11/09/2019

Publicações em 11 Setembro

Leitura espiritual


São Josemaria Escrivá

Amigos de Deus


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Voltemos os nossos olhos para Jesus Cristo, que é o nosso modelo, o espelho em que nos devemos olhar.
Como se comporta, mesmo exteriormente, nas grandes ocasiões? Que nos diz d'Ele o Santo Evangelho?
Comove-me essa disposição habitual de Cristo, que recorre ao Pai an­tes dos grandes milagres e o seu exemplo, ao retirar-se quarenta dias e quarenta noites para o deserto, antes de iniciar a sua vida pública, para rezar.

É muito importante - perdoai a minha insistência - observar os passos do Messias, porque Ele veio mostrar-nos o caminho que nos leva ao Pai: descobriremos, com ele, como se pode dar relevo sobrenatural às actividades aparentemente mais pequenas; aprenderemos a viver cada instante com vibração de eternidade e compreenderemos com maior profundidade que a criatura precisa desses tempos de conversa íntima com Deus, para privar com Ele na sua intimidade, para invocá-lo, para ouvi-lo ou, simplesmente, para estar com Ele.

Há já muitos anos, considerando este modo de proceder do meu Senhor, cheguei à conclusão de que o apostolado, seja ele de que tipo for, consiste numa superabundância da vida interior.
Por isso me parece tão natural, e tão sobrenatural, essa passagem em que se relata como Cristo decidiu escolher definitivamente os primeiros doze.
Conta S. Lucas que, antes, tinha passado toda a noite em oração. Vede-o também em Betânia.
Quando se dispõe a ressuscitar Lázaro, depois de ter chorado pelo amigo, levanta os olhos ao céu e exclama: Pai, dou-te graças porque me tens ouvido.
Este foi o seu ensinamento preciso: se queremos ajudar os outros, se pretendemos sinceramente animá-los a descobrir o autêntico sentido do seu destino na terra, é preciso que nos fundamentemos na oração.

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São tantas as cenas em que Jesus Cristo fala com o seu Pai, que se torna quase impossível determo-nos em todas.
Mas penso que não podemos deixar de considerar as horas, tão inten­sas, que precederam a sua Paixão e Morte, quando se prepara para consumar o Sacrifício que nos reconduzirá ao Amor Divino.
Na intimidade do Cenáculo o seu Coração transborda, dirige-se suplicante ao Pai, anuncia a vinda do Espírito Santo, anima os seus a um contínuo fervor de caridade e de fé.

Esse fervoroso recolhimento do Redentor continua em Getsémani, quando se apercebe de que já está iminente a Paixão, com as humilhações e as dores que se aproximam, essa Cruz dura, onde suspendem os malfeitores e que Ele desejou ardentemente.
Pai, se é do teu agrado, afasta de mim este cálice.
E logo a seguir: não se faça, contudo, a minha vontade, mas a tua. Mais tarde, pregado ao madeiro, só, com os braços estendidos num gesto de sacerdote eterno, continua a manter o mesmo diálogo com o seu Pai: nas tuas mãos encomendo o meu espírito.

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Contemplemos agora a sua Mãe bendita, também nossa Mãe.
No Calvário, junto ao patíbulo, reza.
Não é uma atitude nova em Maria.
Assim se conduziu sempre, cumprindo os seus deveres, ocupando-se do seu lar.
Enquanto estava nas coisas da terra, permanecia pendente de Deus. Cristo, perfectus Deus, perfectus homo, quis que também a sua Mãe, a criatura mais excelsa, a cheia de graça, nos confirmasse nesse afã de elevar sempre o olhar para o amor divino.
Recordai a cena da Anunciação: desce o arcanjo para comunicar a divina embaixada - a mensagem de que seria Mãe de Deus - e encontra-a retirada em oração.
Maria está totalmente recolhida no Senhor, quando S. Gabriel a saúda: Deus te salve, oh cheia de graça! O Senhor é contigo.
Dias depois, irrompe na alegria do Magnificat - esse cântico mariano que nos transmitiu o Espírito Santo pela delicada fidelidade de S. Lucas - fruto da intimidade habitual da Virgem Santíssima com Deus.

A nossa Mãe meditou longamente as palavras das mulheres e dos homens santos do Antigo Testamento, que esperavam o Salvador, e os acontecimentos de que foram protagonistas.
Admirou o cúmulo de prodígios e o excesso da misericórdia de Deus com o seu povo, tantas vezes ingrato.
Ao considerar esta ternura do Céu, incessantemente renovada, brota o afecto do seu Coração imaculado: a minha alma glorifica o Senhor; e o meu espírito exulta em Deus, meu Salvador. Porque lançou os olhos para a baixeza da sua escrava.
Os filhos desta boa Mãe, os primeiros cristãos, aprenderam com Ela, e nós também podemos e devemos aprender.

