveis, mais simpáticos e atraentes… Consequentemente, se deixa de modo sutil num segundo plano, os que são menos dotados, mais opacos e menos atraentes, menos inteligentes e gratificantes… Esta é a forma mais comum de acepção de pessoas no apostolado, tanto mais subtil, profunda e persistente, quanto mais inconsciente ela for.

Além disso, no apostolado, no caso da predilecção pelos pobres, não se pode restringir ao nível sociológico, que é sempre essencial, é verdade. Precisa chegar igualmente a todos os “pobres” em qualidades humanas externas, psicologicamente discriminados em atenção e acolhimento. Ora, o apostolado não pode guiar-se unicamente pelo critério da eficácia, que aconselha investir preferencialmente nos mais dotados e nos líderes potenciais. Deve, igualmente, testemunhar o primado da caridade fraterna, que se revela preferencialmente com os desprezados e esquecidos.


Fonte: presbíteros

(revisão da versão portuguesa por ama)

Este texto é um extracto do livro do teólogo chileno segundo galilea, Tentación y Discernimiento, Narcea, Madrid 1991, p. 29-67

Antigo testamento / Êxodo 2

Êxodo 2

O nascimento de Moisés

1 Um homem da tribo de Levi casou-se com uma mulher da mesma tribo, e ela engravidou e deu à luz um filho. Vendo que era bonito, ela escondeu-o durante três meses.

2 Quando já não podia mais escondê-lo, pegou um cesto feito de junco e vedou-o com piche e betume. Colocou nele o menino e deixou o cesto entre os juncos, na margem do Nilo.

3 A irmã do menino ficou observando de longe para ver o que lhe aconteceria.

4 A filha do faraó descera ao Nilo para tomar banho. Entretanto, as suas servas andavam pela margem do rio. Nisso viu o cesto entre os juncos e mandou a sua criada apanhá-lo.

5 Ao abri-lo, viu um bebé chorando. Ficou com pena dele e disse: "Este menino é dos hebreus".

6 Então a irmã do menino aproximou-se e perguntou à filha do faraó: "Queres que eu vá chamar uma mulher dos hebreus para amamentar e criar o menino?"

7 "Quero", respondeu ela. E a moça foi chamar a mãe do menino.

8 Então a filha do faraó disse à mulher: "Leva este menino e amamente-o para mim, e eu te pagarei por isso". A mulher levou o menino e amamentou-o.

9 Tendo o menino crescido, levou-o à filha do faraó, que o adoptou e lhe deu o nome de Moisés, dizendo: "Porque o tirei das águas".

Moisés mata um egípcio e foge

10 Certo dia, sendo Moisés já adulto, foi ao lugar onde estavam os seus irmãos hebreus e descobriu como era pesado o trabalho que realizavam. Viu também um egípcio espancar um dos hebreus.

11 Correu o olhar por todos os lados e, não vendo ninguém, matou o egípcio e escondeu-o na areia.

12 No dia seguinte saiu e viu dois hebreus brigando. Então perguntou ao agressor: "Por que estás espancando o teu companheiro?"

13 O homem respondeu: "Quem te nomeou líder e juiz sobre nós? Queres matar-me como mataste o egípcio?" Moisés teve medo e pensou: "Com certeza tudo já foi descoberto!"

14 Quando o faraó soube disso, procurou matar Moisés, mas este fugiu e foi morar na terra de Midiã. Ali sentou-se à beira de um poço.

15 Ora, o sacerdote de Midiã tinha sete filhas. Elas foram buscar água para encher os bebedouros e dar de beber ao rebanho de seu pai.

16 Alguns pastores aproximaram-se e começaram a expulsá-las dali; Moisés, porém, veio em auxílio delas e deu água ao rebanho.

17 Quando as moças voltaram a seu pai Reuel, este perguntou-lhes: "Por que voltaram tão cedo hoje?"

18 Elas responderam: "Um egípcio defendeu-nos dos pastores e ainda tirou água do poço para nós e deu de beber ao rebanho".

19 "Onde está ele?", perguntou-lhe o pai. "Por que o deixaram lá? Convidem-no para comer connosco."

