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Leitura Espiritual
Temas actuais do cristianismo |
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pergunta:
Permita-me,
Monsenhor, que insista na questão dos Institutos Seculares.
Num
estudo dum conhecido canonista, o Dr. Julián Herranz, li eu que alguns desses
Institutos são secretos e que muitos outros, na prática, se identificam com as
Ordens Religiosas (usando hábito, abandonando o trabalho profissional para se
dedicarem aos mesmos fins a que se dedicam os religiosos, etc.), a ponto de os
seus membros não terem inconveniente em considerar-se eles próprios como
religiosos. Que pensa V. Rev.º deste assunto?
resposta:
O
estudo acerca dos Institutos Seculares, a que se refere, teve, efectivamente,
ampla difusão entre os especialistas.
O
Dr. Herranz exprime, sob responsabilidade inteiramente pessoal, uma tese bem
documentada.
Sobre
as conclusões desse trabalho, prefiro não falar.
Quero
apenas dizer-lhe que todo esse modo de proceder nada tem que ver com o Opus
Dei, que não é secreto, nem é de modo algum comparável, pela sua actuação ou pela
vida dos seus membros, às Ordens Religiosas.
Os
sócios do Opus Dei, como acabo de dizer, são cidadãos iguais aos outros, que
exercem livremente todas as profissões e todas as tarefas humanas que sejam
honestas. [i]
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pergunta:
Poderia
descrever o desenvolvimento e a evolução do Opus Dei, tanto na sua natureza
como nos seus objectivos, desde a fundação, durante um período que assistiu a
tamanhas modificações dentro da própria Igreja?
resposta:
Desde
o primeiro momento, o único objectivo do Opus Dei foi o que acabo de lhe
indicar: contribuir para que, no meio do mundo, haja homens e mulheres de todas
as raças e condições sociais que procurem amar e servir a Deus e aos outros
homens no seu trabalho habitual e através dele.
No
início da Obra, em 1928, o que eu defendi foi que a santidade não é coisa para
privilegiados, pois podem ser divinos todos os caminhos da Terra, todos os
estados de vida, todas as profissões, todas as tarefas honestas.
As
implicações dessa mensagem são muitas e a experiência da vida da Obra tem-me
ajudado a conhecê-las cada vez mais profundamente e com mais riqueza de
cambiantes.
A
Obra nasceu pequena e foi crescendo normalmente, de maneira gradual e
progressiva, como cresce um organismo vivo e como tudo o que se desenvolve na
História.
Mas
o objectivo e razão de ser da Obra não mudou, nem mudará, por muito que possa
mudar a sociedade, porque a mensagem do Opus Dei consiste em proclamar que
qualquer trabalho honesto pode ser santificado, sejam quais forem as
circunstâncias em que se processa.
Hoje,
fazem parte da Obra pessoas de todas as profissões: não só médicos, advogados,
engenheiros e artistas, mas também pedreiros, mineiros, camponeses; qualquer
profissão - desde realizadores de cinema e pilotos de aviões de reacção, até
cabeleireiros de alta moda.
Para
os membros do Opus Dei, estar actualizado, compreender o mundo moderno, é uma
coisa natural e instintiva, porque são eles - juntamente com os outros
cidadãos, e tal como eles - quem faz nascer esse mundo e lhe dá a sua
modernidade.
Se
é este o espírito da nossa Obra, já vê como terá sido grande alegria para nós
ouvir o Concílio declarar solenemente que a Igreja não repele o mundo em que
vive, nem o seu progresso e desenvolvimento, antes o compreende e o ama.
De
resto, uma das características essenciais da espiritualidade que os membros da
Obra se esforçam, desde há quase 40 anos, por viver, é justamente a consciência
de que são, ao mesmo tempo, parte integrante da Igreja e do Estado, assumindo,
portanto, cada um, plenamente e com toda a liberdade, a sua responsabilidade
individual como cristão e como cidadão.
