“A vida cristã é um constante começar e
recomeçar, uma renovação em cada dia.” (Cristo que passa, 114).
Desde a nossa primeira decisão
consciente de viver integralmente a doutrina de Cristo, é certo que avançámos
muito pelo caminho da fidelidade à sua Palavra. Mas não é verdade que restam
ainda tantas coisas por fazer? Não é verdade que resta, sobretudo, tanta
soberba? É precisa, sem dúvida, uma outra mudança, uma lealdade maior, uma
humildade mais profunda, de modo, que, diminuindo o nosso egoísmo, cresça em
nós Cristo, pois illum oportet crescere,
me autem minui, é preciso que Ele cresça e que eu diminua. (...)
A conversão é coisa de um instante; a
santificação é tarefa para toda a vida. A semente divina da caridade, que Deus
pôs nas nossas almas, aspira a crescer, a manifestar-se em obras, a dar frutos
que correspondam em cada momento ao que é agradável ao Senhor. Por isso, é
indispensável estarmos dispostos a recomeçar, a reencontrar – nas novas
situações da nossa vida – a luz, o impulso da primeira conversão. E essa é a
razão pela qual havemos de nos preparar com um exame profundo, pedindo ajuda ao
Senhor para podermos conhecê-Lo melhor e conhecer-nos melhor a nós mesmos. Não
há outro caminho para nos convertermos de novo. (Cristo que passa, 58)
Ao falar diante do presépio sempre
procurei ver Cristo Nosso Senhor desta maneira, envolto em paninhos sobre a palha
da manjedoura, e, enquanto ainda menino e não diz nada, vê-Lo já como doutor,
como mestre. Preciso de considerá-Lo assim, porque tenho de aprender d’Ele. E
para aprender d’Ele é necessário conhecer a sua vida: ler o Santo Evangelho,
meditar no sentido divino do caminho terreno de Jesus.
Na verdade, temos de reproduzir na
nossa, a vida de Cristo, conhecendo Cristo à força de ler a Sagrada Escritura e
de a meditar, à força de fazer oração, como agora estamos fazendo diante do
presépio. É preciso entender as lições que Jesus nos dá já desde menino, desde
recém-nascido, desde que os seus olhos se abriram para esta bendita terra dos
homens.
Jesus, crescendo e vivendo como um de
nós, revela-nos que a existência humana, a vida corrente e ordinária, tem um sentido
divino. Por muito que tenhamos pensado nestas verdades, devemos encher-nos
sempre de admiração ao pensar nos trinta anos de obscuridade que constituem a
maior parte da passagem de Jesus entre os seus irmãos, os homens. Anos de
sombra, mas, para nós, claros como a luz do Sol. Mais: resplendor que ilumina
os nossos dias e lhes dá uma autêntica projecção, pois somos cristãos
correntes, com uma vida vulgar, igual à de tantos milhões de pessoas nos mais
diversos lugares do Mundo. (Cristo que passa, 14)
Vocês sabem por experiência pessoal – e
têm-me ouvido repetir com frequência, para evitar desânimos – que a vida
interior consiste em começar e recomeçar todos os dias; e notam no vosso
coração, como eu noto no meu, que precisamos de lutar continuamente. Terão
observado no vosso exame – a mim acontece-me o mesmo: desculpem que faça
referências a mim próprio, mas enquanto falo convosco vou pensando com Nosso
Senhor nas necessidades da minha alma – que sofrem repetidamente pequenos
reveses, que às vezes parecem descomunais, porque revelam uma evidente falta de
amor, de entrega, de espírito de sacrifício, de delicadeza. Fomentem as ânsias
de reparação, com uma contrição sincera, mas não percam a paz. (Amigos
de Deus, 13)
Para a frente, aconteça o que acontecer!
Bem agarrado ao braço do Senhor, considera que Deus não perde batalhas. Se, por
qualquer motivo, te afastas d'Ele, reage com a humildade de começar e de
recomeçar; de fazer de filho pródigo todos os dias, inclusive repetidamente nas
vinte e quatro horas do dia; de reconciliar o teu coração contrito na
Confissão, verdadeiro milagre do Amor de Deus. Neste Sacramento maravilhoso, o
Senhor limpa a tua alma e inunda-te de alegria e de força para não desanimares
na tua luta e para voltares de novo sem cansaço a Deus, mesmo quando tudo te
pareça obscuro. Além disso, a Mãe de Deus, que é também nossa Mãe, protege-te
com a sua solicitude maternal e dá-te confiança no teu caminhar. (Amigos
de Deus, 214)