19/11/2011

Novíssimos - Juízo Particular 11

Custódio - empregado de mesa. [i]

Ainda não era meio-dia e a sala do restaurante estava quase cheia.

Custódio andava de mesa e mesa recolhendo os pedidos dos clientes, numa azáfama redobrada que a falta de dois dos seus colegas de trabalho exigia.
Não era fácil. Enquanto uns sabiam exactamente o que desejavam para o almoço havia outros que o chamavam constantemente com perguntas sobre a confecção de um prato, como era o molho, se tinha batatas fritas…
Outros queriam o bife “mal-passado”, outros “mais-ou-menos”, e outros para informar que já não queriam o que tinham pedido mas outra coisa completamente diferente.

Sim… não era fácil sobretudo manter a afabilidade… uma boa cara.

O pior, porém, passava-se na lá dentro.

O cozinheiro de péssimo feitio, protestava sempre que lhe trazia as alterações pedidas pelos clientes. Como se ele tivesse alguma culpa!
O sujeito era verdadeiramente intratável chegando às vezes a uma agressividade que metia medo.

Quando lhe comunicou que um cliente “daqueles” alterara o pedido pela terceira vez, o homem explodiu: com um palavrão soês atirou ao pobre do Custódio uma panela com água a ferver.

Tentando evitar o súbito ataque, o rapaz recuou precipitadamente e, tropeçando num banco que por ali estava, caiu desamparado para trás batendo com a nuca na esquina de uma mesa de aço onde se cortavam as carnes.

Um fio de sangue escorria-lhe do ouvido direito e, em breves segundos, expirava.

Afectado pela descrição de tão macabra cena, o “Ser” esplendoroso suspendeu a narração.

O Juiz, sensível como era ao sofrimento humano, soltou um profundo suspiro.

O Anjo prosseguiu:

“O Custódio era o sustento da família, aliás, o único sustento, com o pai na prisão por roubo qualificado e a mãe praticamente entrevada, era ele quem cuidava dela e da pequena irmã de apenas dez anos e assegurava com enorme dificuldade o pagamento das despesas correntes e, ainda, os gastos consideráveis na farmácia de que a mãe gastava com crescente frequência.”

O Juiz, interrompeu:

“Sim, o Custódio era, de facto um bom rapaz, trabalhador e dedicado à família, mas… isso é um dever, uma obrigação de qualquer um. O que temos mais de relevante, de bom, de recomendável para a sentença? Frequentava a Igreja, rezava? ...”

Uma sereníssima voz de tonalidade tão doce e meiga como uma suave brisa de fim de tarde, fez-se ouvir:

“Tenho algo a dizer:

Num prédio antigo, mesmo em frente do restaurante onde o Custódio trabalhava, há uma pequena imagem minha colocada num nicho na parede.
Várias vezes ao dia, sobretudo quando o trabalho mais apertava e o cozinheiro fazia alarde do seu constante mau-humor, o Custódio assomava à porta do restaurante e olhava para a minha imagem. Nunca me disse nada… apenas olhava…”

O Juiz disse então:

"Como em Caná da Galileia fiz o que me pediu, faça-se agora como a Minha Mãe desejar".





[i] Levanta-se a questão da vida para além da morte. É uma das grandes interrogações que alguma vez durante a sua vida o homem se coloca.
É natural porque o ser humano é dotado de espírito, alma, que tem preocupações mais para além do imediatamente sensível.
Para os cristãos a segurança da Fé fá-los compreender que está destinado à eternidade, ou seja, embora o corpo pereça e acabe a vida terrena, a sua alma não morrerá jamais e, naturalmente, tende a voltar para o seu Criador, Deus.
Sim... a lógica propõe o que a fé garante, porque não se concebe o Criador abandonar a criatura a um desaparecimento puro e simples.
O restante do problema é o que se refere ao "destino" da alma e que é "marcado" na conclusão do juízo a que é sujeita pelo próprio Criador, logo que, após a separação do corpo, se apresenta perante Si.
No imaginário livro da vida, ao contrário do que que é mais comum, não existem colunas de "deve" e "haver" onde é feita uma espécie de contabilidade, não! O que existe é uma lista completa dos bens recebidos em vida, os dons, graças, auxílios, inspirações e meios com que o Senhor foi dotando cada um de forma especial e única.
Cada ser humano recebe um "pacote" específico, para si em exclusivo.
Deus Nosso Senhor não dispensa os Seus benefícios adrede ou de uma forma sistemática ou mecânica. Cada ser humano é objecto de atenção exclusiva e única por parte do Criador que lhe concede os Seus dons e benefícios conforme a Sua Soberana Vontade determina.
Esta misteriosa magnitude de Deus tem uma razão de ser.
O homem não é capaz por si mesmo de evoluir, de melhorar sem que um estímulo o leve a tal.
Este estímulo surge exactamente no estreitamento das suas relações com Deus.
Quanto mais se relaciona mais recebe e, quanto mais se recebe mais se deseja intimar com Deus.
Por isso no Evangelho consta «àquele que tem, lhe será dado; e ao que não tem, ainda aquilo mesmo que julga ter, lhe será tirado» Lc 8, 16-18.