20 Moisés aceitou e concordou também em morar na casa daquele homem; este deu-lhe por mulher a sua filha Zípora.

21 Ela deu à luz um menino, a quem Moisés deu o nome de Gérson, dizendo: "Sou imigrante em terra estrangeira".

22 Muito tempo depois, morreu o rei do Egipto. Os israelitas gemiam e clamavam debaixo da escravidão; e o seu clamor subiu até Deus.

23 Ouviu Deus o lamento deles e lembrou-se da aliança que fizera com Abraão, Isaac e Jacob.

24 Deus olhou para os israelitas e viu a situação deles.


(Revisão da versão portuguesa por ama)

Maio - Purificação de Nossa Senhora


Foste, como outra qualquer mulher, ao Templo para te purificares!

De quê?

Qual a impureza, qual mancha, por pequena que fosse, que precisava de purificação?

Tu, Excelsa Criatura, sem mancha de qualquer espécie, sine lábe originali concépta, que foste, de facto, lá fazer?

Foste mostrar-me, uma vez mais, a obediência, o acatamento, a submissão.

A Escrava do Senhor quer mostrar-me a humildade mais simples, a simplicidade mais humilde.

Minha querida Mãe, ensina-me a fazer como tu.


ama 

Como Deus age

E os silêncios de Deus? 9

Por que Ele age assim?

Na sua sabedoria infinita Ele tem motivos para agir assim connosco; logo, cabe a nós não nos calarmos diante Dele, mas responder na fé e na oração incessante.

O justo vive da fé[i].

Mais do que a nossa vitória, Deus espera a nossa luta determinada, com fé e perseverança.

filipe aquino

(Revisão da versão portuguesa por ama)




[i] Rm 1,17; Gl 3,11; Hb 10,38

Evangelho, comentário, L. espiritual


Páscoa

Evangelho: Jo 15, 9-17

9 Como o Pai Me amou, assim Eu vos amei. Permanecei no Meu amor. 10 Se observardes os Meus preceitos, permanecereis no Meu amor, como Eu observei os preceitos de Meu Pai e permaneço no Seu amor. 11 Disse-vos estas coisas, para que a Minha alegria esteja em vós e para que a vossa alegria seja completa. 12 «O Meu preceito é este: Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei. 13 Não há maior amor do que dar a própria vida pelos seus amigos. 14 Vós sois Meus amigos se fizerdes o que vos mando. 15 Não mais vos chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de Meu Pai. 16 Não fostes vós que Me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi, e vos destinei para que vades e deis fruto, e para que o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo o que pedirdes a Meu Pai em Meu nome, Ele vo-lo conceda. 17 Isto vos mando: Amai-vos uns aos outros.

Comentário:


O Senhor quer-nos alegres com uma alegria que vem dele próprio.

Na verdade em parte nenhuma dos Evangelhos vimos o Senhor triste a não ser na hora grave em Getsémani, [1] mas, segundo as Suas próprias palavras, esse era o “tempo do príncipe deste mundo”, ou seja, a Sua tristeza estava associada à aparente vitória do inimigo.

Comovido sim e em várias ocasiões como no enterro do filho da viúva de Naim ou na morte de Lázaro.

Não confundamos tristeza com comoção; esta é uma reacção natural do nosso coração misericordioso e compassivo a outra é um estado de alma que não podemos consentir "porque é aliada do inimigo" como dizia São Josemaria Escrivá.

(ama, comentário sobre Jo  15, 9-17 2015,05.14)

Leitura espiritual



INTRODUÇÃO AO CRISTIANISMO

INTRODUÇÃO

“CREIO – AMÉM”

