Tempo Comum III Semana
Evangelho: Mc 4 21-25
21 Dizia-lhes mais: «Porventura traz-se a lâmpada para se
pôr debaixo do alqueire ou debaixo da cama? Não é para ser posta sobre o
candelabro? 22 Porque não há coisa alguma escondida que não venha a ser
manifesta, nem que seja feita para estar oculta, mas para vir a público. 23
Se alguém tem ouvidos para ouvir, oiça». 24 Dizia-lhes mais:
«Atendei ao que ouvis. Com a medida com que medirdes vos medirão a vós, e ainda
se vos acrescentará. 25 Porque ao que tem, dar-se-lhe-á ainda mais e
ao que não tem, ainda o que tem lhe será tirado».
Comentário:
Na
sua pregação, Jesus Cristo repete muitas vezes, de forma semelhante, esta
frase:
«Se alguém tem ouvidos para ouvir, oiça».
É um aviso sério a ter muito em conta por todos os
homens, sobretudo pelos cristãos.
A Palavra que ouvimos é Palavra de vida eterna, tem
a ver com a nossa salvação, por isso é de suma importância entender o que
ouvimos mas, principalmente, ouvir de forma a pôr em prática o que nos é dito.
Se não… seremos uns sujeitos passivos, desatentos e
a quem tanto faz ou pouco importa o que lhe é dito.
Será uma pena e um desperdício com resultados
nefastos e, talvez, decisivos para a nossa própria felicidade.
(ama, comentário sobre Mc 4, 21-25, 2014.01.30)
Leitura espiritual
São Josemaria Escrivá
Temas actuais do
cristianismo [i]
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Talvez
possa pensar-se que, até agora, o Opus Dei se viu favorecido pelo entusiasmo
dos primeiros sócios, embora sejam já vários milhares. Existe alguma medida que
garanta a continuidade da Obra, contra o risco, conatural a todas as
instituições, de um possível arrefecimento do fervor e do impulso iniciais?
A
Obra não se baseia no entusiasmo, mas na fé. Os anos do princípio - longos anos
- foram muito duros, e só se viam dificuldades. O Opus Dei foi avante, pela
graça divina e pela oração e pelo sacrifício dos primeiros, sem meios humanos.
Só havia juventude, bom humor e o desejo de fazer a vontade de Deus.
Desde
o princípio, a arma do Opus Dei foi sempre a oração, a vida entregue, a
renúncia silenciosa a tudo o que é egoísmo, para servir as almas. Como lhe
dizia antes, ao Opus Dei vem-se receber um espírito que leva precisamente a dar
tudo, enquanto se continua trabalhando profissionalmente por amor a Deus e às
criaturas por Ele.
A
garantia de que não se dê um arrefecimento é que os meus filhos nunca percam
este espírito. Sei que as obras humanas se desgastam com o tempo; mas isto não
acontece com as obras divinas, a não ser que os homens as rebaixem. Só quando
se perde o impulso divino é que vem a corrupção, a decadência. No nosso caso,
vê-se claramente a Providência do Senhor, que, em tão pouco tempo - quarenta
anos - faz que seja recebida e praticada esta específica vocação divina entre
cidadãos correntes iguais aos outros, de tão diversas nações.
O
fim do Opus Dei, repito uma vez mais, é a santidade de cada um dos seus sócios,
homens e mulheres, que continuam no lugar que ocupavam no mundo. Se alguém não
vem ao Opus Dei para ser santo, apesar de todos os pesares - quer dizer, apesar
das misérias próprias, dos erros pessoais - ir-se-á embora imediatamente. Penso
que a santidade atrai a santidade, e peço a Deus que no Opus Dei nunca falte
essa convicção profunda, esta vida de fé. Como vê, não confiamos exclusivamente
em garantias humanas ou jurídicas. As obras que Deus inspira movem-se ao ritmo
da graça. A minha única receita é esta: ser santos, querer ser santos, com
santidade pessoal.
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Por
que é que e que há sacerdotes numa instituição acentuadamente laical, como o
Opus Dei? Todos os membros do Opus Dei podem chegar a ser sacerdotes, ou só
aqueles que são escolhidos pelos directores?
A
vocação para o Opus Dei pode recebê-la qualquer pessoa, que queira
santificar-se no próprio estado: seja solteiro, casado ou viúvo; seja leigo ou
clérigo.
