Tempo comum XI Semana
Evangelho:
Mt 5, 43-48
43 «Ouvistes que foi dito: “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo”.
44 Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que
vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem. 45 Deste
modo sereis filhos do vosso Pai que está nos céus, o qual faz nascer o sol
sobre maus e bons, e manda a chuva sobre justos e injustos. 46
Porque, se amais somente os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não
fazem os publicanos também o mesmo? 4 7 E se saudardes somente os
vossos irmãos, que fazeis de especial? Não fazem também assim os próprios
gentios? 48 Sede, pois, perfeitos, como vosso Pai celestial é
perfeito.
Comentário:
Perfeito!?
Consciente do nada que sou e posso, das
minhas misérias e defeitos fico-me abismado com esta recomendação do Senhor:
Perfeito!
Refreando o meu impulsivo coração que me
levava, quase, a responder: ‘Senhor, não sabes o que me pedes!’, caio em mim
reflectindo:
‘O Senhor não Se engana nem pode enganar,
logo, se Ele assim manda, o que há a fazer é empenhar-me, a sério, para
satisfazer a Sua Vontade.
O que me faltar - e será muito - Ele
providenciará’.
(ama, meditação sobre Mt 5, 43-48,
2010.06.15)
Leitura espiritual
Misericordiae Vultus
BULA
DE PROCLAMAÇÃO
DO JUBILEU EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA
FRANCISCO
BISPO DE ROMA
SERVO DOS SERVOS DE DEUS
A QUANTOS LEREM ESTA CARTA
GRAÇA, MISERICÓRDIA E PAZ
1.
Jesus Cristo é o
rosto da misericórdia do Pai.
O
mistério da fé cristã parece encontrar nestas palavras a sua síntese.
Tal
misericórdia tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré.
O Pai, «rico em misericórdia»,
depois de ter revelado o seu nome a Moisés como «Deus misericordioso e
clemente, vagaroso na ira, cheio de bondade e fidelidade» ,
não cessou de dar a conhecer, de vários modos e em muitos momentos da história,
a sua natureza divina.
Na «plenitude do tempo» ,
quando tudo estava pronto segundo o seu plano de salvação, mandou o seu Filho,
nascido da Virgem Maria, para nos revelar, de modo definitivo, o seu amor.
Com a
sua palavra, os seus gestos e toda a sua pessoa, Jesus de Nazaré revela a misericórdia de
Deus.
Precisamos sempre de
contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e paz.
É condição da nossa
salvação. Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima
Trindade.
Misericórdia: é o
acto último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a
lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos
sinceros o irmão que encontra no caminho da vida.
Misericórdia: é o
caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos
amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado.
3.
Há momentos
em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na
misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos sinal eficaz do agir do Pai.
Foi por
isso que proclamei um Jubileu
Extraordinário da Misericórdia como
tempo favorável para a Igreja, a fim de se tornar mais forte e eficaz o
testemunho dos crentes.
O Ano Santo
abrir-se-á no dia 8 de Dezembro de 2015, solenidade da Imaculada Conceição.
Esta
festa litúrgica indica o modo de agir de Deus desde os primórdios da nossa
história.
Depois
do pecado de Adão e Eva, Deus não quis deixar a humanidade sozinha e à mercê do
mal.
Por
isso, pensou e quis Maria santa e imaculada no amor ,
para que Se tornasse a Mãe do Redentor do homem.
Perante
a gravidade do pecado, Deus responde com a plenitude do perdão.
A
misericórdia será sempre maior do que qualquer pecado, e ninguém pode colocar
um limite ao amor de Deus que perdoa.
Na
festa da Imaculada Conceição, terei a alegria de abrir a Porta Santa.
Será
então uma Porta da
Misericórdia, onde qualquer pessoa que entre poderá experimentar o amor de
Deus que consola, perdoa e dá esperança.
No domingo
seguinte, o Terceiro Domingo de Advento, abrir-se-á a Porta Santa na Catedral
de Roma, a Basílica de São João de Latrão.
E em
seguida será aberta a Porta Santa nas outras Basílicas Papais. Estabeleço que
no mesmo domingo, em cada Igreja particular – na Catedral, que é a Igreja-Mãe
para todos os fiéis, ou na Concatedral ou então numa Igreja de significado
especial – se abra igualmente, durante todo o Ano Santo, uma Porta da Misericórdia.
