18/05/2014

Não recusemos a obrigação de viver

Ficaste muito sério ao ouvir-me: aceito a morte quando Ele quiser, como Ele quiser e onde Ele quiser; e, ao mesmo tempo, penso que é "um comodismo" morrer cedo, porque temos de desejar trabalhar muitos anos para Ele e, por Ele, ao serviço dos outros. (Forja, 1039)

Libertar-vos-ei do cativeiro, onde quer que estiverdes. Livramo-nos da escravidão com a oração: sabemo-nos livres, voando num epitalâmio de alma enamorada, num cântico de amor, que nos leva a desejar não nos afastarmos de Deus... Um novo modo de andar na terra, um modo divino, sobrenatural, maravilhoso! Recordando tantos escritores quinhentistas castelhanos, talvez nos agrade saborear frases como esta: Eu vivo, porque não vivo; é Cristo que vive em mim.

Aceita-se com todo o gosto a necessidade de trabalhar neste mundo, durante muitos anos, porque Jesus tem poucos amigos cá em baixo. Não recusemos a obrigação de viver, de nos gastarmos – bem espremidos– ao serviço de Deus e da Igreja. Desta maneira, em liberdade: in libertatem gloriae filiorum Dei, qua libertate Christus nos liberavit; com a liberdade dos filhos de Deus, que Jesus Cristo nos alcançou morrendo no madeiro da Cruz.


É possível que logo desde o princípio se levantem nuvens de poeira e que, ao mesmo tempo, os inimigos da nossa santificação empreguem uma técnica de terrorismo psicológico – de abuso de poder – tão veemente e bem orquestrada, que arrastem na sua absurda direcção inclusivamente aqueles que durante muito tempo mantinham uma conduta mais lógica e mais recta. E apesar de a sua voz soar a sino rachado, não fundido em bom metal e bem diferente do assobio do pastor, rebaixam a palavra, que é um dos dons mais preciosos que o homem recebeu de Deus, presente belíssimo destinado a manifestar altos pensamentos de amor e de amizade ao Senhor e às suas criaturas, até fazer com que se entenda por que motivo disse S. Tiago que a língua é um mundo de iniquidade. Tantos danos pode, realmente produzir! Mentiras, difamações, desonras, intrigas, insultos, murmurações tortuosas... (Amigos de Deus, nn. 297–298)

As sete palavras de Cristo na Cruz 18

Capítulo 3: O segundo fruto que se há-de colher da consideração da primeira Palavra dita por Cristo na Cruz 8

Mas, omitindo estas considerações, passemos revista aos muitos e grandes inconvenientes que sofrem aqueles homens que, apenas para escapar de uma sombra de desonra diante dos homens, estão obstinados a se vingar daqueles que lhes fizeram qualquer mal. Em primeiro lugar, agem como estultos ao preferir um mal maior a um menor. Pois é um princípio considerado certo em toda parte, e que nos foi declarado pelo Apóstolo nestas palavras: "Não façamos o mal para que venha o bem" 13. Segue-se que, por consequência, um mal maior não há de ser cometido para que se possa obter alguma compensação por um menor. Aquele que recebe a injúria, recebe o que é chamado de mal da injúria: aquele que se vinga de uma injúria, é culpável do que se chama de mal do crime. Ora, sem dúvida, a desgraça de cometer um crime é maior que a desgraça de ter de suportar a injúria, pois, ainda que a ofensa possa tornar um homem miserável, não necessariamente o torna mau. Um crime, no entanto, o faz, a um tempo, miserável e malvado. A injúria priva o homem do bem temporal, o crime o priva tanto do bem temporal como do eterno. Assim, um homem que remedia o mal de uma injúria cometendo um crime, é como um homem que corta uma parte dos seus pés para calçar sapatos menores, o que é um ato de total loucura. Ninguém comete tal insensatez em suas preocupações temporais, mas, no entanto, há alguns homens tão cegos a seus interesses reais, que não temem ofender mortalmente a Deus para escapar daquilo que tem aparência de desgraça, e para manter um semblante de honra aos olhos dos homens. Caem, pois, sob o desagrado e a ira de Deus, e, a menos que se corrijam a tempo e façam penitência, terão que suportar a desgraça e o tormento eterno, e perderão a honra sem fim de habitarem no céu. Acrescente-se a isto que realizam um ato dos mais agradáveis ao diabo e seus anjos, que urgem a este homem fazer algo de injusto a aquele outro, com o propósito de semear a discórdia e a inimizade no mundo. E cada um deve refletir com calma quão desgraçado não é quem agrada o inimigo mais feroz da raça humana e desagrada o Cristo. Ademais, se sucede que o homem injuriado que ambiciona vingança fira mortalmente a seu inimigo, e o mate, é ele ignominiosamente executado por assassinato, e toda a sua propriedade é confiscada pelo Estado, ou, ao menos, é forçado ao exílio, e tanto ele como sua família viverão uma existência miserável. Assim é como o diabo joga e como se ri daqueles que escolhem antes se aprisionar com as ataduras da falsa honra, que se fazerem servos e amigos de Cristo, o melhor dos Reis, e serem reconhecidos como herdeiros de reino mais vasto e mais durável. Por isso, posto que o homem insensato, apesar do mandamento de Cristo, se nega a reconciliar-se com seus inimigos, e se expõe ao desastre total, todos os que são sábios escutarão a doutrina que Cristo, o Senhor de tudo, nos ensinou no Evangelho com suas palavras, e na Cruz com suas obras.