Por
isso ao Opus Dei associam-se também sacerdotes diocesanos, que continuam a ser
diocesanos como antes, porquanto a Obra ajuda-os a tender para a perfeição
cristã própria do seu estado, mediante a santificação do seu trabalho normal,
que é precisamente o ministério sacerdotal ao serviço do seu bispo, da sua
diocese e de toda a Igreja. Também no caso deles a vinculação ao Opus Dei não
modifica em nada a sua condição: continuam plenamente dedicados às tarefas que
lhes confia o respectivo Ordinário e aos outros apostolados e actividades que
devem realizar, sem que nunca a Obra interfira nessas actividades; e
santificam-se praticando o mais perfeitamente possível as virtudes próprias de
um sacerdote.
Além
desses sacerdotes, que se incorporam ao Opus Dei depois de terem recebido
ordens sacras, há na Obra outros sacerdotes seculares que recebem o sacramento
da Ordem depois de pertencerem ao Opus Dei, ao qual, portanto, se vincularam
quando eram leigos, cristãos correntes. Trata-se de número muito restrito em
comparação com o total de sócios - não chegam a dois por cento - e dedicam-se a
servir os fins apostólicos do Opus Dei com o ministério sacerdotal, renunciando
mais ou menos, segundo os casos, ao exercício da profissão civil que tinham.
São, com efeito, membros de profissões liberais ou trabalhadores, chamados ao
sacerdócio depois de terem adquirido uma habilitação profissional e de terem
trabalhado durante anos na sua ocupação própria: médico, engenheiro, mecânico,
camponês, professor, jornalista, etc. Fazem, além disso, com a máxima
profundidade e sem pressas, o estudo das disciplinas eclesiásticas até obterem
o doutoramento. E isso sem perder a mentalidade característica do ambiente da
sua profissão civil; de modo que, quando recebem as sagradas ordens, são
médicos-sacerdotes, advogados-sacerdotes, operários-sacerdotes, etc.
A
sua presença é necessária para o apostolado do Opus Dei. Este apostolado
realizam-no fundamentalmente os leigos, como já disse. Cada sócio procura ser
apóstolo no seu próprio ambiente de trabalho, aproximando as almas de Cristo
mediante o exemplo e a palavra, isto é, através do diálogo. Mas, no apostolado,
ao conduzir as almas pelos caminhos da vida cristã, chega-se ao muro
sacramental. A função santificadora do leigo tem necessidade da função
santificadora do sacerdote, que administra o sacramento da penitência, celebra
a Eucaristia e proclama a Palavra de Deus em nome da Igreja. E, como o
apostolado do Opus Dei pressupõe uma espiritualidade específica, é necessário
que o sacerdote dê também um testemunho vivo desse espírito peculiar.
Além
desse serviço aos outros sócios da Obra, esses sacerdotes podem prestar, e de
facto prestam, um serviço a muitas outras almas. O zelo sacerdotal, que informa
as suas vidas, deve levá-los a não permitir que ninguém passe ao seu lado sem
receber algum reflexo da luz de Cristo. Mais ainda, o espírito do Opus Dei, que
nada sabe de grupitos nem de distinções, impele-os a sentirem-se íntima e eficazmente
unidos aos seus irmãos, os outros sacerdotes seculares; sentem-se e são de
facto sacerdotes diocesanos em todas as dioceses em que trabalham e às quais
procuram servir com empenho e eficácia.
Quero
fazer notar, porque é uma realidade muito importante, que esses sócios leigos
do Opus Dei que recebem a ordenação sacerdotal, não mudam de vocação. Quando
abraçam o sacerdócio, respondendo livremente ao convite dos directores da Obra,
não o fazem com a ideia de que assim se unem mais a Deus ou tendem mais
eficazmente para a santidade: sabem perfeitamente que a vocação laical é plena
e completa em si mesma, que a sua dedicação a Deus no Opus Dei era desde o
primeiro momento um caminho claro para alcançar a perfeição cristã. A ordenação
sacerdotal não é, por isso, de modo algum, uma espécie de coroamento da vocação
para o Opus Dei: é uma chamada que se faz a alguns, para servir de um modo novo
os outros. Por outro lado, na Obra não há duas espécies de sócios, os clérigos
e os leigos; todos são e se sentem iguais e todos vivem o mesmo espírito: a
santificação no seu próprio estado. [*]
[*]
Mons. Escrivá de Balaguer fala nesta resposta de dois modos pelos quais os
sacerdotes seculares podem pertencer ao Opus Dei:
a) os sacerdotes que provêm dos membros leigos
do Opus Dei, que são chamados às Ordens Sagradas pelo Prelado e que se incardinam
na Prelatura, constituindo o seu presbitério. Dedicam-se fundamentalmente,
ainda que não exclusivamente, à assistência pastoral dos fiéis incorporados no
Opus Dei e, com estes, levam a cabo o apostolado específico de difundir, em
todos os ambientes da sociedade, uma profunda tomada de consciência do
chamamento universal à santidade e ao apostolado (Cfr. Apresentação);
b) os sacerdotes seculares já incardinados
numa diocese podem também participar da vida espiritual do Opus Dei, como
assinala Mons. Escrivá de Balaguer no início desta resposta. Para isso, podem
associar-se à Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz, que está intrinsecamente
unida à Prelatura e da qual é Presidente Geral o Prelado do Opus Dei, Cfr. o
texto da Apresentação, pág. 11 onde se dá uma explicação sucinta desta
Associação Sacerdotal, em termos jurídicos precisos que Mons. Escrivá de
Balaguer ainda não podia utilizar ao conceder esta entrevista.