CAPÍTULO PRIMEIRO

Fé no Mundo Hodierno

  1. Dúvida e Fé Situação do homem frente ao problema "Deus”

…/7

Tendo partido de uma análise muito geral da atitude fundamental da fé, chegamos à forma da fé cristã. Crer cristãmente significa confiar-se ao sentido que me sustenta a mim e ao mundo, torná-lo a base firme sobre a qual posso ficar sem receio. Usando um pouco mais a linguagem da tradição, poderíamos dizer: crer cristãmente significa compreender a existência como resposta à palavra, ao Logos que sustenta e conserva todas as coisas. Significa dizer "sim", isto é, aceitar, ao facto de ser-nos oferecido o sentido que não podemos criar, mas apenas receber, de tal modo que nos basta aceitá-lo e confiar-nos a ele. De acordo com isto, a fé cristã conota a opção da aceitação antes da feitura – com o que o "fazer" não sofre desvalorização e muito menos é declarado inútil. Somente porque aceitamos o sentido, também podemos "fazer". E mais: fé cristã – já o afirmamos – significa a opção do invisível com mais real do que o visível. É declarar-se pelo primado do invisível e do real propriamente dito, que nos sustenta e, por isso, nos autoriza a enfrentar o visível com serena sobranceria dentro da responsabilidade frente ao invisível como fundamento de tudo. Não se pode, contudo, negar que, em tais limites, a fé cristã representa um duplo ataque contra a mentalidade que parece dominar a situação mundial de hoje. Como positivismo e como fenomenologismo, esta situação mundial concita-nos a limitar-nos ao "visível", ao "fenómeno" em sentido mais vasto, estendendo sobre o conjunto das nossas relações com o mundo real a mentalidade fundamentalmente metodológica à qual a ciência deve tantos dos seus êxitos. Por outro lado, como técnica, incita-nos a confiar no factível, esperando encontrar aí a base que nos sustente. O primado do invisível sobre o visível, o primado do "aceitar" sobre o "fazer" opõe-se radicalmente a esta situação. Está aí, sem dúvida, a razão por que o salto de confiar-se ao invisível se torna tão difícil hoje em dia. E contudo a liberdade de fazer, como a de usar o visível mediante a pesquisa metódica, somente se torna possível graças ao carácter transitório ao qual ambos são relegados pela fé e pela superioridade que assim se abre.

6. Razão da Fé

Refletindo sobre tudo isto, constata-se o quão estreitamente se interpenetram a primeira e a última palavra – o "creio" e o "amém" –, o quão profundamente penetram o conjunto de cada artigo do "credo", determinando assim a interna localização de tudo o que entre elas se encontra. Na harmonia do "creio" e do "amém" torna-se visível o sentido de todo o movimento espiritual de que se trata. Anteriormente constatamos que, no hebraico, a palavra "amém" tem a mesma raiz da qual se deriva o termo "crer"; o confiante colocar-se sobre uma base que sustenta, não por ter sido feita e calculada por nós, mas precisamente porque não somos sequer capazes de fazê-la. Conota a entrega, a adesão ao que não podemos nem precisamos fazer, ao fundamento do mundo, como sentido que, prmeiramente, nos patenteia a liberdade de fazer.

Contudo, o que aqui se realiza não é uma entrega cega ao irracional. Pelo contrário, trata-se de uma aproximação do Logos, da ratio, do sentido e, assim, da própria verdade; porquanto, finalmente, a base sobre a qual o homem se coloca não pode, nem deve ser outra que a própria verdade esclarecedora. E assim tornamos a encontrar, e num lugar onde menos o esperaríamos, com uma derradeira antítese entre conhecimento pela facticidade, e fé. O conhecimento experimental, como já vimos, deve ser positivo pela sua determinação mais própria, deve limitar-se ao dado e ao medido. Ora, consequência disto é que ele não mais indaga pela verdade. Consegue os seus êxitos precisamente renunciando à pesquisa da verdade e concentrando-se na "exactidão" e na "concordância" do sistema, cuja ideia hipotética deve comprovar-se através da experiência. O conhecimento pelo factível, para dizê-lo ainda de outro modo, não pergunta pelas coisas por si e em si, mas somente pela sua funcionalidade para nós. O regresso para o conhecimento experimental consegue-se exactamente pelo facto de não se considerar mais o ser em si, mas meramente em função da nossa obra. Isto significa que no desprendimento, na separação entre o problema da verdade e o ser, e no seu desdobramento sobre o "facto" e o "factível" (factum et faciendum) o próprio conceito da verdade foi substancialmente alterado. A verdade do ser em si foi substituída pela utilidade das coisas para nós, utilidade que se comprova na exactidão dos resultados. E aí é certo e indiscutível que somente essa exactidão nos comprova como calculabilidade, enquanto a verdade do próprio ser se subtrai ao conhecimento como cálculo.