são roberto belarmino

(Tradução: Permanência, revisão ama).

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Notas:
13. Rm 3,8.


Pequena agenda do cristão


Domingo

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)

Propósito: Viver a família.

Senhor, que a minha família seja um espelho da Tua Família em Nazareth, que cada um, absolutamente, contribua para a união de todos pondo de lado diferenças, azedumes, queixas que afastam e escurecem o ambiente. Que os lares de cada um sejam luminosos e alegres.

Lembrar-me: Cultivar a Fé.

São Tomé, prostrado a Teus pés, disse-te: Meu Senhor e meu Deus!
Não tenho pena nem inveja de não ter estado presente. Tu mesmo disseste: Bem-aventurados os que crêem sem terem visto.
E eu creio, Senhor.
Creio firmemente que Tu és o Cristo Redentor que me salvou para a vida eterna, o meu Deus e Senhor a quem quero amar com todas as minhas forças e, a quem ofereço a minha vida. Sou bem pouca coisa, não sei sequer para que me queres mas, se me crias-te é porque tens planos para mim. Quero cumpri-los com todo o meu coração.

Pequeno exame: Cumpri o propósito que me propus ontem?


Temas para meditar 108

Santíssima Virgem

Mês e sol e de flores (...), mês de Maria, coroando o tempo Pascal. Desde o Advento o nosso pensamento tinha seguido Jesus; agora que se fez na nossa alma a grande paz que se segue à Ressurreição, como não voltarmo-nos para aquela que no-Lo deu?
Apareceu sobre a terra para preparar a Sua vinda; vivei à Sua sombra, até ao ponto de que não a vemos intervir no Evangelho mais que como Mãe de Jesus, seguindo-O, velando por Ele, e quando Jesus nos deixa, ela desaparece suavemente.
Ela desaparece, mas fica na memória dos povos, porque lhe devemos Jesus.


(j. leclerqSiguiendo el año litúrgico, Rialp, Madrid 1957, pg. 215-216, trad ama)

Tratado dos vícios e pecados 93

Questão 89: Do pecado venial em si mesmo.

Art. 2 — Se os pecados veniais são designados convenientemente pela madeira, pelo feno e pela palha.

(IV Sent., dist. XXI. q. 1, a. 2, qª 1, 2; dist. XLVI, q. 2, a. 3, qª 3, ad 3; I Cor., cap. III, lect. II).

O segundo discute-se assim. — Parece que os pecados veniais se designam inconvenientemente pela madeira, pelo feno e pela palha.

1. — Pois, edifícios de madeira, de feno e palha dizem-se levantados sobre um fundamento espiritual. Ora, os pecados veniais estão fora do edifício espiritual, assim como quaisquer falsas opiniões não constituem ciência. Logo, os pecados veniais não são convenientemente designados pela madeira, pelo feno e pela palha.