70
Tem
falado com frequência do trabalho. Poderia dizer que lugar ocupa o trabalho
profissional na espiritualidade do Opus Dei?
A
vocação para o Opus Dei não altera nem modifica de modo algum a condição, o
estado de vida, de quem a recebe. E como a condição humana é o trabalho, a
vocação sobrenatural para a santidade e para o apostolado, segundo o espírito
do Opus Dei, confirma a vocação humana para o trabalho. A imensa maioria dos
sócios da Obra são leigos, cristãos correntes: a sua condição é a de quem tem uma
profissão, um ofício, uma ocupação, com frequência absorvente, com a qual ganha
a vida, mantém a família, contribui para o bem comum, desenvolve a sua
personalidade.
A
vocação para o Opus Dei vem confirmar tudo isso, até ao ponto de que um dos
sinais essenciais dessa vocação é precisamente viver no mundo e realizar aí um
trabalho - contando, volto a dizer, com as próprias imperfeições pessoais - da
maneira mais perfeita possível, tanto do ponto de vista humano, como do ponto
de vista sobrenatural. Quer dizer, um trabalho que contribua eficazmente para a
edificação da cidade terrena - e que seja, por isso, feito com competência e
com espírito de servir - e para a consagração do mundo, e que, portanto, seja
santificador e santificado.
Os
que querem viver com perfeição a sua fé e praticar o apostolado segundo o
espírito do Opus Dei, devem santificar-se com a profissão, santificar a
profissão e santificar os outros com a profissão. Vivendo assim, sem se
distinguirem dos outros cidadãos iguais a eles, que com eles trabalham,
esforçam-se por se identificar com Cristo, imitando os seus trinta anos de
trabalho na oficina de Nazaré.
Porque
essa tarefa habitual é, não só o âmbito em que se devem santificar, como também
a própria matéria da sua santidade: no meio das incidências do dia a dia
descobrem a mão de Deus, e encontram estímulo para a sua vida de oração. A
própria actividade profissional põe-nos em contacto com outras pessoas -
parentes, amigos, colegas - e com os grandes problemas que afectam a sua sociedade
ou o mundo inteiro e oferece-lhes assim a ocasião de viverem a entrega ao
serviço dos outros, que é essencial aos cristãos. Assim, devem esforçar-se por
dar um verdadeiro e autêntico testemunho de Cristo, para que todos aprendam a
conhecer e a amar o Senhor, a descobrir que a vida normal no mundo, o trabalho
de todos os dias, pode ser um encontro com Deus.
Por
outras palavras: a santidade e o apostolado constituem uma só coisa com a vida
dos sócios da Obra, e por isso o trabalho é o alicerce da sua vida espiritual.
A sua entrega a Deus enxerta-se no trabalho que faziam antes de virem para a
Obra e que continuam a fazer depois.
Quando,
nos primeiros anos da minha actividade pastoral, comecei a pregar estas coisas,
algumas pessoas não me compreenderam, outras escandalizaram-se: estavam
habituadas a ouvir falar do mundo sempre em sentido pejorativo. O Senhor
tinha-me feito compreender, e eu procurava fazê-lo compreender aos outros, que
o mundo é bom, porque as obras de Deus são sempre perfeitas, e que somos nós os
homens que, pelo pecado, fazemos o mundo mau.
Dizia
então, e continuo a dizer agora, que temos de amar o mundo, porque no mundo
encontramos a Deus, porque nos factos e acontecimentos do mundo Deus Se nos
manifesta e revela.