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Nos Actos dos Apóstolos narra-se uma cena que me encanta, porque apresenta um exemplo claro e sempre actual: perseveravam todos na doutrina dos Apóstolos, na comum fracção do pão e na oração.
É uma nota insistente no relato da vida dos primeiros seguidores de Cristo: Todos, animados por um mesmo espírito, perseveravam juntos em oração.
E quando Pedro é preso por pregar audazmente a verdade, decidem rezar.
Entretanto a Igreja fazia sem cessar oração a Deus por ele.

A oração era então, como hoje, a única arma, o meio mais poderoso para vencer nas batalhas da luta interior.
Há entre vós alguém que esteja triste?
Que se recolha em oração.
E S. Paulo resume: orai sem cessar, nunca vos canseis de implorar.

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Como fazer oração

Como fazer oração?
Atrevo-me a assegurar, sem temor de me enganar, que há muitas, infinitas maneiras de orar.
Mas eu preferia para todos nós a autêntica oração dos filhos de Deus, não o palavreado dos hipócritas que hão-de ouvir de Jesus: nem todo o que me diz, Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus.

Os que são movidos pela hipocrisia podem talvez conseguir o ruído da oração - escrevia Santo Agostinho - mas não a sua voz, porque aí falta vida e há ausência de afã por cumprir a Vontade do Pai.
Que o nosso clamor - Senhor! - vá unido ao desejo eficaz de converter em realidade essas moções interiores, que o Espírito Santo desperta na nossa alma.

Temos de nos esforçar para que da nossa parte não fique nem sombra de hipocrisia.
O primeiro requisito para desterrar esse mal que o Senhor condena duramente, é procurar comportar-se com a disposição clara, habitual e actual de aversão ao pecado.
Com fortaleza, com sinceridade, temos de sentir - no coração e na cabeça - horror ao pecado grave.
E também há-de ser nossa a atitude, profundamente arreigada, de abominar o pecado venial deliberado, essas claudicações que não nos privam da graça divina, mas que debilitam as vias através das quais ela nos chega.

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Nunca me cansei e, com a graça de Deus, nunca me cansarei de falar de oração.
Por volta de 1930, quando se aproximavam de mim, sacerdote jovem, pessoas de todas as condições - universitários, operários, sãos e do­entes, ricos e pobres, sacerdotes e leigos - que procuravam acompanhar mais de perto o Senhor, aconselhava-os sempre: rezai. E se algum me respondia: "não sei sequer como começar", recomendava-lhe que se pusesse na presença do Senhor e lhe manifestasse a sua inquietação, a sua dificuldade, com essa mesma queixa: "Senhor, não sei!"
E muitas vezes, naquelas humildes confidências, concretizava--se a intimidade com Cristo, um convívio assíduo com Ele.

Passaram muitos anos e não conheço outra receita.
Se não te consideras preparado, recorre a Jesus como faziam os seus discípulos: ensina-nos a fazer oração.
Comprovarás como o Espírito Santo ajuda a nossa fraqueza, pois que, não sabendo sequer o que havemos de pedir nas nossas orações, nem como é conveniente expressarmo-nos, o mesmo Espírito Santo facilita as nossas súplicas com gemidos inexplicáveis, que não podem contar-se porque não existem modos apropriados para descrever a sua profundidade.

Que firmeza deve produzir em nós a Palavra divina!
Não inventei nada, quando - ao longo do meu ministério sacerdotal - repeti e repito incansavelmente esse conselho.
Foi recolhido da Escritura Santa, daí o aprendi: Senhor, não sei dirigir-me a Ti! Senhor, ensina-nos a orar!
E vem toda a assistência amorosa - luz, fogo, vento impetuoso - do Espírito Santo, que ateia a chama e a torna capaz de provocar incên­dios de amor.

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Oração, diálogo

Já entrámos por caminhos de oração.
Como prosseguir?
Não vistes como tantas pessoas - elas e eles - parece que falam consigo mesmas, ouvindo-se comprazidas?
É uma verborreia quase contínua, um monólogo que insiste incansavelmente nos problemas que os preocupam, sem pôr os meios para resolvê-los, movidos talvez unicamente pela mórbida ideia de que se compadeçam deles ou de que os admirem.
Dir-se-ia que não pretendem mais nada.

Quando efectivamente se quer desafogar o coração, se somos francos e simples, procuramos o conselho de pessoas que nos amam, que nos entendem, isto é, fala-se com o pai, com a mãe, com a mulher, com o marido, com o irmão, com o amigo.
Isto já é diálogo, ainda que, frequentemente, não se deseje tanto ouvir como desabafar, contar o que nos acontece.
Comecemos por nos comportar assim com Deus, certos de que Ele nos ouve e nos responde; e escutá-lo-emos e abriremos a nossa consciência a uma conversa humilde, para lhe referir confiadamente tudo o que palpita na nossa cabeça e no nosso coração: alegrias, tristezas, esperanças, dissabores, êxitos, fracassos e até os pormenores mais pequenos da nossa jornada, porque já então teremos comprovado que tudo o que é nosso interessa ao nosso Pai Celestial.