2. Demais. — Quem edifica com madeira, feno e palha, será salvo como por intervenção do fogo (1 Cor 3, 15). Ora, às vezes, quem comete pecados veniais não será salvo, mesmo pelo fogo. Tal o caso de quem morre em estado de pecado mortal e venial. Logo, os pecados veniais são designados inconvenientemente pela madeira, pelo feno e pela palha.

3. Demais. — Segundo o Apóstolo (1 Cor 3, 12), uns edificam edifícios de ouro, de prata e de pedras preciosas, i. é, agem levados pelo amor de Deus, do próximo e pelas boas obras; outros fazem edifícios de madeira, de feno e de palha. Ora, pecados veniais cometem-nos mesmo os que amam a Deus e ao próximo, e fazem boas obras. Pois, a Escritura o diz (1 Jo 1, 8): Se dissermos que estamos sem pecado, nós mesmos nos enganamos. Logo, essa tríplice designação não convém aos pecados veniais.

4. Demais. — Os graus e as diferenças dos pecados veniais são muito mais de três. Logo, é inconveniente reduzi-los às três classes supra­mencionadas.

Mas, em contrário, o Apóstolo diz (1 Cor 3, 15), que quem levanta sobre o fundamento edifício de madeira, de feno e de palha será salvo como por intervenção do fogo, sofrendo então pena, embora não eterna. Ora, o reato da pena temporal propriamente pertence ao pecado venial, como se disse (q. 87, a. 5). Logo, aquela tríplice distinção designa os pecados veniais.

Alguns entenderam por fundamento a fé informe, sobre a qual alguns edificam as boas obras figuradas pelo ouro, pela prata e pelas pedras preciosas. Outros porém, os pecados, mesmo mortais, figurados pela madeira, pelo feno e pela palha. — Mas, Agostinho refuta esta exposição, dizendo: segundo o Apóstolo (Gl 5, 21), quem pratica as obras da carne não possuirá o reino de Deus, i. é, não se salvará. Ora, o mesmo Apóstolo diz que quem levanta edifício de madeira, feno e palha, será salvo como por intervenção do fogo. Logo, não se podem considerar a madeira, o feno e a palha como designando os pecados mortais.

Outros então dizem que a madeira, o feno e a palha significam as boas obras, apoiadas certamente nos fundamentos do edifício espiritual, mas vão misturados com elas pecados veniais. Assim, se cuidando alguém dos seus interesses de família, se deixa levar pelo amor exagerado da esposa, dos filhos ou dos bens, embora com subordinação a Deus, de modo a não ter nenhuma vontade de praticar nenhum acto contra Ele. — Mas, esta interpretação também não é aceitável. Pois, como é manifesto, todas as boas obras se referem à caridade para com Deus e o próximo, sendo por isso designadas pelo ouro, pela prata e pelas pedras preciosas, e não pela madeira, pelo feno e pela palha.

Donde, devemos pensar que os pecados veniais, que se imiscuem nas obras dos que buscam os bens terrenos, são os designados pela madeira, pelo feno e pela palha. Pois, assim como estes elementos se agregam à casa, sem constituírem a substância do edifício, e podem queimar-se, permanecendo este; assim também os pecados veniais podem multiplicar-se no homem, permanecendo o edifício espiritual. E por causa deles o pecador sofre a pena do fogo, quer das tribulações temporais desta vida, quer, depois desta, a do fogo do purgatório. E contudo consegue a salvação eterna.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Os pecados veniais se os consideramos como apoiados, não quase directamente, sobre um fundamento espiritual, mas, ao lado dele, conforme a Escritura (Sl 136, 1). — Junto dos rios de Babilónia — i. é, ao lado. Porque, como dissemos, os pecados veniais não destroem o edifício espiritual.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Não se diz de qualquer que levante edifício de madeira, feno e palha, que será salvo como por intervenção do fogo, mas só de quem edificar sobre o fundamento. E este não é a fé informe, como alguns pensaram, mas a fé informada pela caridade, conforme aquilo (Ef 3, 17): arraigados e fundados em caridade. Portanto, quem morreu em estado de pecado mortal e de venial edificou certamente com a madeira, o feno e a palha, mas sem apoiar o edifício num fundamento espiritual. E por conseguinte, não será salvo como por intervenção do fogo.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Os que abandonaram o cuidado das coisas temporais, embora às vezes pequem venialmente, cometem contudo pecados veniais leves, e frequentissimamente se purificam pelo fervor da caridade. Por isso, esses tais não levantam sobre o fundamento um edifício de pecados veniais, por pouco perdurarem neles. Ao contrário, os pecados veniais dos entregues às coisas terrenas permanecem mais tempo, por não poderem tão frequentemente recorrer ao perdão desses pecados, pelo fervor da caridade.