A atitude cristã do crente exprime-se na palavra "amém" em que se interpenetram os significados: confiar, confiar-se, fidelidade, firmeza, base sólida, estar em pé, verdade; e isto quer dizer que somente a verdade é o lugar em que o homem pode firmar-se, só ela pode constituir para ele um sentido. Só a verdade é a base adequada para o homem ficar em pé. Portanto o acto da fé cristã inclui essencialmente a convicção de que o fundamento que dá o sentido, o Logos sobre o qual nos colocamos, também é a verdade, exactamente enquanto como sentido. Sentido que se não fosse a verdade, seria um nonsense, um absurdo. A inseparabilidade de sentido, fundamento, verdade, expressa tanto no Logos grego, como no "amém" hebraico anuncia ao mesmo tempo uma concepção cósmica inteira. Na inseparabilidade de sentido, fundamento, verdade – riqueza vocabular que não podemos reproduzir na nossa língua, com um termo só – que tais palavras encerram, transparece a rede inteira de coordenadas em que a fé cristã contempla o mundo e se lhe apresenta. E isso também significa que a fé, na sua essência, não é um amontoado de paradoxos cegos. Significa ainda que é loucura aduzir mistério como desculpa para o fracasso da inteligência, como não poucas vezes tem acontecido. Se a teologia apresenta uma série de irregularidades, querendo não só desculpá-las, mas, se possível, canonizá-las, apelando para o mistério, aí estamos diante de um abuso da autêntica ideia de "mistério", cuja finalidade não é destruir a inteligência, mas, antes, possibilitar a fé, como acto racional. Por outras palavras: a não é fé certamente conhecimento no sentido de conhecer o factível e de sua forma de calculabilidade. A fé jamais pode ser algo assim e tornar-se-ia ridícula, se tentasse estabelecer-se nestas formas experimentais. Mas vale também o contrário: o conhecimento experimental do factível, por natureza, está limitado ao fenómeno e ao funcional, não representando o caminho para encontrar a verdade da qual desistiu em razão do seu método. O caminho que o homem recebe para preocupar-se com a verdade do ser não é o conhecimento, mas a compreensão: compreensão do sentido ao qual aderiu. Sem dúvida devemos acrescentar que a compreensão só se patenteia no "estar-em-pé" e não fora daí. Uma coisa não acontece sem a outra, porque compreender significa agarrar e conceber como tal o sentido aceite como fundamento. Creio ser isto o sentido exacto de "compreender": que aprendamos a conceber a base sobre a qual nos colocamos, como sentido e como verdade; que aprendamos a reconhecer que o fundamento representa um sentido.

Assim sendo, compreender não conota contradição à fé, mas representa os seus mais lídimos interesses. Pois o conhecimento da funcionalidade do mundo, transmitido de modo tão grandioso pelo hodierno pensamento técnico-científico, ainda não traz consigo uma compreensão do mundo e do ser. A compreensão nasce da fé. Por isso a teologia, como tratado compreensível, lógico (= racional, intelectual-compreensivo) de Deus, é uma das tarefas originais da fé cristã. É nesta situação que se baseia o indiscutível direito do grego no cristão. Estou convencido de não se tratar de mera coincidência quando, ao realizar-se, a mensagem cristã penetrou primeiro no mundo grego, fundindo-se ali com a busca da compreensão, da verdade. Fé e compreensão pertencem-se mutuamente não menos do que fé e estar, simplesmente porque compreender e estar são inseparáveis. Neste sentido a versão grega do versículo de Isaías sobre a fé e a permanência, revela uma dimensão que não pode ser retirada à frase bíblica, se não se quer ser relegado ao âmbito do fanatismo e do sectarismo.

