Tempo Comum
Semana II
Evangelho:
Mc 2, 18-22
18 Os discípulos
de João e os fariseus estavam a jejuar. Foram ter com Jesus, e disseram-Lhe:
«Porque jejuam os discípulos de João e os fariseus, e os Teus discípulos não
jejuam?». 19 Jesus respondeu-lhes: «Podem porventura jejuar os
companheiros do esposo, enquanto o esposo está com eles? Enquanto têm consigo o
esposo não podem jejuar. 20 Mas virão dias em que lhes será tirado o
esposo e, então, nesses dias, jejuarão. 21 Ninguém cose um remendo
de pano novo num vestido velho; pois o remendo novo arranca parte do velho, e o
rasgão torna-se maior. 22 Ninguém deita vinho novo em odres velhos;
de contrário, o vinho fará arrebentar os odres, e perder-se-á o vinho e os
odres; mas, para vinho novo, odres novos».
Comentário:
Muitos,
infelizmente, preocupam-se com as aparências e, naturalmente, quem assim
procede é levado a julgar os outros com ligeireza e a esquecer o seu próprio
comportamento.
O que se faz por
devoção ou obedecendo a impulsos interiores, sobretudo quando se têm projectos
de melhoria pessoal, o que pressupõe esforços redobrados e perseverantes de
correcção interior, não podem ter essa preocupação de que os “outros” vejam e
apreciem o que fazem.
Mas… atenção!
O exemplo é a mais
expedita forma de apostolado!
(ama, Comentário sobre Mc 2, 8-22, Malta, 2014.01.19)
Leitura espiritual
CARTA
ENCÍCLICA
LAUDATO SI’
DO
SANTO PADRE
FRANCISCO
SOBRE
O CUIDADO DA CASA COMUM
CAPÍTULO VI
EDUCAÇÃO
E ESPIRITUALIDADE ECOLÓGICAS
8.
A Rainha de toda a criação
241. Maria, a mãe que cuidou de Jesus,
agora cuida com carinho e preocupação materna deste mundo ferido.
Assim como chorou com o coração
trespassado a morte de Jesus, assim também agora Se compadece do sofrimento dos
pobres crucificados e das criaturas deste mundo exterminadas pelo poder humano.
Ela vive, com Jesus, completamente transfigurada, e todas as criaturas cantam a
sua beleza.
É a Mulher «vestida de sol, com a lua
debaixo dos pés e com uma coroa de doze estrelas na cabeça» [i].
Elevada ao céu, é Mãe e Rainha de toda a
criação.
No seu corpo glorificado, juntamente com
Cristo ressuscitado, parte da criação alcançou toda a plenitude da sua beleza.
Maria não só conserva no seu coração toda
a vida de Jesus, que «guardava» cuidadosamente [ii],
mas agora compreende também o sentido de todas as coisas. Por isso, podemos
pedir-Lhe que nos ajude a contemplar este mundo com um olhar mais sapiente.
242. E ao lado d’Ela, na sagrada família
de Nazaré, destaca-se a figura de São José.
Com o seu trabalho e presença generosa,
cuidou e defendeu Maria e Jesus e livrou-os da violência dos injustos,
levando-os para o Egipto. No Evangelho, aparece descrito como um homem justo,
trabalhador, forte; mas, da sua figura, emana também uma grande ternura, própria
não de quem é fraco mas de quem é verdadeiramente forte, atento à realidade
para amar e servir humildemente.
Por isso, foi declarado protector da
Igreja universal.
Também Ele nos pode ensinar a cuidar, pode
motivar-nos a trabalhar com generosidade e ternura para proteger este mundo que
Deus nos confiou.
9.
Para além do sol
243. No fim, encontrar-nos-emos face a
face com a beleza infinita de Deus [iii]
e poderemos ler, com jubilosa admiração, o mistério do universo, o qual terá
parte connosco na plenitude sem fim.
Estamos a caminhar para o sábado da
eternidade, para a nova Jerusalém, para a casa comum do Céu. Diz-nos Jesus:
«Eu
renovo todas as coisas» [iv].
A vida eterna será uma maravilha
compartilhada, onde cada criatura, esplendorosamente transformada, ocupará o
seu lugar e terá algo para oferecer aos pobres definitivamente libertados.