RESPOSTA À QUARTA. — Como diz o Filósofo, todas as coisas se incluem nesta tríplice distinção: o princípio, o meio e o fim. E deste modo todos os graus dos pecados veniais se reduzem a estas três coisas: à madeira, que suporta longamente o fogo; à palha, que se consome muito rapidamente; e ao feno, que fica num meio-termo. Pois, conforme os pecados veniais têm mais ou menos aderência e gravidade, assim são expurgados pelo fogo mais rápida ou mais demoradamente.


Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Evangelho diário, comentário e leitura espiritual (Os Sacramentos)

Tempo de Páscoa

V Semana 


Evangelho: Jo 14, 1-2

1 «Não se perturbe o vosso coração. Acreditais em Deus, acreditai também em Mim.2 Na casa de Meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, Eu vo-lo teria dito. Vou preparar um lugar para vós. 3 Depois que Eu tiver ido e vos tiver preparado um lugar, virei novamente e tomar-vos-ei comigo, para que, onde estou, estejais vós também. 4 E vós conheceis o caminho para ir onde Eu vou». 5 Tomé disse-Lhe: «Senhor, nós não sabemos para onde vais; como podemos saber o caminho?». 6 Jesus disse-lhe: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai senão por Mim. 7 Se Me conhecesseis, também certamente conheceríeis Meu Pai; mas desde agora O conheceis e já O vistes». 8 Filipe disse-Lhe: «Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta». 9 Jesus disse-lhe: «Há tanto tempo que estou convosco, e ainda não Me conheces, Filipe? Quem Me viu, viu também o Pai. Como dizes, pois: Mostra-nos o Pai? 10 Não acreditais que Eu estou no Pai e que o Pai está em Mim? As palavras que vos digo, não as digo por Mim mesmo. O Pai, que está em Mim, Esse é que faz as obras. 11 Crede em Mim: Eu estou no Pai e o Pai está em Mim. 12 Crede-o ao menos por causa das mesmas obras. «Em verdade, em verdade vos digo, que aquele que crê em Mim fará também as obras que Eu faço. Fará outras ainda maiores, porque Eu vou para o Pai.


Comentário:

«Muitas moradas» porque todos os homens têm lugar no Céu não como multidão informe e anónima mas cada um individualmente porque o Senhor chama cada um pelo seu nome.

Que pena que alguns - muitos infelizmente - não queiram atender ao chamado e fiquem vazias essas moradas preparadas com tanto amor.

(ama, comentário sobre Jo 14, 1-12, 2011.05.22)


Leitura espiritual





Temas para leitura espiritual








Os Sacramentos 2

Os sacramentos da iniciação cristã

O Baptismo (II)

E, além disso, ainda que tendo recebido o Baptismo na infância, está em nossas mãos a capacidade de fazer com que a “participação na natureza divina”, que se nos concede, e a acção da graça em nós que o segue, seja eficaz o inoperante.
        
Uma vez recebida a Graça, aceite e aberto nosso Espírito à sua acção, a capacidade de “ser filhos de Deus em Cristo” toma corpo, e as potencias do homem abrem-se para a santidade, para a união com Deus, como filhos adoptivos, e deitam raízes e se desenvolvem em cada cristão, na liberdade de cada cristão, que se manifesta expressamente no desejo de mar a Deus e na rejeição decidida o pecado.
           
San Paulo expressa-o com estas palavras: “Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Pois não recebestes um Espírito de escravos para recair no temor; antes, recebestes um Espírito de filhos adoptivos, que nos faz clamar: ¡Abbá, Pai! O próprio Espírito une-se ao nosso Espírito para dar testemunho de que somos filhos de Deus. E, se filhos, também herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, já que sofremos com ele, para ser também com ele glorificados” (Rm 8, 14-17).
        