Para chegar a Deus, o caminho seguro, é Maria Sua e nossa Mãe! 

Sancta Maria iter para tutum! (Santa Maria, prepara-me um caminho seguro)

Visão cristã

Reflectindo

Mesmo o pecado mortal, que converte a alma num repugnante cadáver da Graça, é menos perigoso do que o desalento que acaba por minar a alegria do recomeçar constante nos nossos passos da vida interior. O pecado para os filhos de Deus, para as almas que habitualmente vivem em graça, é um passo em falso, uma queda que as faz levantar com presteza para continuar o caminho da santidade. Pelo contrário, o desalento é um inimigo formidável, que paralisa toda a vibração.
É característico dos espíritos velhos, desses homens «experientes», que em nada vêm o remédio, nem para a sua vida, nem para a do mundo. Temperamentos adocicados e brandos, que necessitam de uma mão férrea que os empurre na ascensão da vida.
Começaram-na porventura com brio; mas uma queda, e outra, e outra...apagaram a luz que os guiava. Na sua vida, só contam experiências negativas, impotência, esterilidade, pequenos fracassos, tentações, descorçoamento. Em tudo vêm impossíveis.
Falta-Lhes a visão cristã da vida: a fé e o sacrifício; e, por isso, todo o trabalho heróico se lhes torna impossível de realizar.
O desalento introduz-se na vida interior quando as almas, levadas ao começo pela consolação do sentimentalismo, sentem que se apaga a chama da devoção sensível sem falsas apreciações, erros funestos da inteligência o que impede progresso interior. A suavidade de que se cercava a presença de Deus nos começos - pequenos presentes que Deus faz a quem Lhe apraz e porque Lhe apraz, e que nada revelam acerca do progresso de uma alma - dever tornar-se uma «presença» de vontade, que pede esforços e estratagemas humanos para se ter Cristo diante dos olhos.
E não sabem fazer isso por erro de formação.
Abomina tu essas devoçõezinhas sentimentalóides, pela falsidade que encerram. Doutro modo, expões-te a avançar muito lentamente nessa vida cristã, viril, que deves percorrer a ritmo acelerado. Olha que na vida interior não é possível estagnar: ou se avança ou se retrocede. o Amor não admite equilíbrios.
Não podes cansar-te! O desalento da tua alma deve-se a que manténs na tua vida interior a mesma frivolidade que te consome nas obras humanas. Não andes só à superfície; penetra, aprofunda na tua alma com a oração e com o sacrifício, e esquece os sentimentalismos.
Toda a noite se tinham afadigado os companheiros de Pedro, tentando pescar nas águas de Genesaré, e nada tinham conseguido. Mas logo que chegam a terra, antes de serem vencidos pelo cansaço e pelo desânimo, começam a lavar e a remendar aquelas redes vazias, preparando a pesca da noite seguinte. Assim são os homens da Esperança.
Remam com esforço contra a corrente, bendizendo a Deus quando o Céu os favorece, e sem se desalentarem quando se encapelam as ondas do mar.
Que pena ver tantas almas generosas com sede e nostalgia das alturas, mas descorçoadas e abatidas pelo desalento!
Nessas inteligências falta um valor divino que nas coisas humanas é absolutamente necessário: a vida de fé, uma fé sacrificada.
Se falta a fé, em quem poderemos confiar?
Vive a virtude da firmeza, que é a seiva e a vitalidade de todos os teus actos, e curar-se-á a anemia do teu espírito.
Arranca da terra a tua alma - com confiança na bondade divina - esse espantalho, esse fantasma que te assusta e te detém, esse desalento pessimista que te faz levar uma vida de animal burguês.
Com insistência sussurra ele aos teus ouvidos: não vês que não podes? Que isso não é para ti? Não ouves falar de santidade e de heroísmo? De ambição e de guerras?
Sê viril na tua reacção. Olha para Cristo e escuta João e Tiago: «Possumus!» E pela primeira vez, sentirás que em ti reverdeje outra virtude luminosa: a juventude.