O
mal e o bem misturam-se na história humana e por isso o cristão deve saber
discernir; mas nunca esse discernimento o deve levar a negar a bondade das
obras de Deus, antes, pelo contrário, a reconhecer o divino que se manifesta no
humano, inclusivamente por trás das nossas fraquezas. Um bom lema para a vida
cristã pode encontrar-se naquelas palavras do Apóstolo: todas as coisas são
vossas, e vós de Cristo, e Cristo de Deus (1 Cor. 3, 22-23), para realizar
assim os desígnios desse Deus que quer salvar o mundo.
71
Poderia
fornecer-me alguns dados sobre a expansão da Obra durante estes quarenta anos
de vida? Quais são as actividades apostólicas mais importantes?
Antes
de mais, devo dizer que agradeço muito a Deus Nosso Senhor ter-me permitido ver
a Obra, apenas quarenta anos depois da sua fundação, estendida por todo o
mundo. Quando nasceu em 1928, em Espanha, já nasceu romana, o que para mim quer
dizer católica, universal. E o seu primeiro impulso foi, como era inevitável, a
expansão por todos os países.
Ao
pensar nestes anos decorridos, vêm-me à memória muitos acontecimentos que me
enchem de alegria: porque, à mistura com as dificuldades e as penas, que de
certo modo são o sal da vida, recordam-me a eficácia da graça de Deus e a
entrega - sacrificada e alegre - de tantos homens e mulheres que têm sabido ser
fiéis. Porque quero deixar bem claro que o apostolado essencial do Opus Dei é o
que cada sócio realiza individualmente no lugar em que trabalha, com a sua
família, entre os seus amigos. Uma actividade que não chama a atenção, que não
é fácil traduzir em estatísticas, mais que produz frutos de santidade em
milhares de almas, que vão seguindo a Cristo, silenciosa e eficazmente, no meio
da actividade profissional de todos os dias.
Sobre
este tema não é possível dizer muito mais. Poderia contar-lhe a vida exemplar
de muitas pessoas, mas isso desnaturalizaria a formosura humana e divina dessa
actividade, na medida em que lhe tirava intimidade. Reduzi-la a números e
estatísticas seria ainda pior, porque equivaleria a querer catalogar em vão os
frutos da graça nas almas.
Posso
falar-lhe das actividades apostólicas que os sócios da Obra dirigem em muitos
países. Actividades com fins espirituais e apostólicos, nas quais se procura
trabalhar com esmero e com perfeição também humana e nas quais colaboram muitas
outras pessoas que não são do Opus Dei, mas que compreendem o valor
sobrenatural desse trabalho, ou que apreciam o seu valor humano, como é o caso
de tantos não cristãos que nos ajudam eficazmente. Trata-se sempre de actividades
laicais e seculares, promovidas por cidadãos correntes no exercício dos seus
direitos cívicos normais, de acordo com as leis de cada pais executadas sempre
com critério profissional. Quer dizer, são tarefas que não aspiram a nenhum
tipo de privilégio ou tratamento de favor.
Com
certeza que conhece uma das actividades deste tipo que se desenvolve em Roma: o
centro Elis, que se dedica à qualificação profissional e à formação integral de
operários, mediante escolas, actividades desportivas e culturais, bibliotecas,
etc. É uma actividade que responde às necessidades de Roma e às circunstâncias
particulares do ambiente humano em que surgiu, o bairro do Tiburtino. Obras
semelhantes se levam a cabo em Chicago, Madrid, México, e em muitos outros
lugares.
Outro
exemplo poderia ser o Strathmore College of Arts and Science, de Nairobi.
Trata-se de um college pré-universitário, por onde têm passado centenas de
estudantes do Quénia, do Uganda e da Tanzânia. Através dele, alguns queniatas
do Opus Dei, juntamente com os outros seus concidadãos, têm realizado um
profundo labor docente e social; foi o primeiro centro da East Africa que
realizou a integração racial completa, e com a sua actividade contribuiu muito
para a africanização da cultura. Coisas semelhantes se podem dizer do Kianda
College também de Nairobi, que está a realizar uma tarefa de primeiro plano na
formação da nova mulher africana.