Filhos de Deus, e membros do Corpo de Cristo, que é a Igreja. A família de todos os baptizados que todos formamos e somos chamados a ir “construindo” espiritualmente ao longo da nossa vida, somos: “linhagem escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido, para anunciar os louvores daquele que os chamou das trevas à sua luz admirável” (1 Pedro 2, 9).
          
“Os baptizados, pelo seu novo nacimento como filhos de Deus, estão obrigados a confessar diante dos homens a fé que receberam de Deus por meio da Igreja, e a participar na actividade apostólica e missionária do Povo de Deus” (Catecismo, n. 1270).

- Sou consciente de que estou exercitando a minha liberdade plena de filho de Deus, quando me ajoelho ante a Eucaristia e adoro?
- Tenho a alegria de dar um testemunho de Fé, vivendo a minha vocação de adorador Eucarístico?
- Quando saúdo o Senhor no Sacrário, rezo pelo Santo Pai e por toda a Igreja?

O Baptismo (III)
            
Sei o Baptismo é necessário para a salvação, que ocorre com os que não recebem, o não podem receber, o Baptismo?
            
Nós, adoradores Eucarísticos temos de ser um ponto de referência, entre os nossos familiares, amigos e conhecidos, da Fé em Cristo. Por essa razão temos de ter presente os caminhos que a Igreja estabeleceu para facilitar que qualquer pessoa possa ser baptizada, pelo desejo dos seus pais, se é de menor idade, ou por decisão pessoal, se já é maior de idade.
           
Em perigo de morte, qualquer pessoa pode baptizar.
          
 “Em caso de necessidade qualquer pessoa, inclusive não baptizada, se tem a intenção requerida, pode baptizar. A intenção requerida consiste em querer fazer o que faz a Igreja ao baptizar, e empregar a fórmula baptismal trinitária (“Eu…te baptizo no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Catecismo da Igreja Católica, n. 1256).
           
Além do Baptismo sacramental, a Igreja considera outros dos tipos de Baptismo que abrem a alma às portas da Graça.
           
“Desde sempre, a Igreja possui a firme convicção de que os que padecem a morte por razão da fé, sem ter recebido o Baptismo, são baptizados pela sua morte com Cristo e por Cristo. Este Baptismo de sangue como o desejo do Baptismo, produz os frutos do Baptismo sem ser sacramento”

Este é o baptismo que os que se unem aos cristãos que sofrem martírio, movidos pelo seu exemplo recebem. E morrem com eles afirmando a mesma Fé.
          
Unido a este Baptismo de sangue a Igreja reconhece dois modos do Baptismo de desejo:
          
O primeiro refere-se aos que já se estão preparando para receber o Baptismo: “Aos catecúmenos que morrem antes do seu Baptismo, o desejo explícito de receber o Baptismo, unido ao arrependimento dos seus pecados e à caridade, assegura-lhes a salvação que não puderam receber pelo sacramento”.
          
O segundo caso aplica-se a todos os homens e manifesta claramente a universalidade da salvação que Cristo nos alcançou:
         
“Todo o homem que, ignorando o Evangelho de Cristo e a sua Igreja, busca a verdade e faz a vontade de Deus, segundo ele a conhece, pode ser salvo. Pode supor-se que semelhantes pessoas teriam desejado explicitamente o Baptismo se tivessem conhecido a sua necessidade”.
            
Talvez algum de nós tenha sabido de crianças que morreram apenas nascidos, e não receberam o Baptismo. Para estas situações – quer seja por descuido dos pais, por doenças imprevistas que precipitaram a morte, por atrasos desnecessários - temos de recordar a doutrina da Igreja para que saibamos consolar os pais que sofreram essa desgraça de forma involuntária, e sofrem pensando na situação dos seus filhos na vida eterna:
           
“Emquanto às crianças mortas sem Baptismo, a Igreja só pode confiá-los à misericórdia divina. Com efeito, a grande misericórdia de Deus, que quere que todos os homens se salvem e a ternura de Jesus com as crianças (…) permitem-nos confiar em que haja um caminho de salvação para as crianças que morrem sem Baptismo. Por isso é mais premente ainda a chamada da Igreja a não impedir que as crianças venham a Cristo pelo dom do Santo Baptismo” (Catecismo, n. 1261)
              
E terminamos esta reflexão recordando a doutrina comum na Igreja de que a todas os crianças que foram abortadas no seio das suas mães, a Misericórdia de Deus as acolhe no Céu.