(cont)

Evangelho e comentário


TEMPO COMUM


Evangelho: Lc 6, 20-26

Naquele tempo, Jesus, erguendo os olhos para os discípulos, disse: «Bem-aventurados vós, os pobres, porque é vosso o reino de Deus. Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir. Bem-aventurados sereis, quando os homens vos odiarem, quando vos rejeitarem e insultarem e proscreverem o vosso nome como infame, por causa do Filho do homem. Alegrai-vos e exultai nesse dia, porque é grande no Céu a vossa recompensa. Era assim que os seus antepassados tratavam os profetas. Mas ai de vós, os ricos, porque já recebestes a vossa consolação! Ai de vós, que agora estais saciados, porque haveis de ter fome! Ai de vós, que rides agora, porque haveis de entristecer-vos e chorar! Ai de vós, quando todos os homens vos elogiarem! Era assim que os seus antepassados tratavam os falsos profetas».

Comentário:

À “primeira vista” pode parecer que Jesus está como que a fazer um vaticínio, a prever um futuro.

Não! O Senhor não é um “mago” que lê a sina nem se põe a adivinhar o futuro.

Bem ao contrário, quer que quem O escuta compreenda e tenha bem a noção das consequências do seu comportamento na vida corrente.

Os actos que praticamos têm sempre uma consequência e, a vida que vivemos, um resultado.

Nada do que fazemos fica por “contabilizar” nem sequer com a desculpa: “não sabia”, “foi sem querer”.

O cristão não deve fazer nada – absolutamente – por acaso, sem pensar bem se o que faz – ou diz – trará benefícios ou, ao contrário, prejuízos para si próprio e para outros.

Isto nunca acontecerá se tentarmos com verdadeiro empenho, fazer, em tudo a Vontade de Deus.

(AMA, comentário sobre Lc 6, 20-26, 17.02.2019)


Pequena agenda do cristão

Quarta-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)






Propósito:

Simplicidade e modéstia.


Senhor, ajuda-me a ser simples, a despir-me da minha “importância”, a ser contido no meu comportamento e nos meus desejos, deixando-me de quimeras e sonhos de grandeza e proeminência.


Lembrar-me:
Do meu Anjo da Guarda.


Senhor, ajuda-me a lembrar-me do meu Anjo da Guarda, que eu não despreze companhia tão excelente. Ele está sempre a meu lado, vela por mim, alegra-se com as minhas alegrias e entristece-se com as minhas faltas.

Anjo da minha Guarda, perdoa-me a falta de correspondência ao teu interesse e protecção, a tua disponibilidade permanente. Perdoa-me ser tão mesquinho na retribuição de tantos favores recebidos.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?








Temas para reflectir e meditar


Recta intenção

Naturalmente se somos pessoas saudáveis e de bom espírito desejamos fazer bem o que se nos apresenta como tarefa, obrigação, etc.
Quando é absolutamente evidente que tal coisa deve evitar-se devemos - por prudência - seguir nesse sentido, mas, na verdade pode não ser assim tão simples e é muito possível praticar um mal muitíssimo grave absolutamente convencido de que se está fazendo um bem inestimável.

Lembramo-nos bem:
«Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem!»[i]

Cuidado pois, a recta intenção deve preocupar-nos de forma a que os nossos sentidos não se deixem arrastar quer pelo que nos envolve ou rodeia quer pelo ímpeto irreflectido.

AMA, Abril 2019


[i] Cfr lc 23, 44



"Veio revelar-nos o amor"


Cristo, que subiu à Cruz com os braços abertos de par em par, com gesto de Sacerdote Eterno, quer contar connosco - que não somos nada! - para levar a "todos" os homens os frutos da sua Redenção. (Forja, 4)

Porque a vida corrente e ordinária, a vida de cada homem entre os seus concidadãos e seus iguais, não é coisa baixa e sem relevo; é precisamente nessas circunstâncias que o Senhor quer que se santifique a imensa maioria dos seus filhos.

É necessário repetir uma e mais vezes que Jesus não se dirigiu a um grupo de privilegiados, mas veio revelar-nos o amor universal de Deus. Todos os homens são amados por Deus; de todos eles espera amor, de todos, quaisquer que sejam a sua condição, a sua posição social, a sua profissão ou oficio. A vida corrente e ordinária não é coisa de pouco valor; todos os caminhos da Terra podem ser uma ocasião de encontro com Cristo, que nos chama a identificar-nos com Ele, para realizarmos - no lugar onde estamos - a sua missão divina.

Deus chama-nos através dos incidentes da vida de cada dia, no sofrimento e na alegria das pessoas com quem convivemos, nas preocupações dos nossos companheiros, nas pequenas coisas da vida familiar. Deus também nos chama através dos grandes problemas, conflitos e ideais que definem cada época histórica, atraindo o esforço e o entusiasmo de grande parte da Humanidade. (Cristo que passa, 110)