Dentro do Evangelho
Desde sempre o mar atrai o ser humano
talvez pelo que encerra de mistério e desconhecido. Constitui um desafio que
está ali, poderosamente presente aguardando que alguém se aventure à descoberta
do que esconde. E o que é a nossa vida senão um navegar num oceano desconhecido
onde a cada momento precisamos acertar o rumo, corrigir a rota, guiando-nos
pela bússola que nos indica o porto onde queremos chegar.
Há
muitíssimos portos que, aparentemente, podem parecer-nos atraentes,
interessantes. Talvez, até, adequados àquilo que costumamos chamar “a nossa
maneira de ser”.
Vamos
por ali, navegando como sabemos e podemos, determinados, umas vezes, outras,
tergiversando, lutando contra os ventos e as marés, as tempestades ou as faltas
de vento que enfunem as velas da nossa esperança.
Consideramo-nos
marinheiros experimentados, sabendo muito bem como fazer para chegar ao porto?
Temos
a certeza que os meios que usamos são os mais adequados, em cada momento e
circunstância, para atingir o nosso fim?
Não
seria muito melhor deixar nas mãos de Cristo o leme da nossa barca?
Ele
sabe como fazer – sempre – para levar essa barca, que é a nossa vida, pelas
águas mais tranquilas, pelo rumo mais certeiro, com os ventos mais favoráveis.
Nas borrascas, estará firme no Seu posto, no cansaço da luta não Se deixará
vencer nem pela fadiga nem pelo desânimo. No fim e ao cabo, Ele, é o Caminho!
Cristo
está junto ao mar porque quer ver como nos comportamos na nossa barca, na nossa
navegação. Ele sabe muito bem os perigos que o mar desta vida tem, conhece
profundamente e em detalhe as nossas incapacidades e deficiências como
“marinheiros”. Está ali, para “o que der e vier”. Da praia, se nos vir em
perigo, aflitos com a perda do rumo, acenar-nos-á para que vamos ter com Ele.
É
tão bom saber que Cristo está na praia do nosso mar! Que confiança nos dá o
sabê-lo ali, disponível para o que for preciso! Mesmo quando não nos damos
conta, ou pior, quando ignoramos a Sua presença, Ele está lá, sempre, solícito
e pronto a acudir-nos. Até se nos consideramos importantes, capazes,
instruídos, sabedores, Ele não Se afasta, continua sempre disponível e
expectante à nossa espera.
Foi
na praia que Jesus começou a fantástica história da salvação humana. Eram
homens do mar os que, em primeiro lugar, Jesus escolheu para concretizar a Sua
Missão Salvadora. Muito particularmente, estes três: Pedro, Tiago e João,
acompanhá-Lo-ão sempre mais perto da Sua intimidade.
Quantas
longas horas deve ter passado instruindo a sua pouca cultura, limando as
rudezas do seu carácter, cimentando a sua dedicação!
Desejou
tê-los conSigo nos momentos mais marcantes, que conhecemos, da Sua vida
pública: Nos grandes milagres, como a ressurreições de Lázaro e da filha de Jairo, como testemunhas
particulares da Sua Divindade – na Transfiguração do Tabor - nas horas
dramáticas de Getsémani.
A
Pedro, impetuoso, decidido e… cobarde, desculpar-lhe-á a traição, o abandono e
confere-lhe a suprema honra de ser o Seu primeiro representante na terra. Sabe
que, apesar de tudo, pode contar com ele. A sua maneira de ser é por vezes
irreflectida, mas, quando o Mestre o chama, mesmo sabendo que não lhe é
possível caminhar sobre as águas lança-se impetuosamente ao mar para ir ter com
Ele. Depois, cai em si, encara a situação e a sua confiança no Senhor, esmorece
e como resultado começa a afundar-se. Mas Cristo está ali a pouca distância, o
Seu olhar tranquilo não se despega do seu cheio de temor e grita: «Salva-me, Senhor!»
Jesus
conversa com eles de forma que eles entendem bem: Fala-lhes do mar e da faina
da pesca. Diz-lhes que o que espera deles, a tarefa grandiosa, extraordinária
que lhes tem reservada. Talvez não tenham percebido completamente o que
encerrava esta primeira lição, mas não precisaram de mais para se decidirem. Na
escolha feita por Jesus, o que contou, de facto, foi a pronta decisão de O
seguirem assim que os chamou.
Certamente
haveria, na Palestina, outros homens de igual ou melhor carácter, com
qualidades, talvez, mais marcantes, muito provavelmente mais capazes de
apreenderem com maior rapidez a missão que lhes destinaria. Mas, no mar,
sozinho entre o céu e a as águas profundas e misteriosas, o homem sente-se mais
entregue a si mesmo, percebe que a sua vida depende da sua perícia, da sua
aptidão, da sua capacidade de enfrentar as dificuldades. Os pescadores estão
habituados a trabalhar em equipa, a obedecer a um chefe, o patrão da barca, a
quem confiam as suas vidas. É ele quem dá as ordens, quem destina o que se deve
fazer em cada momento, quem escolhe o rumo, quem melhor conhece os ventos e a
força das ondas.
Pedro,
não só é, deles, o que tem mais experiência, mas é quem sabe sempre o que fazer
em todos os momentos. Mantém a calma e a serenidade perante os perigos sempre à
espreita, sabe mandar e, muito importante, é capaz de substituir sempre quem,
por este ou aquele motivo, se encontre incapacitado para o trabalho que lhe
compete.
São
solidários uns com os outros, se um, por qualquer motivo, falha no que lhe está
cometido, é substituído sem demora e sem recriminações.
Parece
lógico que, a Igreja, venha a ser confiada a homens assim.
Mais
tarde, é na margem do mar, que Cristo Ressuscitado lhes aparece.
Sabe
onde os encontrar nas horas da desilusão e atordoamento que se seguiram à Sua
Paixão e Morte; «Disse-lhes então Jesus:
Não temais. Ide dar a notícia aos Meus irmãos, para que vão para a Galileia e
lá Me verão».
Reflectindo
Entrega
A palavra por si só tem um peso que não pode deixar de se ter em
consideração.
Entregar-se a alguém, a uma causa é evidentemente um acto livre da vontade
que só fará sentido se for sério e consistente.
Entregar-se a Deus é exactamente o mesmo, ou seja, requer as mesmas
premissas.
Tem, no entanto, um cariz especial porque esta entrega significa uma
escolha que exclui todas as outras, uma vez que, Deus só nos aceita por
inteiro, totalmente, com todas as nossas capacidades e potências e, além disso,
estar pronto a servir como, quando e da forma que ele entender.
Na vida retirada do Convento ou na vida corrente meio do mundo, a entrega
tem de ser total e disponível.
Ninguém deve optar por uma ou outra - se não conhece bem a sua vocação -
por conveniência pessoal, por se sentir, por assim dizer, mais protegido, mais
próximo de Deus.
A nossa proximidade o com o Senhor vai muito mais além: é intimidade, logo
esta existirá estejamos onde estivermos.
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