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pergunta:
Poderia
descrever as diferenças que existem entre o modo como a Opus Dei, enquanto
associação, cumpre a sua missão, e o modo como os membros da Obra, enquanto
indivíduos, cumprem as suas? Por exemplo, que critérios levam a considerar que
determinado projecto - um colégio, uma casa de retiros - deva ser de
preferência realizado pela Associação, e outro - uma empresa editora ou comercial,
por exemplo - caiba a pessoas individuais?
resposta:
A
actividade principal do Opus Dei consiste em dar aos seus sócios e a quem o
deseje os meios espirituais necessários para viverem como bons cristãos no meio
do mundo.
Dá-lhes
a conhecer a doutrina de Cristo, os ensinamentos da Igreja; proporciona-lhes um
espírito que os leva a trabalhar bem, por amor de Deus e ao serviço de todos os
homens.
Numa
palavra, trata-se de viver como cristão: convivendo com toda a gente,
respeitando a legítima liberdade de todos e fazendo com que este nosso mundo
seja mais justo.
Cada
um dos sócios do Opus Dei ganha a vida e serve a sociedade com a profissão que
tinha antes de entrar na Obra.
Assim,
uns são mineiros, outros ensinam em escolas ou Universidades, outros ainda são
comerciantes, donas de casa, secretárias, lavradores.
Entre
as actividades honestas do homem, nenhuma há que não possa ser exercida por um
sócio do Opus Dei.
Quem,
por exemplo, antes de pertencer à Obra, trabalhava numa actividade editorial ou
comercial, continua nessa actividade.
E,
se, por causa desse trabalho ou de qualquer outro, procura novo emprego, ou
decide, com os seus companheiros de profissão, fundar uma empresa qualquer,
isso é matéria em que lhe cabe decidir livremente, aceitando ele pessoalmente
os resultados do seu trabalho e assumindo também pessoalmente a respectiva
responsabilidade.
Toda
a actuação dos Directores do Opus Dei se baseia num rigorosíssimo respeito pela
liberdade profissional dos sócios.
É
este um ponto de importância capital, do qual depende a própria existência da
Obra, e que, por conseguinte, é posto em prática com fidelidade absoluta.
Cada
sócio pode trabalhar profissionalmente nos mesmos campos de actividade que lhe
estariam abertos se não pertencesse ao Opus Dei. Assim, nem a Obra como tal,
nem nenhum dos outros sócios, têm nada a ver com o trabalho profissional que
esse sócio exerce.
O
compromisso que os sócios tomam ao vincularem-se à Obra é o de que se
esforçarão por procurar a perfeição cristã no seu trabalho e por meio dele, e
por ter uma consciência mais viva do carácter de serviço à humanidade que toda
a vida cristã deve ter.
A
principal missão da Obra - já atrás o afirmei - é, portanto, formar cristãmente
os seus membros e outras pessoas que desejem receber essa formação.
O
desejo de contribuir para a solução dos problemas que afectam a sociedade e
para os quais o ideal cristão representa tanto, leva além disso a que a Obra
como tal, como instituição, ou corpo, desenvolva algumas actividades e
iniciativas.
O
critério, neste campo, é que o Opus Dei, cujos fins são puramente espirituais,
só pode realizar, corporativamente, aquelas actividades que constituam, de modo
claro e imediato, um serviço cristão, um apostolado.
Seria
absurdo pensar que o Opus Dei como tal se pudesse dedicar a extrair carvão das
minas ou a promover qualquer género de empresas de tipo económico.
As
suas obras próprias são, todas elas, actividades directamente apostólicas: uma
escola para a formação de agricultores, um dispensário médico numa zona ou país
subdesenvolvida, um colégio para a promoção social da mulher, etc.
Portanto,
obras assistenciais, educativas ou de beneficência, como as que costumam
realizar, em toda a parte, instituições de qualquer credo religioso.