- Recebemos com alegria a chegada de um novo filho, de um novo neto? Damo-nos conta de que é, verdadeiramente, um dom de Deus à família?
- Rezamos alguma vez nos momentos de adoração, pedindo a Deus  que se deixe de assassinar crianças no seio das sua mães?
- Lembramo-nos de vez em quando de nosso próprio baptismo, e  damos graças a Deus de todo coração por ter recebido a Fé?

A Confirmação (I)
          
A nossa condição de criatura comporta uma capacidade para desenvolver as potências e as qualidades, que cada um de nós temos como seres humanos. O nosso “eu”, núcleo vital de cada um que é a própria “pessoa”, encarrega-se de pôr em marcha a nossa “riqueza humana”.
            
Como poderemos desenvolver a “riqueza sobrenatural” que recebemos no Baptismo, e chegar a viver, como verdadeiros filhos de Deus em Cristo “participando da natureza divina”? Este é o efeito principal do segundo sacramento da iniciação cristã: a Confirmação.
           
“O efeito do sacramento da Confirmação é a efusão especial do Espírito Santo, como foi concedida noutro tempo aos apóstolos no dia de Pentecostes” (Catecismo, n. 1302).
            
Ao despedir-se dos apóstolos o Senhor prometeu-lhes a chegada do Espírito Santo, e anunciou-lhes a obra que o Paráclito levaria a cabo na alma de cada um deles e no espírito de todos os crentes, através dos séculos.
          
Qual é a obra principal que o Espírito Santo realiza no mundo, e que, de modo semelhante e ao mesmo tempo diferente, leva a cabo na alma do crente?
           
A principal obra do Espírito Santo na terra é a Encarnação do Filho de Deus, Jesus Cristo, no seio da Virgem Maria. Também Deus Pai nos envia o Espírito Santo, para que Cristo nasça e viva nas nossas almas, e possamos assim viver toda a nossa vida “com Cristo, por Cristo e em Cristo”.
          
O anúncio de Jesus Cristo de enviar o Espírito Santo consta de duas fases: “O Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á tudo e vos recordará tudo quanto eu vos disse” (Jo 14, 26). Pouco depois o Senhor afirma: “O Espírito da Verdade vos guiará até à Verdade completa, pois não falará por sua conta, mas falará o que ouve, e vos anunciará o que há-de vir… Receberá do mesmo e vo-lo comunicará” (Jo 16, 13-15).

Que significam estas duas afirmações do Senhor?
           
Em primeiro lugar, o Espírito Santo, ao ensinar-nos e ao dar-nos a Verdade, o próprio Cristo e ao enxertar-nos nele, permite-nos viver com Cristo, e vivendo com Cristo, com a Pessoa de Cristo, torna possível que cada um de nós esteja em condições de desenvolver as potencialidades sobrenaturais recebidas na “participação da natureza divina”, no baptismo.
            
A Confirmação leva a cabo o entrosamento de cada pessoa na sua nova vida cristã, em Deus, definitivamente, tanto no plano do “ser” como no do “actuar”. Esta acção fica expressa nestas palavras: “A Confirmação imprime na alma uma marca espiritual indelével, o “carácter”, que é o sinal de que Jesus Cristo marcou o cristão com o selo do seu Espírito revestindo-o da força do alto para que seja sua testemunha” (Catecismo, n. 1304).
           
Os efeitos da Confirmação promovem o crescimento da “nova criatura em Cristo”, que é cada cristão. Esta acção do sacramento ocorre seguindo um duplo meio: desenvolve a graça baptismal, que introduz o cristão mais profundamente na filiação divina;  e aperfeiçoa o sacerdócio comum dos fiéis – considerá-lo-emos mais adiante -, que  dá o poder de confessar publicamente a fé de Cristo, e como em virtude de um cargo (cfr. Catecismo, nn. 1304 e 1305).
           
Acção do Espírito Santo que se reflecte, portanto, na consciência de ser “nova criatura” que o cristão vai adquirindo, consciência que o leva a saber-se, e a ser, “filho de Deus”, capaz de clamar “Abba, Pai”. Todo este entrosamento da consciência da filiação divina, é obra da acção dos dons do Espírito Santo, que actuam no baptizado desde o primeiro instante de sua vida cristã.