244. Na expectativa da vida eterna,
unimo-nos para tomar a nosso cargo esta casa que nos foi confiada, sabendo que
aquilo de bom que há nela será assumido na festa do Céu.
Juntamente com todas as criaturas,
caminhamos nesta terra à procura de Deus, porque, «se o mundo tem um princípio
e foi criado, procura quem o criou, procura quem lhe deu início, aquele que é o
seu Criador». [v]
Caminhemos cantando; que as nossas lutas e
a nossa preocupação por este planeta não nos tirem a alegria da esperança.
245. Deus, que nos chama a uma generosa
entrega e a oferecer-Lhe tudo, também nos dá as forças e a luz de que
necessitamos para prosseguir.
No coração deste mundo, permanece presente
o Senhor da vida que tanto nos ama.
Não nos abandona, não nos deixa sozinhos,
porque Se uniu definitivamente à nossa terra e o seu amor sempre nos leva a
encontrar novos caminhos.
Que Ele seja louvado!
* * *
246. Depois desta longa reflexão, jubilosa
e ao mesmo tempo dramática, proponho duas orações: uma que podemos partilhar
todos quantos acreditam num Deus Criador Omnipotente, e outra pedindo que nós,
cristãos, saibamos assumir os compromissos para com a criação que o Evangelho
de Jesus nos propõe.
Oração
pela nossa terra
Deus Omnipotente, que estais presente em
todo o universo e na mais pequenina das vossas criaturas, Vós que envolveis com
a vossa ternura tudo o que existe, derramai em nós a força do vosso amor para
cuidarmos da vida e da beleza.
Inundai-nos de paz, para que vivamos como
irmãos e irmãs sem prejudicar ninguém.
Ó Deus dos pobres, ajudai-nos a resgatar os
abandonados e esquecidos desta terra que valem tanto aos vossos olhos.
Curai a nossa vida, para que protejamos o
mundo e não o depredemos, para que semeemos beleza e não poluição nem
destruição.
Tocai os corações daqueles que buscam
apenas benefícios à custa dos pobres e da terra.
Ensinai-nos a descobrir o valor de cada
coisa, a contemplar com encanto, a reconhecer que estamos profundamente unidos com
todas as criaturas no nosso caminho para a vossa luz infinita.
Obrigado porque estais connosco todos os
dias.
Sustentai-nos, por favor, na nossa luta pela
justiça, o amor e a paz.
Oração
cristã com a criação
Nós Vos louvamos, Pai, com todas as vossas
criaturas, que saíram da vossa mão poderosa.
São vossas e estão repletas da vossa
presença e da vossa ternura.
Louvado sejais!
Filho de Deus, Jesus, por Vós foram
criadas todas as coisas.
Fostes formado no seio materno de Maria, fizestes-Vos
parte desta terra, e contemplastes este mundo com olhos humanos.
Hoje estais vivo em cada criatura com a
vossa glória de ressuscitado.
Louvado sejais!
Espírito Santo, que, com a vossa luz, guiais
este mundo para o amor do Pai e acompanhais o gemido da criação, Vós viveis
também nos nossos corações a fim de nos impelir para o bem.
Louvado sejais!
Senhor Deus, Uno e Trino,
comunidade estupenda de amor infinito, ensinai-nos
a contemplar-Vos na beleza do universo, onde tudo nos fala de Vós.
Despertai o nosso louvor e a nossa
gratidão por cada ser que criastes.
Dai-nos a graça de nos sentirmos intimamente
unidos a tudo o que existe.
Deus de amor, mostrai-nos o nosso lugar
neste mundo como instrumentos do vosso carinho por todos os seres desta terra, porque
nem um deles sequer é esquecido por Vós.
Iluminai os donos do poder e do dinheiro
para que não caiam no pecado da indiferença, amem o bem comum, promovam os
fracos, e cuidem deste mundo que habitamos.
Os pobres e a terra estão bradando:
Senhor tomai-nos sob o vosso poder e a
vossa luz, para proteger cada vida, para preparar um futuro melhor, para que
venha o vosso Reino de justiça, paz, amor e beleza.
Louvado sejais!
Ámen.
Dado em Roma, junto de
São Pedro, no dia 24 de Maio – Solenidade de Pentecostes – de 2015, terceiro
ano do meu Pontificado.
Franciscus
[v] Basílio Magno, Hom. in Hexaemeron, 1, 2, 6: PG 29, 8.