Por
opção do Ordinário, a mesma poderá ser aberta também nos Santuários, meta de
muitos peregrinos que frequentemente, nestes lugares sagrados, se sentem
tocados no coração pela graça e encontram o caminho da conversão.
Assim,
cada Igreja particular estará directamente envolvida na vivência deste Ano
Santo como um momento extraordinário de graça e renovação espiritual.
Portanto
o Jubileu será celebrado, quer em Roma quer nas Igrejas particulares, como
sinal visível da comunhão da Igreja inteira.
4.
Escolhi a data de 8 de Dezembro, porque é cheia de
significado na história recente da Igreja.
Com
efeito, abrirei a Porta Santa no cinquentenário da conclusão do Concílio
Ecuménico Vaticano II.
A
Igreja sente a necessidade de manter vivo aquele acontecimento. Começava então,
para ela, um percurso novo da sua história.
Os
Padres, reunidos no Concílio, tinham sentido forte, como um verdadeiro sopro do
Espírito, a exigência de falar de Deus aos homens do seu tempo de modo mais
compreensível.
Derrubadas
as muralhas que, por demasiado tempo, tinham encerrado a Igreja numa cidadela
privilegiada, chegara o tempo de anunciar o Evangelho de maneira nova.
Uma
nova etapa na evangelização de sempre.
Um novo
compromisso para todos os cristãos de testemunharem, com mais entusiasmo e
convicção, a sua fé. A Igreja sentia a responsabilidade de ser, no mundo, o
sinal vivo do amor do Pai.
Voltam
à mente aquelas
palavras, cheias de significado, que São João XXIII pronunciou na abertura do
Concílio para indicar a senda a seguir:
«Nos nossos dias, a Esposa de Cristo prefere usar mais o remédio
da misericórdia que o da severidade. (…)
A
Igreja Católica, levantando por meio deste Concílio Ecuménico o facho da
verdade religiosa, deseja mostrar-se mãe amorosa de todos, benigna, paciente,
cheia de misericórdia e bondade com os filhos dela separados».
E, no
mesmo horizonte, havia de colocar-se o Beato Paulo VI, que assim falou na
conclusão do Concílio:
«Desejamos notar que a religião do nosso Concílio foi, antes de
mais, a caridade. (...)
Aquela
antiga história do bom samaritano foi exemplo e norma segundo os quais se
orientou o nosso Concílio. (…)
Uma
corrente de interesse e admiração saiu do Concílio sobre o mundo actual.
Rejeitaram-se
os erros, como a própria caridade e verdade exigiam, mas os homens,
salvaguardado sempre o preceito do respeito e do amor, foram apenas advertidos
do erro.
Assim
se fez, para que, em vez de diagnósticos desalentadores, se dessem remédios cheios
de esperança; para que o Concílio falasse ao mundo actual não com presságios
funestos mas com mensagens de esperança e palavras de confiança.
Não só
respeitou mas também honrou os valores humanos, apoiou todas as suas
iniciativas e, depois de os purificar, aprovou todos os seus esforços. (…)
Uma
outra coisa, julgamos digna de consideração.
Toda
esta riqueza doutrinal orienta-se apenas a isto: servir o homem, em todas as
circunstâncias da sua vida, em todas as suas fraquezas, em todas as suas
necessidades».
Com estes sentimentos de gratidão pelo que a Igreja recebeu e de
responsabilidade quanto à tarefa que nos espera, atravessaremos a Porta Santa
com plena confiança de ser acompanhados pela força do Senhor Ressuscitado, que
continua a sustentar a nossa peregrinação.
O
Espírito Santo, que conduz os passos dos crentes de forma a cooperarem para a
obra de salvação realizada por Cristo, seja guia e apoio do povo de Deus a fim
de o ajudar a contemplar o rosto da misericórdia .
5. O Ano Jubilar terminará na solenidade litúrgica de Jesus Cristo,
Rei do Universo, 20 de Novembro de 2016.
Naquele
dia, ao fechar a Porta Santa, animar-nos-ão, antes de tudo, sentimentos de
gratidão e agradecimento à Santíssima Trindade por nos ter concedido este tempo
extraordinário de graça.
Confiaremos
a vida da Igreja, a humanidade inteira e o universo imenso à Realeza de Cristo,
para que derrame a sua misericórdia, como o orvalho da manhã, para a construção
duma história fecunda com o compromisso de todos no futuro próximo.
Quanto
desejo que os anos futuros sejam permeados de misericórdia para ir ao encontro
de todas as pessoas levando-lhes a bondade e a ternura de Deus!