Aliás, é próprio do entendimento avançar sempre, além da compreensão, até à constatação de que somos totalmente apreendidos. Ora, se entendimento é compreensão da nossa apreensão, isto significa que não estamos em condições de concebê-lo novamente, porquanto nos dá o sentido pelo facto de conceber-nos. Neste sentido é com razão que falamos de mistério, como de uma base que nos prende e sempre nos ultrapassa, que jamais pode ser alcançada ou ultrapassada por nós. Ora, é exactamente na total apreensão pelo ainda não compreendido que se processa a responsabilidade do entendimento, sem a qual a fé seria indigna e se destruiria a si mesma.

7. "Creio em Ti"

Apesar de tudo o que se disse, ainda não foi expresso o carácter mais profundo da fé cristã, o seu carácter pessoal. A fé cristã é mais do que uma opção por uma base espiritual do mundo; a sua fórmula central não diz: "Creio alguma coisa", mas: "creio em Ti". É o encontro com o homem Jesus, experimentando nesse encontro o sentido do mundo, como pessoa. Na vida de Jesus que vem do Pai, no imediatismo e na espessura do seu trato orante, – que digo! – contemplador com o Pai, Jesus é testemunha de Deus, através da qual o impalpável se tornou tangível, o distante, próximo. E mais: não se trata apenas de testemunha à qual damos fé sobre o que ela viu numa existência que realmente concretizou o regresso do falso destino ao de primeiro plano, rumo à profundeza da verdade inteira; não; Jesus é a presença do próprio eterno neste mundo. Na sua vida, na irrestrição do seu ser para os homens está presente o sentido do mundo; ele doa-se-nos como amor, que também me ama a mim, tomando amável a vida mediante dádiva, tão inconcebível, de um amor não ameaçado por nenhuma transitoriedade, por nenhuma perturbação egoística. O sentido do mundo é o "tu", naturalmente somente aquele "tu" que não é pergunta aberta, mas o fundamento da totalidade que dispensa outro fundamento.

Assim a fé é a descoberta de um "tu" que me carrega e me transmite a promessa de um amor indestrutível dentro de toda a insatisfação e da derradeira incapacidade do humano encontro, um "tu" que não só aspira à eternidade, mas que a concede. A Fé cristã vive do facto de não apenas haver um sentido objectivo, mas de esse sentido conhecer e amar-me: de eu poder entregar-me a ele num gesto de criança que sabe todas as suas perguntas bem abrigadas no "tu" materno. Assim fé, confiança e amor, em última análise, são uma única coisa e todos os conteúdos em torno dos quais gira a fé são meras concretizações da reviravolta que a tudo sustenta, do "creio em Ti" – da descoberta de Deus no rosto do homem Jesus de Nazaré.

Naturalmente isto tudo não dispensa a reflexão, como já vimos. És tu realmente? – tal foi a pergunta nascida em negra hora do coração do Baptista, ou seja, do profeta que orientou para Jesus os próprios discípulos e se dobrou diante dele, como o maior, ao qual só lhe restava prestar serviços de preparador. És tu realmente? O crente tornará sempre a passar por esta treva na qual a contradição da descrença o cerca como sombria e fatal prisão, e a indiferença do mundo, que continua a rodar imperturbável como se nada tivesse acontecido, parecer-lhe-á cruel zombaria da sua esperança. És tu realmente pergunta que se nos impõe, não apenas por causa da honestidade do pensamento e da responsabilidade da inteligência, mas também de dentro da própria lei do amor que quereria conhecer mais e mais àquele ao qual deu o seu "sim", para o amar mais. És tu realmente? – todas as considerações deste livro estão subordinadas a esta questão, girando assim em torno da forma fundamental da afirmação: "creio em Ti", Jesus de Nazaré, como sentido (Logos) do mundo e da minha vida.

(cont)

joseph ratzinger, Tübingen, verão de 1967.

(Revisão da versão portuguesa por ama)




[1] Mt 26,  38 Disse-lhes então: «A Minha alma está numa tristeza mortal; ficai aqui e vigiai comigo».