Posso
referir-me também, ainda a título de exemplo, a outra actividade: a
Universidade de Navarra. Desde a sua fundação, em 1952, desenvolveu-se até
contar agora 18 faculdades, escolas e institutos, nos quais prosseguem estudos
mais de seis mil alunos. Contra o que escreveram recentemente alguns jornais,
devo dizer que a Universidade de Navarra não tem sido mantida por subsídios
estatais. O Estado espanhol não custeia de modo nenhum os gastos de manutenção;
apenas contribuiu com alguns subsídios para a criação de novos postos
escolares. A Universidade de Navarra mantém-se graças à ajuda de pessoas e
associações privadas. O sistema de ensino e de vida universitária, inspirado no
critério da responsabilidade pessoal e da solidariedade entre todos os que ali
trabalham, mostrou-se eficaz, constituindo uma experiência muito positiva na
actual situação da universidade no Mundo.
Poderia
falar-lhe de actividades de outro tipo nos Estados Unidos, no Japão, na
Argentina, na Austrália, nas Filipinas, na Inglaterra, em França, etc. Mas não
é necessário. Bastará dizer que o Opus Dei actualmente está espalhado pelos
cinco continentes e que a ele pertencem pessoas de mais de 70 nacionalidades, e
das mais diversas raças e condições.
72
Para
terminar: está satisfeito, depois destes quarenta anos de actividade? As
experiências destes últimos anos, as modificações sociais, o Concílio Vaticano
lI, etc. sugeriram-lhe algumas alterações de estrutura?
Satisfeito?
Não posso deixar de o estar, quando vejo que, apesar das minhas misérias
pessoais, o Senhor fez em torno desta Obra de Deus tantas coisas maravilhosas.
Para um homem que vive da fé, a sua vida será sempre a história das
misericórdias de Deus. Em alguns momentos, essa história talvez seja difícil de
ler, porque tudo pode parecer inútil e até um fracasso; outras vezes, o Senhor
deixa ver copiosos os frutos e então é natural que o coração transborde em
acção de graças.
Uma
das minhas maiores alegrias foi precisamente ver como o Concílio Vaticano II
proclamou com grande clareza a vocação divina do laicado. Sem jactância alguma,
devo dizer que, pelo que se refere ao nosso espírito, o Concílio não significou
um convite a mudar, antes, pelo contrário, confirmou o que - pela graça de Deus
- vínhamos vivendo e ensinando há muitos anos. A principal característica do
Opus Dei não são determinadas técnicas ou métodos de apostolado, nem umas
estruturas determinadas; é um espírito que leva precisamente a santificar o
trabalho de cada dia.
Erros
e misérias pessoais, repito, todos os temos. E todos devemos examinar-nos
seriamente na presença de Deus e confrontar a nossa própria vida com o que o
Senhor nos exige. Mas sem esquecer o mais importante: si scires donum Dei!...
(Jn. 4, 10), se conhecesses o dom de Deus!, disse Jesus à Samaritana. E São
Paulo acrescenta: levamos esse tesouro em vasos de barro, para que se
reconheça, que a excelência do poder é de Deus e não nossa (11 Cor. 4, 7).
A
humildade, o exame cristão, começa por reconhecer o dom de Deus. É algo bem
diferente de encolher-se diante do curso que tomam os acontecimentos, da
sensação de inferioridade ou de desalento perante a história. Na vida pessoal,
e às vezes também na vida das associações ou das instituições, pode haver
coisas a mudar, inclusivamente muitas; mas a atitude com que o cristão deve
enfrentar esses problemas há-de ser, antes de mais, a de se admirar diante da
magnitude das obras de Deus, comparadas com a pequenez humana.
O
aggiornamento deve fazer-se, antes de mais na vida pessoal, para a pôr de
acordo com essa velha novidade do Evangelho. Estar em dia significa
identificar-se com Cristo, que não é um personagem que passou: Cristo vive e
viverá sempre: ontem, hoje e pelos séculos (Heb. 13, 8).
Quanto
ao Opus Dei considerado em conjunto, bem pode afirmar-se, sem nenhuma espécie
de arrogância, com agradecimento â bondade de Deus, que nunca terá problemas de
adaptação ao mundo: nunca se encontrará na necessidade de se pôr em dia. Deus
Nosso Senhor pôs em dia a Obra de uma vez para sempre, dando-lhe essas características
peculiares, laicais; e jamais terá necessidade de se adaptar ao mundo, porque
todos os seus sócios são do mundo; não terá de ir atrás do progresso humano,
porque são todos os sócios da Obra, juntamente com os demais homens que vivem
no mundo, que fazem esse progresso com o seu TRABALHO quotidiano.
(cont)
[i]
Entrevista realizada por Enrico Zuppi e
António Fugardi, publicada em L'Osservatore della Domenica (Cidade do Vaticano)
nos dias 19 e 26 de Maio e 2 de Junho de 1968