(jesus urteaga, O Valor Divino do Humano, Éfeso, 1ª ed., Lisboa 1988, nr. 126)

Tratado De Deo Trino 3

Art. 2 — Se a processão, em Deus, pode chamar-se geração.


(IV Cont. Gent., cap. X, XI; De Pot., q. 2, a. 1; Opusc. II, Contra Graecos, Armemos, etc., cap. III; Compend. Theologiae, cap. XL, XLIII; ad Coloss., cap. 1, lect IV).

O segundo discute-se assim. — Parece que a processão, em Deus, não pode chamar-se geração.

— Pois, a geração é a passagem do não ser para o ser e se opõe à corrupção, sendo a matéria o sujeito de uma e outra. Ora, nada disto convém a Deus. Logo, não pode haver nele geração.

Demais. — Como se disse [1], em Deus há processão ao modo inteligível. Ora, em nós, tal processão não se chama geração. Logo, nem em Deus.

Demais. — Todo gerado, recebendo o ser do gerador, o ser de qualquer gerado é recebido. Mas nenhum ser recebido é por si subsistente. Ora, como o ser divino é por si subsistente, segundo antes se provou [2], segue-se que o ser de nenhum gerado é divino. Logo, em Deus não há geração.

Mas, em contrário, a Escritura (Sl 2, 7): Eu te gerei hoje.

A processão do Verbo, em Deus, chama-se geração. O que se evidencia considerando-se que em duplo sentido usamos do vocábulo geração. Num sentido, é comum a todos os seres susceptíveis de geração e de corrupção; e assim, a geração nada mais é que a mudança do não-ser para o ser. Noutro sentido, refere-se propriamente aos seres vivos; e assim, a geração significa a origem de um ser vivo do princípio vivente conjunto, ao que propriamente se chama natividade. Todavia, nem tudo que de tal maneira existe se diz gerado, senão propriamente o que procede por semelhança de natureza. Assim, o pêlo ou o cabelo não têm a natureza de ser gerado ou de filho, mas somente aquilo que procede por semelhança de natureza. Não, porém, qualquer semelhança. Assim, os vermes, gerados dos animais, não têm natureza de geração nem de filiação, embora tenham semelhança genérica. O que é necessário, pois, para haver em essência tal geração, é que ela proceda por semelhança, em a natureza da mesma espécie, como o homem procede do homem e o cavalo, do cavalo. Ora, nos seres vivos, que passam da potência para o ato, como o homem e os animais, incluem-se ambos os modos de geração. Se, porém houver algum ser vivo cuja vida não seja uma passagem da potência para o ato, a processão, se porventura existir em tal ser, exclui absolutamente a primeira espécie de geração, mas pode ter a própria dos seres vivos. — Por onde, a processão do Verbo, em Deus, é por natureza uma geração, pois procede a modo de actividade inteligível, que é uma operação vital, e de um princípio conjunto, como dissemos [3]; e pela razão de semelhança, pois a concepção do intelecto é semelhança da coisa inteligida, e é existente na mesma natureza, sendo em Deus idênticos o inteligir e o existir, como demonstramos [4]. Portanto, a processão do Verbo, em Deus, se chama geração e o próprio Verbo procedente se chama Filho.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Ela colhe, quanto à geração no primeiro sentido, enquanto implica a passagem da potência para o ato. E, nesse sentido, não existe em Deus, como o dissemos.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O inteligir em nós não é a substância mesma do intelecto. Por onde, o nosso verbo, procedente da actividade intelectual, não é da mesma natureza que o ser donde procede; e por isso não tem a natureza própria e completa da geração. Ao contrário, o inteligir divino é a substância mesma do ser divino que intelige, como vimos [5]. Por onde, o Verbo procede como subsistente na mesma natureza, e por isso propriamente se chama gerado e Filho. Daí o empregar a Escritura expressões próprias a significar a geração dos seres vivos, como a concepção e o parto, para exprimir a processão da divina Sapiência. Assim, da pessoa da divina Sapiência diz (Pr 8, 24): Ainda não havia os abismos e eu estava já concebida. Antes de haver outeiros era eu dada à luz. Porém, usamos do nome concepção, em relação ao nosso intelecto, por existir no verbo deste semelhança com a causa inteligida, embora não haja identidade de natureza.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Nem tudo o que é recebido o é num sujeito; do contrário não se poderia dizer que toda a sua substância a criatura a tenha recebido de Deus; pois, não há nenhum sujeito capaz de receber toda a sua substância. Por onde, o que é gerado, em Deus, recebe o ser do gerador; não que tal ser seja recebido em alguma matéria, o que repugna à subsistência do ser divino; mas se diz recebido enquanto, procedendo de outro, tem o ser divino, e não como tendo existência diversa da do ser divino. Pois a própria perfeição do ser divino contém o Verbo, por processão inteligível; e o principio do Verbo, bem como tudo o que lhe pertence à perfeição, como dissemos [6].

