24/11/2022

Publicações em Novembro 24

  


Dentro do Evangelho

 

Desde sempre o mar atrai o ser humano talvez pelo que encerra de mistério e desconhecido. Constitui um desafio que está ali, poderosamente presente aguardando que alguém se aventure à descoberta do que esconde. E o que é a nossa vida senão um navegar num oceano desconhecido onde a cada momento precisamos acertar o rumo, corrigir a rota, guiando-nos pela bússola que nos indica o porto onde queremos chegar.

Há muitíssimos portos que, aparentemente, podem parecer-nos atraentes, interessantes. Talvez, até, adequados àquilo que costumamos chamar “a nossa maneira de ser”.

Vamos por ali, navegando como sabemos e podemos, determinados, umas vezes, outras, tergiversando, lutando contra os ventos e as marés, as tempestades ou as faltas de vento que enfunem as velas da nossa esperança.

Consideramo-nos marinheiros experimentados, sabendo muito bem como fazer para chegar ao porto?

Temos a certeza que os meios que usamos são os mais adequados, em cada momento e circunstância, para atingir o nosso fim?

Não seria muito melhor deixar nas mãos de Cristo o leme da nossa barca?

Ele sabe como fazer – sempre – para levar essa barca, que é a nossa vida, pelas águas mais tranquilas, pelo rumo mais certeiro, com os ventos mais favoráveis. Nas borrascas, estará firme no Seu posto, no cansaço da luta não Se deixará vencer nem pela fadiga nem pelo desânimo. No fim e ao cabo, Ele, é o Caminho!

Cristo está junto ao mar porque quer ver como nos comportamos na nossa barca, na nossa navegação. Ele sabe muito bem os perigos que o mar desta vida tem, conhece profundamente e em detalhe as nossas incapacidades e deficiências como “marinheiros”. Está ali, para “o que der e vier”. Da praia, se nos vir em perigo, aflitos com a perda do rumo, acenar-nos-á para que vamos ter com Ele.

É tão bom saber que Cristo está na praia do nosso mar! Que confiança nos dá o sabê-lo ali, disponível para o que for preciso! Mesmo quando não nos damos conta, ou pior, quando ignoramos a Sua presença, Ele está lá, sempre, solícito e pronto a acudir-nos. Até se nos consideramos importantes, capazes, instruídos, sabedores, Ele não Se afasta, continua sempre disponível e expectante à nossa espera.

Foi na praia que Jesus começou a fantástica história da salvação humana. Eram homens do mar os que, em primeiro lugar, Jesus escolheu para concretizar a Sua Missão Salvadora. Muito particularmente, estes três: Pedro, Tiago e João, acompanhá-Lo-ão sempre mais perto da Sua intimidade.

Quantas longas horas deve ter passado instruindo a sua pouca cultura, limando as rudezas do seu carácter, cimentando a sua dedicação!

Desejou tê-los conSigo nos momentos mais marcantes, que conhecemos, da Sua vida pública: Nos grandes milagres, como a ressurreições de Lázaro  e da filha de Jairo, como testemunhas particulares da Sua Divindade – na Transfiguração do Tabor - nas horas dramáticas de Getsémani.

A Pedro, impetuoso, decidido e… cobarde, desculpar-lhe-á a traição, o abandono e confere-lhe a suprema honra de ser o Seu primeiro representante na terra. Sabe que, apesar de tudo, pode contar com ele. A sua maneira de ser é por vezes irreflectida, mas, quando o Mestre o chama, mesmo sabendo que não lhe é possível caminhar sobre as águas lança-se impetuosamente ao mar para ir ter com Ele. Depois, cai em si, encara a situação e a sua confiança no Senhor, esmorece e como resultado começa a afundar-se. Mas Cristo está ali a pouca distância, o Seu olhar tranquilo não se despega do seu cheio de temor e grita: «Salva-me, Senhor!»

Jesus conversa com eles de forma que eles entendem bem: Fala-lhes do mar e da faina da pesca. Diz-lhes que o que espera deles, a tarefa grandiosa, extraordinária que lhes tem reservada. Talvez não tenham percebido completamente o que encerrava esta primeira lição, mas não precisaram de mais para se decidirem. Na escolha feita por Jesus, o que contou, de facto, foi a pronta decisão de O seguirem assim que os chamou.

Certamente haveria, na Palestina, outros homens de igual ou melhor carácter, com qualidades, talvez, mais marcantes, muito provavelmente mais capazes de apreenderem com maior rapidez a missão que lhes destinaria. Mas, no mar, sozinho entre o céu e a as águas profundas e misteriosas, o homem sente-se mais entregue a si mesmo, percebe que a sua vida depende da sua perícia, da sua aptidão, da sua capacidade de enfrentar as dificuldades. Os pescadores estão habituados a trabalhar em equipa, a obedecer a um chefe, o patrão da barca, a quem confiam as suas vidas. É ele quem dá as ordens, quem destina o que se deve fazer em cada momento, quem escolhe o rumo, quem melhor conhece os ventos e a força das ondas.

Pedro, não só é, deles, o que tem mais experiência, mas é quem sabe sempre o que fazer em todos os momentos. Mantém a calma e a serenidade perante os perigos sempre à espreita, sabe mandar e, muito importante, é capaz de substituir sempre quem, por este ou aquele motivo, se encontre incapacitado para o trabalho que lhe compete.

São solidários uns com os outros, se um, por qualquer motivo, falha no que lhe está cometido, é substituído sem demora e sem recriminações.

Parece lógico que, a Igreja, venha a ser confiada a homens assim.

Mais tarde, é na margem do mar, que Cristo Ressuscitado lhes aparece.

Sabe onde os encontrar nas horas da desilusão e atordoamento que se seguiram à Sua Paixão e Morte; «Disse-lhes então Jesus: Não temais. Ide dar a notícia aos Meus irmãos, para que vão para a Galileia e lá Me verão».

 

Reflectindo

Entrega

A palavra por si só tem um peso que não pode deixar de se ter em consideração.

Entregar-se a alguém, a uma causa é evidentemente um acto livre da vontade que só fará sentido se for sério e consistente.

Entregar-se a Deus é exactamente o mesmo, ou seja, requer as mesmas premissas.

Tem, no entanto, um cariz especial porque esta entrega significa uma escolha que exclui todas as outras, uma vez que, Deus só nos aceita por inteiro, totalmente, com todas as nossas capacidades e potências e, além disso, estar pronto a servir como, quando e da forma que ele entender.

Na vida retirada do Convento ou na vida corrente meio do mundo, a entrega tem de ser total e disponível.

Ninguém deve optar por uma ou outra - se não conhece bem a sua vocação - por conveniência pessoal, por se sentir, por assim dizer, mais protegido, mais próximo de Deus.

A nossa proximidade o com o Senhor vai muito mais além: é intimidade, logo esta existirá estejamos onde estivermos.

 

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