TEMA
15. A Igreja e o Estado
A salvação realizada por
Cristo, e consequentemente a missão da Igreja, dirige-se ao homem na sua
integridade e, portanto, como pessoa que vive em sociedade.
1.
A missão da Igreja no mundo
A salvação realizada por
Cristo, e consequentemente a missão da Igreja, dirige-se ao homem na sua
integridade; por isso, quando a Igreja propõe a sua Doutrina Social, não só não
se afasta da sua missão, como a cumpre fielmente. Mais ainda, a evangelização
não seria autêntica se não tivesse em conta a relação entre o Evangelho e a
conduta pessoal, quer a nível individual quer social. Além disso, como a Igreja
vive no mundo é lógico, e mesmo devido, que se relacione com ele de modo
harmónico, respeitando a estrutura e finalidade própria da natureza das
distintas organizações humanas.
Assim, a Igreja tem a
missão, que é também um direito, de se ocupar dos problemas sociais. Quando o
faz, «não pode ser acusada de ultrapassar o seu campo específico de competência
e, muito menos, o mandato recebido do Senhor» 1.
Neste âmbito, a missão da
Igreja não se limita a propor normativas éticas. Basicamente, trata-se de
mostrar a dimensão evangélica da vida social de acordo com a verdade completa
sobre o homem, de ensinar a conduta congruente com essa verdade e de exortar ao
seu cumprimento.
De facto, entre a vida
cristã e a promoção humana, existe uma profunda e essencial união, um nexo
antropológico, um vínculo teológico e um dever de caridade 2. No
entanto, essa harmonia não significa confusão: a meta da conduta cristã é a
identificação com Cristo; a sua libertação é, essencialmente, libertação do
pecado, que certamente exige o empenho das libertações sectoriais 3.
Esta distinção é a base da autonomia das realidades terrenas.
Os ensinamentos do
Magistério neste campo não se estendem aos aspectos técnicos, nem propõem
sistemas de organização social, que não pertencem à sua missão. Estes
ensinamentos têm como objectivo a formação das consciências, não dificultando,
assim, a autonomia das realidades terrenas 4.
Deste modo, não compete à
Hierarquia uma função directa na organização da sociedade; a sua obrigação é
ensinar e interpretar de modo autêntico os princípios morais neste campo. Por
isso, a Igreja aceita qualquer sistema social em que se respeite a dignidade
humana e os fiéis devem acolher o Magistério social com uma adesão da inteligência,
da vontade e das obras (cf. Lc 10,16; Catecismo, 2032 e 2037).
enrique
colom
Bibliografia
básica:
Catecismo
da Igreja Católica, 2104-2109; 2244-2246; 2419-2425.
Concílio
Vaticano II, Const. Gaudium et spes, 74-76; e Decl. Dignitatis Humanae, 1-8;
13-14.
João
Paulo II, Ex. ap. Christifideles Laici, 30-XII-88, 36-44.
Leituras
recomendadas:
São
Josemaria, Homilia «Amar o mundo apaixonadamente», em Temas actuais do
Cristianismo, 113-123.
Congregação
para a Doutrina da Fé, Nota doutrinal sobre algumas questões relativas ao
compromisso e à conduta dos católicos na vida política, 24-XI-2002.
Compêndio
da Doutrina Social da Igreja, 49-55; 60-71; 189-191; 238-243; 377-427.
(Resumos da Fé cristã: © 2013,
Gabinete de Informação do Opus Dei na Internet)
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Notas:
1
João Paulo II, Enc. Sollicitudo Rei Socialis, 8, 30-XII-1987; cf. Paulo VI, Ex.
Ap. Evangelii Nuntiandi, 29 e 30, 8-XII-1975; João Paulo II, Discurso em
Puebla, III; Enc. Redemptor Hominis, 15, 4-III-1979; Compêndio DSI, 64 e 71.
2
Cf. Paulo VI, Ex. Ap. Evangelii Nuntiandi, 31. A união do humano com o divino é
muito própria do Opus Dei: o seu Fundador dizia que toda a vida dos seus fiéis
é «um serviço de metas exclusivamente sobrenaturais, porque o Opus Dei não é
nem nunca será — nem poderá sê-lo — um instrumento temporal; mas é ao mesmo
tempo um serviço humano, porque não fazeis senão procurar conseguir a perfeição
cristã no mundo, honestamente, com a vossa libérrima e responsável actuação em
todos os campos da actividade dos cidadãos. Um serviço abnegado, que não
envilece, mas que educa, que engrandece o coração — torna-o mais romano, no
sentido mais nobre desta palavra — e leva a procurar a honra e o bem do povo de
cada país, para que haja, cada dia, menos pobres, menos ignorantes, menos almas
sem fé, menos desesperados, menos guerras, menos insegurança, mais caridade e
mais paz» (São Josemaria, Carta 31-V-1943, n. 1 em J.L. Illanes, F. Ocáriz, P.
Rodríguez, O Opus Dei na Igreja, Rei dos Livros, Lisboa, 1993.
3
Cf. Paulo VI, Ex. Ap. Evangelii Nuntiandi, 9, 33-35; Congregação para a
Doutrina da Fé, Inst. Libertatis Conscientia, 23-III-1986, 23.
4
Falando dos valores que favorecem o desenvolvimento da dignidade humana, o Compêndio
indica: «O respeito pela legítima autonomia das realidades terrenas leva a
Igreja a não assumir competências específicas de ordem técnica e temporal, mas
não a impede de intervir para mostrar como, nas diferentes opções do homem,
estes valores são afirmados ou, pelo contrário, negados» (Compêndio DSI, 197).
Cf. Concílio Vaticano II, Const. Gaudium et Spes, 36 e 42; Paulo VI, Enc.
Populorum Progressio, 26-III-1967, 13; João Paulo II, Enc. Sollicitudo Rei
Socialis, 41; Compêndio DSI, 68 e 81.