Para
efectuar estas tarefas, conta-se, em primeiro lugar, com o trabalho pessoal dos
membros, que, por vezes, a eles se consagram plenamente. Mas conta-se também
com a ajuda generosa de muitas pessoas, cristãs ou não cristãs. Alguns
sentem-se impulsionados a colaborar por motivos espirituais; outros, ainda que
não compartilhem dos fins apostólicos, vêem que se trata de iniciativas em
benefício da sociedade, abertas a todos, sem discriminação de raça, religião ou
ideologia [ii].
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pergunta:
Tendo
em consideração que há sócios do Opus Dei nos mais diversos estratos da
sociedade e que alguns desses sócios dirigem ou trabalham em empresas ou
sociedades de certa importância, poderá pensar-se que o Opus Dei pretenda
coordenar essas actividades segundo as directrizes de alguma linha política,
económica, etc?
resposta:
De
maneira nenhuma.
O
Opus Dei não intervém para nada em política; é absolutamente alheio a qualquer
tendência, grupo, ou regime político, económico, cultural ou ideológico.
Os
seus fins - repito - são exclusivamente espirituais e apostólicos. Apenas exige
dos seus membros que vivam como cristãos, que se esforcem por ajustar as suas
vidas ao ideal evangélico.
Não
se intromete, portanto, de nenhuma maneira nas questões temporais.
Se
alguém não entender isto, talvez seja porque não entende a liberdade pessoal,
ou por não ser capaz de distinguir entre os fins exclusivamente espirituais
para que os sócios da Obra se associam, e o campo vastíssimo das actividades
humanas - a economia, a política, a cultura, a arte, a filosofia, etc. - nas
quais os sócios do Opus Dei gozam de plena liberdade e trabalham sob a sua
própria responsabilidade.
Desde
os primeiros contactos com a Obra, todos os sócios conhecem bem a realidade da
sua liberdade individual, de modo que, se em qualquer momento algum deles
pretendesse fazer pressão sobre os outros impondo as suas opiniões pessoais em
matéria política, ou se servisse deles para interesses meramente humanos, os
outros rebelar-se-iam e expulsá-lo-iam imediatamente.
O
respeito da liberdade dos seus sócios é condição essencial para a própria
existência do Opus Dei. Sem isso, a Obra não teria ninguém. Mais ainda: se
alguma vez se desse - não sucedeu, não sucede e, com a ajuda de Deus, nunca
sucederá - uma intromissão do Opus Dei na política ou em algum outro campo das
actividades humanas, o inimigo número um da Obra seria eu próprio.
Entrevista realizada por Peter Forbarth,
correspondente de Time (New York), em 15 de Abril de 1967.
(cont)
[i] Mons. Escrivá de
Balaguer afirmou repetidamente que o Opus Dei, de facto, não era um Instituto
Secular, como também não era uma comum associação de fiéis. Ainda que tenha
sido aprovado, em 1947, como Instituto Secular, por ser a solução jurídica
menos inadequada para o Opus Dei dentro das normas jurídicas então vigentes na
Igreja, Mons. Escrivá de Balaguer pensara, já há muitos anos, que a situação
jurídica definitiva do Opus Dei estava entre as estruturas seculares de
jurisdição pessoal, como é o caso das Prelaturas pessoais.
[ii] Estas obras
corporativas, de carácter claramente apostólico, são promovidas, como acaba de
assinalar Mons. Escrivá de Balaguer, pelos membros do Opus Dei juntamente com
outras pessoas. A Prelatura do Opus Dei assume exclusivamente a
responsabilidade pela orientação doutrinal e espiritual; e nem as empresas
proprietárias dessas iniciativas, nem os correspondentes bens móveis ou imóveis
pertencem à Prelatura. Os fiéis do Opus Dei que trabalham nessas obras fazem-no
com liberdade e responsabilidade pessoais, em plena conformidade com as leis do
país, e obtendo das autoridades o mesmo reconhecimento legal que se concede a
outras actividades similares dos demais cidadãos.