- Ante o Sacrário, detenho-me a pensar que sou, de verdade, “filho de Deus em Cristo Jesus”?
- Rezo alguma vez ao Espírito Santo e o peço que encha o meu coração de amor a Cristo-homem, a Cristo-Eucaristia?
- Sou consciente de que o Espírito Santo vem a mim quando vivo o Sacramento da Reconciliação; e quando recebo a Cristo-Eucaristia na Comunhão?

A acção do Espírito Santo, que fortalece, em primeiro lugar, o interior da pessoa do crente, reflecte-se para o exterior: na condição social do homem e nas suas actuações públicas.
            
Recordemos brevemente os efeitos da Confirmação na alma do baptizado:
- “Introduze-nos mais profundamente na filiação divina, sabendo-nos “filhos de Deus em Cristo” e, portanto, une-nos mais firmemente a Cristo;
- Aumenta em nós os dons do Espírito Santo: sabedoria, inteligência, ciência, conselho, fortaleza, piedade e temor de Deus;
- Concede-nos uma força especial do Espírito Santo para difundir e defender a fé mediante a palavra e as obras, como verdadeiras testemunhas de Cristo, para confessar valentemente o nome de Cristo e para jamais nos envergonharmos da cruz” (cfr. Catecismo, n. 1303).
            
A Confirmação, portanto, sublinha com clareza a dignidade à qual os cristãos foram chamados: a viver com Deus e em Deus, sendo filhos de Deus e manifestando a grandeza deste viver em Cristo, com a suas obras e com a suas acções, porque estamos chamados também a ser testemunhos vivos da vida – no céu e na terra - de Cristo morto e ressuscitado. Testemunhas, portanto, não só da presença de Cristo no tempo e no agora da vida dos homens, mas também, do viver de Cristo na eternidade do Céu.

Viver com Cristo, guiados pelo Espírito Santo e participando da natureza divina, implica uma plenitude de vida, uma riqueza de espírito, que, logicamente, se traduz em testemunho da vida de Cristo entre nós, nas mais variadas situações do viver.
             
A vida do cristão confirmado tende converter-se num testemunho real do viver de Cristo. Porque esta vida em Cristo é também “vida de Cristo em nós”, e não só é o Espírito Santo que clama dentro de nós “Abba, Pai”, é também Cristo que nos une ao seu sacerdócio e nos faz viver a todos os fiéis cristãos, membros da Igreja, o seu próprio sacerdócio de oferecimento, de intercessão, de reparação, de acção de graças a Deus Pai.
            
Em verdade podemos dizer que a acção do Espírito Santo que recebemos na Confirmação, nos une tão firmemente a Cristo, nos ajuda a identificar-nos com Ele, a fazer com que o mesmo Cristo cresça em nós em Espírito. Um crescimento que guarda certa analogia - consideradas logicamente todas as distâncias, como  dissemos - com o  crescimento de Cristo em Maria, na carne de Maria.
           
Quando consideramos os Dons do Espírito Santo, e os seus Frutos no nosso eu, sublinharemos a realidade da conversão do cristão no próprio Cristo, que torna possível desenvolver a capacidade de entender e de actuar para dirigir todo o bem, “o bem de os que amam a Deus”.
                
Jesus Cristo manifestou com toda clareza a existência do Espírito Santo, a realidade da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade e prometeu enviá-lo aos homens. Primeiro, receberam-no os Apóstolos no Pentecostes; agora envia-no-los na Confirmação e quando recebemos os demais Sacramentos.
           
E o Espírito Santo dá-nos a força para “confessar publicamente a fé em Cristo”.

- Dou-me conta de que ao receber o Espírito Santo na Confirmação, o meu Espírito recebe uma graça especial para orar, para adorar a Deus?
- Tenho a valentia de manifestar a minha fé; e especialmente, a minha fé na Eucaristia, inclusive entre pessoas que blasfemam contra Deus e contra Cristo?
- Levar a um amigo connosco para adorar o Senhor no Sacrário é uma fonte de gozo para a nossa alma, e peço à Virgem que me dê a audácia para o fazer?


ernesto julia, Os Sacramentos, Janeiro 28, 2011, trad, ama.