A
todos, crentes e afastados, possa chegar o bálsamo da misericórdia como sinal
do Reino de Deus já presente no meio de nós.
6. «É próprio de Deus usar de misericórdia e, nisto, se manifesta
de modo especial a sua omnipotência».
Estas
palavras de São Tomás de Aquino mostram como a misericórdia divina não seja, de
modo algum, um sinal de fraqueza, mas antes a qualidade da omnipotência de
Deus.
É por
isso que a liturgia, numa das suas colectas mais antigas, convida a rezar
assim:
«Senhor, que dais a maior prova do vosso poder quando perdoais e
Vos compadeceis…»
Deus
permanecerá para sempre na história da humanidade como Aquele que está
presente, Aquele que é próximo, providente, santo e misericordioso.
«Paciente e misericordioso» é o binómio que aparece, frequentemente,
no Antigo Testamento para descrever a natureza de Deus. O facto de Ele ser
misericordioso encontra um reflexo concreto em muitas acções da história da
salvação, onde a sua bondade prevalece sobre o castigo e a destruição.
Os
Salmos, em particular, fazem sobressair esta grandeza do agir divino:
«É Ele quem perdoa as tuas culpas e cura todas as tuas enfermidades.
É Ele quem resgata a tua vida do túmulo e te enche de graça e ternura».
E outro
Salmo atesta, de forma ainda mais explícita, os sinais concretos da
misericórdia:
«O Senhor liberta os prisioneiros. O Senhor dá vista aos cegos,
o Senhor levanta os abatidos, o Senhor ama o homem justo. O Senhor protege os
que vivem em terra estranha e ampara o órfão e a viúva, mas entrava o caminho
aos pecadores».
E, para
terminar, aqui estão outras expressões do Salmista:
«[O Senhor] cura os de coração atribulado e trata-lhes as feridas.
(...) O Senhor ampara os humildes, mas abate os malfeitores até ao chão».
Em suma, a misericórdia de Deus não é uma ideia abstracta mas
uma realidade concreta, pela qual Ele revela o seu amor como o de um pai e de
uma mãe que se comovem pelo próprio filho até ao mais íntimo das suas vísceras.
É
verdadeiramente caso para dizer que se trata de um amor «visceral». Provém do
íntimo como um sentimento profundo, natural, feito de ternura e compaixão, de
indulgência e perdão.
7. «Eterna é a sua misericórdia»: tal é o refrão que aparece em
cada versículo do Salmo 136, ao mesmo tempo que se narra a história da
revelação de Deus.
Em
virtude da misericórdia, todos os acontecimentos do Antigo Testamento aparecem
cheios dum valor salvífico profundo.
A
misericórdia torna a história de Deus com Israel uma história da salvação.
O facto
de repetir continuamente «eterna é a sua misericórdia», como faz o Salmo,
parece querer romper o círculo do espaço e do tempo para inserir tudo no
mistério eterno do amor. É como se se quisesse dizer que o homem, não só na
história mas também pela eternidade, estará sempre sob o olhar misericordioso
do Pai. Não é por acaso que o povo de Israel tenha querido inserir este Salmo –
o «grande hallel», como
lhe chamam – nas festas litúrgicas mais importantes.
Antes da Paixão, Jesus rezou ao Pai com este Salmo da misericórdia.
Assim o atesta o evangelista Mateus quando afirma que «depois de cantarem os
salmos»,
Jesus e os discípulos saíram para o Monte das Oliveiras.
Enquanto
instituía a Eucaristia, como memorial perpétuo d’Ele e da sua Páscoa, Jesus colocava
simbolicamente este acto supremo da Revelação sob a luz da misericórdia.
No
mesmo horizonte da misericórdia, Ele viveu a sua paixão e morte, ciente do
grande mistério de amor que se realizaria na cruz.
O facto
de saber que o próprio Jesus rezou com este Salmo torna-o, para nós cristãos,
ainda mais importante e compromete-nos a assumir o refrão na nossa oração de
louvor diária: «eterna é a sua misericórdia».
8. Com o olhar fixo em Jesus e no seu rosto misericordioso,
podemos individuar o amor da Santíssima Trindade.
A
missão, que Jesus recebeu do Pai, foi a de revelar o mistério do amor divino na
sua plenitude.
«Deus é
amor»:
afirma-o, pela primeira e única vez em toda a Escritura, o evangelista João.
Agora
este amor tornou-se visível e palpável em toda a vida de Jesus.
(cont)
Revisão
da versão portuguesa por ama)