Questão
57: Da Ascensão de Cristo
Art.
4 — Se Cristo subiu acima de todos os céus.
O quarto discute-se assim. — Parece que
Cristo não subiu acima de todos os céus.
1. — Pois, diz a Escritura: O Senhor habita no seu santo templo, o trono
do Senhor é no céu. Ora, o que está no céu não está acima dele. Logo,
Cristo não subiu acima de todos os céus.
2. Demais. — Dois corpos não podem estar
no mesmo lugar. Ora, como não passou de um extremo para outro, transitando pelo
meio, parece que Cristo não podia subir além de todos os céus, a menos que o
céu não se dividisse. O que é impossível.
3. Demais. — A Escritura refere que uma
nuvem o ocultou aos olhos deles. Ora, as nuvens não podem elevar-se acima dos
céus. Logo, Cristo não subiu acima de todos os céus.
4. Demais. — Cremos que Cristo há-de
permanecer perpétuamente no lugar onde subiu. Ora, o contrário à natureza não
pode ser sempiterno; pois, o que é segundo a natureza se realiza no mais das
vezes e mais frequentemente. Ora, sendo contra a natureza de um corpo terrestre
existir acima do céu, parece que o corpo de Cristo não subiu acima dele.
Mas, em contrário, o Apóstolo: Subiu acima de todos os céus, para encher
todas as causas.
Tanto mais perfeitamente um
corpo participa da bondade divina, tanto mais de ordem corpórea superior é, que
é a ordem local. Assim, os corpos que têm
maior formalidade são naturalmente superiores, como está claro no Filósofo;
pois, pela forma é que cada corpo
participa do ser divino. Ora, mais participa da divina bondade o corpo,
pela glória, do que qualquer corpo natural, pela forma da sua natureza. E
dentre os outros corpos gloriosos é manifesto que o corpo de Cristo tem glória mais
refulgente. Donde, convenientíssimo lhe é estar constituído no alto, acima de
todos os corpos. Por isso àquilo do Apóstolo — subindo ao alto, diz a Glosa: Em
lugar e dignidade.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. —
Dizemos que o trono de Deus é no céu, não que este o contenha, mas antes, como
contido por ele. Donde, não é necessário que haja nenhuma parte do céu superior
a ele, mas sim, que ele seja superior a todos os céus, como o diz a Escritura: A tua magnificência se elevou sobre os céus.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Embora um corpo
não possa por natureza, ocupar o mesmo lugar que outro, contudo Deus pode fazer
milagrosamente com que ambos ocupem o mesmo lugar. Assim fez o corpo de Cristo nascer do ventre virginal de Maria e passou
através de portas fechadas, como diz S. Gregório. Logo, podia o corpo de
Cristo ocupar o mesmo lugar que outro, não por propriedade corpórea sua, mas
por auxílio e obra do poder divino.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A nuvem referida
não prestou nenhum auxílio, como meio pelo qual Cristo fosse conduzido ao céu;
mas apareceu, como sinal de manifestação da divindade, assim como a glória do
Deus de Israel aparecia sobre o tabernáculo em forma de nuvem.
RESPOSTA À QUARTA. — O corpo glorioso
não é em virtude dos princípios próprios da sua natureza que pode estar no céu
ou acima dele; mas recebe essa capacidade, da alma bem-aventurada, donde tira a
sua glória. E, assim como o movimento do corpo glorioso para cima não é
violento, também não o é o repouso. Donde, nada impede que seja este
sempiterno.
Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.