SÃO TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica,



[1] Q. 27, a. 1.
[2] Q. 3, a. 4.
[3] Q. 27, a. 1.
[4] Q. 14, a. 4.
[5] Q. 14, a. 4.
[6] Q. 4, a. 2.

A raça dos filhos de Deus

Textos de S. Josemaria Escrivá

Filhos de Deus. Portadores da única chama capaz de iluminar os caminhos terrenos das almas, do único fulgor, no qual nunca poderão dar-se escuridões, penumbras nem sombras. Nosso Senhor serve-se de nós como archotes, para que essa luz ilumine... De nós depende que muitos não permaneçam em trevas, mas que andem por sendas que levem até à vida eterna. (Forja, 1)

Jesus Christus, Deus Homo, Jesus Cristo, Deus-Homem! Eis uma magnalia Dei, uma das maravilhas de Deus em que temos de meditar e que temos de agradecer a este Senhor que veio trazer a paz na terra aos homens de boa vontade, a todos os homens que querem unir a sua vontade à Vontade boa de Deus. Não só aos ricos, nem só aos pobres! A todos os homens, a todos os irmãos! Pois irmãos somos todos em Jesus; filhos de Deus, irmãos de Cristo. Sua Mãe é nossa Mãe.

Na terra há apenas uma raça: a raça dos filhos de Deus. Todos devemos falar a mesma língua: a que o nosso Pai que está nos Céus nos ensina; a língua dos diálogos de Jesus com seu Pai; a língua que se fala com o coração e com a cabeça; a que estais a usar agora na vossa oração. É a língua das almas contemplativas, dos homens espirituais por se terem dado conta da sua filiação divina; uma língua que se manifesta em mil moções da vontade, em luzes vivas do entendimento, em afectos do coração, em decisões de rectidão de vida, de bem-fazer, de alegria, de paz. (Cristo que passa, 13)

© Gabinete de Informação do Opus Dei na Internet

Evangelho do dia e comentário













T. Comum– XXXIII Semana


Evangelho: Lc 20, 27-40

27 Aproximaram-se depois alguns saduceus, que negam a ressurreição, e fizeram-Lhe a seguinte pergunta: 28 «Mestre, Moisés deixou-nos escrito: “Se morrer o irmão de algum homem, tendo mulher, e não deixar filhos, case-se com ela o seu irmão, para dar descendência ao irmão”. 29 Ora, havia sete irmãos. O primeiro casou, e morreu sem filhos. 30 Casou também o segundo com a viúva, e morreu sem filhos. 31 Casou depois com ela o terceiro. E assim sucessivamente todos os sete; e morreram sem deixar filhos. 32 Morreu enfim também a mulher. 33 Na ressurreição, de qual deles será ela mulher, pois que o foi de todos os sete?». 34 Jesus disse-lhes: «Os filhos deste mundo casam e são dados em casamento, 35 mas os que forem julgados dignos do mundo futuro e da ressurreição dos mortos, não desposarão mulheres, nem as mulheres homens, 36 porque não poderão jamais morrer; porquanto são semelhantes aos anjos e são filhos de Deus, visto serem filhos da ressurreição. 37 Que os mortos hajam de ressuscitar, o mostrou também Moisés no episódio da sarça, quando chamou ao Senhor o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, e o Deus de Jacob. 38 Ora Deus não é Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele todos são vivos». 39 Alguns dos escribas disseram-Lhe: «Mestre, falaste bem». 40 Dali em diante, não se atreveram mais a interrogá-l'O

Comentário:

Um espírito retorcido e preconceituoso leva quase sempre a usar argumentos completamente inverosímeis de forma a tentar confundir o outro.

Em vez de, claramente, pedir uma explicação sobre algo que não se conhece ou sabe bem, - o que deve ser a atitude daquele que genuinamente quer saber -, aduz-se algo destinado a pôr à prova aquele a quem se pergunta.

De facto, quem assim procede não tem direito a resposta nenhuma.

(ama, comentário sobre Lc 20, 27-40, 2010.11.20)

Paco de Lucía: Concierto de Aranjuez Part 3

  
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Pensamentos inspirados à procura de Deus

À procura de Deus





Para que queres sinais, se não acreditas.


Acredita, e então verás os sinais.

jma