3. A Revelação como
história da salvação culminada em Cristo
Como
diálogo entre Deus e os homens, através do qual Ele os convida a participar na
sua vida pessoal, a Revelação manifesta-se, desde o início, com um carácter de
“aliança” que dá origem a uma “história da salvação”. «Decidindo abrir o
caminho da salvação sobrenatural, manifestou-se a Si mesmo, desde o princípio,
aos nossos primeiros pais. Depois da sua queda, com a promessa de redenção,
deu-lhes a esperança da salvação, e cuidou continuamente do género humano, para
dar a vida eterna a todos aqueles que, perseverando na prática das boas obras,
procuram a salvação. No devido tempo chamou Abraão, para fazer dele pai dum
grande povo, povo que, depois dos patriarcas, ele instruiu, por meio de Moisés
e dos profetas, para que o reconhecessem como único Deus vivo e verdadeiro, pai
providente e juiz justo, e para que esperassem o Salvador prometido; assim
preparou Deus através dos tempos o caminho ao Evangelho» 9.
Iniciada
já com a criação dos nossos primeiros pais e a elevação à vida da graça, que
lhes permitia participar da intimidade divina e depois prefigurada no pacto
cósmico com Noé, a aliança de Deus com o homem revela-se de modo explícito com
Abraão e depois, de maneira particular, com Moisés, a quem Deus entrega as
Tábuas da Aliança. Quer a numerosa descendência prometida a Abraão, na qual
seriam abençoadas todas as nações da terra, quer a lei entregue a Moisés, com
os sacrifícios e o sacerdócio que acompanham o culto divino, são preparações e
figura da nova e eterna aliança selada em Jesus Cristo, Filho de Deus,
realizada e revelada na Sua Encarnação e no Seu sacrifício pascal. A aliança em
Cristo redime do pecado dos primeiros pais, que quebraram com a sua
desobediência a primeira oferta de aliança por parte de Deus criador.
A
história da salvação manifesta-se como uma grandiosa pedagogia divina que
aponta para Cristo. Os profetas, cuja função era recordar a aliança e as suas
exigências morais, falam especialmente d’Ele, o Messias prometido. Eles
anunciam a economia de uma nova aliança, espiritual e eterna, escrita nos
corações; será Cristo quem a revelará com as Bem-aventuranças e os ensinamentos
do Evangelho, promulgando o mandamento da caridade, realização e cumprimento de
toda a Lei.
Jesus
Cristo é, simultaneamente, mediador e plenitude da Revelação; Ele é o
Revelador, a Revelação e o conteúdo da mesma, enquanto Verbo de Deus feito
carne: «Deus, tendo falado outrora muitas vezes e de muitos modos aos nossos
pais pelos profetas, nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio de Seu
Filho, a Quem constituiu herdeiro de tudo, por Quem criou o mundo» (Hb 1,1-2).
Deus, no Seu Verbo, disse tudo e de modo concludente: «A economia cristã,
portanto, como aliança nova e definitiva, nunca cessará e não há que esperar já
nenhuma revelação pública antes da gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus
Cristo» 10 (cf. Catecismo, 65-66). De modo particular, a realização
e plenitude da Revelação divina manifestam-se no mistério pascal de Jesus
Cristo, ou seja, na Sua paixão, morte e ressurreição, como Palavra definitiva
na qual Deus manifestou a totalidade do Seu amor de condescendência e renovou o
mundo. Somente em Jesus Cristo, Deus revela o homem a si próprio e fá-lo
compreender o grau da sua dignidade e altíssima vocação 11.
A
fé enquanto virtude é a resposta do homem à revelação divina, uma adesão
pessoal a Deus em Cristo, motivada pelas Suas palavras e pelas obras que Ele
realiza. A credibilidade da revelação apoia-se sobretudo na credibilidade da
pessoa de Jesus Cristo, em toda a Sua vida. A Sua posição de mediador,
plenitude e fundamento da credibilidade da Revelação, diferenciam a pessoa de
Jesus Cristo de qualquer outro fundador de uma religião que não solicita dos
seus seguidores que tenham fé nele, nem pretende ser a plenitude e realização
do que Deus quer revelar, mas que somente se propõe como mediador para fazer
com que os homens conheçam tal revelação.
Catecismo da Igreja Católica, 50-133.
Concílio Vaticano II, Const. Dei
Verbum, 1-20.
João Paulo II, Enc. Fides et Ratio,
14-IX-1988, 7-15.
© 2013, Gabinete de Informação do Opus
Dei na Internet
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9
Concílio Vaticano II, Const. Dei Verbum, 3.
10
Concílio Vaticano II, Const. Dei Verbum, 4.
11
Cf. Concílio Vaticano II, Const. Gaudium et Spes, 22.