Doutrina – 143

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ
SEGUNDA SECÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ
CAPÍTULO PRIMEIRO CREIO EM DEUS PAI

OS SÍMBOLOS DA FÉ

47. Quem é o Espírito Santo que Jesus Cristo nos revelou?

É a terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Ele é Deus, uno e igual ao Pai e ao Filho. Ele «procede do Pai» [1], o qual, princípio sem princípio, é a origem de toda a vida trinitária. E procede também do Filho (Filioque), pelo dom eterno que o Pai faz de Si ao Filho. Enviado pelo Pai e pelo Filho encarnado, o Espírito Santo conduz a Igreja «ao conhecimento da Verdade total». [2]



[1] Jo 15, 26
[2] Jo 16, 13

Pequena agenda do cristão


SÁBADO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Honrar a Santíssima Virgem.

A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da Sua serva, de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas, santo é o Seu nome. O Seu Amor se estende de geração em geração sobre os que O temem. Manifestou o poder do Seu braço, derrubou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel Seu servo, lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a Abraão e à sua descendência para sempre.

Lembrar-me:

Santíssima Virgem Mãe de Deus e minha Mãe.

Minha querida Mãe: Hoje queria oferecer-te um presente que te fosse agradável e que, de algum modo, significasse o amor e o carinho que sinto pela tua excelsa pessoa.
Não encontro, pobre de mim, nada mais que isto: O desejo profundo e sincero de me entregar nas tuas mãos de Mãe para que me leves a Teu Divino Filho Jesus. Sim, protegido pelo teu manto protector, guiado pela tua mão providencial, não me desviarei no caminho da salvação.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?



Tratado da vida de Cristo 102

Questão 46: Da Paixão de Cristo

Art. 6 — Se a dor da paixão de Cristo foi maior que todas as outras dores.

O sexto discute-se assim. — Parece que a dor da paixão de Cristo não foi maior que todas as outras dores.

1. — Pois, a dor do paciente aumenta conforme a gravidade e a duração do sofrimento. Ora, certos mártires padeceram sofrimentos mais graves e mais longos do que Cristo; assim, Lourenço, assado em grelhas, e Vicente cujas carnes foram laceradas por unhas de ferro. Logo, parece que a dor dos sofrimentos de Cristo não foi a máxima.

2. Demais. — A força do espírito mitiga a dor, a ponto de os estoicos ensinarem que a alma do sábio não é susceptível de tristeza. E Aristóteles diz que a virtude moral faz conservar o justo meio nas paixões. Ora, Cristo teve a virtude perfeitíssima da alma. Logo, parece que Cristo sofreu a mínima das dores.

3. Demais. — Quanto mais sensível é um paciente, tanto maior é a dor da paixão. Ora, a alma é mais sensível que o corpo, pois, pela alma é que o corpo sente. E também, Adão parece ter tido, no estado de inocência, um corpo mais sensível que o de Cristo, que assumiu o corpo humano com as suas deficiências naturais. Logo, parece que a dor da alma padecente no purgatório ou no inferno, ou ainda a dor de Adão, se alguma sofreu, teria sido maior que a dor da paixão de Cristo.

4. Demais. — A perda de um maior bem causa uma dor maior. Ora, o pecador, pecando, perde um maior bem que Cristo, sofrendo, porque a vida da graça é melhor que a da natureza humana. Demais, Cristo, que perdeu a vida, havendo de ressurgir três dias depois, parece que perdeu um bem menor do que aqueles que perdem a vida, havendo de permanecer mortos. Logo, parece que a dor de Cristo não foi a máxima das dores.

5. Demais. — A inocência do paciente diminui a dor da paixão. Ora, Cristo sofreu inocentemente, segundo a Escritura: Eu era como um manso cordeiro que é levado a ser vítima. Logo, parece que a dor da paixão de Cristo não foi a máxima.

6. Demais. — Nada do que Cristo teve era supérfluo. Ora, uma dor mínima de Cristo bastaria para o fim da salvação humana, pois, teria uma virtude infinita, por causa da sua pessoa divina. Logo, foi supérfluo assumir a máxima das dores.

Mas, em contrário, a Escritura diz, da pessoa de Cristo: Atendei e vê-de se há dor semelhante à minha dor.

