Art.
2 — Se é falsa a proposição: o homem é Deus.
O segundo discute-se assim. — Parece
falsa a proposição – o homem é Deus.
1. — Pois, o nome de Deus é
incomunicável, donde a Escritura repreender os idólatras, porque deram o nome
incomunicável de Deus às pedras e ao pau. Logo, pela mesma razão, parece inconveniente
predicar o nome de Deus, do homem.
2. Demais. — Todo o predicado do
predicado também o é do sujeito. Ora, é verdadeira a proposição — Deus é o Pai,
ou Deus é a Trindade. Se, pois, é verdadeira a proposição — O homem é Deus —
verdadeira também há-de ser esta outra — O homem é o Pai ou, O homem é a
Trindade. As quais são evidentemente falsas. Logo, também a primeira o é.
3. Demais. — A Escritura diz: Não
haverá em ti Deus novo. Ora, o homem é de certo modo novo, pois, Cristo nem
sempre foi homem. Logo, é falsa a proposição: O homem é Deus.
Mas, em contrário, o Apóstolo: De quem
descende Cristo segundo a carne, que é Deus sobre todas as coisas bendito por
todos os séculos. Ora, Cristo, segundo a carne, é homem. Logo, é verdadeira a
proposição – O homem é Deus.
Suposta a verdade de uma e
outra natureza — a divina e a humana — e a união na pessoa e na hipóstase, é
verdadeira e própria a proposição — O homem é Deus, como o é esta outra — Deus
é homem. Pois, o nome de homem pode ser suposto por qualquer hipóstase da
natureza humana, e portanto pode ser suposto pela pessoa do Filho de Deus, que
dissemos ser a hipóstase da natureza humana. Ora, é manifesto que da pessoa do
Filho de Deus pode verdadeira e propriamente ser predicado o nome de Deus, como
demonstramos na Primeira Parte. Donde se conclui que é verdadeira e própria a
proposição — O homem é Deus.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Os idólatras davam o nome da divindade à pedra e ao pau, considerados na sua própria
natureza, por pensarem que havia neles algo da divindade. Nós porém não
atribuímos o nome de Deus a Cristo homem, segundo a natureza humana, mas
segundo o suposto eterno, que também é pela união, o suposto da natureza
humana, como se disse.
RESPOSTA À SEGUNDA. — O nome Pai
predica-se do nome Deus quando o nome de Deus é suposto pela pessoa do Pai. E
nesse sentido não se predica da pessoa do Filho, porque a pessoa do Filho não é
a pessoa do Pai. E por consequência não é necessário o nome de Pai ser
predicado do nome homem, do qual é predicado o nome de Deus, quando o nome de
homem é suposto pela pessoa do Filho.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Embora a
natureza humana em Cristo fosse assumida no tempo, contudo o suposto dela não é
temporal, mas eterno. E o nome Deus, não se predicando do homem em razão da
natureza humana, mas em razão do suposto, não resulta daí que concebamos Deus
como temporal. O que resultaria se disséssemos que o homem supõe um suposto
criado, o que devem ensinar necessariamente os que introduzem em Cristo dois
supostos.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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