Como dissemos, quando tratamos das deficiências assumidas por Cristo, ele sofreu verdadeiramente a dor, na sua paixão. Tanto a sensível, causada pelos tormentos corpóreos, como a interior, causada pela apreensão do mal, que se chama tristeza. Ora, ambas essas dores foram máximas em Cristo, entre as dores da vida presente. O que se explica por quatro razões. Primeiro, pelas causas da dor. — Pois, a dor sensível teve como causa uma lesão corpórea cheia de acerbidade, tanto pela generalidade da paixão, de que já tratamos, como pelo género da mesma. Pois, a morte dos crucificados é acerbíssima, por serem trespassados em lugares nervosos e sobremaneira sensíveis, que são as mãos e os pés. E além disso, o próprio peso do corpo pendente aumenta a dor continuamente; acrescentando-se ainda a diuturnidade dela, pois, os crucificados não morrem logo como os mortos pela espada. — Quanto à dor interna teve as causas seguintes. Primeiro todos os pecados do género humano, pelos quais satisfazia com os seus sofrimentos; por isso como que os avocou a si, dizendo: Os clamores dos meus pecados. Segundo e especialmente, a culpa dos judeus e dos outros, que lhe infligiram a morte; e sobretudo a dos discípulos, que se escandalizaram com a paixão de Cristo. Terceiro, ainda, a perda da vida do corpo, naturalmente horrível à natureza humana. Em segundo lugar, a grandeza da dor pode ser considerada relativamente à sensibilidade do paciente. — Assim, o seu corpo tinha a melhor das compleições; pois, fora formado milagrosamente por obra do Espírito Santo. Porque nada é mais perfeito que o produzido por milagre, como nota S. João Crisóstomo, a propósito da água convertida em vinho por Cristo, nas bodas. Assim, o sentido do tacto, que serve para perceber a dor, era em Cristo extremamente delicado. — Também a alma, nas suas potências interiores, apreendia com grande eficácia todas as causas de tristeza. Terceiro, a grandeza da dor de Cristo na sua paixão, pode ser considerada quanto à pureza da mesma dor. Pois, nos outros pacientes, mitiga-se a tristeza interior e também a dor externa, pela reflexão racional, causando uma certa derivação ou redundância das potências superiores para as inferiores. O que não se deu na paixão de Cristo, pois a cada uma das potências permitia agir dentro do que lhe era próprio, como diz Damasceno. Em quarto lugar, a grandeza da dor de Cristo pode ser considerada quanto ao facto de ser a sua paixão e a sua dor assumidas voluntariamente, com o fim de livrar o homem do pecado. Por isso, assumiu uma dor tão grande, que fosse proporcional à grandeza do fruto dela resultante. Assim, pois, de todas essas causas simultaneamente consideradas resulta claro que a dor de Cristo foi a máxima das dores.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A objecção colhe quanto a uma só das causas de sofrimento enumeradas, a saber, a lesão corpórea, causa da dor sensível, Mas, as outras causas aumentaram muito mais a dor de Cristo na sua paixão, como se disse.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A virtude moral não mitiga do mesmo modo a tristeza interior e a dor sensível externa, Assim, diminui directamente a tristeza interior, estabelecendo nela a mediação, como em matéria própria. Ao passo que a virtude moral constitui a mediação nas paixões, como estabelecemos na Segunda Parte, introduzindo nelas não uma quantidade real, mas uma quantidade proporcional, de modo que a paixão não ultrapasse a regra racional. E como os estoicos reputavam a tristeza totalmente inútil, por isso criam que ela se divorcia totalmente da razão e, por consequência, deve ser totalmente evitada pelo sábio, Mas, na verdade das causas, há uma certa tristeza digna de louvor, como o prova Agostinho: é a procedente de um amor santo, como quando nos entristecemos dos pecados próprios ou dos alheios, e também é considerada como útil quando tem por fim satisfazer pelas pecados, segundo aquilo do Apóstolo: A tristeza, que é segundo Deus, produz para a salvação uma penitência estável. Por isso Cristo, a fim de satisfazer pelos pecados de todos os homens, assumiu uma tristeza máxima pela sua quantidade absoluta, mas que não ultrapassava a regra racional. - Mas quanto à dor exterior do sentido, a virtude moral não a diminui directamente, porque essa dor não obedece à razão, mas resulta da natureza do corpo. Diminui-a, porém indirectamente pela redundância das potências superiores para as inferiores. O que não se deu com Cristo, como dissemos.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A dor da alma do padecente, separada, é própria do estado futuro de danação, que excede todos os males desta vida, como a glória dos Santos excede todos os bens da vida presente. Por isso, quando dizemos que a dor de Cristo foi máxima, não a comparamos com a dor da alma separada. - Quanto ao corpo de Adão, ele não podia sofrer se não tivesse pecado, tornando-se assim mortal e passível. E, sofrendo, padeceria menos que o corpo de Cristo, pelas razões referidas. — Donde também resulta que mesmo se, por impossível, considerássemos que Adão no estado de inocência sofreu, a sua dor teria sido menor que a de Cristo.

RESPOSTA À QUARTA. — Cristo não somente sofreu perdendo a vida do seu próprio corpo, mas também pelos pecados de todos os homens. Porque a dor de Cristo ultrapassou toda dor de qualquer paciente. Quer porque procedia de uma sabedoria e caridade maiores, que aumentam a dor do padecente; quer também porque sofreu simultaneamente por todos os pecados, segundo a Escritura: Verdadeiramente ele foi o que tomou sobre si as nossas fraquezas. — Mas a vida corporal de Cristo foi de tão grande dignidade, e, sobretudo, pela divindade que lhe estava unida, que sofreu mais, perdendo-a, mesmo momentaneamente, que qualquer outro homem perdendo a sua, por qualquer tempo que fosse. Donde o dizer o Filósofo, que o virtuoso tanto mais ama a sua vida, quanto mais a tem como melhor; e, contudo, a expõe pelo bem da virtude. E semelhantemente, Cristo, tendo uma vida amável por excelência, a expôs pelo bem da caridade, segundo a Escritura: Dei a minha amada alma às mãos de seus inimigos.

RESPOSTA À QUINTA. — A inocência do paciente diminui numericamente a dor da paixão; porque quando padece por culpa, sofre não só pela pena, mas também pela culpa; sendo inocente, porém, sofre só pela pena. Contudo a sua inocência aumenta-lhe a dor, porque sabe que não merece o mal que lhe é infligido. E por isso são tanto mais repreensíveis os que não se compadecem dele, conforme a Escritura: O justo perece e não há quem considere no seu coração.

RESPOSTA À SEXTA. — Cristo quis libertar o género humano dos pecados, não só pelo seu poder, mas ainda por justiça. Por isso, não só levou em conta a grandeza do poder que tinha a sua dor, em virtude da divindade que lhe estava unida, mas também o quanto bastava essa dor pela sua natureza humana, para tão grande satisfação.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



Maria está ao pé de ti

Não estás só. – Aceita com alegria a tribulação. – É verdade, pobre menino, que não sentes na tua mão a mão de tua Mãe. – Mas... não tens visto as mães da terra, de braços estendidos, seguir os seus pequenos quando se aventuram, receosos, a dar os primeiros passos sem a ajuda de ninguém? – Não estás só; Maria está ao pé de ti. (Caminho, 900)

Dá alegria verificar que a devoção à Virgem está sempre viva, despertando nas almas cristãs um impulso sobrenatural para se comportarem como domestici Dei, como membros da família de Deus.

Nestes dias, vendo como tantos cristãos exprimem dos mais diversos modos o seu carinho à Virgem Santa Maria, também vós certamente vos sentis mais dentro da Igreja, mais irmãos de todos esses vossos irmãos.

É uma espécie de reunião de família, como quando os irmãos que a vida separou voltam a encontrar-se junto da Mãe, por ocasião de alguma festa. Ainda que alguma vez tenham discutido uns com os outros e se tenham tratado mal, naquele dia não; naquele dia sentem-se unidos, reencontram-se unidos, reencontram-se todos no afecto comum.


Maria, na verdade, edifica continuamente a Igreja, reúne-a, mantém-na coesa. É difícil ter autêntica devoção à Virgem sem nos sentirmos mais vinculados aos outros membros do Corpo Místico e também mais unidos à sua cabeça visível, o Papa. Por isso me agrada repetir: Omnes cum Petro ad Iesum per Mariam! – todos, com Pedro, a Jesus, por Maria! (Cristo que passa, 139)